quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Santa Cruz, Tricampeão Pernambucano pela primeira vez em 1933

O Santa Cruz tricampeão pernambucano pela primeira vez em sua história.


Grandes acontecimentos de 1933: 31/1- Adolf Hitler torna-se 1º ministro da Alemanha; 10/2- O Conselho Nacional do Café passa a Departamento, subordinado ao governo federal; 3/5- Eleita a Constituinte, com 1,3 milhão de votos. Carlota P. Queirós, Torna-se a primeira deputada federal do Brasil; 21/5- Governo concede anistia aos revolucionários de 1932; 6/6- Criado o Instituto do Açúcar e do Álcool; 13/6- Inaugurado no Recife, o Mercado Público de Santo Amaro; 6/7- Criado o Instituto Brasileiro de Estatística; 17/9- Nasce em Canguaretama-RN, o político Roberto Magalhães Melo; 24/10- Começa a construção de Goiânia-GO; 1/12- O Governo assume metade da dívida bancária dos cafeicultores; 7/12- O general C. Barcelos propõe à Constituinte a mudança da capital para o Planalto Central; Fundada a Escola Paulista de Medicina; Gilberto Freyre lança o livro “Casa-Grande e Senzala”; Graciliano Ramos lança seu primeiro romance “Caetés”; Humberto Mauro filma “Ganga Bruta”. Em alguns Estados, o futebol começa a se profissionalizar.

Antes do início do Campeonato, em 3 de janeiro, a Liga Pernambucana de Desportos Terrestres (LPDT), mudou de nome e de sigla, passando a se chamar: Federação Pernambucana de Desportos (FPD). O presidente da entidade, Renato Silveira, em solenidade na sede da federação, na Rua da Imperatriz, 302, no 1º andar. Entregou o troféu e medalhas do bicampeonato  aos atletas e dirigentes tricolores. O segundo passo de Renato Silveira, foi atrair um maior público para o certame de 1933, pois nas edições anteriores o público vinha sendo pequeno devido a realização paralela do campeonato suburbano, promovido pela Associação Suburbana de Desportos Terrestres (ASDT) que era de graça e que atraia muita gente. Sendo assim, o presidente convidou para participar da primeira divisão seis equipes da ASDT: Varzeano, Great Western, Encruzilhada, Atheniense, Íris e Fluminense.

A 19ª Edição do Campeonato Pernambucano de Futebol, onde o Santa Cruz sagrou-se tricampeão, começou em 2 de abril de 1933 e só terminou em 4 de março de 1934. Contou com 14 equipes todas do Recife,  divididos em dois grupos. A Série Azul composta de Santa Cruz, Sport Recife, Náutico, América, Torre, Íris, Flamengo e  Encruzilhada e a Série Branca composta com as equipes convidadas da LPDT: Varzeano, Tuyuty, Atheniense, Fluminense, Great Western e Israelita. Os jogos de cada grupo foram realizados no sistema de pontos corridos com jogos de ida e volta, e ao final, o vencedor de cada grupo, disputaram o  campeonato num play-off.  

O campeonato começou com a realização da 15ª Edição do Torneio-Início, no Campo da Avenida Malaquias,  que não chegou a ter a final entre Náutico e Encruzilhada por falta de iluminação, ficando decidido pela FPD, que o campeão do torneio seria conhecido no primeiro  confronto entre as duas equipes no campeonato. Isso aconteceu em 2 de abril, quando o Náutico venceu por 7 a 0.

O Campeonato começou com uma grande disputa na série azul entre o Santa Cruz de Tará e o Sport Recife do goleador Marcílio Aguiar. A disputa foi pau a pau do início ao fim. O Santa Cruz começou arrasador, vencendo seus primeiros cinco jogos até que chegou a hora do confronto com o rubro-negro em 30 de julho.  Sport Recife e Santa Cruz fizeram um jogo eletrizante com dez gols no Campo da Jaqueira, no empate em 5 a 5. Tará, do tricolor e Marcílio Aguiar, do leão, fizeram dois gols na partida. O Náutico por sua vez, lançava os irmãos Carvalheira, que fizeram grande sucesso no futebol pernambucano. Entretanto, terminou em terceiro no grupo. Sendo surpreendido pelo Íris, quando empatou em 3 a 3, mas venceu em 25/6, o Sport Recife por 2 a 1 e o Santa Cruz em 15/11, por 1 a 0. O jogo mais esperado do campeonato e também o mais importante, ficou reservado para o dia 10 de dezembro, no campo da Avenida Malaquias, pela decisão da série azul. O Santa Cruz logo pela manhã, já havia conquistado o título juvenil ao derrotar o América por 2 a 1. Á tarde, os tricolores arrebataram o campeonato do segundo quadro, vencendo o Sport Recife por 5 a 2. Para os tricolores só restava vencer a partida final do campeonato principal para fechar com chave de ouro a temporada. Alguns jogos deixaram de serem realizados por falta de iluminação ou desinteresse das equipes por o jogo não valer mais classificação. O regulamento da época permitia esse procedimento. A maior goleada do campeonato aconteceu em 28 de maio, pela Série Branca, o Tuyuty venceu o Fluminense por 10 a 0. A maior goleada da Série Azul aconteceu em 7 de setembro, o Santa Cruz venceu o Encruzilhada por 9 a 0, no Campo da Jaqueira.

O campo estava cheio e com a presença do interventor de Pernambuco, coronel Jurandir Mamede. Além de entrar em campo com a vantagem de jogar pelo empate, o Sport Recife fez um gol de frente, através de Alemão, porém o Santa Cruz logo virou o jogo para 3 a 1, gols de Tará (2) e Limoeiro. Mas uma brincadeira de Zezé Fernandes quase estraga a festa tricolor. Ao receber a bola, Zezé pôs o pé em cima dela e depois sentou-se na bola, debochando dos jogadores do Sport. O árbitro Harry Leça puniu o tricolor com uma falta, que acabou redundando no gol de Marcílio. Os jogadores do Sport Recife, pegaram a bola e correram para o meio de campo numa tentativa desesperada em busca do empate, o que valeria uma vaga na final. Mas assim que Tará tocou a bola para Limoeiro, o árbitro encerrou o jogo que garantiu praticamente o título aos tricolores, pois ninguém acreditava numa proeza do Varzeano, vencedor da Série Branca. O que todos previam aconteceu, num play-off que só foi realizado no início de 1934, o Santa Cruz goleou o Varzeano duas vezes por 5 a 2, terminando a temporada fazendo cabelo, bigode e barba para delírio da imensa torcida coral, que fez uma grande festa na cidade. O Varzeano Sport Club, foi fundado em 13 de maio de 1917, no bairro da Várzea, no Recife. Em seu campo, conhecido por Ambolê, foi realizado o primeiro jogo noturno em Pernambuco.

A campanha do Santa Cruz foi excelente: 16 jogos; 13 vitórias; 2 empate; 1 derrota. Marcou 70 gols e sofreu apenas 23, saldo de 47 gols. Seus principais artilheiros foram: Limoeiro com 10 gols; Walfrido com 9 gols e Estevão e Tará com 7 gols. O elenco tricolor tricampeão era formado por: Diógenes, Sherlock, João Martins, Marcionilo, Sebastião “da Virada” França, José Fernandes, Walfrido, Humberto Ribeiro (o Limoeiro), Humberto Viana (o Tará), Lauro Monteiro, Carlos Bening, Floriano Carvalho (o Dadá), Fernando Melo, Ernane Zolocovick, Júlio Fernandes, Estevão Pequeno e Artur Danzi Filho.

AS GRANDES GOLEADAS: Série Azul – Santa Cruz 9 x 0 Encruzilhada; Íris 8 x 0 Encruzilhada; Santa Cruz 8 x 2 Torre; Náutico 7 x 0 Encruzilhada; Sport Recife 7 x 0 Torre; Náutico 7 x 1 América; Sport Recife 7 x 2 Encruzilhada; Flamengo 7 x 2 Encruzilhada; Santa Cruz 6 x 0 Flamengo; Íris 6 x 0 Flamengo; Santa Cruz 6 x 1 Torre; Náutico 6 x 1 Flamengo; Sport Recife 6 x 1 Torre; Sport Recife 6 x 1 Encruzilhada; Náutico 6 x 2 Flamengo; Sport Recife 5 x 1 América; Náutico 5 x 1 Torre; Encruzilhada 4 x 0 Torre; Torre 4 x 0 América. Série Branca: Tuyuty 10 x 0 Fluminense; Varzeano 8 x 0 Fluminense; Tuyuty 6 x 1 Israelita e Varzeano 4 x 0 Great Western.

AS SURPRESAS: Série Azul- Encruzilhada 4 x 0 Torre; Flamengo 2 x 0 Torre; Náutico 3 x 3 Íris; América 2 x 3 Flamengo; Santa Cruz 2 x 2 Íris; América 2 x 2 Íris; Íris 3 x 2 Torre; Encruzilhada 2 x 2 América; Encruzilhada 3 x 0 Torre; Flamengo 1 x 1 América e Torre 4 x 0 América.

OS CLÁSSICOS: 2/4- Santa Cruz 5 x 2 América; 30/4- América 1 x 7 Náutico; 7/5- Santa Cruz 3 x 0 Náutico; 4/6- América 1 x 5 Sport Recife; 25/6- Sport Recife 1 x 2 Náutico; 30/7- Santa Cruz 5 x 5 Sport Recife; 20/8- Santa Cruz 4 x 3 América; 7/9- Náutico 5 x 3 América; 15/10- Sport Recife 3 x 2 América; 15/11- Náutico 1 x 0 Santa Cruz; 26/11- Sport Recife 4 x 3 Náutico e em 10/12- Santa Cruz 3 x 2 Sport Recife.

ARTILHEIRO DO CAMPEONATO: Marcílio Aguiar (Sport Recife) não há registro dos gols marcados.

 Marcílio Aguiar (Sport)

CLASSIFICAÇÃO FINAL*
Série Azul
1º Santa Cruz- 24 pontos
2º Sport Recife- 23 pontos (saldo: 33 gols)
3º Náutico- 23 pontos (saldo: 31 gols)
4º Íris- 11 pontos
5º Flamengo- 9 pontos (4 vitórias/Saldo: -22 gols)
6º Encruzilhada- 9 pontos (4 vitórias/ Saldo: -39 gols)
7º América- 9 pontos (3 vitórias)
8º Torre- 4 pontos

Série Branca
1º Varzeano- 17 pontos
2º Tuyuty- 14 pontos (Saldo: 18 gols)
3º Atheniense- 14 pontos (Saldo: 12 gols)
4º Fluminense- 6 pontos
5º Great Western- 4 pontos
6º Israelita- 3 pontos
*Esta classificação não consta os jogos das finais.

Jogo decisivo da Série Azul

Sport Recife 2 x 3 Santa Cruz
Data: 10/12/1933
Local: Campo da Avenida Malaquias (Sport)
Renda e público: não há registro
Árbitro: Harry Leça
Gols: Tará (2) e Limoeiro para o Santa Cruz e Alemão e Marcílio Aguiar para o Sport Recife.
Sport Recife perdeu com: Muniz; Alderito e Fernando; Bivar, Paulo e Brivaldo; Alemão, Marcílio Aguiar, Julinho, Gayoso e Rodolfo. O Santa Cruz venceu com: Diógenes; Sherlock e João Martins; Marcionilo, Sabastião da Virada e Zezé; Walfrido, Limoeiro, Tará, Lauro e Carlos.

FINAIS

1º jogo
Santa Cruz 5 x 2 Varzeano
Data: 25/2/1934
Local: Campo da Jaqueira
Renda e Público: sem registro
Árbitro: Harry Leça
Gols: Limoeiro, Tará, Lauro (2) e Carlos (Santa Cruz); Edgar e Quincas (Varzeano)
Santa Cruz venceu com: Dadá; João Martins e Fernando; Marcionilo, Sebastião da Virada e Ernani; Estevão, Limoeiro, Tará, Lauro e Carlos. O Varzeano perdeu com: França; Perdido e Quida; Ernesto, Zequinha e Messias; Gato, Zezinho, Quincas, Waldemar (Edgar) e Lula.
Tará (Santa Cruz)

2º jogo
Santa Cruz 5 x 2 Varzeano
Data: 4/3/1934
Local: Campo da Jaqueira
Renda e público: sem registro
Árbitro: Constantino Caldas
Gols: Limoeiro (2), Tará (2) e Lauro (Santa Cruz) e Quincas e Lula (Varzeano)
Santa Cruz venceu com: Dadá; Marcionilo e Fernando; Julinho, Sebastião da Virada e Ernani; Cachorrinho, Limoeiro, Tará, Lauro e Estevão. Varzeano perdeu com: Arara; Perdido e Quida; Quincas, Zequinha e Messias; Lula, Walfrido, Fernando, Zezinho e Edgar.

SANTA CRUZ TRICAMPEÃO PERNAMBUCANO.

Outros campeões estaduais pelo Brasil em 1933:
São Paulo: Palestra Itália (atual Palmeiras) foi o campeão;
Rio de Janeiro: Pela AMEA, Botafogo foi campeão, e pela LCF, o Bangu foi o campeão;
Minas Gerais: Vila Nova, de Nova Lima foi o campeão;
Rio Grande do Sul: São Paulo, de Rio Grande foi o campeão;
Paraná: Coritiba foi o campeão;
Bahia: Bahia campeão;
Ceará: Fortaleza foi o campeão;
Pará: Clube do Remo foi o campeão.

Por: Jânio Odon
Fonte: Diário de Pernambuco e Livro “História do futebol em Pernambuco” de Givanildo Alves, Editora Bagaço.




           

3 comentários:

  1. Meu nome é Paulo Fernando. O que vou escrever não é um comentário, é um desabafo.
    Sou neto do Dr. Luiz de Barbalho Uchôa Cavalcante, um dos fundadores do "Velho Santa". Pois bem, o tricolor completou cem anos de existência e nenhum membro de nossa família foi convidado para as solenidades alusivas ao fato. Lamentável! Mas não é a primeira vez, a outra foi bem pior: não convidaram o fundador para a inauguração da nova (para a época) iluminação do Mundão do Arruda. O mesmo foi para a calçada, em frente a sua residência, olhou o clarão dos refletores, emocionou-se, entrou e foi dormir. Eu presenciei este momento de tristeza do velho Barbalho!
    Parabéns "organizadores" dos festejos!

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  2. Uma correção no comentário acima, omiti o prenome Gonzaga e o sobrenome Barbalho. O nome do fundador é: Luiz de Gonzaga Barbalho Uchôa Cavalcante.

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    1. Caro Paulo Fernando, boa tarde. Observando bem, a culpa não é só do Santa Cruz. Atualmente, tudo que ficou para trás é esquecido, as pessoas não se interessam pelo passado, quem fez ou quem deixou de fazer a geração de hoje não estar nem aí. Com a chegada da internet, muitos só querem saber do hoje pelas redes sociais. Mas há um esperança, muitos pesquisadores e historiadores e estudiosos nostálgicos estão resgatando esse passado esquecido em seus blogs,sites e livros. Eu mesmo me enquadro neste contexto, observe os trabalhos sobre nosso futebol do saudoso Givanildo Alves, além Adonias de Moura, Celso Cordeiro e outros. Certamente qualquer dia desse, seu avó será lembrado. Um abraço.

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