sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Náutico, campeão pernambucano pela primeira vez em 1934

Os campeões de 1934: (Esq/Dir) Edson, Estácio, Taurino, Osvaldo Salsa, Fernando Carvalheira, Salsinha, João Manuel, Artur Carvalheira, Zezé Carvalheira, Rafael e o goleiro Epaminondas.


GRANDES ACONTECIMENTOS DE 1934: 3/1- A “Hora do Brasil” que depois mudou para “A Voz do Brasil” passa a ser irradiada em cadeia nacional de rádio; 12/1- O governo de São Paulo, Sales de Oliveira cria a USP (Universidade de São Paulo); 16/4- Criada a Viação Aérea de São Paulo (Vasp); 16/7- Promulgada a nova Constituição Brasileira; 17/7- A Constituinte elege Getúlio Vargas, Presidente do Brasil por 175 votos contra 59 para Borges de Medeiros; 20/7- Morre em Juazeiro-CE, Padre Cícero; 26/11- Inaugurada a primeira  refinaria brasileira em Uruguaiana-RS; 24/12- Ocorreu a primeira greve geral dos Correios e Telégrafos.

ABC DE NATAL NO RECIFE- O clube potiguar realizou dois amistosos no Campo da Av. Malaquias, no Recife, antes de começar o Campeonato Pernambucano. Em 26/4, onde o Náutico  venceu o ABC por 4 a 2, e em 29/4, desta feita, o ABC venceu o Sport Recife por 5 a 3.
Escudo do Náutico em 1934

SELEÇÃO BRASILEIRA NO RECIFE- A Seleção Brasileira de Futebol estava voltando da Copa do Mundo da Itália de navio e fez escala no Recife, e para manter os jogadores em forma, realizou 5 amistosos na capital pernambucana: 27/9- Av. Malaquias, Seleção Brasileira 5 x 4 Sport Recife; 30/9- Campo da Jaqueira, Seleção Brasileira 3 x 1 Santa Cruz; 4/10- Campo da Jaqueira, Seleção Brasileira 8 x 3 Náutico; 7/10- Av. Malaquias, Seleção Brasileira 5 x 3 Seleção Pernambucana e em 10/10- Av. Malaquias, Seleção Brasileira 2 x 3 Santa Cruz. Todos os jogos foram realizados durante o Campeonato Pernambucano.


A 20ª Edição do Campeonato Pernambucano de Futebol, começou em 21 de abril de 1934 e só encerrou em 7 de abril de 1935. O campeonato com quinze participantes, todos do Recife, dividido em dois grupos e em pontos corridos, o Grupo Azul com oito participantes, onde disputaram o título, sendo eles: Náutico, Santa Cruz, Sport Recife, Flamengo, Encruzilhada, América, Torre e Íris. O Grupo Branco era composto por sete equipes convidadas pela Federação Pernambucana de Desportos (FPD) onde o vencedor do grupo ascendeu ao Grupo Azul no ano seguinte, no caso, o Tramways. Composto por: Tramways, Great Western, Atheniense, Fluminense, Israelita, Auto Esporte e Varzeano.
Destaque do América-PE em 1934
O campeonato começou com a realização do 16º Torneio-Início, no Campo da Avenida Malaquias, onde na final o América venceu o Sport Recife por 2 a 1.

O Clube Náutico Capibaribe conquistou o inédito título após 18 anos de disputa do Campeonato Pernambucano. Fundado por dois grupos de remadores em 1898, como Club Náutico do Recife, tem como data de fundação oficial, 7 de abril de 1901, data da primeira ata do clube. Após muita resistência de seus conselheiros em desfavor ao futebol, o clube acabou aderindo em 1909, mas não aceitava jogadores negros em seus quadros. Para ser campeão pernambucano pela primeira vez, o Náutico foi buscar no Sul do país, o experiente uruguaio, descobridor de jovens talentos, Umberto Cabelli. O treinador uruguaio fez um excelente trabalho de base nos Aflitos, onde boa parte do elenco do time principal era composto por juvenis. Destaque para os Carvalheiras, Zezé, Fernando e Artur que era primo dos dois. Os três atletas marcaram época no futebol pernambucano. Com um elenco considerado por todos, de alto nível técnico, o Náutico fez uma campanha brilhante, juntamente com o Santa Cruz que já vinha com uma equipe já montada e experiente em busca do tetra, a campanha das duas equipes foram idênticas durante todo o campeonato até a decisão final. O certo é que o Náutico tinha um ataque mais eficiente, enquanto  fez 53 gols até a decisão, o Santa Cruz fez 40 gols. No entanto, a defesa do Santa Cruz era mais eficiente, levou apenas 18 gols em 14 partidas, enquanto o Náutico levou 28  gols. A torcida do Náutico ficou bastante abalada com a saída de Umberto Cabelli, mas a diretoria do Náutico não ficou de braços cruzados e foi buscar em São Paulo, o ex-treinador do Santos e preparador físico da Força Pública de São Paulo, Joaquim Loureiro que deu continuidade ao trabalho realizado por Cabelli. O Náutico realizou 15 jogos, 11 vitórias, 1 empate e 3 derrotas, ainda teve Fernando Carvalheira como artilheiro do campeonato. O Náutico perdeu apenas para o Santa Cruz por 2 x 0,  por duas vezes e para o  Flamengo do Recife por  3 x 1. O Náutico aplicou uma goleada humilhante diante do Sport Recife por 8 x 1, com três gols de Fernando Carvalheira. O Sport Recife tinha uma boa equipe, mas sua defesa era muito vulnerável, tanto que em agosto, no confronto com seu maior rival, o Santa Cruz, o leão perdeu por 7 a 0. O Campeonato de 1934, houve muitas goleadas, mas a maior de todas aconteceu em 29 de junho, onde o Sport Recife venceu o Torre por 9 a 3. O Campeonato sofreu uma paralização entre setembro e outubro em virtude da passagem da Seleção Brasileira pelo Recife. 

Santa Cruz vice-campeão pernambucano de 1934.

A grande final aconteceu em 7 de abril de 1935, no Campo da Avenida Malaquias, lotado. Fernando Carvalheira abriu o placar aos 10 minutos do primeiro tempo. O Santa Cruz empatou no segundo tempo, através de Tará. Depois de três sucessivas defesas de Dadá, goleiro tricolor, eis que Estácio marca o gol do título, o primeiro dos alvirrubros em sua longa história.

QUANDO O TIMBU VIROU MASCOTE? Salsinha, jogador do Náutico campeão em 1934, revelou anos depois, que o apelido de timbu dado aos atletas do Clube Náutico Capibaribe, já veio do remo. Tudo porque os remadores do Náutico sempre que terminavam os treinos no Rio Capibaribe, ao guardarem os barcos na Rua da Aurora, próximo a fábrica da Antártica, costumavam tomar várias garrafas de cerveja às margens do rio ante os olhares curiosos dos transeuntes, onde muitos murmuravam: "São uns timbus", comparando-os com o conhecido mamífero que adora uma cachaça. Mas o timbu só virou mascote a partir de um jogo realizado entre Náutico e América, no Campo da Jaqueira, no dia 19 de agosto de 1934. Uma derrota ou empate do Náutico, deixaria o Sport Recife na liderança do campeonato e, por este motivo, a torcida do leão compareceu em peso para torcer pelo clube esmeraldino. Chovia bastante quando acabou o primeiro tempo da partida com o placar em 1 a 1. Como as vestiarias estavam tomadas de água, o técnico alvirrubro, Joaquim Loureiro preferiu dar instruções no centro do gramado, de repente surge o dirigente do clube, Natércio Holanda, segurando um guarda-chuva e debaixo do outro braço, uma garrafa de cinzano. Natércio interrompeu a preleção e pediu a cada jogador para tomar um gole da bebida para amenizar o frio. Diante do fato, surgiu das arquibancadas os gritos provocativos da torcida do Sport, "timbus, timbus...". Iniciado o segundo tempo da partida, os gritos da torcida esmeraldina e rubro-negra, chamando os jogadores do Náutico de timbus na tentativa de desestabilizar o time, tornou-se mais intenso. Isso de nada adiantou e o Náutico fez mais dois gols e sacramentou a vitória por 3 a 1. Ao deixarem o campo, os jogadores alvirrubros saíram provocando a torcida adversária, mostrando com os dedos, "Timbu três a um, timbu três a um...". No carnaval de 1936, a diretoria do Náutico criou o Maracatu Timbu Coroado. 

O famoso ataque do Náutico: Zezé, Artur, Fernando, Estácio e João Manoel. Foto: reliquiasdofutebol.blogspot.com.br

AS GRANDES GOLEADAS: (exceto os clássicos) Sport Recife 9 x 3 Torre; América 8 x 0 Encruzilhada; Náutico 7 x 2 Torre; Náutico 7 x 3 Íris; Náutico 6 x 1 Encruzilhada; Torre 6 x 2 Encruzilhada; Flamengo 5 x 0 Torre; Santa Cruz 5 x 1 Torre; Náutico 5 x 2 Torre; Íris 4 x 0 Torre; Sport Recife 4 x 1 Íris; Santa Cruz 4 x 1 Íris e Flamengo 4 x 1 Torre.

AS SURPRESAS: Santa Cruz 2 x 2 Encruzilhada; Íris 1 x 0 Santa Cruz; América 1 x 1 Íris; Flamengo 3 x 1 Náutico; Sport Recife 3 x 3 Encruzilhada; Encruzilhada 3 x 1 América e Torre 1 x 0 Sport Recife.

OS CLÁSSICOS: 17/6- Náutico 0 x 2 Santa Cruz; 15/7- América 3 x 3 Sport Recife; 29/7- Sport Recife 2 x 2 Náutico; 15/8- Santa Cruz 7 x 0 Sport Recife; 19/8- Náutico 3 x1 América; 25/11- Santa Cruz 2 x 0 Náutico; 2/12- Sport Recife 2 x 1 América; 8/12- Náutico 3 x 2 América; 9/12- Sport Recife 3 x 2 Santa Cruz; 23/12- Santa Cruz 2 x 4 América; 3/2/35- Santa Cruz 6 x 2 América; 31/3/35- Sport Recife 1 x 8 Náutico e em 7/4/35- Náutico 2 x 1 Santa Cruz.

ARTILHEIRO DO CAMPEONATO: Fernando Carvalheira (Náutico) com 28 gols.

Os Carvalheiras: Fernando, Zezé e Artur.
CLASSIFICAÇÃO FINAL

Náutico- 21 pontos (Saldo de gols= 25)
Santa Cruz- 21 pontos (Saldo de gols= 22)
Sport Recife- 19 pontos
Flamengo- 13 pontos
Encruzilhada- 12 pontos
América- 11 pontos
Torre- 8 pontos
Íris- 7 pontos.
*Não consta o jogo da final.





JOGO DECISIVO CLASSIFICATÓRIO PARA FINAL

Sport Recife 1 x 8 Náutico
Data: 31/3/1935
Local: Campo da Avenida Malaquias
Árbitro: Harry Lessa
Público e Renda: não era divulgado
Gols: Fernando Carvalheira (3), Artur Carvalheira (2), Estácio (2) e Zezé Carvalheira e Marcílio Aguiar fez o gol de honra para o Sport Recife.
SPORT RECIFE perdeu com: Diógenes; Alderito e Fernando; Ademar, Paulo e Rui; Alemão, Seixas, Julinho, Marcílio Aguiar e Rodolfo. NÁUTICO venceu com: Epaminondas; Osvaldo Salsa e Salsinha; Taurino, Edson e Rafael; Zezé Carvalheira, Artur Carvalheira, Fernando Carvalheira, Estácio e J. Manuel.

FINAL (JOGO EXTRA)

Náutico 2 x 1 Santa Cruz
Data: 7/4/1935
Local: Campo da Avenida Malaquias
Árbitro: Manuel Pinto
Público e Renda: não era divulgado
Gols: Fernando Carvalheira e Estácio (NAU) e Tará (STA)
Náutico venceu com: Epaminondas; Osvaldo Salsa e Salsinha; Taurino, Edson e Rafael; Zezé Carvalheira, Artur Carvalheira, Fernando Carvalheira, Estácio e J. Manuel. Santa Cruz perdeu com: Dadá; João Martins e Zé Orlando; Marcionilo, Sebastião da Virada e Ernani; Walfrido, Limoeiro, Tará, Lauro e Carlos.

SELEÇÃO DO ANO
Goleiro: Diógenes (Sport Recife)
Zagueiro: Alemão (América)
Zagueiro: Fernando Rodrigues (Sport Recife)
Lateral-direito: Zezé Fernandes (Santa Cruz)
Lateral-esquerdo: Furlan (América)
Volante: Ernani (Santa Cruz)
Meia: Zezé Carvalheira (Náutico)
Meia: Artur Carvalheira (Náutico)
Atacante: Fernando Carvalheira (Náutico)
Atacante: Marcílio Aguiar (Sport)
Atacante: Chinês (Íris)

OUTROS CAMPEÕES ESTADUAIS EM 1934:
São Paulo- O Palestra Itália (atual Palmeiras) foi tricampeão paulista; Rio de Janeiro- O  Botafogo foi bicampeão pela AMEA e o Vasco da Gama foi campeão pela LCF. Minas Gerais- O Vila Nova, de Nova Lima tornou-se bicampeão mineiro. Rio Grande do Sul- O Internacional foi o campeão. Paraná- O Atlético Paranaense foi o campeão. Bahia- O Bahia sagrou-se bicampeão baiano. Ceará- O Fortaleza conquistou o bicampeonato. Pará- O Paysandu foi o campeão.

Por: Jânio Odon
Fonte: Diário de Pernambuco; Livros: 85 anos de bola rolando, FPF; e História do futebol em Pernambuco,  de Givanildo Alves, Editora Bagaço; rsssfbrasil.com/Autor: Ricardo Brito, extraído do livro: "Campeonato Pernambucano- 1915 a 1970, de Carlos Celso Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro; e arquivo pessoal.







  


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