domingo, 25 de julho de 2010

Os primeiros registros de homossexualismo em Pernambuco





A inquisição portuguesa do século XVI sempre tratava o homossexualismo com açoites e degredos. Pintura do holandês Christiaen Van Couwenbergh (Ilustração). 

Canso de ouvir as pessoas mais velhas falarem:
- No meu tempo não havia isto! Quando vêem um travesti ou coisa semelhante.
Talvez pelo fato de viverem em épocas de conservadorismo absoluto, onde o conceito da ética e dos bons costumes e também da hipocrisia prevalecia.

Pois bem! Acontece que em Fevereiro de 1549, desembarcou em Pernambuco, que ainda se chamava Nova Lusitânia, o sr. Estêvão Redondo, o primeiro degredado (pessoa que era expulsa de seu país para cumprir pena em terras distantes) pelo Santo Ofício da Inquisição Portuguesa (1536-1821), vindo de Portugal, pelo fato de ser homossexual.

Estêvão Redondo, era criado do governador de Lisboa, que lançou seu nome no livro dos degredados , contra si tinha quase uma dezena de acusações de atos homossexuais. Nem a enorme vergonha de ter sido sentenciado publicamente em Lisboa, nem os dolorosos ferros que o acorrentaram na interminável travessia do Atlântico, nem a profunda dor na alma de nunca mais poder voltar à Lisboa para rever seus familiares e viver perpetuamente em Pernambuco, nesta terra de portugueses conservadores, índios bravos e africanos boçais, foram suficientemente fortes para desviá-lo de sua orientação homossexual. Estêvão Redondo foi o primeiro fanchono ( como era chamado o gay na época) a ter seu nome e sobrenome registrados na história.

Novamente, 44 anos depois o temido Tribunal da Inquisição retornaria a Pernambuco, propriamente em setembro de 1593, pelo menos cinco homens e rapazes foram publicamente acusados de homossexualismo e mais de trinta mantinham em segredo que eram fanchonos.

André Lessa, homem velho, alto, forte, bigodes grandes, português, cristão , sapateiro que vivia em Olinda há quase treze anos, era o típico “fanchono encoberto” ou seja, gay enrustido na linguagem atual. O Lessa como era conhecido, diante das denúncias e sob forte pressão do inquisidor, confessou ter praticado uma centena de atos homossexuais com 31 rapazes, sendo trinta brancos e um mameluco (branco+ índio), com idades variando entre 15 e 18 anos. Entre eles, dois filhos de mercadores e de um fazendeiro; três alfaiates, dois sapateiros e nove criados.

A punição imposta a André Lessa pelo Santo Ofício da Inquisição Portuguesa foi considerada branda em relação aos inquisidores de outros países europeus em casos semelhantes ao do referido réu, eram levados à fogueira. Lessa sofreu quatro sessões de açoites (chicotadas), sendo degredado por cinco anos em Angola.

O processo de André Lessa está arquivado na Torre do Tombo, em Lisboa. Alguns trechos escrito pelo inquisidor:

“Tem pecados na sensualidade torpe com muitos moços, sendo sempre autor e provocador, tendo ajuntamento por diante com os membros viris e com as mãos, solicitando e efetuando polução(ejaculação) um ao outro”.

“Ajuntamentos nefandos alternados, acometimentos nefandos por trás, ajuntamento dos membros viris pela frente, derramamento de semente entre as pernas, punhetas recíprocas, polução na mão alheia, coxetas, exibição fálica, conversações torpes e maliciosas... Todas expressões colhidas pelos piedosos ouvidos do escrivão inquisitorial.

Por: Jânio Odon/Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS)
Fonte: Revista Nossa História, Nº8/2004.

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