O transporte coletivo no bairro de Águas Compridas, sempre causou transtornos, cansaço e bastante estresse a população local e nas demais localidades espalhadas pela nossa cidade. São ônibus que atrasam, circulam lotados e enfrentam grandes congestionamentos até o destino final. Agora imaginem vocês a situação em especial, dos moradores de Águas Compridas no longínquo ano de 1947, quando esta localidade não havia pavimentação adequada, energia elétrica, água encanada e muito menos telefone, coisa para poucos no Recife. Águas Compridas nessa época, fazia parte do município do Recife, pertencendo ao distrito de Beberibe e considerada zona rural.
Cortado pelo riacho Lava-tripa, que nasce na
mata da Mirueira e que depois de alguns anos, se transformou em riacho Águas
Compridas, sendo um riacho de águas límpidas, onde as pessoas tomavam banho,
consumiam água potável. As lavadeiras lavavam roupas e pequenos proprietários
dos sítios às margens do riacho plantavam suas hortas (macaxeira, iame, batata
doce etc) e criavam animais (bovinos, suínos, caprinos, muares e aves). Por
tratarem animais e lavarem as vísceras no riacho foi que ele ganhou o nome
inicial. Atualmente, esse riacho se transformou num canal, bastante poluído com
dejetos das residências e com bastante lixo. Alguns sítios de Águas Compridas ficaram
conhecidos, como o sítio do Dr. Teodoro Valença, onde fica a localidade de Buraco de Afonso; outros são: Outeiro do Caenga; Sítio Tio Antão e Sítio Nova Olinda. Os morros e córregos de
Àguas Compridas eram cobertos pela Mata da Mirueira, nas partes planas, haviam
mangues, alagados e cacimbões. Entre os morros destacavam-se: a Morro do
Giz, que recebeu esse nome porque mineradores descobriram no local,
caulinita (giz de alfaiate) no início do século XX. Atualmente é conhecida por
Ladeira do Giz. Outro morro de destaque foi o Monte Berenguer, que recebeu esse
nome a partir de 1938, quando o Instituto Arqueológico e Geográfico de
Pernambuco começou a estudar a região. O
monte recebeu esse nome porque em 1692, o português, coronel Francisco Berenguer de Andrade (o
filho) comprou uma grande porção de terra, que começava em Paratibe Alto até às
margens do riacho Lava-Tripas (Águas Compridas).
O monte, depois passou a ser o Alto do Berenguer , esta longa planície,
hoje ficam as comunidades do Alto da
Bondade, Passarinho Alto, Alto Sol Nascente e fração da Mata do Ronca.
A situação dos moradores de Águas
Compridas em 1947, era calamitosa e gravíssima. A estrada era precária, esburacada, alagada em alguns pontos, sem asfalto, seguia a partir
da estrada da Mirueira, que começou a ser aberta a partir de 1939, continuava pela estrada de Águas Compridas, estrada do Caenga, estrada
do Matumbo, rua 13 de maio até chegar a
praça Nossa Senhora da Conceição (atual praça da Convenção) até os pontos dos
bondes elétricos e ônibus. Em 1947, os ônibus regulares credenciados pela
Prefeitura do Recife e Delegacia de Trânsito, ainda não circulavam em Águas
Compridas. A concessão só se concretizou no ano seguinte. Os ônibus que
circulavam pelos outros bairros eram pouquíssimos, pois ainda não existiam as
grandes empresas de transporte urbano que existem hoje. Eram pequenos
proprietários de velhos ônibus adaptados para o transporte coletivo. Um exemplo
claro disto, aconteceu com os irmãos Raul e Mário Morato, que compraram um
ônibus, tipo jardineira ou beliscada em 1944, e faziam transporte de passageiro
em Beberibe, enquanto um era o motorista, o outro era o cobrador. O fato é que
este empreendimento acabou se transformando na atual empresa São Paulo.
O primeiro ônibus da Empresa São Paulo que começou a circular em Beberibe, em 1944, ano em que o povoado de Águas Compridas começou a se formar. Foto: Empresa São Paulo.
O outro meio de transporte era o bonde
elétrico, que já vinha em decadência e sem investimentos e com poucas
composições, além do mais, com o terminal dos bondes na praça Nossa Senhora da
Conceição (atual praça da Convenção), restavam aos moradores do pequeno povoado
de Águas Compridas, os velhos e desconfortáveis caminhões abertos chamados de
correções ou beliscadas. Era a única opção de transporte motorizado existente. A vantagem desse transporte era que as
pessoas podiam transportar malotes, mercadorias, animais e outros objetos, além
de poder usar determinados trajes e andar de chinelos. Procedimentos que eram proibidos
nos ônibus e bondes regulares credenciados pela delegacia de trânsito. Outros
moradores utilizavam burros, mulas e carroças de tração animal para fazer
pequenos e médios deslocamentos.
Uma decisão tomada pela Delegacia
de Trânsito do Recife, causou uma grande revolta aos moradores do povoado de Águas Compridas e de diversos bairros do Recife que faziam uso das
correções ou beliscadas. O fato é que, a delegacia de trânsito propôs uma
regulamentação e adequação as normas de trânsito vigentes em 1947, para que os
proprietários das correções o transformassem em ônibus. O problema todo é que
o prazo dado era de apenas um mês, o que evidentemente não concordaram
os proprietários das correções, alegaram
não terem dinheiro para adequar seus
veículos em tão pouco tempo. Isso gerou
uma grande insatisfação da população de Recife que utilizavam este
transporte e recorreram a Assembleia
Legislativa de Pernambuco, que na ocasião, elaborava uma nova
constituição para o Estado.
Observem os poucos ônibus e veículos que circulavam pelo centro do Recife nesta foto de 1947, na Avenida Guararapes. Foto: Alexandre Berzin/ Fundaj.
No dia 29 de abril de 1947, na 6ª Sessão da
Assembléia Constituinte, o sr. Amaro Oliveira, representando as comunidades que
faziam uso das correções, discursou em plenário:
- Sr. Presidente, Srs.
Constituintes.
- É um fato que está bem próximo
de nós todos, a dificuldade de transporte na cidade do Recife. É diante dessa
dificuldade, meus senhores, que estamos com a palavra para defender a
existência dos caminhões transportes que
o povo denominou de “correções” e “beliscadas”, os quais enfrentam agora uma
situação difícil diante de uma medida baixada pela delegacia de trânsito. Todos
sabem, que as correções são transporte de todo o povo do Recife, que mora
principalmente nos subúrbios mais distantes.
De fato, o povo pobre da cidade,
sobretudo os trabalhadores, não dispondo de bondes, pois estes quase não
existem mais, nem podendo se utilizar dos ônibus, não só pelos preços das
passagens como também pelas exigências dos trajes que os mesmos fazem, só
dispõem atualmente das correções para o seu serviço de transporte. As correções
estão prestando assim, grandes serviços ao nosso povo, tirando-o de muitas
dificuldades, uma vez que suas passagens são relativamente à distância por elas
percorridas, mais baratas que as dos ônibus, além disto não fazem estes
transportes populares, exigências de traje, e chegam mesmo a transportar
pequenas cargas o que não é permitido nos ônibus (Em média a diferença
entre os ônibus e as correções são de
CR$ 0,20). A correção de Águas Compridas até Beberibe custa CR$ 1,00 (Um
cruzeiro). Diante disto, e a medida tomada pela delegacia de trânsito, exigindo
que as correções sejam transformadas em ônibus até 21 de maio, a qual julgamos
prejudicial aos interesses do povo porquanto, o referido prazo é curto de mais
para que os proprietários das correções atendam as exigências citadas e, que,
apresentamos o seguinte requerimento, para o qual pedimos o apoio desta Assembleia. Esclarecemos, porém, que julgamos
justas
as medidas tomadas no sentido de fazer com que as correções ofereçam maior
conforto ao povo; não porém, com
exiguidade de tempo analisado, porquanto, isso fará implicar na retirada brusca
do referido transporte com evidente prejuízo para classe operária e o povo.
Modelo de bonde elétrico aberto que circulou em Beberibe até a década de 50.
Modelo de bonde elétrico fechado.
O REQUERIMENTO
A classe operária é prejudicada
neste sentido, porque a falta de transporte vai afetar a assuídade ao trabalho,
e a não assuidade ao trabalho atinge a nossa produção. E hoje, senhores
deputados, devemos dar todo estímulo à produção, e não devemos de maneira
nenhuma dificultar ao nosso proletariado a maneira e dar essa produção mais
eficaz afim de fazer face a situação econômica que hoje é das mais graves em
nosso Estado. É necessário também que se tome todas medidas que se facilite ao operariado
ir ao local do trabalho. É esta justificativa que fazemos quanto ao nosso
requerimento e apelamos para todos os constituintes, afim de aprovarem essa
nossa indicação no sentido de beneficiar a classe operária que é a mais
prejudicada com as faltas desses transportes. (Palmas). Estavam presentes na
Assembleia Legislativa de Pernambuco, representantes de Águas Compridas,
Tejipió, Piedade, Várzea, Iputinga, Caravelas (Olinda), Macaxeira, Casa
Amarela, Dois Irmãos e Casa Forte.
Por: Jânio Odon /Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS).
Fonte: Diário Oficial de
Pernambuco, de 7/5/1947; Revista Brasileira de Geografia de 1962 e Revista do
Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano de 1899.
Olá, Jânio, parabéns pelo blog, encontrei ele através de uma busca especifica sobre a cidade e vi esta postagem, gostaria de uma ajuda muito valiosa, falo da cidade de São Bernardo do Campo em São Paulo e estou procurando uma forma de buscar dois moradores na cidade (antigamente) de Águas Compridas, gostaria da sua ajuda, para saber se tem algum canal especifico onde eu possa fazer esta busca, se puder me ajudar serei enormemente grato.
ResponderExcluirPs: Busco por parentes de meu pai já falecido.
Este é meu e-mail para contato: donnefar2009@hotmail.com
Nasci em Águas Compridas nos anos 80, mas moro em São Paulo há 10 anos...Como chamam seus familiares? Talvez eu os conheça. Um abraço, Luciano
ExcluirAmigo, gostei, parabens
ResponderExcluirMuito bom.
ResponderExcluirbastante interessante as informações sobre meu bairro atual
ResponderExcluiraguas compridas parabéns
Cresci neste bairro...me emociona tanta riqueza histórica no lugar onde cresci.
ResponderExcluirÉ minha infância foi quase toda em aguas compridas,adoro rever as lindas histórias. Pois me fazem tão bem.amo aguas compridas.
ResponderExcluir.
Masssaaa demais vei sou nascida e criada em águas compridas. Adorei
ResponderExcluirBOA TARDE, SUELY. oBRIGADO PELA SUA VISITAÇÃO. VOCÊ VIU APENAS A QUESTÃO DO TRANSPORTE. A HISTÓRIA DE ÁGUAS COMPRIDAS, ESTÁ EM OUTRA MATÉRIA. tUDO DE BOM.
ExcluirParabéns para geral envolvido nesse blog, muito bom mesmo... Águas compridas, ainda necessita de um belo hospital,sugestão onde ficava o antigo terminal do caenga, em alguns morros uns murros de arrimo reforçado pois já tivemos histórias ruins inclusive na própria ladeira do giz, os ônibus poderiam ser todos com ar condicionado, pois no atual momento só TI Samba príncipe tem, nossas escolas oferecerem uma forma de educação melhor, terminou o ensino médio não precisa de prova para avaliar o conhecimento que as vezes é até uma vergonha nas redes públicas... terminou o nível médio, escolher o curso ou técnico ou direto para o ensino superior, banda marcial, como existia nós tempos do Raimundo Diniz( Professor Guilherme), e no mais só agradecer aos envolvidos nessa onda de querer o melhor para todos nós, sem ter aquele egocentrismo que existia entre algumas famílias do passado... viva o nosso abençoado bairro de Águas compridas...!!!
ResponderExcluirÉ apenas eu. Boa tarde. Obrigado pelo comentário. Um grande abraço!
ExcluirParabéns pela história do nosso bairro aguas camprida 👏👏👏sou de 82 e ainda moro aqui quem vai gostar vai ser o meu pai vou mostrar pra ele.abraço
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