sábado, 24 de março de 2012

Morre Chico Anysio, o gênio do humor brasileiro

Chico Anysio, o gênio do humor brasileiro morre aos 80 anos. Foto: NOT1


23 de Março de 2012 - Sexta-Feira

O humorista Chico Anysio morreu aos 80 anos hoje, após 112 dias internado no Hospital Samaritano, no Rio. De acordo com o hospital, o horário da morte foi às 14h52. O velório será sábado (24), no Theatro Municipal do Rio. O corpo será cremado no domingo (25), em cerimônia restrita à família

Boletim médico informou que o paciente não resistiu a uma parada cardiorespiratória e a morte ocorreu por conta de falência múltipla dos órgãos decorrente de choque séptico causado por infecção pulmonar.
O artista piorou no início desta semana e, na segunda (19), voltou a respirar com a ajuda de aparelhos em período integral. No dia seguinte, teve uma complicação renal.

Na noite de quarta (21), ele foi submetido a uma sessão de hemodiálise e apresentou instabilidade hemodinâmica --por isso, fez uso de alta dose de medicamentos para controlar a pressão arterial.
Seu estado foi considerado crítico pelos médicos na manhã de quinta (22). Segundo o boletim assinado pelo médico Luiz Alfredo Lamy, o humorista estava sedado, respirando com a ajuda de aparelhos e foi submetido na tarde de ontem a uma punção torácica para drenagem de um "grande hematoma pleural".
Chico Anysio criou 209 personagens Foto: Clan Cobra

CRIADOR DE PERSONAGENS

Um dos principais nomes do humor no Brasil, criador de inúmeros personagens e bordões célebres, o cearense Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho construiu uma carreira de mais de seis décadas como radialista, escritor e ator de teatro, cinema e televisão.

Continuou trabalhando mesmo após o longo período de internação entre dezembro de 2010 e março de 2011, quando retirou parte do intestino grosso, fez uma angioplastia e teve sucessivos problemas cardiorrespiratórios que o deixaram em estado grave -chegou a entrar em coma por três vezes.
Quando teve alta, em abril do ano passado, voltou a gravar o programa semanal "Zorra Total", da Rede Globo, interpretando Salomé.

Chico era casado com a empresária Malga di Paula (seu sexto casamento) e teve oito filhos (um deles adotivo) --Lug de Paula, Nizo Neto, Rico Rondelli, André Lucas, Cícero Chaves, Bruno Mazzeo, Rodrigo e Vitória-- com cinco mulheres, entre elas a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, com quem teve seus caçulas.

Era irmão da atriz Lupe Gigliotti (morta enquanto ele estava internado, em dezembro de 2010, vítima de um câncer de pulmão), do cineasta Zelito Vianna e do empresário (e seu parceiro em diversos roteiros para TV) Elano de Paula.

INTERNAÇÃO

Chico Anysio deu entrada no mesmo hospital em novembro de 2011 devido a uma infecção urinária. Após ser tratado com um ciclo de antibióticos, recebeu alta para passar o Natal com a família, mas voltou a ser internado no dia seguinte com hemorragia digestiva.

Após alguns dias internado na UTI, Chico apresentou, também, um quadro de pneumonia e passou a respirar com a ajuda de aparelhos durante quase todo o período que esteve internado.

No início de janeiro, apresentou leve melhora na infecção pulmonar e os médicos iniciaram o processo de retirada do respirador.

No dia 14 de janeiro, o estado de Chico piorou e ele foi submetido a uma laparotomia exploradora (cirurgia abdominal para determinar os motivos do sangramento no intestino, retirando um segmento do intestino delgado que tinha sofrido uma perfuração por isquemia intestinal).

No mesmo período, ele desenvolveu insuficiência renal passando a receber sessões de hemodiálise.
Em fevereiro, Chico apresentou discreta melhora no quadro clínico e as sessões de hemodiálise foram suspensas, assim como a redução dos medicamentos para controlar a pressão arterial.

Ainda segundo o hospital, o humorista estava lúcido, permanecia algumas horas do dia sem ajuda do suporte mecânico para respirar e passava diariamente por sessões de fisioterapia respiratória e motora.

No fim do mês, Chico foi diagnosticado com um novo quadro de pneumonia, passou a fazer uso de antibióticos e voltou a respirar com ajuda de aparelhos.
Ele permaneceu com o mesmo quadro clínico até meados de março. No dia 21, apresentou piora no quadro cardiocirculatório com queda da pressão arterial e falência dos rins. Voltou a respirar com ajuda de aparelhos durante todo o dia e foi submetido a sessões de hemodiálise.

Malga Di Paula, atual mulher do artista, fez campanha contra o cigarro no Facebook na semana passada. "[Chico] é uma das vítimas de uma geração desinformada, que usava o cigarro por uma questão de charme", publicou ela na rede social.


HISTÓRICO MÉDICO

Chico Anysio já havia passado três meses no mesmo hospital no início de 2011, quando deu entrada com falta de ar e foi detectada uma obstrução de artéria coronariana. Ele foi submetido a uma angioplastia, procedimento que desobstrui as artérias.

No período pós-operatório, o humorista passou por diversas complicações, como tamponamento cardíaco e pneumonia. Ele precisou de auxílio de máquinas para respirar em vários momentos da internação, e foi submetido ainda a uma traqueostomia.

O humorista esteve internado em outras duas ocasiões em 2010: em maio e agosto. Na primeira, teve de tratar uma infecção respiratória.

Na época, escreveu em seu blog: "Estou vivo e paciente, esperando a cada telefonema que seja alguém da Globo, vestido de azul marinho, dizendo que alguém da mesma cor quer me ver novamente na telinha".

Já a segunda internação, em agosto, ocorreu por causa de uma hemorragia digestiva e ele passou por duas cirurgias no intestino. A recuperação foi rápida e, em setembro, Chico voltou aos palcos ao lado de Tom Cavalcanti no espetáculo "Chico.Tom".

Sua saúde foi se debilitando ao longo da última década. Em 2000, Chico Anysio foi internado com dores no peito. No ano seguinte, teve problemas pulmonares. Em 2006, foi internado duas vezes: primeiro, teve uma infecção respiratória, em seguida, sofreu uma queda em casa na qual fraturou uma vértebra.

Em 2009, o artista fez uma participação na novela “Caminho das Índias”, como o trambiqueiro Namit, pai de Radesh (Marcius Melhem). No ano passado, recebeu o prêmio especial do júri no Festival de Cinema do Rio por sua atuação no filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", dirigido por Vinicius Coimbra.

Segundo ele, por um erro do cartório em que foi registrado como Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, sua certidão de nascimento apontava que tinha nascido em 1929.

Seu pai, Francisco Anysio de Oliveira Paula, tinha uma empresa de ônibus, mas um incêndio na garagem dos veículos acabou com o negócio quando Chico tinha por volta de sete anos. Sobre isso, ele disse em depoimento em seu site: "Um dia a garagem dos ônibus pegou fogo. Não havia seguro. Acordamos pobres. Eu não sabia de nada. Nem da bastança anterior nem da penúria que viria".

Logo depois, aos 8 anos, ele se mudou com a mãe, dona Haydée, e três irmãos para o Rio de Janeiro, onde já morava o irmão mais velho. Seu pai permaneceu no Ceará, tentando refazer a vida como construtor de estradas.

No Rio, Chico Anysio estudou no Lycée Français (depois Colégio Franco-Brasileiro), no Atheneu São Luiz, no Zaccaria e no Anglo-Americano, além de ter sido interno no Colégio Independência.

Aos 16 anos, por conta do erro na certidão de nascimento, teve de se apresentar ao Exército, mas ficou como reservista. Também tirou carteira de motorista e passou a frequentar casas noturnas e a assistir filmes proibidos para menores.

De acordo com depoimento dado ao projeto Memória Globo, o comediante estudou para ser advogado. Mas ele também contou em seu site oficial que quis ser jogador de futebol. Foi justamente quando passou em casa para pegar os tênis para jogar uma partida, que descobriu que a irmã Lupe e um amigo iriam fazer teste na rádio Guanabara.
Ele desistiu do jogo e acompanhou os dois. Passou nos testes de rádio-ator e locutor.
Chico Anysio em 1975, o Brasil perde o mestre do humor. Foto: Folha.com


CARREIRA

Após a estreia na rádio Guanabara, Chico Anysio passou pelas rádios Mayrink Veiga, Clube de Pernambuco e Clube do Brasil.
Em sua segunda vez na rádio Mayrink Veiga, em 1952, criou a "Escolinha do Professor Raimundo".

Após o sucesso no rádio, foi convidado para estrear na televisão, na extinta TV Rio, onde surgiu o "Chico Anysio Show", que aproveitava o surgimento do videotape para pôr no ar diversos personagens do comediante.

Ele passou também pelas emissoras Excelsior, Tupi e Record, até ser contratado pela TV Globo em 1968. Nessa época, começou a lançar discos com músicas inspiradas por seus programas e personagens.

Em 1974, Chico Anysio passou a ter um quadro regular no "Fantástico", que manteve por 17 anos, até 1991.

Entre os sucessos na emissora, estão "Chico City" (1973), "Chico Total" (1981 e 1996), "Estados Anysios de Chico City" (1991) e "O Belo e as Feras" (1999).
Entre 1990 e 1995, a "Escolinha do Professor Raimundo", que já tinha aparecido como quadro em humorísticos anteriores, foi apresentada como um programa próprio. Em 1999, ela voltou como quadro do "Zorra Total", ficando no ar até 2002.

O humorista também atuou em novelas, como "Feijão Maravilha" (1979), "Terra Nostra" (1999), "Sinhá Moça" (2006), "Pé na Jaca" (2006) e "Caminho das Índias" (2009), além de ter participado de outros programas da emissora.

No cinema, trabalhou como ator em filmes como "Tieta do Agreste" (1996), "Se Eu Fosse Você 2" (2008) e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (2011), pelo qual recebeu um prêmio especial do júri no Festival de Cinema do Rio. Ele também escreveu livros, como "É Mentira, Chico?", e expôs pinturas.

Ele também ganhou duas vezes o prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

CRÍTICAS

Apesar da longa relação com a TV Globo, Chico Anysio teve uma passagem tumultuada pela emissora, à qual teceu diversas críticas ao longo dos anos.

Em 1989, dizendo-se decepcionado com o canal por causa do cancelamento do "Grupo Esculacho", quase fechou contrato com o SBT. Segundo noticiado à época, o humorista foi convencido a ficar após receber uma oferta milionária.

Em 2000, ele foi retaliado pela emissora após divulgar por e-mail críticas a diretores da casa e dizer que estava sofrendo discriminação na Globo porque seu filho Nizo Neto não conseguia emprego na rede.

Logo depois, repetiu as críticas em entrevista à revista "Isto É".
Na época, a Globo decidiu tirá-lo do ar --ele participava na ocasião do "Zorra Total" e do "Gente Inocente".

"O artista vem se comportando de modo incompatível com os padrões éticos e de qualidade da emissora, o que exige a suspensão de sua participação na grade de programação", afirmou a Globo na ocasião.
Em 2008, após novo período fora do ar, o humorista comentou o fato de a Globo tê-lo posto na "geladeira".

"Devo ter feito alguma coisa terrível ou alguém falou que eu fiz e eles acreditaram, mas é uma ordem irreversível", afirmou.
Na época, ganhou uma campanha pela sua volta à TV no humorístico "Pânico na TV", da RedeTV!.

As últimas críticas de Chico Anysio à emissora foram registradas em seu blog em 2009.
Ele reclamou da quantidade de jovens no canal --"uma tortura para quem tem mais de 50 anos"-- e das "panelas" feitas por diretoras da casa, como Wolf Maya.
"Divagando, a gente vai chegando à conclusão de que na televisão brasileira, quanto mais velho, menos se pode", escreveu.
Chico Anysio com os filhos(E) e sua sexta esposa, a empresária Malga Di Paula. Foto: NOT1


FAMÍLIA

Chico Anysio era irmão do cineasta Zelito Vianna --pai do ator Marcos Palmeira. Ele também é tio da atriz e diretora Cininha de Paula --mãe da atriz Maria Maya, filha do diretor Wolf Maya.
O humorista se casou diversas vezes. Entre as ex-mulheres, estão Nancy Wanderley, Rose Rondelli, Regina Chaves e Alcione Mazzeo.
Com a ex-Ministra da Economia do governo Collor Zélia Cardoso de Mello teve dois filhos, Rodrigo e Vitória.

O último casamento foi com a empresária Malga Di Paula.
Ele deixa oito filhos, entre eles, Nizo Neto, o Seu Ptolomeu da "Escolinha do Professor Raimundo", o ator e roteirista Bruno Mazzeo e Lug de Paula, o Seu Boneco da "Escolinha".

Por: Folha.com




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