Abelardo da Hora |
Abelardo Germano da Hora (São
Lourenço da Mata, 31 de julho de 1924 — Recife, 23
de setembro de 2014 foi um artista plástico, professor e poeta brasileiro. Escultor, desenhista, gravurista e ceramista,
era irmão do intérprete de Frevo Claudionor Germano.
Sua formação consistiu nos
seguintes cursos: Artes Decorativas no Colégio Industrial Prof. Agamenon
Magalhães, Curso Livre de Escultura na Escola de Belas Artes de Pernambuco e
Curso de Bacharelado em Direito na Faculdade de Direito de Olinda.
Em 1943, à frente do Diretório
Acadêmico de Belas Artes, foi contratado pela Cerâmica Artista Brennand,
construindo vários trabalhos em cerâmica, jarros florais e pratos onde fica até
1945, quando foi ao Rio de Janeiro para inscrever-se no Salão
Nacional de Belas Artes.
Em 1946, voltou para Recife e
passou todo o ano de 1947 preparando sua primeira exposição de esculturas, que
foi realizada em abril de 1948 na Associação dos Empregados do Comércio de
Pernambuco. Criou a Sociedade de Arte Moderna da Recife, juntamente com o
arquiteto Hélio Feijó, na abertura de sua primeira exposição, sendo presidente
da SAMR por dez anos. Ganhou o Primeiro Prêmio de Escultura nos III e IV Salões
de Arte Moderna, em 1940 e 1950, respectivamente. Nesse período, casou-se com
Margarida Lucena em 1948, com quem teve sete filhos: Lenora (1949), Sandra
(1950), Lêda (1952), Ana (1954), Sara (1955), Abelardo Filho (1959) e Iuri
(1961).
Abelardo da Hora e sua esposa Margarida em 1989. Foto: Roberta Guimarães.
Elaborou, entre 1955 e 1956, a
pedido da Prefeitura do Recife, esculturas de tipos populares inspirados
na cerâmica popular que estão em praças da cidade: Os Violeiros e o Vendedor de
Caldo-de-Cana, no Parque 13 de Maio; O Sertanejo, na Praça Euclides da Cunha,
em frente ao Clube Internacional; e o Vendedor de Pirulitos, no horto florestal
de Dois Irmãos.
Foi eleito delegado de Pernambuco
na Seção Brasileira da Associação Internacional de Artes Plásticas, da Unesco,
em 1956. Durante os anos de 1957 e 1958 expôs em vários países da Europa, na
Mongólia, na Argentina, em Israel, na antiga União Soviética, na China e nos
Estados Unidos. Lançou, em 1962, o álbum de desenhos Meninos do Recife e em
1967, a coleção de desenhos Danças brasileiras de carnaval, na Galeria Mirante
das Artes, em São Paulo. Foi também um dos idealizadores do Movimento de
Cultura Popular (MCP), na gestão do então prefeito do Recife, Miguel Arraes.
Como um dos diretores do MCP construiu e dirigiu a Galeria de Arte, às margens
do Capibaribe, o Centro de Artes Plásticas e Artesanato e as Praças de Cultura,
no Recife.
Pintura de Abelardo da Hora |
Abelardo da Hora, a partir da
década de 1940, realiza gravuras com temática social, onde se nota a
influência da obra de Cândido Portinari Já nos anos 1950 afasta-se de
qualquer referência ou influência anterior e começa a construir um estilo
próprio e inconfundível, que será sua marca para sempre. Nos anos 1960, no álbum
de desenhos Meninos do Recife, denuncia a miséria por meio da
representação de crianças esquálidas, reafirmando sua afinidade com o Realismo
e o Expressionismo, presentes na sua primeira exposição. A mesma temática
social é revelada em suas esculturas, realizadas em bronze, mármore e
principalmente em concreto, material eleito por seu caráter duro e áspero, que
acrescenta um grau de sofrimento às figuras.
Ainda na década de 1960 sugere
à Câmara Municipal do Recife projeto de Lei que obriga a existência de obras de
arte em edificações com mais de 1500 m2 na cidade, tornando a capital
pernambucana um grande centro de exposição ao ar livre, e se dedica
paralelamente à política, através do Partido Comunista, no qual foi dirigente e
pelo qual chega a secretário de cultura das prefeituras de Pelópidas da
Silveira e Miguel Arraes de Alencar. Nas artes, continua produzindo peças
onde a temática social permanece, fato que estaria evidente em trabalhos bem
posteriores, como em Desamparados e Água para o Morro (ambos de 1974).
Xilografia de Abelardo da Hora, Pinacoteca do Estado de São Paulo. |
A partir da década de 1970,
época que teve seus direitos políticos cassados com o Golpe Militar, o artista
começa a explorar com maior vigor aspectos da Natureza, com forte presença de
elementos da fauna e da flora locais. Explora também aspectos de culturas
populares distintas, como o sincretismo religioso do Candomblé, bem como a
sensualidade, criando uma série de mulheres em concreto armado, encerado e
polido intitulada de "mulher objeto de repouso". Voluptuosas, as
mulheres esculpidas pelo artista nesta fase se caracterizam pelo seu traçado
sinuoso e extrema originalidade nas soluções de volumetria e forma. O vigor
expressionista do início da carreira ainda permanece no leve exagero das
proporções de seios, mãos e coxas destas esculturas, trabalho que se estende
fortemente até a década de 1990.
Em 1975, a pedido do então
Prefeito da cidade de Sousa, no estado da Paraíba, Gilberto Sarmento construiu
a primeira estatua em homenagem ao beato Frei Damião de Bozzano, tendo o
homenageado colocado a pedra fundamental e oficiado missa de inauguração em
novembro de 1976. A estatua esta construída no serrote denominado Alto da
Benção de Deus, e se constitui hoje num facho abençoado de luz, deixando todos
que a contemplam mais próximos de Deus e de Nossa Senhora. E hoje é visitada
por milhares de fieis.
Pintura de Abelardo da Hora de 1962. |
Na década de 1990 dedica-se
também, de volta, ao desenho e à pintura, especialmente com trabalhos em aguada
de nanquim e acrílica
Abelardo da Hora possui
importante papel na renovação do panorama artístico brasileiro, criando, em 1948,
a Sociedade de Arte Moderna do Recife, com o propósito de criar um amplo
movimento cultural, abrangendo as áreas de educação, cultura, artes plásticas,
teatro e música. A partir desta associação, é criado em 1952 o Ateliê
Coletivo, uma oficina que ministrava cursos de desenho, da qual participaram
nomes representativos em Pernambuco, como Gilvan Samico (1928), José
Cláudio (1932) e Aloísio Magalhães (1927-1982), entre outros. Estas
atividades dão fruto para a criação do Movimento de Cultura Popular, em 1960,
do qual Abelardo é um dos mentores, no governo Miguel Arraes. No cais da
aurora, uma emblemática rua recifense de mesmo nome(rua da aurora), sobrepõem-se
aos olhos de quem por lá passa o imponente monumento em homenagem ao frevo,
esculturas em bronze em tamanho humano com passistas que parecem falar.
Em 2004 funda-se o
Instituto Abelardo da Hora, OSCIP registrada no Ministério da Justiça e no
Ministério da Cultura, com o objetivo de preservar sua obra e manter o acervo
do artista disponível ao público, além de promover a cultura a todas as camadas
sociais, bandeira levada à frente pelo próprio Abelardo da Hora. Há muito
Pernambuco em particular e o Brasil precisavam dar relevo a uma personalidade
das mais destacadas no campo das artes plásticas. Mestre mestríssimo, como
dizia Gilberto Freyre, de várias gerações de artistas ainda hoje, vivas e
atuantes como ele, Abelardo faz sua arte, como ele próprio diz, “plena de amor
e solidariedade”. O Instituto Abelardo da Hora - iAH, foi criado no ano das
comemorações pelos 80 anos do escultor, com o intuito de catalogar, armazenar e
preservar o acervo do artista, colocando-o à disposição da comunidade, de
pesquisadores e críticos. Posteriormente, verificou-se a necessidade de se
criar em Recife um espaço que abrigasse o acervo particular do escultor,
evitando a dispersão de peças valiosas, especialmente do ponto de vista da
expressão de uma evolução de estilo ou uma inovação estética.
Traços marcantes da sensualidade feminina na obra de Abelardo da Hora.
A partir de 2007 inaugura
uma série de monumentos no Recife, onde se destaca o Monumento aos Retirantes,
no parque Dona Lindu em Boa Viagem; o Monumento ao Maracatu, nas proximidades
do Forte das Cinco Pontas; e o Monumento ao Frevo, na Rua da Aurora.
Abelardo da Hora é contemporâneo
de Vitor Brecheret (SP), Bruno Giorgi (RJ), viu Bernardelli (RJ), Leopoldo e
Silva (SP), Auguste Rodin (FR), Henry Moore (EEUU), mas a obra dele na
escultura nada tem a ver com a dos outros mestres. Consegue ampliar o desespero
e a miséria com as angulosidades e os planos evidenciados. Iguala a natureza
com os exageros das formas das mulheres que se apresentam bem à vontade.
Abelardo da Hora ladeado pelo filho Abelardo e de seu irmão, o famoso cantor do frevo pernambucano, Claudionor Germano. Foto: Fernando Machado.
A maneira de Abelardo da Hora se
expressar através da escultura é única e forte. Não é superficial nem
interessada de ser fácil para o mercado absorver. Na escultura, como nos
desenhos, há nitidamente três vertentes que podem ser facilmente identificadas:
a. A preocupação de sempre alertar para o descaso com relação aos menos
favorecidos. São desenhos e esculturas denunciadoras de um estado de coisas
insuportável, tal a miséria em que vive grande parte da população. b. O elogio
da força e riqueza dos que se reúnem em Maracatus, Bumba-meu-boi, Frevos, etc.,
que nascem no interior nordestino e vêm para as cidades grandes mostrando
ritmo, cores, organização. Fantasias ricas que encantam os centros urbanos. O
artista traduz isso em desenhos extraordinários e, o que é mais difícil,
transpõe para esculturas de concreto. c. A grande riqueza do planeta resumida
num flagrante exemplo através do corpo feminino. Não é apenas a mulher que está
viva, mas suas esculturas. É toda a natureza que explode no artista.
A última grande obra de Abelardo da Hora, "O artilheiro". Em bronze, exposto em frente a Arena Pernambuco.
Abelardo tem completo domínio
sobre técnicas por ele criadas com sucesso total, como por exemplo o domínio do
concreto imperecível para suas esculturas que podem ficar ao ar livre. No
bronze, os resultados são excelentes porque ele acompanha os fundidores e
principalmente o lixamento que pode desvirtuar os detalhes imprescindíveis. Nos
desenhos, nas aguadas, nos tracejados coloridos a precisão é inigualável, sem sobrepujar,
diminuir ou embaçar a importância do tema. Dos escultores vivos, sem dúvida,
Abelardo da Hora é o mais importante. É de um tempo em que uma obra de arte
exigia saber fazer e não apenas ter uma ideia que, algumas vezes, mesmo
tentando explicá-la, é difícil de ser entendida.
Por: Wikipédia.
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