Policiais militares que lideraram
greves recentes da corporação em três Estados importantes do Nordeste serão
deputados estaduais a partir do ano que vem.
Ancorados numa rede de apoio de
colegas, e em alguns casos fazendo campanha conjunta, os líderes das
controversas paralisações, que levaram caos à segurança e foram consideradas
ilegais pela Justiça, saíram vitoriosos das urnas em Pernambuco, no Ceará e na
Bahia.
No Estado governado por Cid Gomes
(Pros), o vereador por Fortaleza Wagner Gomes (PR) quebrou um recorde local.
Capitão Wagner, como é conhecido, conseguiu a maior votação para deputado estadual
da história do Estado, 194,2 mil votos.
Wagner, 35, liderou uma greve de
seis dias da corporação, no Ano Novo de 2012. Naquele mesmo ano, se elegeu
vereador em Fortaleza.
O soldado que passou 40 dias
preso pela atuação como líder de greves da PM baiana em 2012 e 2014, Marco
Prisco (PSDB), foi eleito para a Assembleia com 107 mil votos, terceira maior
votação do Estado. O resultado veio a despeito de restrições da Justiça: Prisco
não pôde viajar nem sair de casa depois das 18h e nos finais de semana.
Na terra da família Campos, o
novo político da PM é Joel Maurino do Carmo, 37, o soldado Joel da Harpa
(Pros), líder da greve de maio. Com 19.794 votos, ele foi o último candidato da
coligação a conseguir uma vaga, puxada pelo pastor Cleiton Collins (PP) e seus
216.874 votos.
Capitão PM Wagner, de Fortaleza, eleito deputado estadual com 194,2 mil votos. A maior votação na história do Ceará.
A BANCADA POLICIAL
As últimas eleições para deputado
estadual e federal destacaram um fenômeno claro: cada vez mais policiais são
eleitos para as assembleias legislativas nos estados e para a Câmara Federal.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, iniciam o mandato em 2015
cerca de 15 deputados federais e 40 deputados estaduais ex-policiais, que de
algum modo atuarão discutindo polícia e segurança pública. É um sinal claro de
que há uma mobilização entre os integrantes da categoria visando defender seus
interesses.
Tão logo esse crescimento
eleitoral dos policiais foi detectado, surgiram polêmicas, críticas e discursos
manifestando medo sobre a orientação conservadora que esses
deputados levariam ao debate político. Alguns questionam, desesperados, por
que essas pessoas estão recebendo votação tão expressiva. Ao analisar esse
contexto, desconsideram os policiais como trabalhadores, como carentes de
representação política que lutem pelos seus anseios e necessidades.
Não há nada de negativo em
policiais escolherem seus representantes. Quem reivindica polícias e policiais
conscientes do seu papel democrático deveria entender que a participação ativa
do cidadão policial no mais simbólico dos eventos da democracia, as eleições, é
algo importantíssimo. Para efeito de curiosidade, apenas em 1988 isso foi
possível para os praças das polícias militares, antes proibido por todas as
demais constituições. Policiais que votam e são votados e têm direito
à liberdade de expressão (ainda não garantida pela legislação brasileira aos
PMs) são pressupostos básicos para que as polícias se
compreendam cidadãs.
Soldado PM Marco Prisco, da Bahia, conquistou a confiança da PM baiana e foi eleito deputado estadual, com 107 mil votos.
Em grande parte das polícias
brasileiras há um sentimento de abandono entre os policiais em relação às suas
necessidades trabalhistas. Às vezes faltam condições básicas e segurança para a
realização das missões. Como qualquer outro servidor público sabe, há limites
institucionais até mesmo para fazer valer a lei, principalmente quando isso
gera ônus financeiro para os governos. Neste cenário, não adianta apelar para a
bondade dos patrões (os governos), mas sim ter maneiras efetivas de
reivindicação e exposição dos problemas.
Uma pergunta: quais candidatos e
candidatas não policiais se ocupam de maneira efetiva com essas questões?
Concordo plenamente com as
críticas feitas a candidatos policiais que demagogicamente sustentam o discurso
do “bandido bom é bandido morto”, que defendem políticas de segurança recheadas
de repressão arbitrária e trágica (para os próprios policiais, inclusive). Mas
ao mesmo tempo é bom lembrar que esse discurso tem sido vendido não apenas a
policiais, mas também a outros setores da sociedade que defendem políticas de
“mão dura” – e também votam nesses pregadores do faroeste.
Do ponto de vista
democrático, não seria justificável negar o direito ao voto à população
brasileira por eleger candidatos como Collor ou Sarney. Da mesma forma, boa
parte dos futuros deputados policiais brasileiros não me representa, mas é
democrático que a tropa os eleja. Considerar que policiais elegerem seus
representantes é negativo é pregar polícias menos democráticas, e é da mesma
orientação de quem critica os nordestinos por escolherem este ou aquele
candidato.
Por: Jânio Odon.
Fonte: Portal Todo Dia e, Portal Abordagem Policial.
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