O ESCÂNDALO- No município de Floresta, no sertão de Pernambuco, distante há 433 Km da Capital, aconteceu
o maior escândalo financeiro do Estado
de todos os tempos. Ocorrido entre os anos de 1979 a 1981, na agência do Banco do Brasil daquele município.
Resultando no desvio de CR$ 1, 5 bilhão
de cruzeiros (equivalente a R$ 20 milhões de reais) do Proagro- Programa de Incentivo Agrícola, criado pelo governo
federal em 1973. O golpe consistiu na obtenção de documentos falsos para conseguir
créditos agrícolas para plantio de mandioca, feijão, cebola, melão e melancia,
utilizando cadastros frios, propriedades fictícias e agricultores fantasmas,
onde até pessoas já falecidas foram inseridas no esquema fraudulento.
Os
empréstimos eram feito pelos golpistas ao Banco do Brasil com autorização e
cumplicidade do gerente bancário, o paraense Edmilson Soares Lins e vários outros funcionários da agência que
recebiam polpudas comissões sobre as operações. Sob alegação de que a falta de
chuvas dizimara as plantações. O passo seguinte era cobrar o seguro agrícola do
Banco Central, que permitia a cobertura do buraco contábil criado pelos
financiamentos fantasmas.
O
crime talvez resultasse perfeito senão chovesse torrencialmente em meados de
março de 1981. Afoito, Edmilson Lins cobrou de uma só vez do Banco Central, a
quantia de 687 milhões de cruzeiros em seguros agrícolas e atraiu para a cidade
o primeiro inspetor do Banco Central, além da carta enviada pelo tenente da
Polícia Militar de Pernambuco, David Gomes Jurubeba ao então Presidente do
Banco do Brasil, Osvaldo Collin. O tenente denunciou a roubalheira, após ter
sido negado seu pedido de financiamento. As investigações se estenderam
sigilosamente até julho de 1981, quando passaram as mãos da Polícia Federal.
Procurador Pedro Jorge e filhas. Foto: blog Janice Ascari |
O PROCURADOR- O Procurador da
República, Pedro Jorge de Melo e Silva
assumiu as investigações no caso do “Escândalo da Mandioca” três meses antes de
ser assassinado. Alagoano, ex-seminarista no Mosteiro de São Bento, em Olinda,
procurador da república aos 28 anos. Já em 1975, ele havia investigado também o
Escândalo da mão-de-obra, que envolvia fraude e irregularidades em uma
secretaria do Estado de Pernambuco já extinta, que usava verbas federais em
cursos fantasmas de qualificação profissional. Outro caso investigado pelo
procurador foi o do contrabando de lança perfume, desbaratado pela Polícia
Federal pouco antes do carnaval de 1982. Pedro Jorge entregou em janeiro de
1982 à Justiça Federal uma extensa denúncia
contra 26 implicados no escândalo e outros 200 acusados no esquema de
corrupção. O processo criminal tem um montante de 70 volumes e pouco mais de 20
mil páginas que envolveram ex-funcionários do Banco do Brasil de Floresta,
fazendeiros, bancários, políticos e militares.
Major José Ferreira dos Anjos. Foto: O Globo |
O ASSASSINATO- Dois dias depois da
denúncia, recebeu a primeira ameaça de morte. Ele já havia sofrido pressões
variada, entre elas uma ordem para entrar de férias. As pressões cresceram e no
dia 1º de março, às véspera do crime, o procurador geral da república, Inocêncio Mártires Coelho, assinou uma
portaria que afastava Pedro Jorge do caso e nomeava para substituí-lo, o
procurador estadual da Paraíba, Nereu Pereira dos Santos Filho, que alegou não
poder assumir o caso por razões de ordem pessoal. No dia 3 de março de 1982, o
procurador Pedro Jorge saía de uma padaria, acompanhado de uma de suas duas
filhas, no bairro de Jardim Atlântico,
em Olinda, quando foi alvejado por dois tiros de revólver , efetuados pelas
costas. Ao cair, o assassino chegou próximo da vítima e efetuou mais um disparo
na nuca. O assassino, segundo o Ministério Público, estava acompanhado de mais
três pessoas e fugiram em dois veículos: um Chevette Hatch e um Passat
verde e ao perceberem que alguém anotava a placa, baleou com um tiro no
estômago, João Batista Pereira, que sobreviveu.
OS ENVOLVIDOS- Os principais envolvidos
no escândalo que foram presos na época, foram: Edmilson Soares Lins (gerente do Banco do Brasil de Floresta);
Antônio Oliveira da Silva, o “Antônio
Rico”, acusado pelo desvio de 477 milhões de cruzeiros; José Ferreira dos Anjos (major da
Polícia Militar de Pernambuco) acusado de ter sido o autor intelectual do
assassinato do procurador e de ter recebido 17 milhões de cruzeiros; Irineu Ferraz (fazendeiro) acusado de
ter sido o mandante do crime do procurador; Heronides Cavalcanti (advogado) acusado pelo desvio de 8 milhões de
cruzeiros e ter participado diretamente no assassinato do procurador; Elias Nogueira (pistoleiro) réu
confesso, admitiu ter recebido 50 mil cruzeiros para assassinar o procurador.
Vinte dias depois negou o crime alegando ter sido coagido; Vital Cavalcanti Novaes (deputado estadual por Pernambuco,
vice-líder do PDS na Assembléia Legislativa) foi acusado de desvio de dinheiro
e de haver comprado uma caminhoneta C-10 e um apartamento ; Edinardo Ferraz;
Geraldo Cornélio da Silva (comerciante); Ademar Pereira Brasileiro (assessor
parlamentar); Carlos Alberto Araújo ( superintendente adjunto do Banco do
Brasil em Floresta); Antônio Oliveira da Silva, Edmilson Soares e Jarbas
Salvino Duarte (funcionários do Banco do Brasil) foram indiciados por falsidade
ideológica, peculato e estelionato; Eduardo da Costa Wanderley (contador do
Banco do Brasil) acusado de ter participado diretamente no assassinato do
procurador; Ana Maria Barros (tabeliã) acusada de fornecer documentos falsos
para favorecer as fraudes; Audas Diniz
Carvalho Barros ( capitão da Polícia Militar de Pernambuco) acusado de
desvio de verbas e de haver tramado um incêndio à agência do Banco do Brasil de
Floresta; Jorge Ferraz (funcionário do Detran) acusado de ter participado
diretamente no assassinato do procurador; José Lopes de Almeida (sargento da
Polícia Militar de Pernambuco) e Euclides da Souza Filho (agente da Polícia
Civil de Pernambuco) acusados de participarem da execução do procurador; Vitor
André Muller (funcionário do Banco do Brasil) após ser afastado de suas funções
no banco, acusado de envolvimento no escândalo, suicidou-se.
AS RESTITUIÇÕES- Em 1999, 14.000 hectares de
terras de posse dos envolvidos no escândalo da mandioca foram entregues para
reforma agrária, todas resultados de quinze processos, e outras treze
propriedades no município de Floresta foram transformadas em assentamentos dos
sem-terra. A Procuradoria Seccional da União (PSU) em Petrolina-PE conseguiu na
justiça em 2003, restituir R$ 255 mil aos cofres da União, desviado da Proagro.
O valor estava depositado na conta de Diormina de Lima Ferraz, esposa de
Edinardo Ferraz.. Em 31 de julho de 1981, dados oficiais, informavam que já
havia sido resgatados CR$ 122.693.438,79.
Contrariando esta informação, o diretor regional do Banco do Brasil informou
que CR$ 690 milhões de cruzeiros, já
havia sido recuperados.
MAJOR FERREIRA- A cronologia do
personagem mais polêmico e mais noticiado do Escândalo da Mandioca :
28 de abril de 1982- O Governador de
Pernambuco, Marco Maciel determina o afastamento do major Ferreira do Anjos e
do capitão Audas Diniz, dos cargos que exerciam, a pedido do Comandante Geral
da PMPE, coronel João Lessa.
3 de maio de 1982- Por ter registrado
uma ocorrência falsa, mas sem ligação com o Escândalo da Mandioca, o major
Ferreira é preso disciplinarmente, através de ato administrativo do Comandante
Geral da PMPE, coronel João Lessa.
6 de maio de 1982- Major José Ferreira
dos Anjos é preso sob acusação de ser o mandante do assassinato do procurador
Pedro Jorge.
10
de setembro de 1982- O Procurador da República, Aristides Junqueira Alvarenga,
pede a Superintendência da Polícia Federal em Pernambuco, a abertura de inquérito
contra quatro oficiais da Polícia Militar
por crime de falsidade ideológica em declarações prestadas para
confirmar álibi do major Ferreira no processo sobre morte do procurador. Os
capitães: Manoel Aristófanes Cavalcanti de Carvalho, Adalberto Lins Soares,
Mário de Oliveira Costa e Ernesto Souza de Araújo, denunciados pelo Procurador
da República, Aristides Junqueira, declararam em papel timbrado da PM que no
dia 3 de março deste ano, quando foi morto o procurador, o Chevette hatch do
major Ferreira permaneceu no estacionamento do quartel da corporação.
6 de outubro de 1982- O juiz da 1ª Vara
da Justiça Federal em Pernambuco, Genival Matias de Oliveira, liberta o major
Ferreira e todos os demais acusados pelo assassinato do procurador, alegando que
as acusações foram forjadas com base em confissões arrancadas sob tortura.
7 de outubro de 1982- A viúva do
procurador, Maria Graça de Melo se pronúncia a imprensa pela primeira vez.
Indignada ela disse: “Até então eu ainda não havia me pronunciado publicamente,
mas desta vez, não agüento mais calar, apenas dois tipos de reação tive:
insegurança, muita insegurança e medo. Ver o sangue tão caro de Pedro Jorge
correr por uma causa nobre e ter este final como resultado. Agora fica aqui
minha pergunta, como esposa, mãe e mulher. Em que podemos nos apoiar para
orientar nossos filhos? Onde estão a honradez, a dignidade, a verdade e todos
os valores? E o respeito a pessoa humana? Para mim já basta. Para este mundo
nada mais resta, apenas em mim a esperança de uma justiça maior, a divina”.
8 de outubro de 1982- A libertação dos
acusados fez com quê todos os grandes jornais do país condenassem a decisão do
juiz em seus editoriais. No centro do Recife foi realizada uma grande passeata,
onde participou o arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara. Um mês
depois, major Ferreira foi preso novamente.
12 de outubro de 1983- Major Ferreira é
condenado a 32 anos e seis meses de reclusão em um julgamento que durou 113
horas e meia.
22 de novembro de 1983- Major Ferreira
foge do Regimento Dias Cardoso, em San Martin , após saber que tinha sido excluído da
corporação. Foi instaurado o inquérito pelo Comando Geral, com prisão em
flagrante de 16 militares responsáveis pela guarda do prisioneiro. Os
principais envolvidos foram o coronel Reginaldo Freitas, então chefe da casa
militar do governador Roberto Magalhães e o major PM Osvaldo Matos, comandante
do regimento, sargento PM João Florêncio Barbosa, comandante da guarda do
regimento, e os sargentos PM Nelson Santos de Andrade e José Edson Rosa da
Silva e mais doze soldados.
29 de janeiro de 1996- Major Ferreira é
preso pela Polícia Federal no interior da Bahia após passar 13 anos foragido.
Estava usando o nome Enoque Ferreira da Costa. O major contou que fugiu do
regimento para João Pessoa, no dia seguinte viajou para São Paulo onde residiu
por um ano. Depois foi para Campinas (SP), meses depois para Pedreiras (SP). Em
1985, viajou para Barreiras (BA) onde conseguiu documentos falsos e permaneceu
lá até ser preso.
25 de julho de 2003- Major Ferreira
recebeu o indulto da Justiça e foi solto dias depois.
Por: Jânio Odon de Alencar/Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS)
Fonte: Wikipédia, Diário de Pernambuco,
Revista Veja, Janiceascari.blogspot, Ministério Público Federal.
Caro Jânio,vc está de parabens,uma brilhante pesquisa feita com muita propriedade e autenticidade...Me emocionei ao relembrar o triste assassinato de Pedro Jorge...Fico triste,ao perceber que são raras as autoridades que defendem com honestidade o interesse Público. Já não se fazem mais procuradores como antigamente,hoje o que vemos são autoridades corruptas descarados cuspindo na cara da justiça.A vc,só digo que continue batendo na mesma tecla...Pois o caminho vc já conhece...Um Abraço fraterno: Antoniobrasil
ResponderExcluirÉ isso aí meu caro Antônio Brasil, foi um fato lamentável. Nosso querido país só não estar igual ao Haiti porque, felizmente ele é rico demais. Abraço.
ResponderExcluirVale ressaltar, meu caro Antonio Brasil que, em tempos recentes, tivemos péssimos procuradores-gerais... A exemplo do próprio Inocêncio Mártires Coelho, que afastou Pedro Jorge da condução daquele inquérito que apurava a máfia do ex-major Ferreira... Inocêncio Coelho atendeu a pressões dos bandidos... E respondeu desaforadamente ao procurador Pedro Jorge de Melo e Silva... E o afastou do inquérito... No dia seguinte ao afastamento do inquérito, Pedro Jorge foi assassinado fria e covardemente, a mando dos bandidos que nos assaltaram em Floresta PE... 2. Outro procurador de péssima índole é Geraldo Brindeiro, o engavetador-geral da República dos tempos Fernando Henrique e Marco Maciel... Então, essa de "fazer procurador como antigamente" não entra nos meus dicionários! Também eu NÃO reconheço isenção nos procuradores da República de Curitiba! - Abraço cordial.
ResponderExcluirPossivelmente, o comentário acima saiu no nome de minha esposa... Por oportuno, segue meu abaixo:
ResponderExcluirJosé Fernandes Costa - jfc.costa15@gmail.com