Juvenal de Holanda Vasconcelos, mais
conhecido como Naná Vasconcelos, nasceu no Recife, em 2 de agosto de 1944, foi um músico pernambucano,
eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista americana Down
Beat e ganhador de oito prêmios Grammy, era considerado uma autoridade mundial
em percussão.
Seu pai Pierre Vasconcelos, também músico,
tocava manola, uma espécie de violão de quatro cordas com amplificador. O
apelido de Naná é herança de sua mãe Petronila desde o tempo em que morava no bairro em
Sítio Novo, Olinda.
Aos 12 anos, Naná já tocava bangô
e maracás nos bailes do clube misto carnavalesco Batutas de São José que ficava
na rua da Concórdia. Por causa da idade, Naná precisava de autorização de seu
pai Pierre para tocar nos bailes e não podia nem descer do palco.
Foi percussionista da Banda
Municipal do Recife. Tocou maracás também em gravações na Rozenblit, em discos
de frevo com Nelson Ferreira e acompanhou algumas vezes os cubanos da
Sonora Matancera, com Bievenido Granada, El Bigode que canta, que vinha gravar
no estúdio da Estrada dos Remédios.
Hoje é mestre do berimbau,
conhecido instrumento de percussão, de origem africana, com o qual se acompanha
a capoeira. Começou a se interessar pelo berimbau, casualmente, depois de
participar do musical folclórico Memórias de Outros Cantores, realizado
em 1966 no Recife.
Antes de Naná, a percussão
limitava-se aos tocadores de pandeiros, tambores, tumbadores, maracás e bangôs.
Naná percebeu as possibilidades do berimbau e empenhou-se em explorar todas as
potencialidades do instrumento.
Uma de suas principais inspirações veio ao escutar Jimi Hendrix. O senso de
liberdade que impregnava o trabalho do guitarrista americano mostrou-lhe as
ilimitadas possibilidades do seu instrumento. Passou a tocar vários ritmos no
berimbau, transportando a técnica usada na bateria para o instrumento, até
então, usado apenas na capoeira.
Viajou para o Rio de Janeiro em 1968, com uma passagem de ônibus presenteada
por Capiba.
Nos estúdios da ODEON no Rio de Janeiro em 1969: Robertinho Silva, Naná Vasconcelos e Milton Nascimento.
Em 1969, no Rio de Janeiro, Naná
Vasconcelos tornou-se o percussionista preferido pela maioria das estrelas da
MPB (Música Popular Brasileira) e do rockudigrudi da cidade. Gravou com
Milton Nascimento, Jards Macalé, Luiz Eça e a Sagrada Família, Som Imaginário, Gal
Costa, Os Mutantes. Ao vê-lo tocando berimbau com Milton Nascimento, o
argentino Gato Barbieri convidou Naná para participar das trilhas que compunha
para os filmes Pindorama, de Arnaldo Jabor, e Minha namorada, de
Zelito Viana.
Com Barbieri, Naná ganharia o
mundo, mas antes gravou, na Argentina, um LP (long-play), disco fonográfico,
cuja trilha sonora é gravada em microssulcos, hoje substituído pelo CD (disco
óptico), intitulado El incredible Naná com Augustin Perreyra Lucena.
Do Rio de Janeiro foi em 1970, morar no exterior, primeiro na França,
depois em Nova York, de onde passaria a administrar sua carreira de músico
internacional.
Com mais de 35 anos gravando e
tocando em vários lugares do mundo, Naná Vasconcelos já ganhou muitos prêmios,
entre os quais o Grammy, em 1977, com Egberto Gismonti, no álbum Danças das
Cabeças. Sua discografia aumenta cada vez mais, principalmente depois que
voltou para o Brasil, em 1980.
Tem gravado discos individuais
com mais freqüência e toca com todos os músicos que o convidam. Tanto faz tocar
com conhecidos cantores regionais, quanto com o mais famoso nacional ou
internacional, criando seus cenários e climas percussivos.
Conjunto de Jazz Fusion Codona (1978 a 1982), composto por Naná Vasconcelos, Don Cherry e Collin Walcott em ensaio em 1978, em Nova York.
Já tocou com celebridades como
Miles Davis, Dom Cherry, Theloníus Monk, Jean-Luc Ponty, B.B. King, Gato
Barbieri, Mongo Santamaría, Talking Heads, Pat Metheny. Sua obra é mais
conhecida no exterior do que no Brasil. Conseguiu revolucionar o papel do
percussionista e é talvez o único músico que lota teatros de todo o mundo se
apresentando sozinho, apenas com instrumentos de percussão.
MORRE O MITO DA PERCUSSÃO
PERNAMBUCANA E INTERNACIONAL
Amigos e parentes do
percussionista Naná Vasconcelos se encontram na Assembleia Legislativa de
Pernambuco, na área central do Recife, onde velam o corpo do artista que morreu
na manhã desta quarta-feira (9 de março). Naná estava internado há 10 dias no
Hospital da Unimed III e não resistiu a complicações de um câncer de pulmão. O
corpo do artista chegou à sede do Poder Legislativo pouco depois das 14h30,
onde era aguardado pelos entes mais próximos.
Naná Vasconcelos com a esposa Patrícia Vasconcelos e a filha Luz Morena.
Consternadas, a viúva do
percussionista, Patrícia Vasconcelos, e filha do casal, Luz Morena, se
emocionaram com a chegada do caixão e recebem o carinho de pessoas ligadas à
família. "Ele partiu fazendo música no quarto do hospital nos últimos dias
da vida dele. Ele vivia a música respirava a música. Todo momento que falava sobre
isso se sentia melhor. Espalhou muito amor e muita música pelo mundo todo. Essa
é uma perda material, mas a música vai ficar. Ele deixa humildade como lição.
Respeito ao próximo", disse a esposa Patrícia.
A mulher de Naná fez questão de
destacar o trabalho que realizou junto a crianças e o legado que deixará,
apesar de sua morte. "Como músico o trabalho que ele faz com crianças.
Essa musicalidade se transporta para todas as idades. Era uma missão de vida se
preocupar com o futuro de crianças que moravam na rua, que tinham problemas de
deficiência. A gente descobriu a doença muito avançada. Já tínhamos viagem
marcada para Nova Iorque (Estados Unidos) mas não deu tempo. Mas a equipe
médica aqui foi muito competente e ele sempre muito positivo, querendo viver",
acrescentou.
A filha do casal, Luz Morena, 16,
disse que leva do pai um exemplo de humildade e força. "Ele me dá muita
força sempre. Ele me chamou na UTI e me disse que eu seguisse meu sonho, que é
estudar design de moda fora do país. Tenho muito orgulho da obra e da pessoa
que ele foi", disse a filha com serenidade.
A outra filha do percussionista,
Jasmin Azul, 21 anos, mora em Nova Iorque. A família não sabe se dará tempo de
ela chegar para o velório. A cerimônia foi aberta ao público. A população
poderá ter acesso ao plenário da Casa de José Mariano até a manhã da
quinta-feira (10), antes do cortejo partir rumo ao Cemitério de Santo Amaro,
também na área central do Recife, onde acontecerá o enterro de Naná
Vasconcelos, às 10h.
Na coroa de flores que veio junto
com o corpo de Naná, havia a inscrição "Amém e amem". Segundo o
contra-regra de Naná, Edelvan Barreto, essa era a mensagem que ele queria
deixar para o mundo. "Amém e amem ele compôs da primeira vez que se
internou no ano passado. Essa música deve se propagar em toda a humanidade
nesse mundo perturbado que vivemos hoje. Essa era lição que Naná queria deixar
para todos nós".
Os famosos tambores de Naná não
estiveram presentes durante seu velório. Seu fotógrafo e amigo João Rogério
Filho disse que o prédio da Alepe, por ser um patrimônio histórico e tombado
tinha restrições. "Aqui tem uma restrição com instrumento de percussão. A
batida forte pode subir e danificar a estrutura do prédio".
Apesar disso, o Maracatu Nação
Porto Rico levou as alfaias para a área externa do prédio e fez uma homenagem
ao percussionista, relembrando Naná como símbolo da união dos maracatus de
Pernambuco. ‘Toque o tambor que Naná chegou. Todas as nações vêm saudar nesse
carnaval’, estava entre as letras entoadas pelo grupo, liderado por mestre
Chacon Viana.
"Naná deixava bem claro que
não tem mestre, nem ninguém melhor, o mestre é só o do céu. Com seu papo pé no
chão ele conseguia que as nações do estado se unificassem e se tornassem uma
só. Ele tinha uma coisa que Deus que deu. Ele não precisava se sacrificar
tanto, ele já tinha nome. Mas ele trabalhava o Carnaval inteiro, mesmo na
quimioterapia ele frequentava as comunidades, trabalhava com as crianças”,
recordou Viana.
Integrantes da Orquestra Criança
Cidadã também fizeram uma apresentação em homenagem a Naná durante o velório. O
presidente da Alepe, deputado Guilherme Uchoa destacou o patrimônio cultural
que o percussionista era para o estado. "Ele é um exemplo para essa
juventude que hoje o sucede. Ele deixou um exemplo forte da cultura
pernambucana no exterior. Ele resistiu à doença até os últimos minutos da vida
e vai deixar uma lacuna impreenchível”, afirmou.
O prefeito do Recife Geraldo
Julio também esteve presente no velório e reforçou que o legado do
percussionista é um presente a cultura de Pernambuco. "Naná já foi
reconhecido várias vezes como melhor percussionista. Convivi muito com ele. Fica
o ensinamento dele, toda a arte, o talento e a cultura para marcar nossa cidade
e inspirar muita gente para seguir os passos".
O músico Zé da Flauta chegou a
conversar com Naná na terça (8). Segundo ele, o estado do percussionista já era
fragilizado. "Ele fazia um esforço danado e não podia pra falar. Eu sai
muito abalado de lá e acordei com essa notícia. Eu chamava ele, meu grande
amigo, de "Butimbundo". É uma expressão africana para dizer que a
pessoa é muito inteligente. Ele me chamava assim também", recordou.
A risada do músico é o que vai
ficar na memória do Maestro Forro. "Minha lembrança mais marcante, além de
ser um gênio musical, era da sua risada. Ele acabava com qualquer embate,
qualquer divergência, só rindo. Ele vai ficar vivo em nossos corações como um dos
melhores exemplos de resistência, de luta", afirmou Forró.
Para o músico Ed Carlos, conhecer
Naná mudava a vida de qualquer pessoa. "Aqueles que tiveram o privilégio
de conhecê-lo não são mais as mesmas pessoas. Assim foi comigo. Tive o
privilégio de estar ao lado dele e hoje me sinto mais gente por isso. Só digo
uma coisa: Naná é pra sempre", disse.
Luto oficial
No fim da manhã, o governador Paulo Câmara decretou luto de três dias pela
morte do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. O artista que faleceu na
manhã desta quarta-feira em decorrência de complicações de um câncer de pulmão,
no Hospital Unimed III, onde estava internado desde o último dia 29. A morte do
artista pernambucano foi confirmada no início da manhã. Segundo informações da
assessoria da unidade de saúde, Naná teve uma parada respiratória, passou por
um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39.
Além do decreto, o chefe do
Executivo estadual divulgou nota falando sobre o artista. "Pernambuco acordou
triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada
combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos,
conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que
com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os teatros, as
academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus
familiares”, diz o texto.
Figuras como Lenine, Alceu
Valença e Gilberto Gil, deram depoimentos sobre o legado deixado pelo pernambucano.
O músico Marcelo Melo, da banda Quinteto Violado, um dos primeiros a chegar ao
velório de Naná, lamentou o falecimento do colega. "A gente se conheceu
nos anos 60. Tínhamos um quarteto vocal chamado O Bossa Norte. Naná era uma
pessoa muito querida, muito amiga. Eu assumi o Quinteto e ele a vida dele. Eu
tinha muito carinho por ele e era um talento muito grande".
DISCOGRAFIA:
Quatro Elementos (2013)
Sinfonia & Batuques (2011)
Trilhas (2006)
Chegada - Azul Music/Fábrica
Estúdios (2005)
Minha Loa - Fábrica Estúdios (2002)
Isso vai dar repercussão - Elo
Music/Boitatá (2004) com Itamar Assumpção.
No tempo da bossa nova (1997)
Storytelling (1995)
If you look far enough (1993)
Lester (1990)
Vernal equinox (1990)
Rain dance (1989)
Bush dance (1986)
Duas vozes (1984)
Zumbi (1983)
Codona vol 3 (1982)
Codona vol 2 (1979)
Codona vol 1 (1978)
Saudades (1979)
Kundalini (1978)
Sol do meio-dia (1978)
Dança das cabeças (1977)
Amazonas (1973)
Africadeus (1972)
Por: Fundaj/Maria do Carmo Andrade, G1-Pernambuco, Folha de São Paulo e Wikipédia.
GALERIA DE FOTOS DE NANÁ VASCONCELOS:
Em 1971, Naná Vasconcelos participa na Argentina da gravação do LP El Increíble, do cantor de Bossa Nova, Agustín Pereyra Lucena.
LP Africadeus/1972 |
LP Amazonas/1973 |
Naná Vasconcelos em 1973, com o instrumento que o consagrou: o berimbau.
Naná em Paris em 1976. Foto: Alécio de Andrade. |
Naná com os músicos norte-americanos Collin Walcott (compositor) e Don Cherry (Trompetista) em Nova York, quando integrava o Conjunto de Jazz Fusion Codona (1978 a 1982).
Outro grande parceiro de Nana Vasconcelos foi o músico carioca Egberto Gismonti que participaram dos grandes sucessos "Danças das Cabeças (1977)"; "Sol do Meio-Dia (1978) e "Duas Vozes (1984).
Naná na capa do LP Nova História da MPB de 1978 em parceria com Egberto Gismonti. |
Naná Vasconcelos em Veneza, na Itália em 1985, com o músico italiano Gianluca Mosole para participar como convidado da gravação do CD. Eartheart,
Gilberto Gil e Naná Vasconcelos em Salvador em 1996.
A família Vasconcelos com Alceu Valença
Naná Vasconcelos no estúdio em São Paulo em 2011, com o músico de jazz norueguês Arild Andersen (centro) onde gravaram o álbum "Rheomusi" de Fabiano Araújo.
Capa de "Café no bule" com Naná, Zeca Baleiro e Paulo Leppetit (2015). |
Naná ladeado pelo músico paulista Paulo Leppetit e o cantor maranhense Zeca Baleiro em São Paulo (2015).
Outro grande parceiro de Naná foi Jards Macalé.
Cartaz do show de Jazz no Chile em 2014, com Naná e Egberto Gismonti.
Dueto Naná com o instrumentista carioca Lui Coimbra no IX Festival de Jazz de Manaus (2014) |
Naná com Elba Ramalho e maestro Forró no Marco Zero/Recife (2016). |
Cartaz do Carnaval do Recife (2016)
9/3/2016- Velório na ALEPE de Naná Vasconcelos. Raul Henry e o governador Paulo Câmara prestam condolências aos familiares.Foto: G1- Pernambuco.
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