quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Santa Cruz campeão pernambucano em 1935


Os campeões de 1935, no dia da final, no Campo da Jaqueira. Do matador coral, Tará (o 2º de chapéu) e demais, goleiro Dadá; João Martins, Marcionilo, Ademar, Zé Orlando, Ernani, Walfrido, Limoeiro, Lauro e Zé Pequeno. (A escalação não está de acordo com a foto). Fotos: Diário da Manhã/Cepe.


GRANDES ACONTECIMENTOS DE 1935- Fevereiro: A canção “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, faz grande sucesso no carnaval carioca; 30/3- Lançada a ANL (Aliança Nacional Libertadora) no Rio de Janeiro; 11/4- Prestes e Olga Benário chegam ao Brasil com passaportes falsos; 11/7- Getúlio Vargas põe ANL na ilegalidade; 21/7- Conferência em Buenos Aires põe fim a Guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia; Agosto: Greve Geral no Rio Grande do Norte; 3/10- A Itália fascista invade a Etiópia; 11 a 28/11- Greve de 28 mil metalúrgicos no Rio de Janeiro; 24/11- Levante militar da ANL dirigida pelo PCB toma o poder por três dias em Natal e em Recife, aconteceu outro levante da ANL; 25/11- Declarado Estado de sítio no país até junho de 1937; 14/12- A Lei de Segurança Nacional é modificada para facilitar a repressão; 31/12- Decreto pune oficiais rebeldes da ANL; Carmen Miranda estrela o filme “Alô-alô, Brasil”.

A 21ª edição do Campeonato Pernambucano de futebol teve início em 21 de abril e só encerrou em 22 de fevereiro de 1936. Com o novo regulamento implantado no ano anterior, as quatorze equipes, todas do Recife, foram divididas em dois grupos. O primeiro, correspondeu a 1ª Divisão, composta por oito equipes: Náutico, América, Santa Cruz, Sport Recife, Torre, Flamengo, Tramways e Encruzilhada. Em pontos corridos, o  que obtivesse a  maior pontuação no cômputo geral seria o campeão. O segundo grupo, também em pontos corridos, correspondeu a 2ª Divisão, onde o primeiro colocado garantia seu acesso ao primeiro grupo no ano seguinte. Seus participantes foram: Íris, Atheniense, Fluminense, Varzeano, Great Western e Israelita. Ao final, o Great Western foi o campeão.

O campeonato começou com a realização do 17º Torneio-Início envolvendo todas as equipes participantes no Campo da Avenida Malaquias, pertencente ao Sport Recife, que por sinal, disputou o jogo final e foi o campeão do torneio ao vencer o Santa Cruz por 2 a 0.

A grande vantagem do Santa Cruz aos demais participantes, foi sem dúvida, o entrosamento do time, base da equipe tricampeã em 1933. Tará seu grande goleador já estava mais experiente. Na ponta-direita, o tricolor tinha Walfrido, considerado por muitos, o melhor da cidade. Contava ainda com Limoeiro, outro artilheiro; Siduca, que era bastante habilidoso e que ficou consagrado no futebol pernambucano; outro brilhante jogador, era o lateral-direito, Zezé Fernandes; o novato lateral-esquerdo Zé Orlando, também foi destaque. A campanha do Santa Cruz que conquistou seu 4º título foi a seguinte: 16 jogos, 11 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. Fez 37 gols e sofreu 19.

Tramways, o vice-campeão do craque uruguaio Furlan (o 1º da esquerda em pé) e demais jogadores..

A grande surpresa do campeonato foi a equipe do Tramways, clube pertencente à empresa inglesa que explorava o serviço de bonde e de luz elétrica do Recife, “o elétrico”, como era chamado pela imprensa, atraiu muitos jogadores que tinha o intuito de empregar-se na empresa, o que aconteceu com alguns. O Tramways fortaleceu sua equipe pensando no titulo estadual, neste ano, chegou perto e desbancou os velhos papões, Sport Recife, Náutico e América. O elétrico trouxe o goleiro Zé Miguel e o atacante Zezé, do Flamengo-PE. Os zagueiros, Moacir (Irís) e Brivaldo (Sport Recife), o meia Faustino (Torre) e foi buscar do América-PE, o craque uruguaio Furlan e tinha ainda em seu time, o artilheiro Bermudes. O Tramways por muito pouco não chegou ao título.

O Náutico apesar dos Carvalheiras e ter o ataque mais eficiente do campeonato com 79 gols em 14 jogos ficou em terceiro no campeonato, chegou a aplicar a maior goleada do campeonato diante do modesto Encruzilhada, pelo extravagante placar de 15 a 2, no dia 26 de maio.  Já o Sport Recife tinha uma equipe boa, mas não suficiente para decidir o título.

A grande decepção foi o América, cinco vezes campeão pernambucano, o time acabou na lanterna, atrás até mesmo do inexpressivo  Encruzilhada, que mesmo não sendo rebaixado, em crise, não participou do campeonato de 1936.

O Campeonato Pernambucano de 1935, foi bastante longo e bagunçado. No mês de julho houve uma interrupção, o Santa Cruz fez uma excursão a Belém do Pará, onde participou da inauguração do Campo da Tuna Luso. A viagem de ida, durou oito dias dentro do navio Jaceguay, boa parte dos jogadores passaram mal em virtude dos enjoos e o balanço da excursão não foi boa. Durante o campeonato, muitas partidas não chegaram ao seu final e as equipes tiveram  que voltar a campo para disputar o resto do tempo que faltava, em média 15 minutos. Os motivos eram diversos: invasão de campo; falta de energia elétrica; clubes que desistiam do jogo por não valer mais nada; brigas entre jogadores dentro de campo e, para completar a zorra, árbitro escalado para o jogo, simplesmente não comparecia. O que criava uma situação embaraçosa para a Federação Pernambucana de Desportos, que algumas vezes improvisava um árbitro (dirigente ou até mesmo jogador).


Um campeonato com tanta bagunça, só fez piorar ainda mais, quando um levante comunista eclodiu nos quartéis do exército do Recife e de Natal, e uma rodada do campeonato foi adiada. Os jornais da época passaram a acompanhar este fato político deixando o futebol em segundo plano.

AS GRANDES GOLEADAS: (exceto os clássicos) Náutico 15 x 2 Encruzilhada, Náutico 9 x 1 Torre, Náutico 9 x 2 Flamengo, Tramways 8 x 0 Encruzilhada, Flamengo 8 x 1 América, Sport Recife 8 x 2 Torre, Tramways 7 x 1 Flamengo, Tramways 7 x 2 América, Náutico 6 x 0 Torre, Tramways 6 x 1 Encruzilhada, Sport Recife 6 x 1 Encruzilhada, e Santa Cruz 5 x 0 Flamengo.

AS SURPRESAS: Tramways 1 x 1 Santa Cruz, Flamengo 7 x 5 Náutico, América 3 x 5 Torre, Náutico 1 x 1 Tramways, Flamengo 3 x 3 Sport Recife, Tramways 7 x 2 América, Flamengo 8 x 1 América, Tramways 4 x 2 Sport Recife, Tramways 4 x 3 Santa Cruz, Encruzilhada 3 x 3 América, Torre 7 x 4 América, Tramways 4 x 1 América, e Sport Recife 1 x 3 Tramways.

OS CLÁSSICOS: 28/4- Náutico 10 x 3 América; 12/5- Sport Recife 5 x 4 Náutico; 26/5- América 3 x 2 Sport Recife; 16/6- Sport Recife 1 x 0 Santa Cruz; 23/6- Santa Cruz 4 x 1 América; 4/8- Santa Cruz 5 x 3 Náutico; Náutico 5 x 2 América; 29/9- Náutico 4 x 1 Sport Recife; Sport Recife 5 x 1 América; 27/10- Sport Recife 2 x 2 Santa Cruz; 30/10- Santa Cruz 6 x 3 América; e em 30/11- Náutico 1 x 2 Santa Cruz.
Fernando Carvalheira (Náutico), o artilheiro.

MELHOR ATAQUE: Náutico fez 79 gols em 14 jogos.


MELHOR DEFESA: Santa Cruz levou 27 gols em 16 jogos.

ARTILHEIRO DO CAMPEONATO: Fernando Carvalheira (Náutico) marcou 31 gols, recorde que durou 22 anos, quando em 1958, Pacoti, do Sport Recife marcou 36 gols.  

CLASSIFICAÇÃO FINAL
Santa Cruz- 22 pontos (10 vitórias)
Tramways- 22 pontos (9 vitórias)
Náutico- 19 pontos
Sport Recife- 18 pontos
Torre- 8 pontos
Flamengo- 7 pontos
Encruzilhada- 7 pontos
América- 5 pontos.
*Não consta os jogos da final

A SELEÇÃO DO ANO
Goleiro: Heitor (Flamengo)
Zagueiro: Edson (Náutico)
Zagueiro: Fernando Rodrigues (Sport Recife)
Lateral-direito: Zezé Fernandes (Santa Cruz)
Lateral-esquerdo: Zé Orlando (Santa Cruz)
Volante: Furlan (Tramways)
Meia: Zezé Carvalheira (Náutico)
Meia: Artur Carvalheira (Náutico)
Atacante: Fernando Carvalheira (Náutico)
Atacante: Tará (Santa Cruz)
Atacante: Chinês (Flamengo)

FINAIS:
1º Jogo
Santa Cruz 4 x 4 Tramways
Data: 2/2/1936
Local: Campo da Jaqueira, do América.
Público e renda: Na época, não divulgavam.
Árbitro: Manoel Pinto.
Gols: Zé Pequeno (2), Otomar e Sidinho para o Santa Cruz; Bermudes (3) e Sávio, para o Tramways.
O Santa Cruz jogou com: Dadá; Marcionilo e João Martins; Ademar, Zé Orlando e Ernani; Malaquias, Limoeiro (Sidinho), Otomar, Lauro e Zé Pequeno (Lourival). O Tramways jogou com: Zé Miguel; Domingos e Moacir; Brivaldo, Furlan e Faustino; Alcides, Bermudes, Sávio,  Quetreco e Zezé (Maturano).

* Como houve empate, foi necessário um segundo jogo para definir o campeão.

22/3/1936- Lance da final, Lauro espera o rebote de Zé Miguel que não aconteceu.

Espaço reservado para as autoridades no Campo da Jaqueira, inclusive o governador. Cadê a tribuna de honra?

2º Jogo
Santa Cruz 5 x 2 Tramways
Data: 22/3/1936
Local: Campo da Jaqueira, do América
Público e renda: Na época, não divulgavam.
Árbitro: Alberto Gomes Alves
Gols: Tará (3), Zé Orlando e Zé Pequeno, para o Santa Cruz; e Bermudes e Sávio, para o Tramways.
O Santa Cruz venceu e foi campeão com: Dadá; Marcionilo e João Martins; Ademar, Zé Orlando e Ernani; Walfrido (Malaquias), Limoeiro, Tará, Lauro e Zé Pequeno. O Tramways jogou e perdeu com: Zé Miguel; Raul e Domingos; Faustino, Furlan e Popó; Alcides, Bermudes, Sávio, Quetreco e Maturano (Mossoró).

OUTROS CAMPEÕES ESTADUAIS EM 1935: Em São Paulo houve dois campeões: Santos pela (LPF) e Portuguesa de Desportos pela (APEA); No Rio de Janeiro, também houve dois campeões: o Botafogo tornou-se bicampeão, só que jogando pela (FMD) e, o Fluminense foi campeão pela (LCF); em Minas Gerais, o Vila Nova, de Nova Lima foi o campeão; no Rio Grande do Sul, o campeão foi o 9º Regimento de Infantaria, de Pelotas; no Paraná, o Coritiba sagrou-se campeão; na Bahia, o Botafogo de Salvador, foi o campeão; no Ceará, deu América de Fortaleza, campeão; e no Pará, não houve a disputa do campeonato.

Por: Jânio Odon
Fonte: Diário de Pernambuco; Livro: 85 anos de bola rolando, FPF, de Givanildo Alves, edições Bagaço; rsssfbrasil.com/de autoria de Ricardo Brito, extraído do livro: “Campeonato Pernambucano- 1915 a 1970, de Carlos Celso Cordeiro e Luciano Guedes Cordeiro; e Blog do Fernando Machado.




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