quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Policiais Militares do Ceará, Bahia e Pernambuco se unem e elegem seus deputados

Joel da Harpa, eleito deputado estadual por Pernambuco. Foram 15 deputados federais e 40 deputados estaduais eleitos em todo Brasil, formada por policiais e ex-policiais. Um aumento de 25% em 2014.

Policiais militares que lideraram greves recentes da corporação em três Estados importantes do Nordeste serão deputados estaduais a partir do ano que vem.
Ancorados numa rede de apoio de colegas, e em alguns casos fazendo campanha conjunta, os líderes das controversas paralisações, que levaram caos à segurança e foram consideradas ilegais pela Justiça, saíram vitoriosos das urnas em Pernambuco, no Ceará e na Bahia.

No Estado governado por Cid Gomes (Pros), o vereador por Fortaleza Wagner Gomes (PR) quebrou um recorde local. Capitão Wagner, como é conhecido, conseguiu a maior votação para deputado estadual da história do Estado, 194,2 mil votos.
Wagner, 35, liderou uma greve de seis dias da corporação, no Ano Novo de 2012. Naquele mesmo ano, se elegeu vereador em Fortaleza.

O soldado que passou 40 dias preso pela atuação como líder de greves da PM baiana em 2012 e 2014, Marco Prisco (PSDB), foi eleito para a Assembleia com 107 mil votos, terceira maior votação do Estado. O resultado veio a despeito de restrições da Justiça: Prisco não pôde viajar nem sair de casa depois das 18h e nos finais de semana.

Na terra da família Campos, o novo político da PM é Joel Maurino do Carmo, 37, o soldado Joel da Harpa (Pros), líder da greve de maio. Com 19.794 votos, ele foi o último candidato da coligação a conseguir uma vaga, puxada pelo pastor Cleiton Collins (PP) e seus 216.874 votos.

Capitão PM Wagner, de Fortaleza, eleito deputado estadual com 194,2 mil votos. A maior votação na história do Ceará.

A BANCADA POLICIAL

As últimas eleições para deputado estadual e federal destacaram um fenômeno claro: cada vez mais policiais são eleitos para as assembleias legislativas nos estados e para a Câmara Federal. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, iniciam o mandato em 2015 cerca de 15 deputados federais e 40 deputados estaduais ex-policiais, que de algum modo atuarão discutindo polícia e segurança pública. É um sinal claro de que há uma mobilização entre os integrantes da categoria visando defender seus interesses.

Tão logo esse crescimento eleitoral dos policiais foi detectado, surgiram polêmicas, críticas e discursos manifestando medo sobre a orientação conservadora que esses deputados levariam ao debate político. Alguns questionam, desesperados, por que essas pessoas estão recebendo votação tão expressiva. Ao analisar esse contexto, desconsideram os policiais como trabalhadores, como carentes de representação política que lutem pelos seus anseios e necessidades.

Não há nada de negativo em policiais escolherem seus representantes. Quem reivindica polícias e policiais conscientes do seu papel democrático deveria entender que a participação ativa do cidadão policial no mais simbólico dos eventos da democracia, as eleições, é algo importantíssimo. Para efeito de curiosidade, apenas em 1988 isso foi possível para os praças das polícias militares, antes proibido por todas as demais constituições. Policiais que votam e são votados e têm direito à liberdade de expressão (ainda não garantida pela legislação brasileira aos PMs) são pressupostos básicos para que as polícias se compreendam cidadãs.

Soldado PM Marco Prisco, da Bahia, conquistou a confiança da PM baiana e foi eleito deputado estadual, com 107 mil votos.

Em grande parte das polícias brasileiras há um sentimento de abandono entre os policiais em relação às suas necessidades trabalhistas. Às vezes faltam condições básicas e segurança para a realização das missões. Como qualquer outro servidor público sabe, há limites institucionais até mesmo para fazer valer a lei, principalmente quando isso gera ônus financeiro para os governos. Neste cenário, não adianta apelar para a bondade dos patrões (os governos), mas sim ter maneiras efetivas de reivindicação e exposição dos problemas.
Uma pergunta: quais candidatos e candidatas não policiais se ocupam de maneira efetiva com essas questões?

Concordo plenamente com as críticas feitas a candidatos policiais que demagogicamente sustentam o discurso do “bandido bom é bandido morto”, que defendem políticas de segurança recheadas de repressão arbitrária e trágica (para os próprios policiais, inclusive). Mas ao mesmo tempo é bom lembrar que esse discurso tem sido vendido não apenas a policiais, mas também a outros setores da sociedade que defendem políticas de “mão dura” – e também votam nesses pregadores do faroeste.
Do ponto de vista democrático, não seria justificável negar o direito ao voto à população brasileira por eleger candidatos como Collor ou Sarney. Da mesma forma, boa parte dos futuros deputados policiais brasileiros não me representa, mas é democrático que a tropa os eleja. Considerar que policiais elegerem seus representantes é negativo é pregar polícias menos democráticas, e é da mesma orientação de quem critica os nordestinos por escolherem este ou aquele candidato.

Por: Jânio Odon.
Fonte: Portal Todo Dia e, Portal Abordagem Policial.



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