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Podemos dizer que este trabalho é
fascinante porque nos deportamos a um passado distante, onde muitas vezes, por
algum motivo ou situação, nós moradores desta região passamos por alguns destes
lugares ou até moramos neste exato momento. Evidentemente, que passados mais de
um século, muita coisa mudou nestas localidades recheadas de engenhos, sítios,
povoados, terrenos baldios e estradas intermináveis de terra batida, sem nome
ou referência precisa. Tempo de escravidão, senhores de engenho, gente do mato,
de transporte precário na base de lombo de animais, da cadeirinha de arruar
conduzido por escravos, dos trens a vapor, as chamadas maxambombas e os bondes
puxados por burros; ou embarcações no rio Capibaribe e alguns de seus
afluentes, onde muitos já não existem mais. Lugares onde os legisladores
sofriam para demarcar os limites das freguesias e povoados por falta de
habitação, onde muitas vezes, a residência de alguém importante daquela
localidade servia como referência. Lugares com nomes esquisitos que se perderam
com o tempo, outros resistiram até hoje. Tempo da monarquia e do poder absoluto
da igreja católica, tempo em que o nosso dinheiro era o “réis”, tempo em que
não existia o governador, e sim, o presidente da província. Nesta data, o
presidente da província de Pernambuco era o carioca Franklin Américo de Menezes
Dória (Barão de Loreto), era o Brasil do imperador D. Pedro II.
Mergulhe neste passado, publicado
no Diário de Pernambuco do dia 9 de março de 1881 e reproduzido neste blog da
mesma forma como está escrita no jornal, principalmente o nome das pessoa
citadas, obedecendo apenas a ortografia atual nas demais citações, e excetuando
a freguesia de São José.
Barão de Loreto era o Presidente da Província de Pernambuco em 1881.
A Câmara Municipal do Recife faz
constar a todos os seus municipes a quem
interessar possa, as duas circulares abaixo transcritas, dos juízes de paz das
freguesias de São José e Poço da Panela, referentes às divisões dos quarteirões
das mesmas freguesias.
Paço da Câmara Municipal do
Recife, 7 de março de 1881.
José Mariano Carneiro da
Cunha- Presidente
Pedro Gaudiano de Ratis e
Silva- Secretario
O juiz da paz da paróquia do
Poço da Panela, em exercício, para boa execução da nova lei de reforma
eleitoral Nº 3.029 de janeiro do corrente ano, usando da atribuição que lhe
compete e confere o §8º do art. 12 do código do processo criminal, resolve que
se execute o seguinte:
Aspecto do transporte marítimo dos moradores dos casarões à margem do rio Capibaribe. Gravura de 1863.
Divisão dos quarteirões do
distrito da paz da paróquia.
1º Quarteirão da Matriz- Este
quarteirão principiará do Porto do Chacon, no rio Capibaribe, seguindo pela
estrada do mesmo nome, compreendendo o lado esquerdo até a encruzilhada da Casa
Forte, junto da casa da viúva do falecido escrivão João Facundo, e daí seguirá
pela estrada Real do Poço, abrangendo as casas de ambos os lados até do alemão
Franz Carls, que foi do Dr. José Mamede, e assim continuando até o fim da rua
da Mangueira, que sai na do Caldeireiro, compreendendo a povoação do Poço, onde
se acha a matriz e todas as casas, ruas e terrenos dentro dos limites traçados
até o fim da rua da Mangueira; e bem assim as duas travessas ou ruas. A
primeira que sair na rua da Casa Forte, e a segunda na casa do falecido inglês
Gibson, a sair na praceta da Casa Forte incluídas as casas de ambos os lados,
que deitarem as frentes para as mesmas.
2º Quarteirão da Casa Forte-
Este quarteirão principiará da casa que está na praça triangular que fica na
frente da campina da Casa Forte, findando na esquina do muro do sítio do negociante Antônio Luiz
dos Santos, abrangendo as casas de ambos os lados da mesma rua, que deitarem a
frente para ela, inclusive a casa e sítio de Minervino Fiuza, edificada
ultimamente.
3º Quarteirão do Caldeireiro-
Este quarteirão principiará da passagem do Caldeireiro no rio Capibaribe, e
virá pela rua de mesmo nome até sair na
rua em frente da casa de Minervino Fiuza, donde seguirá pela estrada ou rua que
vem do Recife à Casa Forte, findando no lugar denominado Lameirão das Brancas,
onde hoje tem a casa de Satyro Serafim da Silva, e daí seguirá pela rua do
mesmo Lameirão até sair no rio, compreendendo todo o terreno do lado esquerdo e
todas as casas de ambos os lados, que deitarem a frente para o mesmo Lameirão,
donde seguirá até a desembocadura da levada do antigo engenho Monteiro, no
Cabocó de Baixo, inclusive a travessa deste mesmo Cabocó, que sai do pátio da
igreja do Monteiro, e as casas cujas as frentes deitarem para dita travessa, e
bem assim o terreno à margem do rio Capibaribe, dentro do limite traçado.
Engenho da cana de açucar do século XIX.
4º Quarteirão do Monteiro-
Este quarteirão principiará do canto do
muro do sítio da parda Manoella, na confrontação da casa de Satyro Serafim,
no Lameirão das Brancas, seguindo pela
estrada que vem do Recife até a porta d’água do açude do antigo engenho
Monteiro. Abrangendo as casas de ambos os lados. Da dita porta d’água seguirá
pela estrada que passa pelo oitão da casa do falecido Antonio Luiz Gonçalves,
hoje João Leite Rodovalho, inclusive a casa e terreno do mesmo sítio, até a
encruzilhada da estrada que vem do Monteiro, denominada do Jatobá, que segue
para os Coqueiros, onde dividirá com o sétimo quarteirão denominado dos
Coqueiros, compreendendo também, o Cabocó de Cima, chamado Ilha do Fernando, a
povoação do Monteiro, onde tem a igreja, bem como o Beco do Quiabo até
encontrar a estrada que sobe para o dito outeiro, denominado Jatobá,
pertencendo-lhe as casas e terrenos de ambos os, até lados até a sobredita
encruzilhada.
Cadeirinha de Arruar, carregado por dois escravos. No final do século XIX saiu de circulação por causa do surgimento dos bondes puxados por animais e a implantação dos trens a vapor (maxambombas).
5º Quarteirão do Ferraz- Este
quarteirão principiará do Catucá de Dentro, e Custódio, limites da freguesia, e
findará no lugar denominado do Balanço das Três Ladeiras, compreendendo por um
lado o lugar do Ferraz, até encontrar a encruzilhada da estrada do Pocinho, em
seguimento do Brejo para o Macaco; e pelo outro lado e pelo outro o denominado
Passarinho até o rio Beberibe, no lugar da passagem das Moças, onde divide este
quarteirão como sexto do Brejo.
6º Quarteirão do Brejo- Este
quarteirão principiará do lugar do Balanço das Três Ladeiras, onde limita o
quinto quarteirão do Ferraz, e findará na encruzilhada da ladeira do Gizeiro,
que vem do Arraial para o Brejo, compreendendo os lugares do Brejo, Pocinho e
Campo Grande, onde divide a freguesia, limitando por terras do engenho ou
propriedade, que foi de João de Allemão Cysneiro, hoje do major Antunes, em
Beberibe.
7º Quarteirão dos Coqueiros- Este
quarteirão principiará da encruzilhada que vai para o Brejo pela ladeira do
Gizeiro, compreendendo todo o lado do poente até a encruzilhada da Guabiraba,
inclusive a estrada que vai ter a dita ladeira do Gizeiro. Deste ponto seguirá
demandando a estrada que vem da povoação do Arraial, e descendo por esta
estrada até encontrar a do Bartolomeu, compreendendo o cemitério público, e a
estrada em continuação, denominada dos Mudos, e todas as casas de ambos os
lados que deitarem a frente para a mesma até encontrar a estrada do Jatobá, que
sobe para o outeiro extremando com o quarto quarteirão do Monteiro.
8º Quarteirão do Arraial- Este
quarteirão principiará da estrada do Encanamento, onde ela atravessa a estrada
que vem de Casa Forte para a povoação do Arraial, abrangendo ambos os lados,
dela até o fundo do sítio do cirurgião Leal e o contiguo da Santa Casa. Dali
seguirá em rumo a estrada denominada do
Bartolomeu, inclusive, compreendendo todo o terreno à direita dele. Da
embocadura da estrada do Bartolomeu
descerá pela estrada que vem do Recife para o Arraial, abrangendo ambos os
lados, e as casas cujas frentes deitarem para ela, até encontrar a encruzilhada
de Cruz das Almas dos Padres, servindo aí de limite o canto do sítio do finado
José Bento da Costa.
9º Quarteirão de Água Fria e
Cruz das Almas- Este quarteirão principiará do riacho Água Fria, no lugar que
atravessa a estrada de Beberibe, onde divide esta freguesia , e virá pela mesma
estrada até Cruz das Almas dos Padres, e daí pelo beco ou travessa que sai na
Cruz das Almas das Moças, compreendendo sempre o lado direito até encontrar a
estrada que vem do Recife e passa pela casa do falecido negociante José Tasso,
donde continuará abrangendo as casas de ambos os lados em seguimento da estrada
até a bomba sobre o riacho Parnamirim, que atravessa a mesma estrada,
compreendendo todo o terreno à esquerda até sair no lugar Cambôa de Santa Anna, junto do sítio
que foi do falecido Justino Pereira de Farias, donde subirá pela estrada ou
travessa do sítio do Manêta, por onde divide esta freguesia com a da Graça, e
seguirá em frente até chegar a sobredita casa do negociante José Tasso,
compreendendo também a travessa denominada do Espinheiro. Que passa pela casa
que foi do solicitador Travassos, e bem assim as casas cujas frentes deitarem
para a mesma travessa.
10º Quarteirão de Santa Anna-
Este quarteirão principiará aquém da Cambôa de Santa Anna e bomba do riacho
Parnamerim, que atravessa a estrada que vem do Recife, e por elas subindo
findará na encruzilhada de Casa Forte, junto da casa do falecido escrivão João
Facundo, pelo lado esquerdo, e seguirá pela estrada do Chacon até a margem do
rio Capibaribe, compreendendo todas as casas e terrenos dentro do limites, inclusive
Santa Anna de Dentro, à margem do mesmo rio Capibaribe.
Antiga foto da praça de Casa Forte.
11º Quarteirão da Campina da Casa Forte- Este quarteirão principiará da encruzilhada da Casa Forte, praça triangular, desde o canto do muro do falecido Anastácio Francisco Cabral, e virá em seguimento a campina, findando na estrada do Encanamento, onde ela atravessa; a quem vem do Arraial para Casa Forte excluindo dela; e daí, voltando seguirá pela mesma estrada até o sítio, inclusive, do falecido Zumbão, e a casa confronte da antiga salgadeira, compreendendo toda campina de Casa Forte onde está a igreja, e as casas e sítios de ambos os lados, bem como as travessas da mesma, e todo o terreno dentro dos limites designados.
12º Quarteirão do Barbalho- Este
quarteirão compreenderá todo terreno do Barbalho pertencente a esta freguesia,
que fica além do rio Capibaribe, principiando da passagem em frente do
Caldeireiro, pelo lado direito, o qual outrora pertencia a antiga freguesia da
Várzea, e seguirá pela antiga estrada
que vai ter a casa da viúva do capitão Francisco Xavier de Miranda, e daí
descerá para estrada que vai ter a passagem do mesmo rio Capibaribe, em frente
do porto denominado do Capim, na povoação de Apipucos, onde desemboca o riacho
Camaragibe, e aí findará , contando sempre o rio até encontrar a sobredita
passagem e estrada, cujo o lado esquerdo pertence a Várzea.
Aspectos de Apipucos em 1878.
13º Quarteirão da povoação de Apipucos- Este quarteirão principiará da porta d’água do açude do antigo engenho do Monteiro, onde finda o quarto quarteirão, e seguido pelo baldo e estrada do Recife a Apipucos findará na povoação na casa em que hoje mora o Dr. Augusto Carneiro Monteiro, e daí descendo pela travessa que vai ter ao porto Capim, compreenderá todo o terreno do lado esquerdo, e as casas de ambos os lados da dita povoação, e travessa , bem como a casa do outeiro, onde morou o major Maia, inclusive o cercado da mesma casa.
14º Quarteirão do Homem do
Mato- Este quarteirão principiará dos fundos da padaria de Antonio Felix, e da
venda do português Francisco Marques, as quais fazem esquina na povoação, e
seguirá pela estrada que vai ter o lugar chamado Homem do Mato pela volta do
açude do antigo engenho Monteiro, inclusive o lugar do embarque até encontrar a
encruzilhada da volta do mesmo açude, e estrada que vem dos Coqueiros, onde
termina o sétimo quarteirão.
15º Quarteirão da levada do
Engenho Apipucos- Este quarteirão principiará da casa de Manoel Ramos, das
casas do major Maia, em continuação da estrada de Apipucos para o engenho Dois
Irmãos, até a casa inclusive da estação da estrada de ferro, junto da porteira
do cercado do dito engenho Dois Irmãos, pertencendo a este quarteirão todo o
terreno à direita e a esquerda dos limites descritos.
16º Quarteirão da Pedra
Mole- Este quarteirão principiará da
porteira do cercado do engenho Dois Irmãos e compreenderá não só o terreno que
fica à direita, e a esquerda da estrada que vai ter a caixa d’água do Prata,
como todo aquele que ficar de ambos os lados
da estrada que segue em direção ao lugar do Macaco, até encontrar a casa
que morou o falecido Felippe José do Rego Barros. Deste ponto seguirá pela estrada denominada do Macaco, abrangendo
o lado direito até encontrar a ladeira do Cosmoado, no lugar onde divide a
freguesia com a de São Lourenço. Dentro dos limites traçados fica o dito
engenho Dois Irmãos, e mais sítios e lugares que sob diversas denominações
existirem no quarteirão.
17º Quarteirão de São Braz e
Macaco- Este quarteirão principiará da extrema da casa em que morou o falecido
Felippe José do Rego Barros, onde finda o décimo-sexto quarteirão da Pedra
Mole, indo pela estrada do Macaco à encontrar a ladeira do Cosmoado, na casa
onde mora Manoel Duarte do Nascimento, e
daí rodeando irá a Sapucaia, findando na casa em que mora Francisco José
Cavalcante, e daí a passagem de São Braz, e estrada da Água Fria. Da casa do
dito Manoel Duarte, ira também até o Pocinho, e findará na casa que foi do
falecido Primo Feliciano da Costa, sempre pelo lado direito, limitando com a
freguesia de São Lourenço da Mata.
Juízo de Paz da Paróquia do
Poço da Panela, 6 de março de 1881.
João Baptista Pereira Lobo.
Aspecto da Praça da Independência no Recife, século XIX.
SAIBA MAIS:
Franklin Américo de Menezes
Dória (Barão de Loreto) foi Presidente da Província de Pernambuco no período de
28 de junho de 1880 à 1 de abril de 1881. Antes já havia governado o Piauí e o
Maranhão. O Barão de Loreto nasceu na Ilha de Frades, no Rio de Janeiro. Foi
advogado, político, orador, magistrado e poeta, membro fundador da Academia
Brasileira de Letras.
Porto do Chacon: À margem do
rio Capibaribe, próximo ao Parque Santana e a
Casa Forte.
Caldeireiro: povoação próxima
a matriz do Poço da Panela e do rio Capibaribe.
Campina de Casa Forte: neste
local fica a Praça de Casa Forte.
São Braz: antiga povoação onde
hoje fica o Sítio dos Pintos.
Lameirão das Brancas: povoado
que ficava próximo a ligação da estrada do Arraial com a rua Apipucos.
Cabocó de Baixo: povoação do
Monteiro.
Cabocó de Cima ou Ilha do
Fernando: povoação do Monteiro.
Estrada e Outeiro do Jatobá:
atual Alto do Mandu.
Beco do Quiabo: atual rua
Costa Lima, ligação da Avenida Norte com a subida do Alto do Mandu.
Catucá de Dentro e Custódio:
antigas povoações da Guabiraba. Custódio, ficava localizado na área que ficam a boate Barriloche, fábrica de biscoito Confiança e hotel Signus.
Balanço das Três Ladeiras:
povoação antiga que ficava no Córrego da Guabiraba entre os três morros que
atualmente são chamados de Alto do Reservatório, Alto da Brasileira e Alto do
Cruzeiro.
Porto do Ferraz ou Ferraz:
antigo povoado localizado no Brejo da Guabiraba.
Pocinho e Campo Grande:
antigos povoados localizado no Brejo da Guabiraba.
Passagem das Moças: atual Rio
de Passarinho afluente do Beberibe, que vem da BR-101 Norte passado pela Vila
Nossa Senhora da Conceição, em Passarinho, entre Caixa D’água e Dois Unidos.
Ladeira do Giseiro: descida no início da atual rua Otacílio de Azevedo, após o cruzamento com a rua Uriel de Holanda.
Povoação do Arrayal: antiga povoação que ficava no atual Brejo de Beberibe
Estrada do Arrayal do Brejo: nome antigo da atual Estrada do Córrego do Euclides (não confundir com a Estrada do Arraial, em Casa Amarela)
Povoação do Arrayal: antiga povoação que ficava no atual Brejo de Beberibe
Estrada do Arrayal do Brejo: nome antigo da atual Estrada do Córrego do Euclides (não confundir com a Estrada do Arraial, em Casa Amarela)
Estrada dos Mudos- atual rua Santa Izabel (Casa Amarela).
Por: Jânio Odon
Fonte: Diário de Pernambuco e
Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano de 1863.
Boa tarde! Eu gostaria encarecidamente de entrar em contato com o senhor. Estou escrevendo um livro sobre o meu bairro e gostaria, humildemente peço, de saber a fonte utilizada pelo senhor na menção dos antigos povoados do Córrego do Jenipapo. Estou me desdobrando para conseguir achar algo, porém, até agora nada. meu email é: viniciusbarros92427@gmail.com
ResponderExcluirAguardo seu retorno. Grato pelo tempo.
Caro Vinícius, todo trabalho é pesquisado na Fundaj, Arquivo Público e Instituto Arqueológico. Um abraço.
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