20 de maio de 2017
Ex-governador de Pernambuco,
Eduardo Campos, morto num acidente de avião em 2014, foi acusado de
negociar a quantia de R$ 15 milhões em propina durante a campanha à presidência
da República, no mesmo ano de sua morte. A informação foi repassada pelo
diretor da holding J&F, empresa controladora do frigorífico JBS, Ricardo
Saud, durante delação no dia 5 de maio, na sede da Procuradoria Geral da
República, em Brasília.
Além de Campos, o atual
governador de Pernambuco, Paulo Câmara, o prefeito do Recife, Geraldo
Julio, o senador Fernando Bezerra Coelho e o ministro das Cidades,
Bruno Araújo, também são citados como integrantes das negociações e recebimento
de valores.
Segundo Saud, Eduardo Campos
receberia mais dinheiro conforme o crescimento de sua campanha presidencial.
“Um cara novo, de futuro, aí a gente resolveu investir nele. Nós pusemos lá um
limite, pra iniciar, pra ver as coisas. Falamos ‘nós vamos deixar aqui pra você
uns R$ 15 milhões de propina, se você começar a crescer, nós vamos melhorando
isso aí’, e isso foi feito”, conta.
Ainda de acordo com o diretor, o
prefeito Geraldo Julio, o governador Paulo Câmara e uma pessoa chamada Henrique,
da empresa HMJ Consultoria, também negociavam o pagamento de propina.
“Exatamente no dia que ele [Eduardo Campos] faleceu, eu estava com Henrique,
que era a pessoa dele que ele mandava, ou Geraldo Julio, ou Paulo Câmara, para
ir tratar das propinas”, detalha.
Apesar da promessa de R$ 15
milhões, Saud explica que o pagamento efetivo foi de R$ 14,650 milhões ao
ex-governador de Pernambuco. O pagamento, segundo o delator, foi feito por meio
de notas fiscais avulsas e pagamentos em espécie. Desse total, foram pagos R$
210 mil em junho de 2014, para a HMJ Consultoria, empresa do próprio
“Henrique”. Em setembro, houve o pagamento de R$ 1 milhão para a empresa Arcos
Propaganda LTDA.
De acordo com o delator, essa
empresa participou do esquema após ter sido apresentada pelo senador Fernando
Bezerra Coelho (PSB). “Com a morte de Eduardo Campos, Paulo Câmara e Geraldo
Julio me procuraram e falaram ‘olha, cara, temos que honrar aí, temos que
organizar isso, porque temos que ganhar a eleição agora em Pernambuco, em
homenagem a Eduardo Campos. Paulo Câmara tá aí pra ganhar'”, lembra.
Ainda segundo Saud, o pagamento
da propina não chegou a ultrapassar o combinado inicial de R$ 15 milhões.
“Falamos ‘olha, nós vamos pagar as contas que nos comprometemos, até R$ 14
milhões nós vamos pagar, o resto não vamos pagar mais nada’”. Com a
determinação, o diretor da J&F conta que Câmara e Geraldo tentaram
aprofundar as negociações. “[Eles disseram] ‘ah, nós não temos condição,
estamos na campanha’ e chegamos no meio termo que íamos pagar para não
atrapalhar a campanha, e ainda dar uma propina pro Paulo Câmara lá em
Pernambuco em dinheiro vivo”, afirma.
O diretor da JBS menciona, ainda,
o pagamento de R$ 200 mil em espécie para o ministro das Cidades Bruno Araújo,
feito por André Gustavo Vieira da Silva, no Recife.
Por meio de nota, o governador
Paulo Câmara afirmou: "Venho repudiar, veementemente, a exploração
política do depoimento do delator Ricardo Saud, que já antecipo não corresponde
à verdade. Não recebi doação da JBS de nenhuma forma. Nunca solicitei e nem
recebi recursos de qualquer empresa em troca de favores. Tenho uma vida
dedicada ao serviço público. Sou um homem de classe média, que vivo do meu
salário." Ainda de acordo com o texto, "o próprio delator afirma (no
anexo 36, folhas 72 e 73) que nas doações feitas ao PSB Nacional 'não houve
negociação nem promessa de ato de ofício', o que significa que jamais houve
qualquer compromisso de troca de favores ou benefícios". O governador
reafirma ainda que todas as doações para a campanha ao governo do estado foram
feitas "na forma da lei, registradas e aprovadas pela Justiça
Eleitoral".
Por meio de nota, o prefeito
Geraldo Julio também repudiou “veementemente as acusações” e esclareceu que
nunca tratou de recursos ilegais com essa empresa ou com qualquer outra. Ainda
de acordo com o texto, “o próprio documento divulgado pela Justiça registra que
as doações feitas à campanha do PSB não foram feitas por troca de favores”. O
prefeito do Recife também alega que todas as doações recebidas pelo partido
foram legais.
A defesa de Fernando Bezerra
Coelho informou ao G1 que “todas as doações para a sua campanha ao
Senado foram devidamente declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”. A
defesa do parlamentar alega, ainda, que não teve acessos aos referidos autos e
repudia as declarações unilaterais divulgadas, ratificando “que elas não
correspondem à verdade”.
Em nota assinada pelo presidente
nacional, Carlos Siqueira, o PSB declarou que as doações da JBS ao partido,
para fins eleitorais, não foram repassadas para o PSB de Pernambuco nem para a
campanha eleitoral do governador Paulo Câmara.
Por: G1- Pernambuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário