sábado, 7 de agosto de 2010

Dos tigreiros ao saneamento básico



gravura dos tigreiros do alemão Henrique Fleuiss(1861).

 O Rio Capibaribe poluído nos dias atuais. Foto: Kimake.com/2015

Quem hoje observa o Rio Capibaribe no Centro do Recife ou em diversos pontos de seu percurso, fica imaginando porque ele é tão poluído. Desde os tempos das capitanias hereditárias os habitantes sempre procuraram às margens litorâneas para fixarem suas residências e nunca se preocuparam com o saneamento básico da cidade. Talvez pela impossibilidade, já que no período colonial não havia fábricas, nem indústrias em Pernambuco (nem no Brasil) de manilhas, tubos, conexões e canos para esse fim, ou pelo simples fato de haver muita terra para tão pouca gente, não suficiente para poluir tão facilmente o nosso Rio Capibaribe. Salientando que a citação do referido rio no texto, serve apenas como referencial, pois muito sabemos que boa parte dos rios brasileiros sofrem com o mesmo problema.

Muita gente se pergunta. Se não existia saneamento básico, o que as pessoas faziam para se livrarem destes excrementos indesejáveis? Nos locais onde as residências ficavam em descampados, era muito comum as pessoas recorrerem aos matagais e se limparem com folhas de matos (como muita gente ainda hoje, utiliza deste recurso), pessoas que moravam na parte superior dos sobrados do Recife, jogavam águas servidas e urina na rua e alpendres das casas térreas. Nos vilarejos, as pessoas faziam buracos nos quintais das casas onde despejavam restos de comidas, lixo e demais dejetos, e mantinham barris bem guardados em um dos cômodos da casa com excrementos fisiológicos, que quando cheios, muitos utilizavam os serviços dos “tigreiros”, escravos que faziam o transporte dos barris = tigres, e despejavam nos rios ou em terrenos baldios, esse tipo de transporte eram feitos quase sempre a noite, onde a visibilidade era muito pouca e a iluminação na época era feita a base do candeeiro e muitos escravos usavam da malícia para esbarrar nas pessoas desavisadas, onde respingavam o tão indesejados excrementos fisiológicos. Essa atitude dos tigreiros ocasionou revoltas e queixas dos transeuntes vitimados. Muitos tigreiros chegaram a serem castigados e acompanhados de perto por fiscais do governo para evitarem outros incidentes.

No século XIX, essa falta de saneamento básico no país, e especificamente no Recife, criou um quadro crítico de saúde pública , onde a cada ano, tornara comum duas epidemias, seja de varíola, peste, febre amarela, disenteria entre outras.

Em 15 de Setembro de 1858, o Governo Municipal do Recife, assinou um contrato com o engenheiro sanitarista francês Charles Louis Cambronne, para melhoria do serviço de esgoto e transporte de lixo e dejetos. Este contrato cogitava de um serviço de escoamento das águas servidas ( água de restos de comida) para o rio Capibaribe, por meio de canos de ferro ou de grés. Quanto as fezes e urinas eram depositadas em caixas de madeira, revestidas de metal, hermeticamente fechadas, que a empresa fornecia a cada domicílio, capaz de acumular excrementos de dez pessoas durante quinze dias, as chamadas “Latrinas Inodoras”.

As latrinas inodoras foram implantadas decorrente da grande epidemia de cólera- morbo que assolou o Nordeste em 1856, matando 125.793 pessoas. Sendo 3 mil no Recife e 37.586 em todo o estado de Pernambuco. As latrinas de Cambronne rendeu um verso da população ao crescente progresso:
“Temos bondes, maxambombas
Gasômetros e vias férreas
E, entre outros casos de arromba,
Cambronnes em casas térreas”.

Com o passar dos anos e o crescimento da cidade as latrinas de Cambronne, começou a não corresponder a grande demanda e a população começou a protestar. A Recife Draynage assumiu o sistema de saneamento e esgoto, entretanto em 1893, a empresa declarou-se incapaz de melhorar seu serviços, obrigando o Dr. Otávio de Freitas a fazer um relatório ao governador Barbosa Lima, criticando as precárias condições de higiene da cidade. Diante disso, foram abertas licitações para implantação de nova rede de esgoto, já no governo de Sigismundo Gonçalves, que anulou, sob alegação de que os preços eram muito altos. Contrapondo-se ao fato, Dr. Otávio de Freitas disse que o descaso dos governos para com o saneamento era responsável pelas 109 epidemias sofridas em 54 anos, no Recife.

Em 12 de dezembro de 1915, Foi assinado um contrato por Saturnino de Brito, engenheiro sanitarista, sob responsabilidade da modernizada Recife Draynage, na administração de Herculano Bandeira, o novo sistema de esgoto e saneamento do Recife com canos feitos de ferro de uso subterrâneos. Desta época aos dias atuais, muita coisa mudou, mais existem muitas localidades ainda sem saneamento básico e nossos rios continuam cada vez mais poluídos.

Por: Jânio Odon
Fonte: Revista Nossa História, nº8/2004; Anais pernambucano de Pereira da Costa
e site:www.flickr.com

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