22 de julho de 2013 (segunda-feira)
A turista paulista Bruna Gobbi,
18 anos, foi a primeira mulher morta por um tubarão em Pernambuco desde que os
ataques começaram a ser contabilizados, em 1992. Bruna foi mordida na tarde de
segunda-feira (22), na praia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, na altura do
edifício Castelinho. Ela chegou a ser socorrida, teve parte da perna amputada -
cerca de 15 centímetros acima do joelho -, mas morreu por volta das 23h30 no
Hospital da Restauração, na área central do Recife. Antes, o último ataque a
uma mulher ocorreu em 2004 - a vítima perdeu parte dos glúteos, mas sobreviveu.
Os dados são do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões
(Cemit).
Na manhã desta terça (23), o
corpo de Bruna Gobbi está sendo submetido a uma autópsia no Instituto de
Medicina Legal (IML), no Recife. Um tio, Davi Leonardo, que mora em Olinda,
informou que vai ao IML ainda nesta manhã. A estudante visitava o Recife pela primeira
vez - passava férias com a família. Ela chegou na última quinta (18) ao estado
e voltaria para a capital paulista na próxima quarta (24). Bruna estava na
praia de Boa Viagem com a mãe, a avó, primos que moram em Olinda e uma prima,
Daniele Souza Gobbi, que estava no mar com ela, mas não foi atacada.
"Sabíamos que havia riscos de ataque, mas eu não achava que seria tão no
raso, e sim no fundo", comentou Daniele.
Bruna Gobbi, a vítima |
Não tivemos acesso nem a fotos do
ferimento nem a pedaços de dentes que possam indicar qual a espécie. A gente
especula, pela época e pelas condições, que tenha sido o [tubarão]
cabeça-chata", afirma Rosângela Lessa, presidente do Cemit e professora da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). "Houve um conjunto de
condições que foram fatais", explica Rosângela. Entre elas estão o tempo
chuvoso, a água turva, que atrai o tubarão cabeça-chata, a lua cheia e o mês de
julho, época de mais ataques e temporada de férias.
No perímetro que compreende os 30
km da praia do Carmo, em Olinda, na Região Metropolitana, até a praia do Paiva,
no Cabo de Santo Agostinho, no Litoral Sul, há 88 placas (44 pares). "Esse
é o trecho mais densamente sinalizado. Não há como a pessoa dizer que foi mal
informada, o assunto não é novo", explicou Rosângela. Segundo ela, o
ataque de tubarão mata principalmente por causa da hemorragia. "Existe um
excesso de confiança do pessoal em um certo grupo de idade que desafia a
lógica. Mesmo com as advertências dos bombeiros, que teriam sido suficientes
para evitar esse desfecho, elas continuaram dentro d'água", afirma
Rosângela.
Fora o caso de Bruna Gobbi, o
Cemit contabiliza um total de 58 ataques de tubarão nos últimos 21 anos, com 24
mortes. 70,2% das vítimas tinham entre 14 e 25 anos. Além disso, 35,1% das
ocorrências foram registradas durante o período de Lua cheia. Dos 59 ataques,
23 ocorreram na Praia de Boa Viagem e 17, na vizinha Praia de Piedade, situada
no município de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife
(RMR).
A cirurgiã vascular do HR Maria
Cláudia Albuquerque informou que a paciente chegou ao hospital com a pressão a
zero, em um estado extremamente grave. "Foram feitas todas as medidas de
suporte e ela foi levada ao bloco cirúrgico para uma avaliação. A lesão
apresentada no membro foi muito extensa. Pedaços da musculatura e do tecido
ósseo foram perdidos. Precisávamos de uma atitiude rápida para conter o
sangramento e tentar salvar a vida da paciente", detalhou a médica. Bruna
Gobbi perdeu uma quantidade de sangue muito grande em um período muito curto de
tempo e sofreu várias paradas cardíacas.
As placas indicativas espalhadas pelas áreas de risco, muitas vezes, não são levadas a sério pelos banhistas. A destruição da cadeia alimentar dos tubarões, após a construção do Porto de Suape, gerou uma série de ataques a partir de 1992.
O momento do ataque foi registrado pelas câmeras de monitoramento do projeto
Segurança na Orla, da Secretaria de Defesa Social (SDS). As imagens mostram a
movimentação de Bruna e Daniele no mar, além da chegada dos bombeiros e manchas
de sangue na água após o ataque. No vídeo, dois bombeiros aparecem entrando no
mar a nado para resgatá-las. Usando uma moto aquática, um terceiro bombeiro
resgata as banhistas. Depois, todos saem em direção à faixa de areia. Em nota,
a SDS informou que o salvamento e resgate das vítimas durou menos de dois
minutos. "Os bombeiros vieram em coisa de cinco minutos, mas se tornou
como se fossem cinco anos em nossas vidas", afirmou a prima de Bruna, Daniele,
muito emocionada.
Por: Jânio Odon
Fonte: G1
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