O Estádio da Ilha do Retiro no dia do jogo, com a reforma sua capacidade passou para 20.000 torcedores. Foto: Diário de Pernambuco.
Terminada a 2ª
Guerra Mundial (1939-1945), o Presidente da FIFA, o francês Jules Rimet, tratou
logo de providenciar o reinicio da Copa do Mundo de Futebol de Seleções. A
última havia acontecido em 1938 na França. Em 25 julho de 1946, a FIFA
anunciava em Luxemburgo, país da Europa Ocidental, a escolha do pais sede da
Copa do Mundo de 1950, que seria realizada na América do Sul. Argentina e
Brasil foram os candidatos para sediar a Copa, mas a Argentina desistiu e o
Brasil conquistou o pleito.
Por sua vez, o
governo brasileiro empolgado pela indicação, prometeu a construção de três
novos estádios. Um em Porto Alegre, que seria gerenciado pelo Internacional-RS,
o outro seria construído em Recife, que ficaria sob responsabilidade do Clube
Náutico Capibaribe e o Maracanã que ficaria a cargo do Flamengo do Rio de
Janeiro. Conclusão: Dos três, apenas o
Maracanã saiu do papel, e que após sua construção tornou-se o maior estádio do
mundo.
Diante das
circunstâncias, o Governador de Pernambuco, Barbosa Lima Sobrinho e o
Presidente da Federação Pernambucana de Desportos (atual FPF), Leopoldo Casado,
propôs ao Presidente da CBD, o gaúcho Rivadávia Corrêa Meyer, a ampliação e
reforma do Estádio da Ilha do Retiro para realização de jogos da Copa do Mundo
no Recife. O fato do Recife na época, ser a terceira capital brasileira mais
populosa com 524 mil habitantes, além da diretoria do Sport Club do Recife ter
promovido um grande evento de futebol na própria Ilha do Retiro em 1947, com a
realização de um Fla x Flu, um dos mais
tradicionais clássicos do futebol brasileiro. Além das equipes cariocas,
participaram do torneio o anfitrião Sport Recife e o Santa Cruz. O primeiro Fla
x Flu no Nordeste, teve dois ilustres pernambucanos defendendo o Fluminense.
Orlando Pingo de Ouro (ex-náutico) e Ademir Menezes (ex-sport), ele que seria o
artilheiro desta copa, com 9 gols.
O governador Barbosa Lima Sobrinho, o prefeito Moraes Rego e o presidente da Federação Pernambucana de Desportos, Leopoldo Casado. Figuras importantes na reforma da Ilha, presentes no dia do jogo. Foto: João Martins/O Cruzeiro (extraído do Blog de Fernando Machado).
Esses fatores,
contribuíram e muito para que a CBD aceitasse o pedido dos pernambucanos que
com muito esforço e união conseguiram cumprir as exigências da FIFA, que era
até modesta para os padrões atuais. Com o aval da CBD e da FIFA, o Governo do
Estado, além do Prefeito do Recife, Moraes Rego, investiram CR$ 400 mil
cruzeiros nas obras de ampliação da Ilha do Retiro. O Presidente do Sport
Recife, José Lourenço Meira de Vasconcelos que depois renunciou, seu sucessor Severino Almeida, sócios e demais torcedores
leoninos se envolveram numa grande campanha de doações de areia, cimento,
material de construção em geral e até mão-de-obra voluntária. Impulsionaram
esta grande empreitada rubro-negra para realização deste grande sonho, que ao
final, custou CR$ 1 milhão de cruzeiros. A reforma da Ilha do Retiro consistiu
no fechamento do anel superior, construção do alhambrado e três túneis para
jogadores e árbitros.
A crise mundial
em virtude da 2ª Guerra Mundial por pouco não pôs fim ao sonho dos
pernambucanos. A princípio estava previsto três jogos para o Recife, mas foram
muitas desistências que obrigaram a FIFA a mudar os grupos e locais dos jogos.
A Índia, Turquia e Escócia já haviam desistido. A FIFA convidou Portugal e
França que estavam de fora. Portanto, os jogos programados para a Ilha do
Retiro seriam: Portugal x Bolívia; França x Bolívia e Chile x Estados Unidos (
o único que aconteceu).
Mas antes de
iniciar a Copa, Portugal desistiu da disputa alegando problemas financeiros e
de transporte. Uma semana depois, foi a vez da França desistir, insatisfeito
com a tabela, justificou que teria que jogar no Estádio dos Eucaliptos, em
Porto Alegre e depois viajar mais de 3.000 quilômetros até o Recife para
enfrentar o selecionado boliviano. A desistência de Portugal e França, fez com
que o Presidente da FPD, tentasse junto a CBD e FIFA a realização de outros
jogos na Ilha do Retiro. Cogitou-se a realização de jogos da seleção italiana e
uruguaia. Mas tudo não passou de cogitação.
(Esq/Dir) Delegado do jogo, Walter Bahr (capitão EUA), árbitro Mário Gardelli (BRA) e Sergio Livingstone (capitão chileno) na Ilha do Retiro. Foto: Jornal Pequeno.
Sem ter mais a
quem apelar, os pernambucanos tiveram que se contentar com apenas um jogo.
Chile e Estados Unidos foi o único jogo realizado na Ilha do Retiro, o único no
Nordeste e fora do eixo sul-sudeste.
O Chile quando
veio ao Recife, havia perdido para a
Inglaterra e Espanha no Maracanã, pelo mesmo placar: 2 a 0. Já o Estados Unidos
perdeu o primeiro jogo para a Espanha por 3 a 1, em Curitiba, e protagonizou a
maior zebra da Copa, quando venceu por 1 a 0, a poderosa Inglaterra no Estádio
Independência, em Minas Gerais. O feito norte-americano rendeu um filme: “The
game of their lives” (O jogo da vida deles). No Brasil, o filme foi intitulado
de “Duelo de campeões”, o filme narra toda trajetória da equipe americana,
desde sua preparação em St. Louis até a vitória diante dos ingleses.
Domingo, 2 de
julho de 1950, às 15 horas, começava o jogo histórico na Ilha do Retiro entre
Chile e Estados Unidos. Faltou energia no Recife que ainda não tinha TV, os
jogos eram narrados pelo rádio, entretanto, neste dia as rádios não puderam
transmitir o jogo, para frustração de pernambucanos, chilenos e americanos que não estavam no estádio e não
puderam acompanhar o jogo.
Panorama geral da Ilha do Retiro no dia do jogo. Foto: DP
FICHA TÉCNICA DO
JOGO
CHILE 5 X 2 ESTADOS UNIDOS
Data: 2/7/1950 – Domingo – 15:00
Local: Ilha do Retiro (Recife)
Público: 8.501 torcedores
Renda: CR$ 290.000,00
Público: 8.501 torcedores
Renda: CR$ 290.000,00
Árbitro: Mário Gardelli (BRA)
Assistentes: Mario R. Heyen (PAR) e
Alfredo Álvarez (BOL)
Gols: Jorge Robledo (CHI) aos 16m e Atilio Cremaschi
(CHI) aos 32m do 1º tempo. Frank Wallace (EUA) aos 2m; Joe Maca (EUA) aos 3m;
Andrés Prieto (CHI) aos 9m; Atilio Cremaschi (CHI) aos 15m e Fernando Riera
(CHI) aos 37m do 2º tempo.
Chile venceu com: Sergio Livingstone; Manuel Machuca e Manuel
Álvarez; Miguel Busquets, Arturo Farías e Carlos Rojas; Fernando Riera, Atilio
Cresmaschi, Jorge Robledo, Andrés Pietro e Carlos Ibañez. Técnico: Arturo
Bucciard.
Estados Unidos perdeu com: Frank Borghi;
Harry Keough e Joe Maca; Ed Mcllvenny, Charlie Colombo e Walter Bahr; Frank
Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza e Ed Souza. Técnico: Bill
Jeffrey (Escócia).
Gol do EUA na Ilha do Retiro.
Gol do Chile, que venceu por 5 a 2.
Superball a bola usada no jogo entre chilenos e norte-americanos na Ilha do Retiro.
Poster da 4ª Copa do Mundo do Brasil, em 1950.
Cartaz do filme de 2005, que narra a aventura norte-americana na Copa de 1950.
Por: Jânio Odon/Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS)
Gol do Chile, que venceu por 5 a 2.
Superball a bola usada no jogo entre chilenos e norte-americanos na Ilha do Retiro.
Poster da 4ª Copa do Mundo do Brasil, em 1950.
Cartaz do filme de 2005, que narra a aventura norte-americana na Copa de 1950.
Por: Jânio Odon/Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS)
Fonte: Diário de Pernambuco, Jornal do
Commercio/Recife, Jornal Zero Hora e especiais.ne10.uol.com.br
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