sábado, 17 de abril de 2021

Na Ladeira do Boi, surge o bairro do Alto José Bonifácio (Recife)

O Alto José Bonifácio tornou-se bairro em 1988. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

O bairro do Alto José Bonifácio fica localizado na parte noroeste da cidade do Recife e fica a 7,27 Km do Centro da cidade. Sua população de acordo com o último censo realizado em 2010 é de 12.462 habitantes, sendo 5.863 pessoas do sexo masculino e 6.599 pessoas do sexo feminino. Sua densidade demográfica é de 219,26 habitantes por hectare. Faz divisa com os bairros de Brejo de Beberibe, Linha do Tiro, Alto Santa Terezinha, Alto José do Pinho, Morro da Conceição e Vasco da Gama.

No dia 7 de março de 1881, a Câmara Municipal do Recife, presidida por José Mariano Carneiro da Cunha, aprovou uma lei que delineou os dezessete quarteirões  que compuseram a Freguesia do Poço da Panela. O Brasil era governado pelo imperador Pedro II e o Presidente da Província de Pernambuco, era Franklin Américo de Menezes Dória, o Barão de Loreto. A região que hoje fica localizado o bairro do Alto José Bonifácio, fazia parte do 4º quarteirão da Freguesia do Poço da Panela. Nesta época, o morro onde fica o Alto José Bonifácio era desabitado e de vegetação rasteira ou de pequeno porte. Existia apenas uma estrada estreita de terra denominada de Arraial do Beberibe ou Brejão, estrada que ligava o povoado de Beberibe à Estrada do Bartolomeu e o Morro do Arraial (atual Morro da Conceição).

O Decreto-Lei Nº 324, de 31 de julho de 1942, distribuiu os bairros do Recife em quatro distritos e Casa Amarela que pertencia à Freguesia do Poço da Panela, passou a ser um bairro e fez parte do 4º Distrito, juntamente com os bairros de Poço, Várzea e Beberibe. Com esse decreto, o Alto José Bonifácio, ficou dividido oficialmente entre os bairros de Casa Amarela e Beberibe, já que a Ladeira do Boi, partindo do Brejo até a Estrada do Bartolomeu, serviu como divisória. Por causa dessa divisória, a parte que fica o Alto da Serrinha, Alto do Brasil, Alto da Saudade, Córrego São Domingos Sávio e Córrego José Grande, ficaram pertencendo ao bairro de Beberibe. Já do lado oposto, da quadra poliesportiva, do Boqueirão e do Córrego do Euclides, ficaram pertencendo ao bairro de Casa Amarela, ficando assim, até o Alto José Bonifácio torna-se  um bairro em 1988. 

 O Alto José Bonifácio  tornou-se bairro através do Decreto Municipal Nº 14.452 de 26 de outubro de 1988, sancionado pelo prefeito Jarbas Vasconcelos e ratificada pela Lei Municipal Nº 16.293 de 3 de fevereiro de 1997, sancionada pelo prefeito Roberto Magalhães, que criou as RPAs (Região Político-Administrativa). O Alto José Bonifácio faz parte da RPA- 3, Microrregião 3.2.

 O Alto José Bonifácio ficou delineado da seguinte forma:

Começa  na confluência das ruas Córrego José Grande, Padre Oliveira, Córrego do Bartolomeu e Córrego do Euclides, segue por este último logradouro por onde atinge a rua Córrego do Ouro, onde segue até o encontro da rua Aratuba, onde deflete à direita e segue para rua Alto do Bambu; deflete à esquerda e segue por esta até atingir a rua Nossa Senhora de Fátima, daí segue para rua Ary Peter, por onde atinge a rua vereador Otácilio Azevedo (Estrada do Brejo), onde deflete à direita atingindo a rua Frei Jorge, por onde alcança a rua Bismarck de Freitas, onde deflete à direita para atingir a rua Gustavo Barroso, onde deflete à direita alcançando a rua Alto da Serrinha e segue por esta até atingir a rua Hidrolândia, deflete à direita e segue por esta em direção ao Córrego José Grande, daí prossegue atingindo a confluência das ruas Padre Oliveira,Córrego do Bartolomeu e Córrego do Euclides, ponto inicial.

PRINCIPAIS VIAS DE ACESSO

As principais vias de acesso ao bairro são: a Rua Alto José Bonifácio (antiga Ladeira do Boi); o Alto da Serrinha e o  Córrego de Euclides, que tem a via mais antiga do bairro do Alto José Bonifácio, pois existe desde o século XIX, os mapas das plantas do Recife e seus arrabaldes do engenheiro Ildefonso Ilídio de Souza Lobo,elaborado antes de 1866 e a do alemão Frans Henrich Carls de 1875, já constava a velha estrada, outrora, conhecida por Estrada do Arraial, isto porque, existia o povoado do Arraial (no atual Morro da Conceição) ligando ao antigo Polígono do Tiro e ao Brejo. Esta estrada era estreita e irregular, caminho para pedestres e animais onde não circulava nenhum tipo de veículo. Nesta época, toda esta região  pertencia a Freguesia do Poço da Panela. 

Morro do Boi na década de 1940, atual Alto José Bonifácio. Foto: Alexandre Berzin.

Morro do Boi (Alto José Bonifácio) como era chamado antigamente e a Ladeira do Boi, começaram a ser habitados em 1939, quando os mocambos do Centro do Recife começaram a ser demolidos pela Liga Social Contra o Mocambo no governo de Agamenon Magalhães. Os mocambos tomaram cursos dos morros, córregos e encostas das periferias do Recife e de Olinda.

A ORIGEM DO NOME DO BAIRRO 

A lei estadual Nº 1430, de 5 de junho de 1919, sancionada pelo governador Manoel Borba, onde define os limites entre Olinda e Recife, revela a existência do Sítio Bonifácio entre a Rodinha e a subida do Alto. Trecho do texto diz o seguinte:...à estrada do Hemetério, na bomba do mesmo nome, até o marco chamado do Bobó , onde deixa o dito riacho para alcançarem a estrada do Bartolomeu (atual Rua Chã de Alegria e Rua Padre Oliveira), cortando-a, em seguida, pelos limites do Sítio Bonifácio; buscam a estrada do Arraial (atual Córrego de Euclides), estrada que liga Beberibe ao Arraial (Morro da Conceição), ... 

Há um indício bastante forte de que o nome do bairro seja decorrente da existência deste sítio.

*Não confundir com a Estrada do Arraial de Casa Amarela. Nesta época, o Morro da Conceição, também era conhecido por Morro do Arraial.

A PRIMEIRA OCORRÊNCIA

O Diário de Pernambuco do dia 9 de dezembro de 1944, publicou a primeira notícia relatada por um órgão de imprensa no Alto José Bonifácio. Infelizmente a notícia não foi boa, tratava-se de uma agressão a uma criança. O fato ocorreu aproximadamente às 15 horas na Ladeira do Boi, no dia da Festa do Morro. O indivíduo A.L.S. vulgo Arapuca, começou a discutir com uma criança de 10 anos, por motivo ignorado. Arapuca armou-se com um cacete e desferiu vários golpes contra a criança. Os moradores indignados, denunciaram o agressor ao comissário, que designou o guarda civil Nº 179 que deteve Arapuca, levando-o à prisão. A criança foi socorrida para o Pronto Socorro com várias escoriações.  

CÓRREGO JOSÉ GRANDE

O Córrego José Grande, atualmente tem 1 quilômetro de extensão, começou a se formar na primeira metade dos anos 40 do século XX, a partir da Estrada do Bartolomeu, que na época, seguia pela atual rua Padre Oliveira em direção a Bomba do Hemetério. Em 1945, o Córrego José Grande já era uma localidade com vários sítios e uma povoação bastante acrescentada.

Já a primeira notícia que aconteceu no Córrego José Grande, também foi publicado pelo Diário de Pernambuco, no dia 6 de dezembro de 1945, infelizmente, foi uma triste notícia, tratava-se de um afogamento de uma criança, publicado desta forma: “Morte trágica da criança dentro de uma cacimba”- (dizia o titulo) - Triste ocorrência verificou-se à tarde de ontem, às 17 horas no lugar denominado Córrego José Grande, subúrbio de Casa Amarela, 2º Distrito Policial da cidade. O sr. F.M.O, casado com a sra. M.C.O, reside na localidade, e entre vários filhos que o casal possui, constava-se  o de nome J.M, escolar de 10 anos de idade. 

Àquela hora, esse menor brincava no terreiro em frente à casa, onde existe um profundo poço de água doce. Repentinamente, em sua distração, o menor aproximou-se das bordas da cacimba, sofrendo desastrada queda. Deram, então, sinal de que a criança se precipitara dentro da cacimba, enviando as pessoas presentes esforços para retirá-la do fundo do poço.

Todavia, apesar dessas medidas, quando o corpo da criança era depositado em terra, todos verificaram constrangidos, que o desditoso menino estava sem vida. Nos poucos instantes em que se debateu n’água J.M falecera por asfixia.

Minutos depois, o fiscal geral do Necrotério Público e oficiou ao da Guarda Civil, sr. Alfredo Leiros, que responde interinamente, pelo comissariado de Casa Amarela, inteirava-se do triste fato. No local, onde compareceu em companhia do guarda civil Nº 191, pertencente ao destacamento policial daquele subúrbio, a autoridade tomou as providências sobre a remoção do cadáver para o delegado de polícia do 2º Distrito, narrando o acontecimento. Finalizou.

MOCAMBOS IRREGULARES GERA INQUÉRITO

No dia 2 de janeiro de 1946, o jornal recifense, Folha da Manhã, publicou uma denúncia afirmando que entre novembro e dezembro de 1945, foram construídos aproximadamente 3.000 mil novos mocambos no Recife, principalmente na periferia. A denúncia gerou um grande reboliço e críticas contra o Serviço Social Contra o Mocambo (SSCM) que motivou a abertura de um inquérito administrativo para investigar supostas irregularidades contra as equipes de demolições e fiscalizações do SSCM, que deveriam coibir as construções de novos mocambos irregulares.

No dia 25 de janeiro de 1946, o SSCM apresentou um relatório sobre a apuração dos fatos. Nas diligências efetuadas na Zona Norte do Recife, foram constatados alguns mocambos construídos neste período nas localidades que hoje compõem o atual bairro do Alto José Bonifácio. Foram confirmados: quatro mocambos na Ladeira do Boi e quinze mocambos no Córrego Jeca Tatu (atual São Domingos Sávio). Interrogado sobre o fato, um dos responsáveis pelas demolições, o Dr. Valter de Oliveira, disse: O interventor Agamenon Magalhães determinou que, considerando a situação aflitiva daqueles que eram obrigados a se retirar de zonas requisitadas pela Liga, e ainda a possibilidade de mocambos ruírem constantemente, fosse permitidos tais habitações naqueles locais. Finalizou.  

O PRIMEIRO COMERCIANTE

No dia 27 de fevereiro de 1946, saiu o primeiro alvará de funcionamento de um comercio de miudezas, localizado na Ladeira do Boi, Nº 167, pertencente ao sr. Severino Ferreira do Amaral. O curioso, é que consta no registro que a Ladeira do Boi, nesta época, era uma localidade da Freguesia do Poço da Panela.

A PAVIMENTAÇÃO DO BAIRRO

Córrego do Euclides, antiga Estrada do Arraial do Brejo. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

CÓRREGO DO EUCLIDES

A pavimentação do atual bairro do Alto José Bonifácio começou pela estrada do Córrego do Euclides por ser a localidade mais antiga e pertencia ao bairro de Casa Amarela. No dia 10 de novembro de 1949, o prefeito Manuel César de Moraes Rego deu início às obras de pavimentação do Beco do Pavão em direção ao Alto José do Pinho pela Rua da Macaíba até o cume, feito todo o calçamento em paralelepípedo. Todavia, entre o Córrego do Bartolomeu até o Córrego do Euclides foi feito apenas o alargamento da estrada e a terraplanagem com cascalho, e a colocação de manilhas sobre o riacho existente entre a Rodinha e a Ladeira do Boi. A obra foi concluída em 1950. A prefeitura alegou que o calçamento da via não foi feito por falta de verba. 

Através da Lei Municipal Nº 833 de 26 de maio de 1950, na sessão presidida pelo vereador Henrique Valença da Mota, foi solicitado que no prazo de 90 dias, o prefeito Manuel César de Moraes Rego, completasse a pavimentação do Córrego do Euclides até junção com a Estrada do Brejo.

Através da Lei Municipal Nº 3457 de 27 de junho de 1955, na sessão presidida pelo vereador presidente da Câmara, Rui Rufino Alves, determinou que o prefeito Pelópidas da Silveira, construísse o canal do Córrego do Euclides.

No dia 23 de março de 1958, a Prefeitura Municipal do Recife, emitiu uma nota nos principais jornais da cidade informando que já havia iniciado a pavimentação do Córrego do Bartolomeu em direção ao Córrego do Euclides.

O Diário de Pernambuco do dia 12 de fevereiro de 1960, publicou em sua coluna diária “Coisas da Cidade” a seguinte nota: “Felizmente que a ligação Casa Amarela – Beberibe, umas das grandes obras do prefeito Pelópidas da Silveira, continua sendo pavimentada já na altura do Córrego do Euclides. Ontem pela manhã, o engenheiro Antônio Cassundé, diretor da Divisão de Viação da Prefeitura, levou o repórter para ver esses trabalhos, que vão beneficiar uma enorme população da outra face do Recife, as dos mocambos que povoam os morros e córregos do seu flanco noroeste”. Finalizou. 

No dia 9 de junho de 1960, a pavimentação do Córrego do Euclides era totalmente concluída, iniciando a pavimentação da Linha do Tiro. Anunciava o Diário de Pernambuco.

Através da Lei Municipal Nº 7644, de 23 de novembro de 1961, na sessão presidida pelo presidente da Câmara, José de Magalhães Melo, autorizando o prefeito do Recife, Miguel Arraes de Alencar a construir pontes sobre o Canal do Córrego do Euclides, ligando-o ao Córrego Mãe Luzia, no Morro da Conceição.

No dia 22 de julho de 1966, o prefeito Augusto Lucena, inaugurou a escadaria da 4ª Travessa do Córrego do Euclides (atual Rua Judite) que dar acesso ao Alto Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Vasco da Gama.

A antiga Ladeira do Boi foi pavimentada em 1967. Foto: Jânio Odon/29.8.2019.

 LADEIRA DO BOI

Através da Lei Municipal Nº 2370 de 2 de setembro de 1953, na sessão presidida pelo presidente da Câmara, Hilo Lins e Silva, autorizando o prefeito do Recife, José do Rego Maciel a pavimentar a Ladeira do Boi, em Casa Amarela.

A Lei Municipal Nº 2370 foi decretada, mas o calçamento da Ladeira do Boi só ficou no papel, entretanto, em 1957, o prefeito Pelópidas da Silveira decidiu finalmente pavimentar a Ladeira do Boi, mas aí, aconteceu um entrave, lideranças comunitárias do bairro de Boa Viagem, protestaram contra a pavimentação da Ladeira do Boi, alegando que há anos, vinham pleiteando junto a prefeitura para que fosse pavimentada a Rua dos Navegantes, naquele bairro, e que não era justo pavimentar uma ladeira onde seus moradores eram mocambeiros que não pagavam nenhum imposto pela sua situação de pobreza, enquanto os moradores daquele logradouro pagavam altos impostos por estar localizado numa área nobre. A pressão foi muita, mas, o prefeito Pelópidas da Silveira não desistiu de pavimentar a Ladeira do Boi. No entanto, com tanta pressão, emitiu uma circular obrigando os moradores da Ladeira do Boi a pagar uma taxa de vinte e um réis (o valor correto) em até três vezes. Diante da situação de miséria que muitos viviam, a pavimentação foi feita em apenas um pequeno trecho. O fato, teve tamanha repercussão que mereceu até protestos e críticas ao prefeito.

No dia 6 de julho de 1957, o Diário de Pernambuco em sua conceituada coluna “Coisas da Cidade” do jornalista Severino Barbosa, publicou a seguinte nota:

A Ladeira do Boi e a Rua dos Navegantes – dizia a manchete - Sendo o calçamento problema de grande interesse público; haja eu que vá censurar ao Dr. Pelópidas porque pavimentou a Ladeira do Boi. Já houve quem censurasse o prefeito Moraes Rego porque pavimentou, ainda que pela metade a estrada Caxangá-Várzea; alegando-se que isso iria valorizar as casas de fulano e beltrano. Como se o calçamento não fosse dever do poder público municipal; para isso se pagando os respectivos impostos e taxas; beneficiando assim a todo mundo.  

Somente o “bê-a-bá” urbanístico de nosso prefeito é difícil de entender. Pois, enquanto calça a Ladeira do Boi, abandona a Rua dos Navegantes, aberta há 32 anos; e deixada ao léu, até hoje; quando o canal de Suez levou apenas dez para ser aberto para à navegação.

E manda expedir uma circular aos moradores dizendo que o calçamento só prosseguirá, se cada proprietário pagar, ou na bucha ou em três meses, a quota de vinte e um contos de réis. Já os moradores de Boa Viagem pagaram, ou de uma vez ou em prestações, à quota do saneamento; e esperaram quase quatro anos para ser atendidos; e nem todos ainda o foram tão desmoralizada ainda a palavra do governo – seja qual for – que o povo não acredita mais em cantigas. 

De mim pagaria a quota; mas antes gostaria de ter a prova de que a prefeitura não tivesse com enganos. Finalizou.

A pavimentação da Ladeira do Boi até o seu cume, poderia ter sido executada anos antes, caso a burocracia não impedisse, pois, no dia 16 de junho de 1961, o prefeito do Recife, José Magalhães Melo, havia sancionado a Lei Nº 7272, que autorizava o início da pavimentação daquela artéria. Algo que não aconteceu.  

O Diário de Pernambuco de 8 de abril de 1965, publicou: O prefeito do Recife, Augusto Lucena, lembrou a necessidade de ser procedido um estudo para realização do calçamento da Ladeira do Boi, serviços que deverão ser iniciados ainda este ano. Finalizou.

No dia 23 de março de 1966, o prefeito do Recife, Augusto Lucena convidou vereadores para visitarem obras da prefeitura, entre elas, o calçamento da Ladeira do Boi.

O Diário de Pernambuco do dia 14 de maio de 1966, divulgou uma nota informando que a pavimentação da Ladeira do Boi estava sendo feita em paralelepípedo sob macadame.

A outra extremidade da Rua Alto José Bonifácio que da acesso a Avenida Uriel de Holanda, na Linha do Tiro. A pavimentação desta via foi inaugurada pelo prefeito Augusto Lucena em maio de 1967. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

No dia 21 de maio de 1967, num domingo, às 20 horas, o prefeito do Recife, Augusto Lucena inaugurou toda a pavimentação da Ladeira do Boi até a Avenida Uriel de Holanda. O prefeito Augusto Lucena disse que a pavimentação daquela via, foi um compromisso assumido com a população ali domiciliada, que anteriormente vivia prejudicada pela falta de estrada que permitisse o acesso de ambulâncias ou outro qualquer tipo de veículo, em atendimento em casos de emergência. Finalizou.

A Prefeitura do Recife informou que o calçamento da Rua Alto José Bonifácio custou CR$ 6.363.225,00 (Seis milhões, trezentos e sessenta e três mil, duzentos e vinte cinco cruzeiros).

Alto da Saudade, no bairro do Alto José Bonifácio. Foto: Jânio Odon/VZN.2021.

ALTO DA SAUDADE

Na sessão da Câmara Municipal do Recife do dia 6 de março de 1950, o vereador Otávio do Nascimento, solicitou a pavimentação da subida do Alto da Saudade. A verdade é que essa solicitação nunca foi executada. Para se ter uma ideia, trinta e três anos depois, a Prefeitura do Recife, propriamente no dia 12 de janeiro de 1983, abriu licitação pública para que fosse feita a pavimentação do Alto da Saudade.

O Córrego José Grande começou a ser pavimentado em 1978. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

 CÓRRREGO JOSÉ GRANDE

No dia 31 de outubro de 1960, a Câmara Municipal do Recife decretou e promulgou a Lei Municipal Nº 6407, autorizando a construção de um canal para escoamento de águas no Córrego José Grande. A sessão foi presidida pelo vereador Carlos José Duarte.

Crianças empinando pipa na escadaria da Rua Lajedo, no Córrego José Grande, 1982. Foto: Josivan Rodrigues/ Jornal do Commercio/Recife.

O Diário de Pernambuco de 5 de novembro de 1972, publicou uma nota sobre a construção da escadaria na Rua Lajedo, no Córrego José Grande. A nota dizia o seguinte:

 PMR Inicia Construção de Escadaria em Bairro – Dizia a manchete - Na próxima quarta-feira (8/11), serão iniciados os trabalhos de construção de escadaria na Rua Lajedo, no Córrego José Grande, bairro de Casa Amarela, em prosseguimento ao programa de atendimento aos morros do Recife, elaborado pelo prefeito Augusto Lucena. 

A obra foi entregue a Secretaria  de Viação, que realizou tomada de preços, saindo vitorioso o engenheiro José Lopes da Cruz, que a concluirá no prazo de 90 dias.

A escadaria terá degraus no sistema de patamares, para maior facilidade de deslocamentos dos transeuntes.

Há muitos anos que os moradores daquela área vinham pleiteando dos poderes públicos esse melhoramento que, juntamente com outras noventa e sete escadarias estão programadas pelas administração da Prefeitura para serem construídas em diversos morros recifenses.

A ladeira da Rua Lajedo, que dá acesso ao Alto da Serrinha, terá uma extensão aproximada de 190 metros, com largura média de 2,30 metros, incluindo as canaletas laterais, além dos muros de arrimo que se fazem necessários para uma melhor sustentação da obra. A escadaria da Rua Lajedo ficou pronta em janeiro de 1973 e custou Cr$ 33.000,00 cruzeiros. Finalizou.

No dia 17 de setembro de 1977, o prefeito do Recife, Antônio Farias, anunciou a conclusão de 29 escadarias nos morros do Recife, entre elas, a da Rua Monte Santo, no Alto do Brasil; e a 2ª Subida do Córrego José Grande.

O Diário de Pernambuco de 23 de agosto de 1978, publicou uma nota sobre o início da pavimentação do Córrego José Grande da seguinte forma:

O Córrego José Grande, em Casa Amarela, com 530 metros de comprimento, é uma via de acesso às ruas São Jerônimo e Hidrolândia. A pavimentação terá 7 metros de largura, sendo um trecho

em paralelepípedo sobre macadame e outro sobre areia. O sistema de drenagem será composto por um canal subterrâneo com 1,40 metros de profundidade e calha de 0,50 centímetros de largura.

As galerias em tubos de concreto terão comprimentos de 140 metros e diâmetro de 40 centímetros. Serão construídos 660 metros de mureta de proteção e instaladas 17 bocas-de-lobo e 6 sarjetas tipo gaveta. Concluiu.

No dia 29 de março de 1984, o prefeito Joaquim Francisco, inaugurou a pavimentação de seis ruas e cinco escadarias no Córrego José Grande.

Escadaria que dá acesso ao Córrego São Domingos Sávio. Foto: Facebook/ ASMAJB.

CÓRREGO SÃO DOMINGOS SÁVIO (Antigo Córrego Jeca Tatu)

No dia 21 de setembro de 1968, era iniciado a construção do canal do Córrego São Domingos Sávio.

No dia 24 de agosto de 1974, o prefeito do Recife, Augusto Lucena, inaugurou a escadaria da 2ª Travessa São Domingos Sávio.

No dia 6 de novembro de 1982, às 19 horas, o prefeito do Recife, Jorge Cavalcanti, inaugurou a pavimentação do Córrego São Domingos Sávio e escadarias.

 ALTO DA SERRINHA

O Diário da Manhã de 23 de novembro de 1978, publicou uma nota à respeito do início da pavimentação do Alto da Serrinha. A nota dizia o seguinte: “Obras na Rua Alto da Serrinha serão iniciadas em poucos dias” – A Prefeitura do Recife vai iniciar, nos próximos dias, serviços de pavimentação, drenagem e urbanização na Rua Alto da Serrinha, em Casa Amarela. A concorrência está sendo analisada pelos órgãos técnicos da Secretaria de Viação e Obras para ser submetida à homologação do prefeito do Recife, Antônio Farias.

O plano em fase de conclusão na Divisão de Coordenação de Projetos, integra o programa prioritário de obras da municipalidade. O prefeito Antônio Farias destacou a importância social da nova via a ser pavimentada, possibilitando o tráfego de veículos de abastecimento, limpeza urbana e coleta de lixo no Alto José Bonifácio.

A Rua Alto da Serrinha acompanha a linha de cumeada dos morros e por isso a sua pavimentação facilitará, também, o acesso dos moradores. A pavimentação vai ser complementada a partir da Praça Brasil Geraldo, interligando este logradouro à Praça João XXIII. Os serviços serão efetuados numa extensão de 700 metros, por sete de largura, e incluem drenagem e urbanização das duas praças.

As obras estão avaliadas em mais de CR$ 2 milhões de cruzeiros. A Rua Alto da Serrinha é de grande importância para o trânsito local e será, ainda, em pouco tempo, essencial ao tráfego urbano, a ponto de ter sido prioritariamente no planejamento da Empresa Brasileira de Transportes (EBTU). Finalizou.

No dia 8 de março de 1980, num sábado à noite. Depois de um ano e três meses, finalmente o calçamento do Alto da Serrinha foi inaugurado pelo prefeito Gustavo Krause. A obra que no princípio estava orçada em CR 2 milhões de cruzeiros, acabou custando CR$ 5 milhões de cruzeiros à prefeitura do Recife. Os recursos foram provenientes do Banco Mundial e da Empresa Brasileira de Transporte Urbano (EBTU), repassados pela FIDEM para prosseguimento ao Programa de Vias Alimentadoras de Transporte em Massa da Região Metropolitana do Recife. A pavimentação do Alto da Serrinha, foi a segunda do programa a ser inaugurada num total de 17 vias. A primeira, foi a da Vila dos Contínuos, no bairro de Areias. 

Mais de três mil pessoas estiveram presente a inauguração. Compareceram ao evento, o vereador Romildo Gomes Filho, secretários municipais, assessores e o prefeito do Recife, Gustavo Krause, que em seu discurso, falou: “Quis Deus que esta fosse uma noite bonita, que não chovesse e as estrelas iluminassem o céu. Estou feliz ao resgatar mais uma dívida com a comunidade. E quem diz que não vê o que a prefeitura do Recife está fazendo é porque não conhece o Alto José Bonifácio, o Alto da Boa Esperança, o Morro da Conceição, o Alto da Serrinha, e outros bairros pobres da Cidade, onde a prefeitura  vem realizando serviços. O calçamento do Alto da Serrinha, evitará agora que o povo atole o pé na lama, e que tenha de descer o morro para apanhar ônibus. Os coletivos do Alto José Bonifácio agora servirão também aos moradores do Alto da Serrinha. O homem do Alto da Serrinha sonhou com a pavimentação desta rua, e quis Deus que o sonho se tornasse realidade”. Finalizou o discurso, o prefeito, bastante emocionado.

Antes do discurso do prefeito, discursaram a senhora Maria Ribeiro, moradora e representante dos moradores do Alto da Serrinha, e o vereador Romildo Gomes Filho.  

Num palanque armado no Alto da Serrinha, o prefeito Gustavo Krause, discursa para os moradores do Alto José Bonifácio na inauguração do calçamento do Alto do Brasil em 1981. Foto: Diário de Pernambuco.

 ALTO DO BRASIL

A ocupação do Alto do Brasil se deu em 1945, mas sua pavimentação só foi inaugurada em 2 de agosto de 1981, pelo prefeito do Recife, Gustavo Krause. Na ocasião, o Alto do Brasil era uma localidade do Alto José Bonifácio. Com a criação das Regiões Politico Administrativas (RPAs) em 1988, o Alto José Bonifácio tornou-se um bairro e o Alto do Brasil foi vinculado ao bairro do Alto Santa Terezinha. O calçamento do Alto do Brasil tinha 700 metros de extensão, por 5 metros de largura e custou CR$ 6 milhões de cruzeiros. Num palanque armado no Alto da Serrinha, o prefeito Gustavo Krause falou para cerca de 10 mil pessoas : “Quantos títulos de propriedade de terra foram distribuídos aos favelados do Recife, quando os mistificadores se encontravam no poder? O serviço de pavimentação de ruas, a exemplo da construção de escadarias, escolas e creches é importante para o bem-estar das comunidades, porém o mais importante ainda é que vocês permaneçam unidos, permaneçam organizados e permaneçam senhores de seu destino. Que o homem do Recife seja dono de seu destino e participe politicamente, socialmente e democraticamente dos seus destinos, para que não cheguem outros mistificando. 

Para que a força da decisão não seja no poder, mas que esteja em vocês. Esteja em cada associação de bairro, em cada vereador, em cada conselho de moradores, em cada homem. Tenho dedicado todo tempo e ações na Prefeitura procurando criar uma consciência social. É para isto que estou lutando, e para isto continuarei a lutar, e deste caminho não desviarei”. Finalizou. Esteve na inauguração, o governador Marco Maciel, o secretário de cultura, turismo e esportes, Francisco Bandeira de Melo, vereadores, secretários municipais, representantes de bairros e a Escola Gigante do Samba.

Antigo ônibus da Empresa São Paulo nos anos de 1980, linha AJB/Av. Norte. Foto: Facebook/autor desconhecido.

O TRANSPORTE COLETIVO

Antes do prefeito do Recife, Manuel César de Moraes Rego, concluir parte da pavimentação do Córrego do Bartolomeu e do Córrego de Euclides em 1950. Surgiu a primeira linha de ônibus adentrar nestes córregos. Foram seis ônibus pertencentes a Rodoviária Vasco da Gama. Conforme publicou o Jornal Pequeno do dia 28 de agosto de 1950. Os ônibus, não ultrapassaram a conhecida “Rodinha”, porque não foi feita uma ponte sobre o riacho que vem do Vasco da Gama, atravessando a via e seguindo em direção a Bomba do Hemetério. De qualquer forma, amenizou o sofrimento dos antigos moradores do atual bairro do Alto José Bonifácio que tinham que descer a Ladeira do Boi e dos difíceis acessos daqueles que moravam nas encostas e córregos da localidade em direção ao distante centro de Casa Amarela ou para pegar os escassos   ônibus que circulavam na Avenida Norte rumo ao centro do Recife.

O Jornal Pequeno, de 15 de dezembro de 1953, publicou a insatisfação dos moradores do Córrego do Euclides e de sr. Júlio, proprietário da linha de ônibus local, pela buraqueira existente na estrada entre o Córrego do Bartolomeu e o pequeno trecho do Córrego do Euclides. Apelaram também para que fosse feito o calçamento do Beco do Pavão. O jornal adiantou: “...os moradores não estão satisfeitos, e muito menos o sr. Júlio, proprietário da Rodoviária Vasco da Gama, porque os seus calhambeques fazem um esforço dos diabos para chegar ao fim da linha”. Finalizou.    

Com a conclusão da pavimentação em paralelepípedo de toda a extensão do Córrego do Euclides, no primeiro semestre de 1960. A Empresa Borborema começou a operar nesta linha com vinte ônibus divididos com a linha da Avenida Norte. A Empresa Borborema, foi a primeira a servir a população da parte baixa do Alto José Bonifácio.

CTU VERSUS BORBOREMA

Em junho de 1960, a recém-criada Companhia de Transportes Urbanos (CTU), pertencente a Prefeitura do Recife, resolveu criar e explorar as linhas de ônibus elétricos na região de Casa Amarela, entre elas, a do Córrego do Euclides. Isto, gerou insatisfação e indignação por parte dos empresários da Empresa Borborema que exploravam parte das linhas de ônibus desta populosa região e que seriam obrigados a deixarem suas áreas de atuação para ceder aos chamados “Trolleybuses". 

No dia 8 de junho deste mesmo ano, houve uma reunião entre os representantes da Empresa Borborema e da CTU para resolver este verdadeiro imbróglio. Durante reunião no DBEP, o advogado da Empresa Borborema, sr. Craveiro Leite, argumentou que seu constituinte foi tomado de surpresa, motivo pelo qual, esperava contar com a compreensão da Prefeitura. Disse que o plano inicial da Prefeitura Municipal do Recife era instalar os elétricos em Tejipió, motivo pelo qual, naquela oportunidade, fez altos investimentos na aquisição de nova frota.

Essa quebra de braço entre a Borborema e a CTU perdurou por mais dois anos. No dia 30 de janeiro de 1961, o presidente da CTU, general Viriato de Medeiros disse a imprensa que as redes aéreas há dias estavam montadas e que os ônibus elétricos (trolleybus) da linha do Córrego do Euclides começariam a circular dentro de poucos dias. Fato este, que não aconteceu. A CTU informou que o problema era com a companhia de energia elétrica que não havia instalados os transformadores necessários para o funcionamento eficaz dos elétricos.

No dia 14 de maio de 1963, No Recife, havia um grande descontentamento pelos donos das empresas de ônibus particulares contra a CTU, que segundo eles, quis monopolizar e agiu de forma arbitrária e discriminatória ao entra nas áreas onde já existiam as linhas exploradas pelas empresas particulares. O que acarretou um boicote contra a CTU, onde os ônibus particulares foram retirados de suas áreas de atuação pelos seus proprietários, obrigando a CTU a fazer um remanejamento de alguns ônibus de suas linhas para suprir às necessidades dos bairros mais afetados.

O diretor- presidente da CTU, Geraldo Porto de Mendonça, declarou à Agência Nacional de Notícias, que de janeiro do ano em curso até os dias atuais (1963), nada menos de 108 ônibus saíram de circulação no Recife. O que representa um déficit de mais ou menos 130 mil lugares diários. A CTU teve, em consequência, que obturar algumas de suas linhas, sacrificando outras, porque do contrário, parte da população nos lugares em que as empresas particulares retiraram ou diminuíram o número de seus veículos, ficaria sem nenhum meio de transporte.

Salientou ainda, que agravando esta situação, a frota da CTU foi sobrecarregada por um número maior de passageiros por veículo, o que acarretou demora mais prolongada, inclusive, devido às paradas mais sucessivas e demoradas, e ainda em face de fraturas de molas e outras panes. Algumas decorrentes da deficiente pavimentação da cidade. Finalizou.

Diante deste grande problema entre a CTU e as empresas particulares, os moradores do Córrego do Euclides foram os mais prejudicados. Pois, a Empresa Borborema que mantinha vinte ônibus circulando na linha, com a entrada dos ônibus elétricos da CTU, retirou todos. O que obrigou a CTU a remanejar ônibus de outras linhas para o Córrego do Euclides, sendo em quantidade bem menor. O que ocasionou revolta e insatisfação aos moradores, já que houve muitas reclamações por violações de filas.

O Diário de Pernambuco de 16 de junho de 1968, publicou o pronunciamento do secretário de Viação e Obras da Prefeitura do Recife, José Mário Freire, falando da conclusão da pavimentação de diversos morros da zona norte da Cidade e da circulação dos ônibus da CTU. O jornal acrescenta: “Os altos José Bonifácio, Serrinha, Terezinha, Pascoal e Deodato estão pavimentados, onde já trafegam os ônibus da CTU, facilitando assim, o transporte das populações ali residentes e permitindo a passagem dos ônibus em locais antes inacessíveis ao tráfego.” Finalizou. A primeira linha de ônibus a subir a Ladeira do Boi, no ponto mais alto do bairro, foram os ônibus da CTU à diesel, Linha 109- Alto José Bonifácio. 

ÔNIBUS APREENDIDOS

O Diário da Manhã de 18 de abril de 1972, publicou uma nota sobre apreensão de dois ônibus da linha do Alto José Bonifácio pela DCP por irregularidades. A nota dizia o seguinte: “O Departamento de Concessões e Permissões (DCP) de funcionamento de coletivos, apreenderam dois ônibus da linha do Alto José Bonifácio, por ter multas atrasadas e sem extintores de incêndio. O DCP também fiscalizou ônibus para coibir a ação dos fumantes em cumprimento da Lei Municipal Nº 4695/57, que proíbe aos passageiros , motoristas e cobradores fumarem dentro dos coletivos. Quando constatado um passageiro fumando, são multados os cobradores e os motoristas, mas se eles forem os fumantes, o ônibus seria apreendido e a empresa multada”. Finalizou.  

O Expresso 18 de Setembro, serviu pouco tempo a população do Alto José Bonifácio, em junho de 1980, foi vendida à Empresa São Paulo. Gravura: Erick Santos/busdovanderbilt.wordpress.com

MUDANÇAS

Em janeiro de 1978, os ônibus da Expresso 18 de Setembro já faziam a linha do Alto José Bonifácio, substituindo os ônibus à diesel da CTU. Em novembro de 1979, a CTU retirou todos os ônibus à diesel que circulavam em Casa Amarela. A Expresso 18 de Setembro tinha 38 ônibus, além de servir a linha do Alto José Bonifácio, servia as linhas da Bomba do Hemetério e do Alto do Mandu. Em junho de 1980, foi vendida para a Empresa São Paulo, da Família Morato. 

Ônibus elétrico do Córrego do Euclides/1980. Foto: Facebook/Autor desconhecido.

OS ELÉTRICOS DO CÓRREGO DO EUCLIDES

O Diário de Pernambuco de 20 de março de 1978, publicou uma reclamação sobre as condições e o péssimo atendimento aos usuários dos ônibus elétricos do Córrego de Euclides. A nota dizia o seguinte: “Vários moradores do Córrego do Euclides, fizeram um apelo a CTU, sobre a desorganização que está havendo no serviço de ônibus daquela linha, prejudicial aos que trabalham, têm horários a cumprir e  dependem dos coletivos que fazem o terminal no Córrego do Euclides. O caso está a merecer as providências da direção da CTU, porque não é de hoje, que o desmantelo vem acontecendo. Afirmam os reclamantes, que o intervalo de um ônibus para o outro é muito grande, tendo ocasião de esperarem quase uma hora, para chegar um coletivo naquele terminal. Além disso, dizem os reclamantes, que os ônibus que servem a linha do Córrego do Euclides, são verdadeiros calhambeques, largando os pedaços, e que são servidos só por ônibus elétricos. Alguns moradores daquele bairro, impacientes de tanto esperarem pelos tais elétricos, resolvem descer para a Avenida Norte, onde passam coletivos abundantemente. Eles fazem um apelo a direção da CTU, no sentido que seja melhorado o serviço de atendimento, colocando na linha ônibus à diesel, e pelo menos uns dois opcionais,pois, dizem eles, que no Córrego do Euclides tem passageiros que podem pagar  muito bem uma passagem no opcional. Alegam que existe linha para opcional no Vasco da Gama, Monteiro e porque não, no Córrego do Euclides?”. Finalizou.

A Empresa São Paulo da família Morato, serviu a comunidade do Alto José Bonifácio durante 33 anos e 11 meses, quando se desfez em 2014. Foto: Paulo Rafael Viana.

AS NOVAS MUDANÇAS

Durante 33 anos e onze meses, a Empresa São Paulo, do empresário Luiz Antônio Morato de Souza, serviu a comunidade do bairro Alto José Bonifácio. No dia 23 de maio de 2014, ela se desfez e sua frota foi vendida as empresas de ônibus, Caxangá, Globo, Pedrosa e Transcol. O consorcio Globo/Pedrosa ficaram com a linha 710- Beberibe/Derby, que faz terminal no Alto José Bonifácio. A Transcol ficou com a linha 718- Córrego do Euclides e a Rodoviária Caxangá ficou com as linhas: 714- Alto José Bonifácio/ Av. Norte; 743- Alto José Bonifácio/João de Barros e a 745- Alto José Bonifácio/Bacurau. Ainda circula a linha 118- Alto do Maracanã/Alto do Brasil, pelo Serviço de Transporte Complementar de Passageiros (STCP).

Em junho de 1979, a Prefeitura do Recife, criou as vias alimentadoras para facilitar a mobilidade do transporte público da Cidade. Foram pavimentadas e restauradas 47 ruas, financiada pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) no valor global de CR$ 96 milhões de cruzeiros. O Alto José Bonifácio foi beneficiado com a pavimentação do Alto da Serrinha, que foi inaugurado no dia 9 de março de 1980. Foram criados 16 corredores de ônibus de vias alimentadoras: Monsenhor Fabrício; Vila Cardeal Augusto Lins e Silva; Campina do Barreto; Vila do Sesi; Várzea; Vila dos Contínuos; Três Carneiros; Camaragibe/Cohab; Alto Dois Carneiros; Vila da Cohab; Jardim Jordão; São Benedito; General San Martin, Engenho do Meio e o do Alto José Bonifácio que teve sua via alimentadora inaugurada em 10 de março de 1980.

Em 25 de abril de 1983, a EMTU criou a linha Nº 755- Alto José Bonifácio, que tinha o terminal na Praça João XXIII no Alto da Serrinha, descia a Ladeira do Boi, ia pela Bomba do Hemetério, pegava a Rua Fernanda César e saía na Avenida Norte, seguia pela Avenida Cruz Cabugá, Rua do Hospício e retornava pela Rua do Sol. Esta linha não vingou e acabou sendo extinta.

No dia 28 de abril de 1992, o CMTU (Conselho Metropolitano de Transportes Urbanos) através da resolução Nº 009/92, criou a linha de ônibus 770- Alto José Bonifácio /Casa Amarela, que depois foi extinta.

No dia 24 de janeiro de 1999, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) inaugurou o mini terminal de passageiros no Alto da Serrinha, no Alto José Bonifácio, equipados de lanchonete e sanitário. Concluído.

 IGREJA BATISTA, A MAIS ANTIGA DO BAIRRO 

A igreja Batista do Alto José Bonifácio, localizada na rua principal, na antiga Ladeira do Boi, foi fundada em 2 de março de 1951, já serviu como escola primária, recebendo subvenção da Prefeitura.

ONZE BELMONTE FUTEBOL CLUBE

O Onze Belmonte foi o time de várzea mais famoso e o segundo mais antigo do bairro do Alto José Bonifácio. É mais antigo até  do que a Escola Caio Pereira, o clube foi fundado em  8 de maio de 1954, representou o bairro junto com o Palmeirinha na tradicional Copa Arizona, o maior campeonato de futebol amador já realizado no Estado, nos anos de 1970 e 1980. Infelizmente, os times de bairros estão se acabando, os campos de pelada estão ficando escassos, motivos pelo qual, o Onze Belmonte foi extinto. Sua antiga sede na Rua Alto da Conquista, se transformou numa biblioteca Comunitária em 1997, menos mal.

Jornalista Caio Pereira em foto de 1939. Foto: Jornal Pequeno/Recife.

A PRIMEIRA ESCOLA

A Escola Caio Pereira é um marco na história da comunidade do bairro do Alto José Bonifácio por ser a primeira instituição pública instalada na localidade, a escola foi base dos principais eventos culturais e sociais do bairro, como local de votação nas diversas eleições do TRE, posto de vacinação, distribuição de leite, cursos profissionalizantes, desde o tempo do Serviço Social Contra o Mocambo (SSCM). No entanto, ela não foi a primeira instituição de ensino no Alto. No dia 25 de março de 1949, funcionou uma pequena escola particular no antigo lote 18, que em 1962, foi reconhecida como de utilidade pública e denominada de “Unificação Escolar” pela Câmara Municipal do Recife através do Decreto Nº 8008, de 14 de junho de 1962, na sessão presidida por Antônio Moury Fernandes. Nenhum documento foi encontrado sobre o fim de suas atividades.

No dia 30 de outubro de 1953, o Departamento de Obras da Prefeitura do Recife encaminhou o ofício Nº 313 à Procuradoria Fiscal do Estado, o termo de contrato provisório com a empresa Construtora Lemos & Asfora Ltda para a edificação de um prédio destinado à Escola Típica Rural da Ladeira do Boi (atual Escola Caio Pereira), na Ladeira do Boi, em Casa Amarela.

Durante o governo de Etelvino Lins (12/12/1952 a 31/01/1955) o déficit escolar no Estado era imenso, era preciso mais escolas e mais investimentos. A periferia começou a crescer desde a criação da Liga Social Contra os Mocambos em 1939, no governo de Agamenon Magalhães. Mais de 40 mil mocambos foram demolidos na região central do Recife durante sua gestão. A população desalojada procuravam os morros da zona norte e noroeste do Recife e Olinda. As comunidades criadas nos morros sem a menor infraestrutura, era um portal aberto para a entrada das chamadas células comunistas, bastantes combatidas neste período pelo governo.

Etelvino Lins, foi buscar ajudar do governo federal nas gestões dos Presidentes da República Getúlio Vargas e Café Filho. Em sua gestão, o governador construiu vários grupos escolares e escolas rurais em todo o Estado.

Em março de 1955, o governador Etelvino Lins publicou no Diário Oficial do Estado, um balanço de seu governo. Destacando a criação de quatros escolas denominadas “Escolas Típicas Rurais” construídas nas seguintes localidades: Alto do Mandu (França Pereira), Córrego da Guabiraba (Tomé Gibson), Vila São Miguel em Afogados e outra na Ladeira do Boi (Caio Pereira). O relatório revela que a escola da Ladeira do Boi foi construída em 1954, todavia, não informa dia e mês. Diz apenas que a escola foi entregue mobiliada e que suas carteiras foram fabricadas pela Indústria de móveis Santa Terezinha através de concorrência pública.  

As primeiras professoras foram nomeadas pela Secretaria de Educação do Estado em abril de 1955 para ensinarem na escola rural da Ladeira do Boi, foram elas: Aurelina Alves de Araújo que veio transferida de Xexéu no município de Água Preta através da Portaria Nº 918 de 1/4/1955, e Elizete Pessoa de Carvalho que era do município de Angelim através da Portaria Nº 1086, de 22/4/1955. As disciplinas não foram divulgadas.

No dia 22 de outubro de 1955, o governador Cordeiro de Farias assina o Ato Governamental Nº 2746, modificando o nome da escola que outrora chamava-se Escola Típica Rural da Ladeira do Boi e que passou a se chamar Escola Reunida Rural Caio Pereira. O Ato acrescenta a justificativa do nome do jornalista dado a escola: ...tendo em vista a sua destacada atuação como jornalista na capital pernambucana.

No dia 27 de outubro de 1955, a Srª Petronila Lins Pereira, viúva do jornalista Caio Pereira, envia um telegrama para o secretário de educação, Aderbal Jurema, agradecendo a escolha do nome de seu marido para ficar imortalizado na faixada deste verdadeiro marco localizado na Ladeira do Boi, a Escola Caio Pereira. O telegrama acentua: “Viúva Caio Pereira e filhos, sensibilizados agradecem a proposta de V. Exª para a denominação dada as Escolas Reunidas Caio Pereira, com homenagem ao nosso inesquecível chefe”.   

 O jovem jornalista Caio Monteiro Pereira. Foto: Revista Moderna/Recife/1920.

Caio Pereira era jornalista, advogado e filósofo. Nasceu na cidade de Palmares-PE em 22 de abril de 1895. Era filho de José Luiz Pereira e Rosa Cavalcanti Pereira. Era casado com a Srª Petronila Lins Pereira (Dona Nila) e tiveram cinco filhos: Aldo, Aleth, Ajax, Ada e Aglaia.

Diplomou-se pela Faculdade de Direito do Recife em 1915. Chegou a ser promotor público em sua cidade, mas quis mesmo seguir o jornalismo. Foi secretário da redação do Jornal do Commercio do Recife desde a sua fundação em 1919.

O Diário de Pernambuco do dia 25 de maio de 1948 em sua coluna “Os escritores da vida comum” presta uma homenagem ao jornalista Caio Pereira, dirigente do Jornal do Commercio do Recife e o seu rigoroso uso gramatical em seus artigos. O Diário publicou um desses episódios da seguinte forma:

Uma das figuras mais dignas da imprensa do Recife foi o jornalista Caio Pereira, prematuramente desaparecido. Secretário de um matutino, era conhecido o seu rigorismo gramatical, a sua aristocracia verbal e a sua imediata resistência a tudo quanto lhe parece afetar a pureza da expressão vernacular.

Recebeu certa vez, a incumbência de escrever um artigo de ataque a determinado político. O artigo foi escrito e dele, entre outras expressões difíceis constava esta: “O sr. Fulano de tal pitateado de embofias...

Ninguém da redação sabia o que aquilo queria dizer e ninguém queria perguntar. O diretor tomou essa iniciativa:

- Dr. Caio, o que significa “pitateado de embofias”?

- Ora, uma coisa muito simples: cheio de si.

- E porque o sr. não escreveu mesmo cheio de si?

- Ah! Isso não, nunca! É a linguagem do vulgo. Finalizou. 

Caio Monteiro Pereira faleceu em 13 de julho de 1939, aos 46 anos, vítima de tuberculose. Na ocasião de sua morte, morava na Rua Corredor do Bispo, nº 111, no bairro da Soledade em Recife.

Como se pode ver, a Escola Caio Pereira foi inaugurada no ano de 1954, provavelmente no final do ano. As primeiras professoras começaram a ser nomeadas a partir de 1955, quando começaram a dar aulas aos primeiros alunos do ensino primário (1ª a 4ª série). A escola ainda se chamava de Escola Típica Rural da Ladeira do Boi, mas logo foi mudado para Escola Reunida Rural Caio Pereira. No início de 1965, passa a ser Grupo Escolar Caio Pereira. A partir de 1974, a escola com apenas cinco salas de aula, amplia os ensinamentos para a 5ª e 8ª séries. Em 1987, é implantado o ensino médio. Atualmente a escola conta com 13 salas de aula e aproximadamente com 1.350 alunos, distribuídos entre os ensinos fundamental, médio e educação de jovens e adultos (EJA).

SENEC PROMOVE INTEGRAÇÃO ESCOLA – COMUNIDADE

No dia 18 de novembro de 1965, o Diário Oficial do Estado, publicou: Senec realiza integração a escola no Alto José Bonifácio – dizia o título – O Alto José Bonifácio, antiga Ladeira do Boi, Casa Amarela, constitui mais uma área selecionada pelo Serviço Social Escolar, do Departamento de Assistência Escolar do Senec, com vistas ao trabalho de integração da escola à comunidade, de acordo com a orientação do programa educacional do Governo Paulo Guerra.

Sua população é avaliada em 2.500 pessoas e a percentagem de adultos analfabetos atinge a 48%. Funcionam no Alto José Bonifácio o Grupo Escolar Caio Pereira, da Secretaria de Educação e três escolas particulares de capacidade de atendimento muito limitada. A Senec juntamente com a Paróquia do Bom Jesus do Arraial (Rua da Harmonia) e a Escola do Serviço Social de Pernambuco, ali iniciou um trabalho que obedece a interesses gerais das três entidades.

Pela Senec foi aberto um núcleo do Serviço Social Escolar no Grupo Escolar Caio Pereira. A equipe de trabalho do Alto José Bonifácio é composta por uma assistente social e uma auxiliar técnica, pertencente ao quadro da Senec, três alunas da Escola do Serviço Social e uma assistente social supervisora dos estágios, além de três seminaristas, ligados diretamente a paróquia.

O trabalho no Alto José Bonifácio foi iniciado com a realização de uma pesquisa social que possibilitou aos membros da equipe adquirirem conhecimento das condições econômicas, culturais, sociais e religiosas da área, identificando os principais problemas e o seu reconhecimento pelos próprios moradores. Foram constatados como problemas prioritários: rua principal sem calçamento, racionamento de água nos chafarizes, banheiros e lavanderias, número de matriculas escolares insuficientes e falta de recursos médicos assistenciais.

Junto às escolas foi aplicado um questionário que mostrou o grau de relacionamento escola-família-comunidade. A equipe de trabalho uma vez conhecedora de certos aspectos da realidade local, tomou como meta a formação de um Conselho de Moradores que se responsabilizasse por toda ação na área. O trabalho visa também levar às escolas uma maior integração na comunidade, isto através de uma ação junto ao professorado, para um melhor preparo e utilização dos círculos de pais e mestres. Outro objetivo é a organização de grupos de voluntários da Paróquia, dotados de melhores condições sociais e econômicas, e dispostos a atuar no Alto.

A iniciativa, através de reuniões com grupos de vizinhos caminha para eleição de representante de rua, que constituirão o Conselho de Moradores. De tais reuniões organizaram-se, também, comissões para estudo e solução para os problemas locais. Foi assim que depois de vários contatos na Prefeitura Municipal do Recife e de “abaixo-assinados” dirigidos ao prefeito, os moradores do Alto obtiveram a promessa do calçamento da ladeira (do Boi), ainda este ano.

As atividades desenvolvidas juntos às escolas e em particular, ao Grupo Escolar Caio Pereira, onde está localizado o Núcleo do Serviço Social Escolar, contam com a maior aceitação e apoio por parte dos dirigentes e professoras, igualmente integrados nas atividades gerais da comunidade.

Grupos da Paróquia também estão sendo mobilizados no sentido de uma maior participação nos trabalhos do Alto, prestando sua colaboração na organização de festividades, motivação da comunidade para as reuniões e mobilização de recursos necessários à conclusão de um prédio que serviria de ambulatório médico e centro social. Finalizou.    

O Diário de Pernambuco do dia 13 de setembro de 1966, publicou uma nota do deputado Wilson Santana, saudando a então diretora da Escola Caio Pereira da seguinte forma: Missão – O sr. Wilson Santana congratulou-se com a diretora do Grupo Escolar Caio Pereira, professora Maria de Lurdes Tasselli de Macedo Assis, pelo seu grande e devotado amor à nobre e espinhosa missão que lhe foi confiada. Concluiu.  

No dia 23 de setembro de 1970, foi inaugurado a cantina do Grupo Escolar Caio Pereira, que na ocasião atendia 1.250 crianças, foi instalado uma máquina homogeneizadora de leite em pó, com capacidade de liquidificar 249 litros de leite por hora. Publicado no Diário Oficial do Estado.

No dia 24 de abril de 1985, foi fundada a Banda Marcial da Escola Caio Pereira. atualmente composta por 65 jovens da comunidade, alunos do grêmio da escola e sob coordenação da professora Jane Coutinho. Já fez apresentações nos Estados da Bahia, São Paulo e diversas cidades do interior de Pernambuco. Ocupa o 7º lugar no ranking das bandas marciais do Estado.

O célebre professor Zanoni Carvalho ao lado do vereador Almir Fernando, sendo homenageado pela Câmara Municipal do Recife em 2018.

No dia 2 de março de 2018, através da indicação do vereador Almir Fernando, que nasceu no Alto José Bonifácio. A Escola Caio Pereira foi homenageada na Câmara Municipal do Recife, pelos 60 anos de sua existência, na verdade, ela estaria completando 64 anos. Entre os homenageados se destacou o professor Zanoni Carvalho da Silva que há 42 anos ensina nesta escola. O célebre professor Zanoni, recebeu merecidamente uma placa comemorativa pelos relevantes serviços prestados a Escola Caio Pereira, onde leciona desde 1975.

Na ocasião, a gestora da escola, Cláudia Jaqueline, salientou que a Escola Caio Pereira é o coração do Alto José Bonifácio, congregando ex-alunos, artistas locais, a Banda, e a equipe de futsal. E é agradecendo a equipe de professores e funcionários, além da comunidade que nos ajuda, que recebemos a homenagem. “Nós fazemos a diferença e seremos sempre vitoriosos”. Finalizou. 

No dia 25 de novembro de 2019, A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, inaugurou o Telecentro da Escola Caio Pereira que recebeu mobília, computadores, um roteador, uma impressora multifuncional, switch, projetor multimídia, câmara IP, tela de projeção, televisor e ar condicionado. Luciana Santos em seu discurso, disse:

- Vivemos uma transformação radical no mundo do trabalho a partir da inserção da tecnologia e das ferramentas de inovação. Hoje a robótica, a inteligência artificial, a impressora 3D, e os aplicativos, por exemplo, são as ferramentas que estão mudando a relação de trabalho, e nós precisamos preparar a nossa juventude, para o futuro, para esse futuro que já é presente. Temos que dar conta destas transformações e, sem dúvida alguma, ter bons equipamentos na escola e internet com velocidade contribui para que a escola possa avançar na pesquisa e no aprendizado, concluiu. Estiveram presente na solenidade, a gestora regional de educação – Recife Norte, Neuza Pontes; vereador Almir Fernando; diretora da escola, Verônica Moraes; moradores e lideranças comunitárias.

Depois que a Escola Caio Pereira começou suas atividades em 1955, outras escolas surgiram no bairro, como: a Escola Primária da Igreja Batista, na Ladeira do Boi; Escola Primária Fonte de Cristo no lote 18, na Ladeira do Boi; Escola Primária “A Caridade”, no Córrego do Euclides, Nº 1274; Escola Mista Alto José Bonifácio, na Rua São Miguel (atual Rua Âmbar), Nº 1156; e o Serviço Social do Centro Espírita Cabocla Antônina, Rua São Miguel, nº 86. Estas escolas surgiram entre 1959 a 1964.

No dia 3 de fevereiro de 1957, foi inaugurada a Escola Mínima do Córrego do Euclides. Através da Lei Municipal Nº 16.936 de 29 de dezembro de 2003, sancionada pelo prefeito João Paulo, a escola passou a ser denominada Escola Municipal Córrego do Euclides.

No dia 5 de junho de 1960, o prefeito Miguel Arraes de Alencar, inaugurou a Escola Municipal do Centro Esportivo Bartolomeu, no Córrego do Euclides. O Centro Esportivo Bartolomeu foi fundado em 1936.  

No dia 12 de março de 1961, o governador Cid Sampaio inaugurou 38 escolas de 1º grau  na área de Casa Amarela, instaladas pelo Grupo de Trabalho da Promoção Social, do Serviço Social Contra o Mocambo (SSCM) que era presidida pelo sr. Paulo Rangel Moreira. Uma dessas escolas foram instaladas no Alto Santa Terezinha e outra no Córrego José Grande.

Escola Municipal Margarida de Siqueira Pessoa, no Córrego José Grande. Inaugurada em 1970. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

Através da Portaria Estadual Nº 933 de 9 de abril de 1970, a Secretária de Educação e Cultura, autorizou o funcionamento da Escola Reunidas Margarida de Siqueira Pessoa, no Córrego José Grande, Nº 1307, Casa Amarela.

Foto antiga da Escola Municipal Compositor Levino Ferreira. Foto: Diário de Pernambuco/1978.

No dia 11 de maio de 1978, o prefeito Antônio Farias inaugurou a Escola Compositor Levino Ferreira, que já estava funcionando desde fevereiro e tinha três salas de aula, 360 alunos e funcionava em três turnos. Era mantida pela Fundação Guararapes. A inauguração aconteceu às 16 horas, onde foi lida a biografia do compositor Levino Ferreira e colocado o seu retrato na sala da diretoria. Diante do prefeito e demais autoridades, a banda marcial da Escola Vasco da Gama executou dois números. A Escola Maria Sampaio Lucena apresentou números de frevo. Houve um coquetel no final da solenidade. Finalizou.

 No dia 20 de fevereiro de 1982, foi fundado o Centro Recreativo do Alto José Bonifácio, na Rua Alto José Bonifácio, Nº 529, em Casa Amarela.

ILUMINNAÇÃO PÚBLICA

Durante quase três décadas, as localidades que compõem o atual bairro do Alto José Bonifácio, viveram à base de velas e candeeiros. Isso porque, o Estado vivia uma crise energética imensa, que só foi amenizada a partir da captação de energia da Usina Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) a partir de 1955, sendo que primeiramente na Capital.

Enquanto isso, o Departamento de Águas e Energia (DAE) do governo do Estado, era responsável pelo fornecimento de energia nesta região. Captando energia de pequenas usinas termelétricas e usadas de forma precária no uso, principalmente, das bombas que impulsionavam água aos chafarizes dos córregos e morros do Recife.

Em 1954, alguns pontos do Córrego do Euclides, começou a ter energia elétrica fornecido pelo DAE. Já a Ladeira do Boi até o cume, chegou de maneira lenta e gradativa em 1959. Em 1960, o DAE foi transformado numa autarquia, que autorizou a SILFB (Serviço Industrializado de Luz e Força de Beberibe) que captava energia da Chesf através da subestação de São Benedito, em Olinda, a fornecer energia elétrica para o Alto José BonifácioAlto da Serrinha a partir de 1964. E finalizando a eletrificação na parte norte da Ladeira do Boi até atingir a Rua Uriel de Holanda, na Linha do Tiro, a partir de 1967, feito pela Celpe (Companhia de Eletricidade de Pernambuco).  

Abaixo, alguns pedidos de parlamentares e uma queixa de um morador à respeito da iluminação pública, nas localidades do bairro.

O Jornal Pequeno do dia 10 de setembro de 1953, publicou uma nota que dizia o seguinte: “ O cripto vereador comunista José Guimarães Sobrinho, pediu iluminação pública para os córregos do Bartolomeu e Jeca Tatu (atual Domingos Sávio) e para a Ladeira do Boi, Todos em Casa Amarela”. Finalizou.

A Lei Municipal Nº 2859 de 22 de abril de 1954, promulgada pelo presidente da Câmara de Vereadores, Antônio Moury Fernandes, solicitou que a Prefeitura Municipal do Recife instalasse iluminação pública na rua principal do Córrego do Euclides em prosseguimento à posteação ali existente.

Lei Municipal Nº 2879, de 15 de junho de 1954, autorizou o prefeito do Recife, José do Rego Maciel, a efetuar a iluminação pública do Córrego José Grande. A sessão foi presidida pelo vereador Antônio Moury Fernandes.

A Lei Municipal Nº 3252 de 15 de março de 1955, autorizou o prefeito Djair Brindeiro, a instalar iluminação pública no Alto da Saudade. A lei foi decretada e promulgada pelo presidente da Câmara, vereador Sérgio de Godoy Vasconcelos.

O Diário Oficial de Pernambuco do dia 11 de agosto de 1955, publicou que o governador Cordeiro de Farias liberou uma verba de CR$ 300 mil cruzeiros, para a iluminação pública da Ladeira do Boi, Rua Jerônimo de Albuquerque e do Alto da Serrinha.

A Lei Municipal Nº 4823 de 15 de outubro de 1957, autorizou a instalação de iluminação pública no Alto da Saudade. A lei foi decretada e promulgada pelo presidente interino da Câmara, Otacílio Vieira de Azevedo.

O Diário de Pernambuco do dia 14 de maio de 1958, publicou uma solicitação do vereador Aristófanes de Andrade, solicitando ao prefeito do Recife, Pelópidas da Silveira a instalação de iluminação pública nos Altos: do Brasil, da Saudade e da Serrinha, além da Ladeira do Boi. Finalizou.

O Diário de Pernambuco do dia 21 de junho de 1959, publicou um desabafo de um morador do Alto José Bonifácio da seguinte forma: Sobre os problemas de seu bairro, assim falou o sr. José Pereira dos Santos: No Alto José Bonifácio, os poderes públicos nada tem feito. Ruas cheias de buracos, muriçocas, pavimentação. Nada foi feito. Inauguraram o calçamento do Córrego do Euclides, mas a subida (Ladeira do Boi) ficou interditada. Em caso de necessidade, como socorro médico, por exemplo, que será de nós? Começaram a pavimentação, que ficou no meio do caminho.

A luz elétrica vem se tornando uma calamidade. Há posteação, mas cadê luz? Não é possível que continuemos a passar sem luz há mais de 60 dias. Apelo através do Diário, em nome da população desse Alto, no sentido que as autoridades adotem providências. Afinal de contas, somos também brasileiros. Finalizou. 

No dia 17 de fevereiro de 1960, na Câmara Municipal do Recife, o vereador Expedito Côrrea, fez um requerimento solicitando a instalação de iluminação pública para o Córrego José Grande, que havia se expandido gradativamente e que não possuía iluminação pública.

O Diário de Pernambuco do dia 13 de setembro de 1966, publicou a seguinte nota: O sr. Wilson Santana requereu ao Secretário de Viação que determine providências junto ao DAE (Departamento de Águas e Energia), para beneficiar de luz elétrica a Rua Alto José Bonifácio, lado norte, subindo pela Linha do Tiro, em Casa Amarela. Finalizou.

No dia  5/12/1960, o projeto do vereador Mário Monteiro, foi aprovado e o Córrego Jeca Tatu, passou a ser denominado Córrego São Domingos Sávio. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

O CÓRREGO JECA TATU MUDA DE NOME

As primeiras referências sobre o Córrego Jeca Tatu, são da segunda metade da década de 1940, quando ainda era uma localidade do bairro de Casa Amarela. Jeca Tatu era um personagem de Monteiro Lobato, criado no início do século XX, provavelmente em 1916, de um caipira paulista, desleixado e que não gostava de trabalhar. O personagem ganhou grande visibilidade e sucesso, após estrear no cinema em 1959, na pele do ator Amácio Mazzaropi.

Em 10 de junho de 1960, o vereador do Recife, Mário Monteiro, encaminhou para Câmara Municipal, o projeto de lei Nº 6551, modificando o nome do Córrego Zeca Tatu para a denominação Córrego São Domingos Sávio, em homenagem a um santo católico. No dia 5 de dezembro do mesmo ano, na sessão da Câmara, presidida pelo vereador Carlos José Duarte, o projeto foi aprovado.

O SANEAMENTO NO ALTO JOSÉ BONIFÁCIO

No dia 29 de julho de 1957, o Presidente da Câmara dos vereadores do Recife, Sérgio de Godoy e Vasconcelos aprovou a Lei Municipal Nº 4734, autorizando o prefeito Pelópidas da Silveira a instalar um chafariz público no Alto da Serrinha e outro no Alto da Saudade.

No dia 14 de agosto de 1957, moradores do Alto da Serrinha e do Alto da Saudade foram até a redação do Diário de Pernambuco e fizeram um apelo ao Secretário de Viação e Obras Públicas, no sentido de ser providenciada a construção de um chafariz naquelas localidades. O jornal adiantou: ...em vistas de as mesmas serem grandemente habitadas e não possuírem qualquer espécie de saneamento. Assim sendo, cerca de 30 mil pessoas, entre adultos e crianças, vivem sofrendo as consequências da falta d’água, sendo cobrada por uma lata daquele precioso líquido a exorbitante importância de CR$ 2,50 (Dois cruzeiros e cinquenta centavos). 

Esperam as referidas pessoas que o seu pedido seja realizado, uma vez que existem todas as facilidades  fosse para tal fim, desde que um homem de negócios de nossa capital já cedeu um terreno de sua propriedade, para que alie construído um chafariz. Finalizou.   

O fato não era tão simples assim. Não havia uma estrutura preparada para levar água aos morros de forma eficaz, não bastava apenas um terreno, tinha que haver um grande investimento pelo governo para levar água aos morros, córregos e vielas.

No dia 11 de julho de 1958, o governador de Pernambuco, Cordeiro de Farias, inaugurava o maior sistema de distribuição de água dos morros da zona norte na tentativa de solucionar o problema de falta d’água dessas comunidades carentes. O sistema ligava o reservatório do Alto do Céu, no atual bairro do Fundão, atravessando todo bairro de Casa Amarela até o Alto Novo Mundo, no Vasco da Gama, sendo feito uma bifurcação no Alto da Favela, em Nova Descoberta. Para abastecer todo o Alto Santa Izabel. Projetado para abastecer 45 chafarizes, no entanto, em janeiro de 1965, já abastecia 73 chafarizes e mais de 200 variações domiciliares. O sistema entrou em colapso e obrigou o Departamento de Saneamento do Estado (DSE) a fazer diversos  racionamentos.


Guarnições da Rádio Patrulha foram ao Córrego do Euclides, para conter o descontentamento do povo contra o aumento do preço da água no chafariz. Foto: Diário de Pernambuco/1959.

O AUMENTO DO BANHO

O Diário de Pernambuco de 8 de abril de 1959, publicou uma matéria sobre a revolta da população contra a proprietária de vários chafarizes que resolveu aumentar o preço da água. Veja na íntegra a matéria completa. “Houve protesto e ameaças por causa de aumento do preço d’água” dizia a manchete – Estão em pé de guerra os habitantes do Córrego do Euclides, Alto José Bonifácio e Ladeira do Boi, em Casa Amarela, nesta cidade, em virtude do aumento decretado pela proprietária de vários chafarizes ali existentes, para o preço da água.

Movimentos de protestos já foram realizados , mas até o momento, nenhuma solução conciliatória foi encontrada. Na tarde de ontem foram mandadas duas guarnições da Rádio Patrulha para aqueles lugares, afim de evitar possíveis alterações da ordem pública.

A História – Nos lugares acima, existem três chafarizes de propriedade da sra. Eleanor de Oliveira, e que são supervisionados pelo seu filho, advogado Gilberto Pacheco de Oliveira. Há tempos, vinha sendo cobrados por uma lata d’água a importância de CR$ 0,60 (Sessenta centavos), enquanto o banho custava CR$ 1,50 ( Um cruzeiro e cinquenta centavos), há três dias, entretanto, houve um aumento de 0,20 e 0,50 centavos, respectivamente na lata d’água e no banho, o que não foi bem recebido pelo povo. Iniciou-se um movimento de protesto, que obrigou, inclusive, o delegado Geraldo Frazão a locomover-se até ali, em companhia de um auxiliar, para tentar a paz, o que foi conseguido voltando a ser cobrados os preços antigos, sob ameaça de atos de violência, praticados pelo povo.   

Ontem, o sr. Gilberto Pacheco, com o delegado Frazão esteve no gabinete do major Costa Cavalcanti, enquanto um representante dos prejudicados também assistia à conferência. Ficou decidido que o preço da lata d’água será o mesmo de antigamente, enquanto o banho aumentará para CR$ 2,00 (Dois cruzeiros).  

O major Costa Cavalcanti, na oportunidade, revelou que iria manter contato com o secretário de Viação, para que os chafarizes da Ladeira do Boi, Córrego do Euclides e Alto José Bonifácio, passassem ao Estado, sendo a água distribuída gratuitamente. Finalizou. 

No dia 27 de dezembro de 1960, o prefeito do Recife, Miguel Arraes de Alencar, inaugurou pela manhã, um chafariz no Alto José Bonifácio, com quatro torneiras e quatro banheiros para homens e mulheres. A obra custou CR$ 320 mil cruzeiros, fora a construção do prédio que custou CR$ 150 mil cruzeiros.

No dia 4 de setembro de 1962, o vereador Liberato Costa Júnior, subiu à tribuna da câmara e criticou a Secretaria de Viação por não providenciar a ligação d’água para os chafarizes do Alto Santa Terezinha, Córrego do Cotó, Alto da Saudade, Córrego José Grande, Alto do Pascoal, Beco dos Casados e Córregos do Euclides, inaugurados pela Prefeitura do Recife há mais de seis meses, mas que não estavam funcionando por falta de água.  

O chafariz do Alto da Saudade, ainda em construção, no Alto José Bonifácio. Foto: Diário de Pernambuco/1962.

OS CHAFARIZES DE PELÓPIDAS

O Diário de Pernambuco de 9 de setembro de 1962, publicou uma matéria com duras críticas ao ex- prefeito do Recife, Pelópidas da Silveira, que era do PSB (Partido Socialista Brasileiro), portanto, taxado como “vermelho” e comunista e que houvera gasto milhões de cruzeiros com dezenas de chafarizes inúteis, já que não havia água para seu o funcionamento regular em diversas localidades do Recife, entre elas, o Córrego José Grande, Alto da Saudade e Córrego do Euclides. A matéria dizia o seguinte: “Chafarizes: milhões jogados fora para enganar a poeira (povo)” dizia a manchete – O ex- prefeito (Pelópidas da Silveira) e seus bem pagos assessores de publicidade alardeavam, com grande estardalhaço que nunca se construíram, em córregos e morros, tantos chafarizes para abastecer d’água as populações mais pobres da cidade. É verdade. Nunca um administrador gastou tanto dinheiro  em obras inacabadas. São dezenas de chafarizes sem água, invertendo-se em cada um mais de duzentos mil cruzeiros, no afã de iludir o povo.

Como podem ver, alguns desses chafarizes que o candidato subversivo deu como inaugurados, ainda não estão nem prontos. E água que é bom, não tem mesmo, em nenhum deles. A orgia com os dinheiros públicos chegou ao inacreditável no que diz respeito aos chafarizes.

O ex-prefeito malbaratou alguns milhões de cruzeiros na construção de galpões e depois os batizou com o nome de chafarizes. Mas, chafariz sem água só entra mesmo na cabeça do candidato subversivo e de seus assessores. E o povo não acredita mais nessa conversa fiada de administração quando vê que foi iludido, enganado, traído, por um mistificador. O povo quer chafarizes mas que tenham água. E isso o ex-prefeito não fez. Eis a relação dos chafarizes não ligados porque a Prefeitura do homem de vermelho os construiu eleitoreiramente distante das linhas d’água: ...Córrego José Grande, Alto da Saudade, Córrego do Euclides... Finalizou. Apesar das críticas, Pelópidas da Silveira, foi eleito pela segunda vez e assumiu a Prefeitura em 8 de abril de 1963. 

No dia 10 de julho de 1963, o Departamento de Saneamento iniciou os serviços de construção de distribuidores de água do Córrego do Euclides, dentro do plano de obras de 1963.  

O DESABAFO DE ZUZÚ, O GUARDADOR DO CHAFARIZ

O Diário de Pernambuco de 22 de novembro de 1964, publicou o desabafo do guardador do chafariz do Córrego do Euclides da seguinte forma: Zuzú – “ Uma infâmia. Uma miséria o que disseram de mim. Foram reclamar na Prefeitura que eu não ligo para o chafariz e que não abro o chafariz para o povo tirar água.

Mentira. Uma grossa mentira. Quando falta água no Córrego do Euclides, a culpa não é minha. A culpa é do saneamento. Que é então o que eu vou ficar fazendo no chafariz, quando não há água? Sigo para casa e lá permaneço, cuidando dos meus negócios, somente por alguns instantes. Quando a água chega, estou de volta.

Falam por exemplo, que o chafariz vive sujo. Sujo porquê? Nem a Prefeitura, nem o saneamento estão ligando para nada. Não mandam vassouras. Não mandam creolina, não mandam sapólio. Eu mesmo é que compro tudo com meu dinheiro. Ainda esta semana, dei 250 cruzeiros por uma vassoura. Também comprei uma lata de creolina. Foi mais 250 cruzeiros.

Agora pergunto: Quanto ganha um guarda de chafariz? Será que eu posso está fazendo tais despesas? E ainda falam mal de mim. Seu criado, Zuzú. Guarda do chafariz do Córrego do Euclides”. Finalizou.

No dia 30 de janeiro de 1970, foi criada a SANER (Saneamento do Recife) que passou a ser o fornecedor de água do Córrego do Euclides, Ladeira do Boi, Córrego José Bonifácio e Córrego Jeca Tatu (atual Córrego São Domingos Sávio).

O APELO DA CRUZADA FEMININA

O Diário de Pernambuco de 10 de setembro de 1965, fez um apelo aos poderes públicos para que fosse solucionado a situação do desaparecimento das torneiras das lavanderias dos chafarizes do Alto José Bonifácio e do Alto da Saudade, o que só veio agravar ainda mais a situação da comunidade em relação aos inúmeros problemas existentes na questão do saneamento básico daquela região. A nota dizia o seguinte: Retiraram torneiras das lavandarias públicas: Cruzada faz apelo – dizia a manchete – A Cruzada Democrática Feminina tomou conhecimento da constrangedora situação em que se encontram as populações do Alto José Bonifácio e do Alto da Saudade, de onde foram retiradas (sem se saber exatamente por quem) no primeiro 26 torneiras e no segundo 16, as quais estavam as lavandarias públicas.

Um grupo de senhoras da Cruzada subiu até os Altos citados, tendo constatado o fato e, mais ainda, a calamidade que o mesmo representa para as pessoas que ali residem, principalmente as pobres lavadeiras que são obrigadas a fazer, longa caminhada, morro abaixo, morro acima, para lavar roupa, trabalho em que muitas se ocupam como meio de vida. Isso se constitui um grave incômodo e um problema de ordem sanitária, desde que a roupa é lavada geralmente em poços e cacimbas, em geral poluídos, ou em qualquer lugar onde a água pode ser encontrada. 

A Cruzada já se dirigiu aos poderes competentes, expondo o problema e solicitando providências, as mais breves possíveis, pois casos como esses exigem soluções imediatas.

Agora, publicamente a Cruzada apela no sentido de que a água possa chegar até o Alto José Bonifácio e o Alto da Saudade, como antes acontecia, levando saúde e um pouco mais de conforto àquelas populações. Que elas não sejam obrigadas a passar por mais esse vexame. O de ficar sem água, um dos elementos essenciais à vida. Quando já tem de suportar a pobreza , o que já é muito. Finalizou.

Crianças em busca de água no chafariz do Córrego do Euclides. Foto: Diário de Pernambuco/1981.

O Diário de Pernambuco de 12 de março de 1981, publicou uma nota sobre falta d’água no chafariz do Córrego do Euclides. A nota dizia: Água por aqui, explica um morador, sempre é inconstante e nós já nos acostumamos a isso. O chafariz do Córrego do Euclides, de Nº 136, permanece fechado há quase duas semanas, o que é grave, pois dele se abastecem moradores dos Altos próximos. Segundo moradores , o problema seria com a rede de distribuição que vem da Bomba do Hemetério. Finalizou.     

O Diário Oficial do Estado, do dia 21 de novembro de 1987, diante das dificuldades dos moradores do Alto José Bonifácio com a constante falta de água na localidade e as críticas feita contra a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), foi divulgada a seguinte nota: O presidente da Compesa, Antônio Carlos Maranhão Aguiar, disse ontem que concorda com a reclamação da comunidade do Alto José Bonifácio, sobre os maus serviços prestados quanto ao abastecimento d’água, pois a função da empresa é atender toda a população do Estado, o que ainda não está ocorrendo. Salientou no entanto, que além dos moradores do Alto José Bonifácio, outras 500 mil pessoas foram deixadas totalmente sem abastecimento na Região Metropolitana do Recife, “sendo necessário haver o entendimento de que não é possível resolver do dia para noite problemas que têm muitos anos”.

Explicou que desde o início a Compesa esclareceu que a política deste Governo ( Miguel Arraes) é de dar prioridade de atendimento àquelas populações ainda excluídas dos serviços de saneamento. Isto já está ocorrendo, mais especificamente nos morros das zonas norte e sul da Cidade do Recife. Nos últimos meses, a Compesa já executou cerca de 9.100 novas ligações de água, a maioria nos morros da área norte, representando o atendimento a mais de 50 mil habitantes.

Antônio Carlos Aguiar disse que os projetos para os atendimentos às populações das áreas de morros já estão concluídos. No entanto, para a execução das obras, é preciso que se disponha dos materiais – tubulações e equipamentos diversos do sistema – que não se conseguem com rapidez que se possa desejar. Adiantou que para conclusão das obras nos morros da zona norte do Recife faltam ainda 57 mil metros de cano. Finalizou.

No dia 15 de fevereiro de 1990, a Compesa recuperou um dos principais reservatório d’água da zona norte do Recife, que armazena 2.000³ de água, foi construído em 1958. Nesta ocasião, o reservatório Mundo Novo, no Vasco da Gama, apresentava uma rachadura que já havia completado oito anos. Este problema impedia que vários pontos dos morros da zona norte, entre eles, o Alto José Bonifácio, não chegassem água.

Poço do Córrego José Grande, construído em 2000. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

No dia 16 de dezembro de 2000, o presidente da Compesa, Gustavo Sampaio, anunciava através do Diário Oficial, a construção do poço do Córrego José Grande. Disse ele, que o sistema beneficiaria todo o bairro do Alto José Bonifácio. O poço com 160 metros de profundidade e com uma perspectiva de captar 15 litros por segundo. Sendo construído também no local, um reservatório d’água capaz de armazenar 500m³ de água, além de uma Estação Elevatória e uma Adutora de 1.400 metros e que a obra custaria R$ 500 mil reais.

Gustavo Sampaio argumentou que, atualmente, o abastecimento da área é deficiente em decorrência de vários fatores, entre eles, a topografia acidentada, além de ser localizada em final de rede ou abastecimento. Outro agravante é o fato da comunidade depender exclusivamente do abastecimento de uma adutora que vem dos morros, o que dificulta a distribuição do produto no Alto José Bonifácio. Com a execução deste projeto, a comunidade será atendida diretamente pelo poço a ser perfurado. Finalizou.

Através do requerimento Nº 4726 de do vereador Almir Fernando, que solicitou a Compesa a perfuração de um poço artesanal no bairro do Alto José Bonifácio para melhoramento de oferta de água naquela localidade, na sessão da Câmara dos Vereadores do Recife do dia 21 de agosto de 2019. 

No dia 19 de dezembro de 2019, a Compesa anunciava através de seu diretor-técnico, o engenheiro Flávio Figueiredo, aos meios de comunicações do Estado, que o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, com recursos da Caixa Econômica Federal do FGTS e Compesa iria investir R$ 35 milhões de reais para aumentar a oferta de água, a expansão e o aumento da eficiência operacional da rede de distribuição em catorze bairros da Zona Norte do Recife, entre eles, parte do bairro do Alto José Bonifácio.

A estimativa é que o sistema atenda há 142 mil pessoas da região. As obras foram iniciadas em julho de 2019 e com previsão para terminar em 2021. A nova adutora terá 3 Km de extensão, captando água dos sistemas do Alto do Céu, no bairro de Fundão; Tapacurá, a partir da Estação Elevatória da Bela Vista, no bairro de Casa Amarela, seguindo para o Reservatório Mundo Novo, no bairro do Vasco da Gama. A nova adutora terá a incrível vasão de 200 litros por segundo, com 84 Km de tubulações e 7 mil ramais prediais. 

Este sistema que foi iniciado pelo governador, Etelvino Lins, e que já completou 62 anos, sendo considerado pelo próprio governo como o maior já implantado no Norte-Nordeste. Na realidade, durante todos esses anos, nunca chegou a resolver em definitivo o problema de abastecimento de água dos morros do Recife, pois demonstrou com o tempo, que os investimentos feitos foram insuficientes para acabar com o sofrimento da população desta região e assim a luta continua.

POLICIAMENTO DO BAIRRO

O SUBCOMISSARIADO DO ALTO DA SAUDADE

No dia 23 de maio de 1961, o deputado Agripino Almeida, subiu à tribuna na Assembleia Legislativa e apresentou o seu requerimento Nº 3065, solicitando um comissariado para o Alto José Bonifácio. O parlamentou disse: “ O Alto José Bonifácio tem uma densa população e a prova disto, está no grande número de assinantes do abaixo assinado junto a este requerimento. Daí, a criação do comissariado se tornar necessário, para que melhorse assegurem as garantias às famílias que ali residem. A pretensão dos habitantes do local, tem objetivo evitar a insegurança da que ali vem reinando de há muito, motivo de nervosismo para os homens de bem que ali habitam com as suas famílias”. Finalizou.    

No dia 26 de junho de 1962, era inaugurado o subcomissariado do Alto da Saudade, chefiado pelo guarda civil Miguel Torres. O subcomissariado era responsável pelas ocorrências no Alto José Bonifácio, Córrego do Tiro, Córrego do Euclides, Alto do Brasil e o Alto Nossa Senhora de Fátima no Vasco da Gama.

O Diário de Pernambuco de 24 de abril de 1963, publicou um incidente provocado por um araque em uma ocorrência, que provocou o afastamento do primeiro comissário do Alto José Bonifácio. A nota dizia o seguinte: Delegado proíbe presença de araques nos comissariados – dizia a manchete – O delegado Rubens Guimarães da Delegacia do 3º Distrito, resolveu afastar do cargo o comissário Miguel Torres, do Comissariado do Alto da Saudade, enquanto aquele policial responde inquérito instaurado naquela Distrital para apurar responsabilidades num crime de ferimento sofrido pelo marginal J.M.L, vulgo Marta Rocha.

“Marta Rocha” foi baleado pelo araque (exerce a função de policial sem ser) conhecido pelo vulgo de “Severino do Taró”, numa diligência realizada na Rua do Dendê, no Córrego do Euclides, sob orientação do comissário Torres. Afirma o policial que “Severino do Taró”, apesar do marginal já haver sido dominado por ele e por outro policial do destacamento do Alto da Saudade, sacou da arma e fez três disparos contra ele, atingindo-o no peito direito, evadindo-se após a consumação do crime.

Diante dos acontecimentos, o delegado do 3º Distrito, expediu circulares em todos os comissariados e subcomissariados afetos à jurisdição da 3ª Delegacia Distrital, proibindo seus auxiliares de recorrerem a auxílio dos chamados “araques”, que prejudicam mais do que auxiliam a polícia em seus trabalhos.

O delegado lamenta o afastamento do comissário Torres do Subcomissariado do Alto da Saudade, pelo ótimo serviço que aquele policial vinha fazendo ali, contra os ladrões que antes infestavam a zona. Acha que somente o fato de haver recorrido ao auxílio de um “araque” tenha levado o comissário Torres aos últimos acontecimentos. Finalizou.

No dia 10 de abril de 1977, o Diário de Pernambuco publicou uma entrevista com o secretário da Secretaria de Segurança Pública, Rinaldo Cisneiros, sobre segurança pública na periferia. A moradora do Alto José Bonifácio, Mirian Costa, formulou a sua pergunta para o secretário:

- Secretário, falta um comissariado para o Alto José Bonifácio, tal medida é possível?

Ele respondeu: - Não, e de certo modo, desnecessária, pois a delegacia do distrito tem condições de resolver o problema. Verdade que áreas como o Alto José Bonifácio, são muitos populosas e estão a exigir um policiamento mais efetivo, entretanto, não dispõe a Secretária de Segurança de condições, tanto em material quanto em pessoas, para instalar comissariados em todos os bairros. Daí a responsabilidade das delegacias distritais de, através de rondas permanentes, cuidar do policiamento da área sob sua jurisdição e isto se faz rotineiramente. Finalizou. O Subcomissariado do Alto da Saudade havia sido fechado no ano anterior. 

Solenidade de inauguração do Posto Policial da PM em 1988. Foto: Diário Oficial do Estado.

 O DESTACAMENTO DA POLÍCIA MILITAR

No dia 3 de agosto de 1988, a Polícia Militar implantou um PPO (Posto de Policiamento Ostensivo) no Alto José Bonifácio. O Diário Oficial de Pernambuco do dia seguinte publicou uma nota sobre a solenidade: PM reforça a segurança em Altos do Recife – dizia o título – A Polícia Militar inaugurou no Alto José Bonifácio, uma cabina dupla de fibra de vidro, para sediar pelotão de policiamento ostensivo do 11º Batalhão. Com 40 soldados e uma viatura, o novo pelotão vai reforçar o policiamento do Alto José Bonifácio e nos Altos da Serrinha, do Tiro, do Brasil, da Saudade, e adjacências.

A cabina foi inaugurada pelo coronel Fernando Gonzaga Pessoa, Comandante Geral da Polícia Militar. Também participaram da solenidade os líderes comunitários Severino Miguel de Souza, presidente da Associação de Moradores do bairro, e Marco Antônio dos Santos, presidente da Associação Esportiva Assistencial Bela Vista, além dos coronéis do alto escalão, Valdeci Lopes, Rivo Ribeiro e Oficiais do batalhão da área.

Segundo o Tenente-Coronel, Ximenes Neto, comandante do 11º Batalhão (Batalhão 17 de Agosto), o posto de policiamento ostensivo instalado no Alto José Bonifácio, vai funcionar 24 horas por dia, reforçando a segurança na área e prestando apoio à população. O pelotão será comandado pelo tenente Pacífico e será responsável também, pelo policiamento ostensivo dos morros da proximidades. Finalizou.

O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara antes da posse esteve no Alto da Saudade em 1964. O arcebispo demonstrou todo seu carisma nas comunidades pobres, o que lhe rendeu o titulo de "Pai dos Pobres". Foto ilustrativa.

A VISITA DE DOM HELDER CÂMARA AO ALTO DA SAUDADE

O Diário de Pernambuco de 15 de abril de 1964, publicou a seguinte nota à respeito da visita do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, ao Alto da Saudade: Dom Helder visita Morros e Mangues – Dizia a manchete – Surpreendendo os mais otimistas, mesmo aqueles que têm conhecimento da capacidade de trabalho do novo Arcebispo Metropolitano, Dom Helder Câmara, ainda com as saudações pela sua chegada ao Recife ecoando nos céus de Pernambuco e do Brasil, mesmo antes de iniciar as visitas protocolares de agradecimentos às autoridades que estiveram presentes as solenidades de sua investidura como sucessor de Dom Carlos Coelho, já iniciou uma série de visitas aos favelados e as populações dos alagados do Recife.   

Visitando o Alto da Saudade, onde as freiras da Obra Social Sagrado Coração de Jesus, vêm realizando um trabalho notável, fez suas primeiras promessas de se empenhar com o governo do Estado para colocar em funcionamento, o Grupo Escolar (a Escola Caio Pereira ainda não era um Grupo Escolar). Disse na oportunidade que as associações de bairros, tiveram princípios e finalidades totalmente desvirtuados pelo governo anterior (Referindo-se ao governo de Miguel Arraes), porém dentro de uma linha de orientação sadia, darão os melhores frutos e propiciarão às populações melhoria nas condições de vida.     

Acompanharam-no nesta visita Dom José Lamartine, recentemente nomeado vigário capitular, e padre Teobaldo Rocha, vigário da Paróquia do Morro da Conceição, além de um grupo de senhoras do Rio de Janeiro, que vieram ao Recife assistir à sua posse como Arcebispo. Finalizou.

Antes de sua visita ao Alto da Saudade, Dom Helder e comitiva, estiveram no alagado 1º de Maio, em Santo Amaro e no Morro da Conceição.  

RECLAMAÇÃO NO PERISCÓPIO

No dia 22 de julho de 1964, o Diário de Pernambuco publicou em sua coluna “Periscópio”, uma reclamação contra jogos de futebol realizados onde atualmente fica o ginásio poliesportivo. A nota dizia o seguinte: O deputado Pedro Duere, pede a extinção de um jogo de futebol no Morro do Boi. As famílias que residem no dito Morro são prejudicadas com palavras de baixo calão e janelas quebradas. Que os futuros Pelés procurem os campos adequados. Pediu ainda o sr. Pedro Duere ao Secretário de Segurança que proíba o jogo de futebol no pátio principal do Alto José Bonifácio (Morro do Boi) que vem prejudicando a centenas de famílias ali residentes. 

Dois dias depois, o deputado Mário Monteiro vem ao “Periscópio” defender os peladeiros. A nota dizia o seguinte: Diz o deputado Mário Monteiro, que em Casa Amarela tem os seus mais fortes redutos eleitorais, que o seu colega Pedro Duere não tem razão quando combate o jogo de futebol no Alto José Bonifácio (Morro do Boi). “O joguinho que ali se pratica aos domingos não incomoda a ninguém. E, ademais, o único divertimento dos rapazes pobres daquela zona”. Finalizou.

Os moradores da antiga Rua São Miguel (atual Rua Âmbar) não suportaram a barulheira e denunciaram Zé Vitorino. Foto ilustrativa/Blog do radialista Célio Cavalcante/CE.

A ALVORADA DE ZÉ VITORINO 

O Diário de Pernambuco do dia 16 de dezembro de 1964, publicou uma nota sobre uma curiosa perturbação de sossego na antiga Rua São Miguel (atual Rua Âmbar), no Alto José Bonifácio que dizia o seguinte: 

Alvorada – Ninguém consegue mais dormir na Rua São Miguel, no Alto José Bonifácio, em Casa Amarela. Foi chegar a alvorada e danou-se tudo. Ela berra a noite toda, cantando música de Miltinho, Ângela Maria e Orlando Dias. Verdadeira calamidade. 

A alvorada é um serviço de alto-falante que pertence a um tal de Zé Vitorino. Quando a alvorada começa a tocar vai até de madrugada e só para com o romper do dia. Finalizou.

RUA PASSIRA

O Decreto Municipal Nº 7558, de 27 de julho de 1965, denomina de Rua Passira, o logradouro que começa no Nº 1370 do Córrego José Grande e termina no Alto da Saudade, S/Nº. O Decreto foi sancionado pelo prefeito Augusto Lucena.

O PRIMEIRO PARQUE INFANTIL

No dia 28 de agosto de 1965, o prefeito do Recife, Augusto Lucena, inaugurou o primeiro Parque Infantil do Alto José Bonifácio. A nota não revela o local.

Rua Hidrolândia recebeu esse nome em 1965. Foto: Jânio Odon/28.8.2019.

RUA HIDROLÂNDIA

O Decreto Municipal Nº 7663, de 20 de outubro de 1965, denomina de Rua Hidrolândia, a via esquerda do Córrego José Grande, iniciando nos Nºs 521 e 529 e terminando no Alto da Serrinha, S/Nº. O Decreto foi sancionado pelo prefeito Augusto Lucena.

RUA LAJEDO

O Decreto Municipal Nº 7821, de 7 de março de 1968, denomina de Rua Lagedo, a antiga Travessa do Córrego José Grande. Este logradouro tem início na Rua Hidrolândia no Nº1427 e termina no Nº793, no Alto da Serrinha. O Decreto foi sancionado pelo prefeito Augusto Lucena.

CENTRO COMUNITÁRIO

O Diário de Pernambuco em 15 de setembro de 1968, publicou uma nota sobre a inauguração do Centro Comunitário do Alto José Bonifácio que dizia o seguinte: O arcebispo Dom Helder Câmara inaugura amanhã o Centro Comunitário do Alto José Bonifácio, nas comemorações do 3º ano da Operação Esperança que teve ele como fundador. A Operação Esperança é uma conjunção de forças coordenadas visando proporcionar uma assistência educacional, social e religiosa às populações marginalizadas do Recife. Finalizou.

A elite presente no Baile Municipal do Recife de 1969, no Clube Português. Onde o carnaval de gafieira suburbano não foi bem aceito. Foto: Revista Manchete/Blog do Fernando Machado.

CARNAVAL E POBREZA

O Diário de Pernambuco do dia 2 de fevereiro de 1969, em sua coluna social editada pelo colunista Antônio Azevedo, ele fez duras críticas aos organizadores do Baile Municipal do Recife por permitir que carnavalescos suburbanos exibissem suas pobres fantasias num baile considerado de elite da sociedade pernambucana. Em sua nota, o colunista em explicita discriminação, cita até o Córrego do Euclides como o carnaval de gafieira. O colunista em sua nota disse o seguinte:

Senhoras e senhores, em matéria de gafieira, ninguém baterá o Baile Municipal promovido pela Prefeitura do Recife na semana passada. Criado com o sentido muito justo de divulgar o carnaval, a cidade e os costumes da sua gente, o Municipal atingiu o clímax este ano, ao receber gente bem vestida, a rigor, numa inaceitável mistura com subnutridos que ingressaram no Clube Português exibindo trajes facilmente em primeiro lugar no Clube do Cachorro do Homem do Miúdo e outros sodalícios do subúrbio. 

A situação chegou a tal ponto que a Prefeitura só terá agora uma saída: ou continua a linha atual, anunciando através da Comissão Organizadora do Carnaval (COC), uma festa a rigor (e a devida fiscalização) num adorável blefe à sociedade ou toma atitude e patrocina de fato uma noite chique, somente para gravata preta e vestido de baile (fantasia é claro, não arranjo de meia- tigela, de mau gosto e autêntica gozação aos bem trajados) e firmará o Municipal como um baile de primeira linha.

Se a gafieira repetir-se, os convidados sulistas não se disporão a sair do Rio de Janeiro para apreciar gente do Córrego do Euclides, da Bomba do Hemetério, do Alto do Cotó, esnobando num baile oficial os trajes horríveis (tamancos, saco de açúcar, roupão de banho, short de praia...) que foram anotados no Clube Português. Tudo afinal, culpa dos que tiveram a responsabilidade de fiscalização na entrada do Português. Isso tudo precisa ser dito em defesa do Municipal de 1970. Finalizou.    

O Diário de Pernambuco de 24 de fevereiro de 1977, publicou uma matéria sobre o carnaval de rua no Alto José Bonifácio, que dizia o seguinte: Alto José Bonifácio brinca sem estímulo – dizia a manchete – No Alto José Bonifácio, o pouco apoio da Prefeitura, a falta d’água e a falta de recursos dos moradores não impediram que o local fosse transformado numa “república do frevo”, onde o mela-mela sadio predominou, contagiando até a nossa reportagem, que participou com os moradores da animação. Troças improvisadas com os moradores locais faziam o plano de fundo para aquele frevo bem pertinho do céu.

Desde as primeiras horas de Zé Pereira até ontem, os moradores improvisaram batucadas e algumas troças, e colocaram um tonel cheio de água, para iniciar aqueles que quisessem participar dos folguedos. E tome água, tinta e pó. A animação era contagiante e os moradores, muito civilizados, demonstraram urbanidade. 

O tradicional mela-mela com talco. Foto: Blog do Fernando Machado.

O Diário de Pernambuco de 4 de março de 1981, publicou uma matéria sobre a realidade do carnaval de rua da Zona Norte do Recife e a saída da Escola de Samba Bafo da Raposa, do Córrego do Euclides. A publicação dizia o seguinte:

Carnaval Zona Norte: reflexos da pobreza – dizia a manchete- O empobrecimento crescente da população recifense vem se refletindo claramente na limitação da euforia carnavalesca. Principalmente nos subúrbios, onde reside a população mais carente, as brincadeiras parecem evidenciar a dureza de dias difíceis. Enquanto os adultos embriagam-se e esperam a passagem de algumas troças ou batucadas, as crianças divertem-se jogando água ou talco nos transeuntes ou tamborilando em latas de cerveja, leite e goiabada.

Na maioria dos bairros da Zona Norte da cidade, nem mesmos os palanques, tradicionalmente, montados pela Prefeitura ou pelos políticos locais, foram postos à disposição da comunidade, que se viu obrigada a se deslocar até o Centro e Boa Viagem, em busca de alguma diversão. Por outro lado, os blocos, troças e agremiações de menor porte, que não contam com os recursos fornecidos pelos órgãos oficiais para a confecção das fantasias e estandartes, enfrentaram toda sorte de dificuldades para saírem às ruas. Muitos, no entanto, apesar da boa vontade, desistiram de animar o carnaval.

Os ursos eram os personagens mais comuns nos subúrbios. Exigindo pouco dinheiro para seus folguedos, apenas um velho saco de estopa, uma máscara e alguns instrumentos de percussão eles exibiam uma lata , provocando os foliões com suas cantorias: “A La Ursa quer dinheiro, quem não der é pirangueiro”. No final, a verba arrecadada era revertida em cachaça, sofregamente consumida como forma de apagar as incertezas do cotidiano. As fantasias, que durante muitos anos eram indispensáveis a qualquer folião, também foram abolidas, assim como os confetes usados nas brincadeiras.

Raposa – A folia do Córrego do Euclides ficou a cargo da animação de Adeildo Gomes Jesus, conhecido como Dada. É ele quem organiza as brincadeiras em todas as épocas do ano, inclusive no carnaval. Como diretor da Escola de Samba Bafo da Raposa superou na dificuldades financeiras e botou o povo na rua. Vestidos de amarelo e preto, 350 figurantes alegraram não só o Córrego do Euclides, mas levaram sua orquestra até Olinda, Paulista e Abreu e Lima. “ “Mística Amazônica” foi o tema escolhido para o enredo. Finalizou.

A FEIRA LIVRE DO CÓRREGO DO EUCLIDES

No dia 5 de outubro de 1969, a Prefeitura do Recife implantou na segunda quinzena de setembro, a Feira Livre do Córrego do Euclides, na conhecida Rodinha, encruzilhada que liga o Córrego ao Córrego do Bartolomeu, Bomba do Hemetério e Morro da Conceição. A feira funcionava as quintas-feiras das 06h às 18h.

No dia 17 de junho de 1971, O secretário de Abastecimento, João Carlos, anunciou que as feiras livres do Córrego do Euclides e de San Martin seriam extintas porque não tinham o número mínimo de barracas para o seu funcionamento que era de vinte. Os feirantes do Córrego do Euclides, informaram que preferiam negociar na feira de Casa Amarela, porque era mais rentável, já que era uma feira maior em variedade e que ficava localizada ao lado do Mercado e do Centro Comercial. Disseram que os próprios moradores preferiam a feira de Casa Amarela. Finalizou.

 JOGO PROIBIDO

O Diário de Pernambuco de 22 de janeiro de 1970, publicou a seguinte nota: Mandado – Alguns antigos craques do nosso futebol estariam dispostos a impetrar mandado de segurança contra uma providência da Delegacia de Vigilância e Costumes, proibindo a realização de jogos dos “Batoteiros”, Centro Esportivo Bartolomeu e Onze Belmonte, em terrenos localizados no Alto José Bonifácio. Finalizou.

Caju e Castanha foram os ilustres moradores do Córrego José Grande. Foto: Gravadora Beverly/1984.

CAJU E CASTANHA, OS FAMOSOS DO CÓRREGO JOSÉ GRANDE

Os moradores do Córrego José Grande se orgulham de terem sido vizinhos da melhor dupla de emboladores do Brasil. Segundo dona Suzana, moradora do Córrego José Grande e viúva de José Albertino, o Caju. Dona Amélia, mãe da dupla, veio morar no córrego quando Caju tinha seus 14 anos de idade, ou seja, entre 1976 e 1977. Eles passaram boa parte da juventude na localidade, depois da fama seguiram para São Paulo. No entanto, sua mãe, dona Amélia, permaneceu no Córrego José Grande até falecer há poucos anos atrás. Dona Suzana, permanece morando na comunidade.  

José Albertino da Silva (Caju) e José Roberto da Silva (Castanha) nasceram em Matriz da Luz, em São Lourenço da Mata, morou também no Alto da Fábrica, no bairro Castanhola, em Jaboatão dos Guararapes. Quando Caju e Castanha eram garotos, foram cantar  com seus pandeiros feito de lata de doce pelo seu irmão mais velho, Bartolomeu, na Praça do Jacaré, atual Praça Samuel Campelo, em Jaboatão. Caju e Castanha no início, cantavam canções de Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e Manezinho Araújo. 

Certo dia, uma comitiva acompanhava o prefeito de Jaboatão, Severino Claudino pelo Centro e viu os meninos cantando e disse: "Canta falando mal da mãe do outro que eu dou uma prata ( o prefeito não sabia que eles eram irmãos), quem usa pandeiro tem que tocar repente". Completou o prefeito.. Eles cantaram as emboladas e todos os presentes gostaram e aplaudiram os meninos. O prefeito continuou zoando os meninos, dizendo: "Um tem cara de caju, o outro tem cabeça de castanha." E assim surgiu o nome da dupla.

Em 1972, Castanha conta que ele e seu irmão foram descobertos pelos produtores Fernando Borges e Fernando Lima, que produziu o seu primeiro disco em vinil.

Castanha conta que conseguiu sua primeira televisão, quando sua mãe, dona Amália, mandou uma carta  para o programa de rádio de Alcides Teixeira, que tinha uma grande audiência no Recife no início dos anos de 1970. Dizendo ser mãe de dois cantadores famosos, Alcides Teixeira havia dito a ela que teria de provar levando os meninos ao programa. Ela levou os meninos que mostraram seu talento ao vivo e ganharam a televisão. Lembrando que Alcides Teixeira faleceu em 1973.

Em 1975, a cineasta Tânia Quaresma estava em busca de talentos pelo Nordeste para produzir um filme da cultura popular nordestina quando descobriu Caju e Castanha e a levou de avião para São Paulo. Lá gravaram um excelente documentário "Nordeste: cordel, repente, canção".

A família de Caju e Castanha. Dona Amélia (de lenço na cabeça), dona Suzana ( com o bebê no braço) e a criança de short vermelho com um LP na mão é Ricardo que substituiu Caju, o tio, que faleceu em 2001. Foto: Gravadora Beverly/1984.

Castanha conta que a dupla  tiveram como inspiração para suas carreiras  os repentistas  Oliveira e Beija-Flor, que também cantavam pelas ruas e praças do Recife. Castanha adiantou que eles gostavam de se exibirem na Rua Nova, no Mercado de São José, na Praça Joaquim Nabuco e a Praça do Diário.

Castanha conta que ele e Caju foram para São Paulo só com a passagem de ida e quando desembarcaram na rodoviária que na época era na Praça Santa Tereza ficaram deslumbrados com o tamanho da cidade, dos arranha-céus e ficou impressionado com a quantidade de gente na rua. Garantiu, que se naquele momento estivesse com a passagem de volta, voltaria naquele mesmo instante, pois ficou com bastante medo.

Procuraram casa para alugar, mas não encontraram e dormiram debaixo do viaduto do Minhocão. Conheceram Téo Azevedo que os levou para a casa dele. Descobriram o programa "Som Brasil" no teatro Célia Helena e esperaram o apresentador do programa, 
Rolando Boldrin na saída para o almoço e o abordaram. Tocaram uma embolada para Boldrin, que gostou da embolada e convidou a dupla para se apresentarem no "Som Brasil".

Em 2000, Caju foi diagnosticado com um tumor maligno no pulmão que se alastrou pelo corpo e atingiu o cérebro, ainda apresentou melhoras e fez algumas apresentações. Sabendo da gravidade de seu problema, pediu a Castanha que preparasse Ricardo Alves, seu sobrinho, filho de seu irmão Bartolomeu. Ricardo já cantava repente com seu primo Rinaldo e formavam a dupla Chuchu e Pepino. Ricardo garante que não sabia ainda dominar totalmente a embolada e que imitava os seus tios. Com o falecimento de Caju. Ricardo Alves da Silva tornou-se o novo Caju. Castanha conta que trouxe ele da Muribeca onde ele morava e o preparou para se apresentar no "Abril Pro Rock", o novo integrante apesar de nervoso participou de uma embolada com seu tio no palco, sendo bastante aplaudido pela platéia. Tornando-se a partir daí, um parceiro perfeito. 

São 30 anos de carreira, gravou 17 discos, recebeu 7 discos de ouro. Ganhou mais de 10 prêmios e foi indicado para concorrer o Grammy Latino em 2003 e tiveram participação na minissérie da Rede Globo - Amores Perdidos. A dupla já foi convidada a participar de todos os programas importantes das principais emissoras de televisão do Brasil.

SURGE A COMUNIDADE DO BOQUEIRÃO

O Diário de Pernambuco de 11 de novembro de 1976, publicou uma matéria sobre o início da Comunidade do Boqueirão da seguinte forma: “Mocambeiros constroem favela Boqueirão nas encostas de dois morros” – dizia a manchete – Está nascendo uma nova favela no Recife, no lugar “Boqueirão”. Estrada entre o Córrego do Euclides e a Linha do Tiro, nas encostas íngremes de dois morros, estão sendo construídos casebres em regimes de mutirão, no melhor estilo que deu origem ao tradicional e sólido mocambo nordestino: estrutura de madeira rústica, paredes de barro socado e coberta de material que varia de acordo com a posse do mocambeiro, no momento.

Alguns mocambos novinhos em folha, já estão habitados com alegres crianças barrigudas brincando no barro vermelho e gaiolas pregadas nas paredes de barro irregular, mostrando a extrema pobreza daquela gente, mas por enquanto sem a sujeira excessiva a que estamos acostumados a ver em nossos alagados. Parece que no morro é mais fácil disfarçar a miséria em sua plenitude.   

Sem nome – Os nomes dos morros, ninguém sabe . Apenas informam ser chamada a localidade de Boqueirão. O material usado é sempre o mesmo: caibros rústicos e ripas de madeira, que são entrelaçados de forma a prender as porções de barro que serão socadas pelas mãos de amigos e familiares dos novos moradores, geralmente gente das redondezas, que mora na casa dos outros na base do arrego e paga aluguel “na hora da morte”. 

Como o mundo é dos mais espertos, porém, já surgiu por lá um engenheiro da favela – um crioulo alto e forte, com pinta de boa tapa e voz de trovão, aparentando estar esbanjando propriedade, apesar de suas vestes simples. Ele se encarrega de conseguir terrenos desocupados nas ladeiras, faz empreitada para escavar o local em que será erguido o teto de mais uma família nordestina e “se precisar eu tapo, também” (socar o barro nas paredes).

O nome do “engenheiro topa tudo”: Jurandir Ferreira da Silva, 31 anos, que se declara lanterneiro e contra quem existe uma queixa na Prefeitura: disseram que está vendendo terrenos e vão tomar o que tiver de valor. Sua defesa: “ O que tenho é meu carrinho próprio, mas está em nome de minha mãe. Passo o dia inteiro, mostrando terrenos desocupados ao pessoal e fazendo minhas empreitadas. Mas o que é meu ninguém toma”, assegura.

Mocambeiro – Com a ajuda da mulher e dos quatro filhos, Mariano Leandro dos Santos, vendedor de confeitos e chocolates de 34 anos, está construindo sua robusta casinha quase rente com a barreira do morro. Mas está animado: “Estou fazendo a minha aqui porque vi os outros levantando as suas”. Mora no Morro da Conceição, na casa de uma velhinha, sem pagar aluguel e agora está bem próximo de ter o seu lar. Mariano explica que não paga aluguel porque não pode mesmo pagar. Sua maratona para cobrir-se e aos filhos com algo de seu: conseguiu madeira usada, um colega lhe deu de graça. Comprou apenas alguns paus e pregos, vai cobrir a casa com umas velhas telhas, insuficientes para todo o telhado, mas os buracos serão tapados com plástico, folhas ou qualquer coisa, até que possa comprar o restante das telhas.

O terreno, Mariano não sabe de quem é: “Deve ser da Prefeitura”. Não tem medo do deslizamento da ladeira, pois está disposto a ir desbastando a barreira até afastá-lo da parede. Alertando para o perigo que representará para sua família o próximo inverno, responde resignado: “Aí Deus toma conta”. Do perigo ninguém pode se livrar, não.

Perigo – Ao lado e um pouco abaixo da casa de Mariano, um esqueleto de um casebre, menor mais de feitio idêntico, já consagrado pelo engenho do homem popular: ripas mal acabadas (dessas de cerca do interior), pregadas vertical e horizontalmente em caibros bem fincados ao solo, formando os quadrados que serão preenchidos pelo barro mole.

O dono lá não estava, ontem à tarde. Certamente “batalhava por mais material de construção”, fazendo biscate ou pedindo, quem sabe. O perigo maior: o barraco está situado, como o de Mariano, num local tão próximo da encosta do morro que faz prever, com um pouco de chuva, que a casinha pode ser soterrada. Que Deus os ajude.

Intensa Procura – Logo que a equipe de reportagem chegou ao local, deles se acercaram várias mulheres e crianças esperançosas, em busca de terrenos livres. Dulcinéia de Souza, 33 anos, um filho e mãe idosa para sustentar, desempregada e que trabalhava em restaurante, queria saber como seria possível conseguir um terreno para o seu mocambo. Foi bem clara: “Sou eleitora, moro na Rua Santo Antônio, aqui perto, pagando CR$ 100 cruzeiros de aluguel por uma metade de casa”.

Também desempregada, Celina da Conceição Dias, 28 anos e sete filhos, paga CR$ 150 cruzeiros de aluguel. Está querendo “arranjar um cantinho” e, caso consiga, o material ela diz que “arruma com os outros”. O marido “faz uns ganchos e ganha não sei quanto”. De enxada na mão, dando a entender que já estava escavando alguma terra por lá.

Antônia Rodrigues da Silva, 48 anos, dois filhos, diz que está querendo fazer uma palhoça para morar com suas duas meninas. É aposentada do INPS, ganha CR$ 425,00 (quatrocentos e vinte e cinco cruzeiros) por mês. Não paga aluguel porque mora com uma filha e espera contar com ajuda de Deus “e as pessoas de coração bondoso” para conseguir a casa própria, mesmo na encosta do morro, a exemplo de Laelsa  Costa dos Santos, que também pensou que algum candidato a vereador estivesse à cata de votos, lá no Boqueirão.

Sete meses depois, fortes chuvas caíram sob o Recife e a recém comunidade do Boqueirão se viu em apuros. O Diário de Pernambuco do dia 5 de julho de 1977, publicou a seguinte nota: “Deslizamento de barreiras no Boqueirão” – dizia a manchete – Barreiras deslizaram  na localidade conhecida  como Boqueirão, entre o Córrego do Euclides e Linha do Tiro, muitas famílias abandonaram suas casas, nas encostas dos morros, temendo desabamentos. Nesse trecho, de uns meses para cá, muitos mocambos vêm sendo construídos em terrenos escavados  nas ladeiras de barro vermelho das colinas do Córrego do Euclides, sem as mínimas  condições de segurança. Na mesma estrada, um enorme rebolo de terra caiu no meio da pista, quase bloqueando o tráfego. Finalizou.   

 CHUVAS E DESABAMENTOS DE CASAS E BARREIRAS

O Alto José Bonifácio, é um bairro formado numa região bastante acidentada, num morro totalmente habitado, bem como, todas suas encostas. Esse fator tem colocado o bairro na lista das regiões vulneráveis no período invernoso pela Defesa Civil. Durante todos os anos de sua existência, o bairro do Alto José Bonifácio sempre sofreu com deslizamentos de terra em suas encostas e desabamentos de suas frágeis moradias que causaram mortes e dezenas de desabrigados, principalmente durante as grandes enchentes que devastaram a cidade, nos anos de 1966, 1970 e 1975, esta última, que atingiu 80% dos bairros recifenses. Todavia, foi no início da década de 1980, que o Alto José Bonifácio foi mais castigado pelo rigoroso inverno e ganhou às páginas dos jornais e demais veículos de imprensa diante de tantas tragédias. Foi nesta década, que o bairro registrou o maior número de construções irregulares, sendo classificado como o quarto bairro do Recife com a maior incidência nesta prática.

No dia 11 de junho de 1965, chuvas fortes provocaram diversos deslizamentos de barreiras nas áreas de morros do Recife. Uma criança de 7 anos foi soterrada no Córrego José Grande e dezenas de casebres ruíram nas localidades do Córrego São Domingos Sávio, Córrego do Tiro e Alto do Brasil

No dia 11 de agosto de 1970, aconteceu no Estado de Pernambuco, uma das maiores enchentes já registrada, matando 84 pessoas por afogamentos, queda de barreiras, choque elétrico e outras situações. O Diário de Pernambuco do dia seguinte noticiou: Eleva-se para 84 o número de mortos no Recife, Olinda e Paulista, em consequência da cheia que assola vários municípios do Estado, destruindo residências e deixando ao desabrigo milhares de pessoas que estão sendo socorridas pelas autoridades da “Operação Alívio”, Governo do Estado, Sudene, Prefeitura do Recife e clubes de serviço... A tromba d’água que desabou sobre o Recife nas últimas 24 horas, fez desmoronar morros, barreiras, pontes, deixando ao desabrigo quase 5 mil pessoas.

Até o momento, não foram identificados 49 mortos, quase todos desaparecidos. Os próprios familiares, amigos e parentes das vítimas que acorreram  ao necrotério de Santo Amaro, ontem, não puderam reconhecer seus mortos face a deformação de muitos deles, em decorrência da violência dos acidentes. Até às 17:30 horas de ontem, os bombeiros resgataram 84 corpos que se encontravam soterrados ou em encostas nos morros, boiando em alagados e rios.

A maior incidência  de deslizamentos de morros e desabamentos de barracos verificou-se em Beberibe e Casa Amarela, onde os bombeiros  concentram mais da metade de seu efetivo para remoção de escombros. No Córrego do Tiro, treze pessoas ainda estão soterradas e no Córrego José Grande os bombeiros retiraram oito mortos de uma casa que desabou. Finalizou.

O Diário de Pernambuco de 11 de junho de 1980, publicou: Soterramentos, a causa maior dos óbitos – dizia a manchete – Todos os casos fatais decorrentes da enchente dos desabamentos foram chocantes e constrangedores, mas, o que envolveu a família do sr. J.S, residente no Alto José Bonifácio, destacou-se pois, ele, três filhos menores e a esposa, M.S., morreram. A mulher, que estava no sétimo mês de gestação teve a barriga estourada, com exposição da criança.

Da família, escaparam apenas os filhos, C... de 10 anos; B... de 12 anos; J... de 6 anos e J...de 5 anos, que se encontravam na casa de uma vizinha, quando a casa onde moravam desabou sobre os demais. No local, morreram ainda, mais três crianças: de 7, 3 e um ano de idade.

Este caso teve tamanha repercussão que comoveu e atraiu ao local os moradores de todo o Alto, tendo várias mulheres sofrido crises de histerismo, algumas delas conduzidas por vizinhas que lhes prestaram socorros de urgência, oferecendo calmantes das mais diversas espécies.

Na localidade Boqueirão, entre o Córrego do Euclides e Linha do Tiro, um casebre foi soterrado por uma barreira e registrou 11 mortes, inclusive de crianças, presumindo as autoridades, a existência de outros cadáveres sob os escombros, que passaram o dia sendo vasculhados por soldados do Corpo de Bombeiros e por voluntários. Dessas onze vítimas fatais, apenas duas foram identificadas no local. Os irmãos conhecidos por V... e E..., todos menores, cujo o pai, ao tentar salva-los foi arrastado e morto pela grande quantidade de barro que destruiu e soterrou o casebre. Finalizou.

No dia 17 de junho de 1980,  a Associação de Moradores de Casa Amarela, apresentou um relatório dos prejuízos provocados pelas fortes chuvas nas seguintes localidades: Morro da Conceição, Alto das Pedrinhas, Alto do Eucalipto, Alto 13 de Maio, Córrego do Ouro, Córrego do Caroá, Córrego do Joaquim, Córrego do Inácio, Córrego da Areia, Córrego do Jenipapo, Alto do Cruzeiro, Alto Santa Luzia, Alto do Maracanã, Alto da Alegria, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho, Vila Skylab, Alto do Tiro, Córrego do Tiro, Boqueirão, Alto Santa Izabel, Alto do Brasil e Mangabeira.

Nestas localidades da Zona Norte do Recife, o total de famílias prejudicadas pelas quedas de barreiras foram: 909; 101 casas destruídas; 146 danificadas, além de 672 ameaçadas de desabamento. Finalizou.

A Defesa Civil do Recife, informou que o inverno de 1980, provocou oito mortes no Córrego do Euclides. 

O Diário Oficial de Pernambuco de 19 de outubro de 1982, publicou uma nota da Prefeitura do Recife, colocando um ponto final nos desabamentos de barreiras no Alto José Bonifácio, depois de um início de década trágica para os moradores das encostas da localidade. A nota dizia o seguinte: No Alto José Bonifácio não vai haver mais desabamentos – dizia a manchete – A comunidade do Alto José Bonifácio, em Casa Amarela, poderá a partir de agora, dormir mais tranquila, sem se preocupar com os desabamentos de barreiras, tão frequentes naquela localidade, especialmente com chuvas fortes no Recife. As pessoas ali residentes disporão, também, de amplas condições de deslocamento e de melhor prestação de serviços: limpeza urbana, fornecimento de gás de cozinha mais próximos de suas residências.

É que a Prefeitura da Cidade do Recife concluiu, naquela área as obras incluídas no projeto de sustentação dos morros da Zona Norte, que serão inauguradas hoje às 20 horas, pelo prefeito Jorge Cavalcante.

Ali foram construídos muros de arrimos, canaletas, escadarias, executadas obras de pavimentação de ruas de acesso, iluminação e diversos outros serviços de urbanização. Estas melhorias foram iniciadas há três anos, para evitar prejuízos e a insegurança que a população da Zona Norte enfrentava no período de inverno. O projeto funciona sob a seguinte sistemática: a Prefeitura fornece o material, a assistência técnica e a comunidade beneficiada participa com a mão-de-obra. As Obras Recife coordena e fiscaliza os trabalhos do “Um por Todos” que tem constituído, inclusive uma experiência válida no sentido de desenvolver a ação comunitária.

Outras melhorias – Dentro de 60 dias, ruas do Córrego São Domingos Sávio terão pavimentação em paralelepípedos e pedra granítica, além de assentamento de meio-fio e linha d’água. O contrato para as obras já foram assinado pelo prefeito Jorge Cavalcante, ficando responsável pelos serviços a Construtora Civilinorte.

O prefeito também assinou contrato entre a Prefeitura e a W.M Construção e Empreendimentos Ltda, visando a construção de muros de arrimo, num total de 54, para a contenção de barreiras em oito locais. Finalizou. 

 No dia 17 de abril de 2016, por volta da 0 hora houve um deslizamento de barreira no Córrego do Euclides, no bairro do Alto José Bonifácio, provocando a primeira morte do ano provocado pelas chuvas de inverno. A vítima foi um homem de 39 anos, que só foi encontrado debaixo dos escombros, treze horas depois. Outro homem de 43 anos, foi encontrado vivo, mas com ferimentos no tórax e nas costas, foi encaminhado pelos bombeiros, para a UPA- Solano Trindade, em Nova Descoberta.

A verdade, é que o Alto José Bonifácio é repleto de córregos e barreiras, e que muita coisa precisa ser feito para que velhas promessas sejam sustentadas.

O soldado do Exercito, segue nas encostas do Alto da Saudade, distribuindo panfletos do combate ao mosquito Aedes Aegypti. Foto: Tomás Munita/National Geographic/2016.

 A NATIONAL GEOGRAPHIC NO ALTO JOSÉ BONIFÁCIO

O repórter norte-americano Becky Little e o fotógrafo chileno Tomás Munita,  da National Geographic estiveram no Recife para fazer uma reportagem sobre o mosquito Aedes Aegypti, principal transmissor do vírus Zika, vírus suspeito de causar microcefalia em crianças nascidas de mães infectadas, que também carregam os vírus da dengue e da chikungunya. Becky e Tomás, estiveram nas comunidades carentes do Ibura, Jordão Baixo, Coelhos e no Alto José Bonifácio. Neste último, acompanharam um pelotão do Exercito Brasileiro, que estiveram no Córrego São Domingos Sávio e no Alto da Saudade, conversando e distribuindo aos moradores, planfletos educativos de como combater o mosquito Aedes Aegypti. A National Geographic retratou a difícil situação dos moradores dessas comunidades pobres, que convivem sem saneamento básico e com a ameaça constante do mosquito. A National publicou esta reportagem toda em inglês, no dia 25 de fevereiro de 2016 mas, o Blog Tok de História, do jornalista Rostand Medeiros, reproduziu na íntegra, o texto traduzido em português, inclusive com as fotos de Tomás Munita.  

 O PRIMEIRO ORELHÃO

No dia 31 de agosto de 1980, o prefeito do Recife, Gustavo Krause, inaugurou o primeiro telefone público (tipo orelhão) no Alto José Bonifácio. O telefone foi instalado no Alto da Serrinha. A medida decorreu através do convênio entre a Prefeitura do Recife e a Telpe (Telecomunicações de Pernambuco S/A), que instalou 140 orelhões nas comunidades pobres do Recife.

Associação de Moradores do Alto José Bonifácio, fundada em 1980. Nesta foto, evento promovido pela Rádio Jornal em 1986. Foto: Arquivo do vereador Almir Fernando. 

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO ALTO JOSÉ BONIFÁCIO

No dia 6 de setembro de 1980, era fundado a Associação de Moradores do Alto José Bonifácio, seu estatuto foi publicado no Diário Oficial do Estado no dia 8/10/1980. O primeiro presidente foi o sr. Manoel Miguel de Souza, os outros sócios fundadores foram: José Minervino de Oliveira, Rita de Souza Alves, Francisco Gomes da Silva Filho, Hilda Amaral de Souza, Maria Helena da Silva Mutzemberg e Noêmia Bezerra da Silva.

No dia 5 de outubro de 2012, o Blog Agenda Cultural do Recife contou a história do Alto José Bonifácio. Sobre a Associação, segue o resumo: A Associação de Moradores do Alto José Bonifácio adquiriu sua sede própria em 1984, que foi doada pela Arquidiocese e a mobilização  dos moradores resultou em muitos outros benefícios, hoje, usufruídos por todos como a construção da Creche Criança Feliz, a implantação da Unidade de Saúde da Família (USF), melhorias na Escola Estadual Caio Pereira e da Escola Municipal Pastor Paulo Leivas Macalão, a implantação do Posto de Policiamento, a construção da Praça Alto José Bonifácio e de um Ginásio de Esportes (Quadra Poliesportiva).

Segundo Ivanilda Cavalcanti, a Associação através de comissões nas áreas de saúde, educação, segurança, transporte, recapeamento de encostas e barreiras trouxe muitos benefícios ao bairro. Na sede da entidade são realizadas atividades profissionais como curso de pintura e gesseiro. Já tivemos curso de hotelaria, garçom e artesanato. Lá funciona a rádio comunitária Ágape FM. Finalizou.  

MEMBRO DA FEACA

A Associação de Moradores do Alto José Bonifácio, presidida pelo sr. José Ferreira de Menezes, torna-se uma das entidades fundadoras da FEACA (Federação de associações, Centros Comunitários e Conselhos de Moradores de Casa Amarela) que foi fundada em 11 de janeiro de 1984.

CRECHES

Em fevereiro de 1988, foi criada a Creche Unidos Venceremos, no Córrego José Grande, Nº 126-A, no Alto José Bonifácio.

Em 12 de dezembro de 1988, foi inaugurada a Creche Criança Feliz, localizada na Praça Visconde de Sá Bandeira, no Alto José Bonifácio. Através da Resolução Nº 13 de 28 de novembro de 2000, a creche foi autorizada a funcionar oferecendo educação infantil.

O Decreto Municipal Nº 20.439 de 12 de maio de 2004, sancionado pelo prefeito João Paulo Lima e Silva, formalizou a criação e o funcionamento de creches da rede municipal de ensino.

OS NOVOS MOCAMBOS

Em outubro de 1989, a Prefeitura do Recife cadastrou 36.298 novos mocambos. O Alto José Bonifácio foi um dos bairros com o maior número de mocambos erguidos com 4,54%, ficando atrás apenas dos bairros de Água Fria, Pina, Linha do Tiro, Santo Amaro e Nova Descoberta.

POSTOS DE SAÚDE

A Lei Municipal Nº 15.338 de 12 de fevereiro de 1990, sancionada pelo prefeito do Recife, Joaquim Francisco, denominou o Posto de Saúde, localizado na Rua Fidélis Batista, no Alto José Bonifácio, de Professor Alcides Codeceira.

A Lei Municipal Nº17.839 de 14 de novembro de 2012, sancionada pelo prefeito em exercício, Milton Coelho. Denominou a Unidade de Saúde da Família – USF (Upinha) de Maria Rita da Silva, construído no Córrego do Euclides, Nº 309. No dia 10 de setembro de 2014, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, inaugurou a Upinha  do Córrego do Euclides. A obra custou R$ 900 mil reais. Recebeu o nome da agente comunitária de saúde, Maria Rita da Silva, que morava no bairro e era conhecida por sua solidariedade. A USF começou a funcionar com três equipes de saúde da família – Cada uma com um médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e seis agentes comunitários. A USF, beneficia a população do Alto José Bonifácio, Córrego do Euclides, Córrego do Ouro, Córrego José Grande, Vasco da Gama e Morro da Conceição.

CLUBE DE MÃES

No dia 29 de setembro de 1993, foi fundado o “Clube de Mães e Mulheres de Hoje” na Rua Alto José Bonifácio, Nº 1084, presidida pela srª Iolanda Paulo da Silva.

“TERRAS DE NINGUÉM”

No dia 22 de outubro de 1982, o governo de José Muniz Ramos, anunciou a aquisição de 242 hectares de terra denominada “Terras de Ninguém”, por CR$ 158 milhões de cruzeiros, no Alto José Bonifácio e mais nove localidades de Casa Amarela, com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH). O gerente do BNH, Samuel Gueiros Pessoa, disse que a operação garante o início efetivo do processo de legalização da posse da terra em benefício de seus atuais ocupantes. Em nota, o governo disse, que as comunidades contempladas serão beneficiadas com obra de infraestrutura e equipamentos comunitários através do Programa de Erradicação as sub-habitação (Promorar). Serão concedidos, também, financiamentos para construção, ampliação ou melhoria para habitações.

A área denominada “Terras de Ninguém” foi adquirida pela Companhia de Habitação Popular de Pernambuco (Cohab) à Empresa Imobiliária de Pernambuco, com recursos cedidos pelo BNH, através de empréstimos. A Cohab apresentou ao BNH os projetos específicos para a área, como implantação de redes de energia elétrica, abastecimento d’água e esgotamento sanitário e construção de escolas, postos de saúde e centros comerciais, entre outros. De acordo com as normas operacionais do Promorar, esses investimentos foram custeados pelos governos estadual e municipal, não onerando a população beneficiada. Finalizou.

No dia 6 de julho de 1995, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar, entregou 1.128 títulos de posse de terra nas áreas do movimento “Terras de Ninguém” no Alto José Bonifácio, Córrego do Euclides e outros bairros da parte noroeste do Recife.

No dia 27 de julho de 2005, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, fez a entrega de 59 títulos de terra no Alto José Bonifácio aos moradores do movimento “Terras de Ninguém”.

QUADRA POLIESPORTIVA

No dia 8 de julho de 2008, o prefeito do Recife, João Paulo, inaugurou a Quadra Poliesportiva do Alto José Bonifácio.

No dia 3 de julho de 2018, o prefeito Geraldo Julio, deu início a reforma e requalificada da Quadra Poliesportiva do Alto José Bonifácio. A obra foi concluída em 60 dias e custou R$ 96.371,65 (noventa e seis mil, trezentos e setenta e um reais e sessenta e cinco centavos).

Através de um projeto de lei Nº 175/19 de autoria do vereador Almir Fernando, a Lei Municipal Nº 18.684 de 28 de outubro de 2019, sancionada pelo prefeito Geraldo Julio, a praça e a Quadra Poliesportiva, passou a ser denominada Severino Miguel de Souza (Bibiu), que foi um importante líder comunitário do bairro. Ele era filho do fundador e primeiro presidente da Associação de Moradores do Alto José Bonifácio, Manoel Miguel de Souza. Sua mãe, Hilda Amaral de Souza, também fez parte da primeira diretoria. Bibiu, como era conhecido, sempre foi voluntário nos trabalhos na comunidade, sendo Presidente da Associação de Moradores em 1989. Foi professor de história na Escola Caio Pereira. Nasceu no dia 22/12/1958 e faleceu na quadra de esportes que recebeu seu nome em 26/6/2018, aos 59 anos.
Almir Fernando, o vereador nascido no Alto José Bonifácio, estar no seu quinto mandato. Foto: Blog do vereador Almir Fernando.

O VEREADOR DO BAIRRO

O bairro do Alto José Bonifácio, é um dos poucos bairros da Zona Norte do Recife que tem o privilégio de contar com um representante na Câmara dos Vereadores, uma pessoa nascida na própria comunidade. Isto, trouxe um avanço muito grande nos benefícios e na infraestrutura do bairro. Dizem, que santo de casa não faz milagre, mas, o vereador Almir Fernando, vem se constituindo um parlamentar bastante atuante nas causas referente ao Alto José Bonifácio e localidades adjacentes. Prova disso, é que o parlamentar chega ao seu quinto mandato e que conquistou a confiança da população local, que dar um grande exemplo de como se deve escolher seu representante, valorizando um cidadão do bairro que tem todo o conhecimento dos problemas de sua comunidade.Isto faz com que o bairro tenha um desenvolvimento maior em relação aos outros que não tem um representante natural do bairro.

O vereador Almir Fernando Alves, nasceu no bairro do Alto José Bonifácio, no Recife, em 11 de abril de 1966. Em 1981, começou a jogar no tradicional Palmeirinha, time do bairro. Em 1982, foi para as categorias de base do Santa Cruz Futebol Clube. Como profissional, jogou naquele time de 1987, do goleiro Birigui, Ze do Carmo e Marlon, ele era meio-campista, ficando até 1990. Quando abandonou o futebol, segundo ele, por problemas de saúde. Antes, em 1986, já fazia parte da Associação de Moradores do Alto José Bonifácio. Foi Agente da Polícia Civil em 2000; passou no vestibular em licenciatura em história pela UFRPE; se formou em direito pela Universo.

Em 2003, filiou ao PHS, onde em 2004 foi eleito vereador pela primeira vez, obtendo 2.190 votos. Em 2008, foi eleito novamente, concorrendo pelo novo partido PC do B, onde permanece até hoje, obteve uma expressiva votação, 7.178 votos; em 2012 foi eleito pela terceira vez com 8.522 votos; em 2016, foi eleito pela quarta vez com 6.852 votos; e em 2020, foi eleito pela quinta vez, com 7.304 votos.

O GUETO PSICODÉLICO

O Gueto Psicodélico é um grupo formado em 2007, por jovens do Alto José Bonifácio que trabalham em atividades culturais e artísticas na comunidade, como: grafitagem, serigrafia, pratica de skate e hip-hop. Os líderes do Gueto Psicodélico são: Iverson Leandro, o Ito, do skate; Marcos Pereira, Marquinhos, da grafitagem; Diego, o Tarta de Melo, da serigrafia; e o Mc Welton Santos, do hip hop. O nome do grupo tem o significado de Gueto= bairro e Psicodélico = alucinado.

O Gueto Psicodélico adquire recursos com as vendas das camisas do grupo e de cd`s do repper Welton Santos. Organizam campeonatos de skate e apresentações de break dance e shows de bandas locais.

PROGRAMA GOVERNO PRESENTE

No dia 9 de junho de 2018, O governador Paulo Câmara e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio compareceram a 12ª Edição do programa “Governo Presente” na Escola Estadual Caio Pereira. Foram oferecidos serviços gratuitos  à população, com emissão de documentos, oferta de vacinação e exames. O programa existe desde 2006.

Por: Jânio Odon/BLOG VOZES DA ZONA NORTE. (DIREITOS RESERVADOS).

Fonte: Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco, Diário Oficial de Pernambuco, Folha da Manhã, Diário da Manhã, Jornal Pequeno, Blog Agenda Cultural do Recife, Blog do vereador Almir Fernando, Blog do Gueto Psicodélico, Blog Tok de História, Blog do Fernando Machado, Arquivo Público de Pernambuco, CEPE, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (bndigital.bn). 

11 comentários:

  1. Eu sou Recifense moro hoje Sousa na Paraíba e fico muito feliz quando leio historias como essas da minha cidade, fico feliz em ouvir Histórias de Gustavo Krause e tantos e tantos outros. Parabéns minha amada e querida Recife, Você merece ser recordada com tanta Bravura. Que Deus te ilumine sempre.

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  2. moro no alto josé bonifácio desde que nasci e adorei ler esse artigo, parabens pela pesquisa!

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  3. Apenas uma correção a empresade ônibus 18 de setembro fazia a linha Alto José Bonifácil em 1974 pois até 1976 morei na rua Alto Brasil.

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  4. Boa tarde, Fernando. obrigado pela informação e participação. Na verdade, não há uma afirmação concreta pq não encontramos nenhuma matéria em jornais antigos à respeito. Só a partir de 1978, houve uma afirmação que a empresa 18 de setembro fazia a linha do Alto J. Bonifácio. Um abraço.

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    1. Outra coisa que lembrei é até 1974 o acesso ao alto do Brasil se dava por uma ladeira bem íngreme a qual chamávamos ladeira do boi,que ficava antesdo córrego do Euclídes só a partir de 1976 ele passou a circular pelo córrego indo até a "rodinha" e subindo o morro por ondehoje ele vai.

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  5. A Diretora da Escola Caio Pereira, Maria de Lurdes Tasselli de Macêdo Assis, era minha avó materna.

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    1. Boa tarde, Anderson. Sua avó Lurdes, com certeza era uma pessoa muito dedicada e competente para merecer todo esse agradecimento. Obrigado pela visitação e opinião. Um abraço.

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  6. Faltou falar da escola Macalão, a escola Mário Queiroz, das igrejas assembléias de Deus, da Rodoviária Rio Pardo e de seu Sidney o inspetor do Caio Pereira.

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    1. Boa Tarde, caro leitor. Todo o trabalho é feito através de pesquisas em jornais antigos, diário oficial, revistas, livros, mapas e informações de alguns moradores antigos. No entanto, o intuito do blog é mostrar o início de tudo, o pioneirismo. Citamos no trabalho, a Assembléia de Deus da Ladeira do Boi, como a mais antiga do bairro, mas não encontramos nada sobre a Escola Macalão, Rodoviária Rio Pardo, nem sobre Seu Sidney. Evidente que, se encontrarmos algo relevante à respeito, certamente inserimos no texto. Obrigado pela visitação e opinião. Um abraço.

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