sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Recife deixa o seu recado por mudanças e leva multidão às ruas do centro

A multidão tomou conta da Avenida Conde da Boa Vista. Foto: UOL.


A frase “o Recife parou”, comumente usada para se falar dos constantes engarrafamentos da capital pernambucana, descreveu a cidade na tarde desta quinta-feira (20). Diferentemente dos outros dias, porém, nas principais vias do Centro, apenas pessoas. Por mais de quatro horas, nenhum carro ou ônibus cruzou grandes avenidas como Agamenon Magalhães, Cruz Cabugá e Conde da Boa Vista. Elas foram interditadas para os manifestantes.

Os ônibus não pararam de circular. Apenas na áreas bloqueadas pela CTTU, a circulação foi suspensa durante o protesto. Ao contrário do que havia sido divulgado, os rodoviários não fizeram a paralisação. Segundo o Consórcio Grande Recife, no entanto, houve paralisação nos terminais integrados de Cajueiro Seco e do Barro. 

Pela manhã, porém, muitos ônibus não conseguiam chegar ao Centro e algumas pessoas precisaram caminhar muito para conseguir pegar uma condução. Táxis também não eram vistos. Um grupo de manifestantes de Boa Viagem precisou descer no Pina e caminhou até a Praça do Derby para poder participar do ato. “Fomos andando porque é importante nessa época de copa fazermos o nosso gol”, comentou um deles, o estudante de publicidade William Braga, 22 anos.

Algumas empresas decidiram liberar os funcionários mais cedo e o comércio fechou as portas. No fim da tarde e início da noite, quando muitos manifestantes começaram a se dispersar, a solução foi voltar para casa caminhando. Os ônibus voltaram a circular às 18h54, mas a 
Avenida Conde da Boa Vista permanecia lotada e, minutos depois a Avenida Agamenon Magalhães foi fechada novamente nos dois sentidos por um grupo de manifestantes.

Em diversos bairros do Recife, as ruas permaneceram vazias, mesmo sem serem palco de manifestações. Foi o caso das avenidas Rosa e Silva e Caxangá, onde nenhum carro era visto circulando. Nas avenidas Domingos Ferreira e Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem,  também foram poucos os veículos que transitaram.
Para se ter uma dimensão real do que foi o protesto do Recife, nesta quinta-feira, 20, era preciso olhar do alto. Antes mesmo do horário anunciado para início do ato, que não teve nome nem comando, diversos manifestantes estavam concentrados na praça do Derby, ocupando as duas mãos da avenida Agamenon Magalhães, uma das principais vias da cidade, e ruas adjacentes. O percurso seguiu pela avenida Conde da Boa Vista, interditada desde o início da tarde e onde outras tantas pessoas esperavam para juntarem ao cortejo que seguia rumo ao Marco Zero.
Muitos cartazes e faixas de protestos abrilhantaram a gigantesca passeata no Recife. Foto: Tereza Maia/DP.

O protesto do Recife transcorreu em clima de tranquilidade, se comparado a outras capitais que tem vivenciaram manifestações semelhantes nos últimos dias. Conflitos foram vistos em pontos isolados, mas, na grande maioria, eram rapidamente contidos pelos policiais. Muitas pessoas que participaram do ato contribuíram para isso com gritos de ordem como “Violência Não” quando fogos de artifício eram soltos, causando sustos, por exemplo. 
Nas ruas pessoas de diversas idades, classes sociais e com as mais diferentes queixas. Os cartazes mostravam, por exemplo, repúdio à PEC 37, que proíbe o Ministério Público de conduzir investigações, melhor qualidade de transporte público, fim da corrupção, respeito aos ambulantes, acessibilidade a cadeirantes, direitos para homossexuais. Enfim, a pluralidade fez-se presente e cada um levou para a rua a reivindicação que queria. Enquanto eles passavam, papéis picados eram jogados do alto de prédios da avenida Conde da Boa Vista.
De acordo com dados oficiais da Polícia Militar (PM), 52 mil pessoas participaram da concentração. Ao longo do percurso, o número teria chegado a 100 mil pessoas.
Muita criatividade nos cartazes da juventude recifense. Tereza Maia/DP.

Percurso 
Após saída da Praça do Derby, às 16h, os manifestantes seguiram rumo ao Marco Zero. Até lá, porém, algumas paradas, uma delas em frente à Assembleia Legislativa do estado, onde houve confusão e muitos gritavam palavras de protesto aos deputados. O poder estava fechado desde o final da manhã e muitos policiais da Força Nacional faziam a segurança na área.

É difícil dizer ao certo que horas a manifestação teve fim. Por volta das 18h as pessoas começaram a dispersar-se porém, muitos permaneceram até mais tarde. À noite, um grupo seguiu para a prefeitura do Recife, onde começaram a jogar pedras contra as vidraças. Pedras também foram jogadas contra o Tribunal Regional do Trabalho. No Palácio do Governo, que está fechado devido a reforma, muitos manifestantes deixaram colados os cartazes que usaram no protesto antes de voltarem para casa. 
  
Mesmo com o registro de alguns conflitos, 30 ocorrências segundo a Secretaria de Segurança Social, o protesto realizado no Recife não registrou cenas de violência de grande proporção como as que ocorreram em outras capitais do país, a exemplo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Durante a manifestação, que durou quatro horas, e teve início no bairro do Derby em direção à Praça do Marco Zero, no centro do Recife, o Centro Integrado de Defesa Social – CIODS registrou que 28 pessoas foram detidas por agressão, ameaça roubos e tumultos, dentre outras ocorrências.

Ao longo do percurso algumas pequenas confusões foram registradas, mas a polícia estava atenta e os próprios manifestantes diziam "não à violência", fazendo com que os tumultos fossem dissipados. Os pedidos de paz, no entanto, não foram suficientes para evitar que um soldado da Polícia Militar, que não teve o nome revelado, fosse esfaqueado no braço nas imediações da Praça Maciel Pinheiro. O militar foi socorrido, e segundo fontes da cúpula da PM, passa bem. O agressor estaria entre os manifestantes, foi detido e levado para o plantão da Delegacia de Santo Amaro. De lá, o suspeito seguiu para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Policiais militares cumpriram sua missão e torceram pelo sucesso do movimento com muita paz...

...e emocionou nossa comandante, pois o sucesso foram de todos nós, parabéns Pernambuco.

No final da tarde, um princípio de tumulto foi registrado em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Alguns manifestantes tentaram invadir o local, mas foram contidos pela polícia. Nesse momento o clima ficou tenso. Algumas pedras foram arremessadas contra os policais, mas não feriu ninguém. Após o incidente, a maioria dos manifestantes se dispersaram. Os que continuaram em frente à Alepe resolveram fazer um protesto pacífico, fechando a Rua da Aurora. Os manifestantes cantaram o hino nacional. Por volta das 19h o protesto foi chegando ao fim. 

Outros grupos seguiram para a sede da Prefeitura do Recife e Avenida Agamenon Magalhães. Na prefeitura, cerca de 200 pessoas depredaram o prédio público, localizado no Cais do Apolo. Muitos cobriram o rosto e jogaram rojões e pedras no edifício. Muitos vidros e lampâdas de iluminação foram quebrados. Um veículo que estava estacionado próximo à prefeitura também foi atingido, além da guarita do Tribunal Regional do Trabalho.
Os manifestantes também danificaram  paradas de ônibus da localidade. Mas a decisão de tumultuar não era consenso. Alguns manifestantes pediam "violência não". Um grupo de policiais se dirigiu para o local e inicialmente não reagiu à ação dos manifestantes. Após a chegada do Batalhão de Choque da Polícia Militar, foi usado gás lacrimogênio para dispersar o grupo. Pelo menos dois homens foram detidos e o movimento foi controlado.

À noite, o clima ficou tensoi na Avenida Conde da Boa Vista. Quatro pessoas foram detidas pela polícia após praticar assaltos no local. Também na avenida, próximo à Ponte Duarte Coelho, um homem quase foi linchado pela população acusado de furtar um celular. Como o aparelho não foi achado, os manifestantes liberaram o rapaz.

Na Avenida Agamenon Magalhães, o clima também ficou tenso à noite. Os manifestantes bloquearam a via e atearam fogo em sacos de lixo no cruzamento da Avenida Rui Barbosa. Também foi bloqueado o cruzamento do Parque Amorim e o acesso na Rua Joaquim Nabuco, ambos nas Graças. Por causa da retenção, mais de 45 ônibus, dezenas de carros e motos ficaram retidos a partir do Parque Amorim. Somente quatro ambulâncias foram liberadas a passar. Por volta das 22h30 as vias foram desbloqueadas pela polícia, os focos de incêndio apagados com extintores e o trânsito voltou a fluir normalmente.


Por: Cláudia Eloi e Júlia Schiaffarino/Diário de Pernambuco.

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