domingo, 26 de novembro de 2017

Em 1975, o aumento da criminalidade no Grande Recife começava a preocupar as autoridades policiais do Estado

Policiais da Rádio Patrulha detêm meliante Foto: Abordagem Policial/anos 70.

Há 42 anos atrás, precisamente em 1975, durante a Ditadura Militar, nosso governador era Moura Cavalcanti, as autoridades da Secretaria de Segurança Pública (SSP), começava a ter uma preocupação com o aumento da criminalidade no Grande Recife. Atualmente vivemos um caos na segurança pública em todo o Estado de Pernambuco. Se em janeiro de 1975 foi o mês mais violento do ano com 13 homicídios no Grande Recife, o que dizer dos 136 homicídios em janeiro de 2017? Para se ter uma ideia, foram registrados 140 homicídios de janeiro a outubro de 1975. O Diário de Pernambuco do dia 24 de novembro de 1975, com texto de Ernesto Neves, fez um amplo balanço da criminalidade do Grande Recife e as dificuldades enfrentadas pela Polícia Civil de Pernambuco naquele ano. Ele publicou o seguinte:
Mais de 140 assassinatos aconteceram no Grande Recife, entre janeiro e outubro de 1975, mas a Delegacia de Homicídios instaurou apenas 85 inquéritos, porque as distritais, agora, também estão habilitadas a fazê-lo.
O bairro de Água Fria (inclui a Bomba do Hemetério) foi considerado o "ponto negro" da criminalidade, por ter sido palco da maioria dos delitos, seguindo-se Casa Amarela (era um bairro bem maior do que é atualmente. Incluía por exemplos: Alto José do Pinho, Morro da Conceição, Nova Descoberta, Vasco da Gama, Alto Santa Izabel, hoje, estas localidades são bairros.) e Boa Viagem. Espinheiro e Madalena registraram apenas um crime de morte, cada, no período.
Delegado Abel David
O mês de janeiro foi recordista em números de mortes, treze, enquanto em fevereiro aconteceram apenas seis homicídios. O delegado Abel David acredita que as medidas adotadas pela SSP, aplicando o sistema de policiamento preventivo, permitirá a redução do índice. Para a escrivão José Lauria Caselli, a criminalidade aumenta de acordo com a evolução da metrópole e uma das principais causas do crescimento é devida ao desemprego, à miséria e ao elevado consumo de aguardente.
De ano para ano a criminalidade aumenta e, com ela, a violência, dentro da dinâmica de desenvolvimento dos principais centros brasileiros. Em 1974, nas 20 delegacias distritais e 9 especializadas que formam a Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco. Foram prestadas 13.527 queixas e 11.276 ocorrências ficaram registradas nos livros dos postos policiais.
Para dar combate aos marginais a SSP dispõe atualmente de 1.911 agentes embora existam 3.141 cargos, e apenas 179 viaturas para as necessidades básicas de transporte e policiamento motorizado em todo o Estado.
No relatório enviado ao Poder Executivo acerca das atividades da pasta no ano passado o ex-secretário Egmont Bastos Gonçalves deu ênfase às dificuldades enfrentadas e explicou que as 1.230 vagas existentes obrigou-o a desviar policiais de suas atribuições específicas para cobrir claros, principalmente com os crescentes encargos na Área Metropolitana e no Interior.
DETIDOS
Dos 83 casos diários de ilícitos penais ocorridos em todo o Estado, 24.857 pessoas foram detidas e, em consequência, a Corregedoria Geral de Polícia recebeu para enviar à justiça 5.894 inquéritos, sendo 3.344 da capital e 2.550 dos demais municípios. Diante deste quadro, o chefe de gabinete da SSP, delegado Mauni Figueiredo revela: "O efetivo que temos não dá para combater como deveríamos a criminalidade no Estado. Nós fazemos um verdadeiro milagre, porém estes claros serão preenchidos paulatinamente, uma vez que os recursos destinados à secretaria não dão para solucionar o problema de imediato.
PONTOS SENSÍVEIS
É comum lê-se nos jornais diários a prática de assaltos a mão armada em que a tônica principal é a violência dos bandidos. Temos por exemplos como os de assaltantes armados de metralhadoras e de rostos cobertos com meias de nylon, que atacaram o posto de gasolina da Cidade Universitária. Prenderam seis pessoas num banheiro, levaram Cr$ 10 mil cruzeiros e espancaram o gerente. Enraivecidos porque outra vítima, um ambulante, só tinha Cr$ 20 cruzeiros, os ladrões aplicaram violenta surra.
Em Pernambuco existem 37 mil ladrões cadastrados afora os que, periodicamente, quando estão muito visados nos outros Estados, afluem para cá. A Delegacia de Roubos e Furtos, especializada no combate a este tipo de crime, realizou ano passado, 273 rondas, efetuando 11.330 prisões, das quais 1.250 foram relaxadas por falta de condições legais no recolhimento dos marginais.
"Existe falta de precaução das vítimas" diz o delegado João Acioly, "É muito comum em rondas, encontrarmos altas horas da madrugada casais fazendo amor em automóveis estacionados em lugares como as BRs 101 e 232 ou outros locais ermos e comprovadamente preferidos pelos marginais, dada a facilidade de ação e de fuga. Outra facilidade que os marginais encontram para agir é proporcionada por motoristas de taxis. A qualquer hora da noite os profissionais do volante concordam em apanhar passageiros suspeitos, levando-os a qualquer lugar. Nesses casos, sempre se registram um assalto e nenhum sistema policial do mundo pode dispor de um agente para garantir cada carro que rode na madrugada".
Para diminuir o número de assaltos e a criminalidade em geral, o atual secretário coronel Rui Ayres Lobo traçou um novo esquema de policiamento levando em conta o resultado dos "pontos sensíveis" - lugares de maior incidência de crimes. O novo plano consiste em realizar operações periódicas nos principais antros de criminosos, tais como: Campina dos Coelhos, Mata-Sete, morros e córregos das zonas norte e sul e áreas periféricas da cidade. O trabalho está sendo feito pelas polícias Civil e Militar, empregando 20 cães amestrados e um pelotão de cavalarianos da PMPE.
A cavalaria abordando no Córrego São Sebastião, em Água Fria. Foto: DP/1975.
INQUIETAÇÃO
Embora tendo consciência das deficiências de sua secretaria, o coronel Rui Ayres Lobo explica que nenhum organismo policial pode ser 100% eficiente, uma vez que o progresso também moderniza os criminosos, enquanto todas as secretárias de segurança do país dependem de orçamento que lhe é destinado para reequipamento. Diz ele: - Estamos estudando junto ao Executivo estadual a criação de um fundo de reaparelhamento da polícia, com uma verba destinada anualmente à compra de viaturas, aparelhos de comunicação e armamento. Temos que deixar o marginal inquieto, fazendo-o sempre sentir a presença da polícia, e com o trabalho preventivo temos certeza de que diminui o campo de atuação dos criminosos. Mesmo conseguindo limitar as ações criminosas, a violência que atualmente é uma constante não diminuirá, pois o fenômeno é mundial.
SEGURANÇA PARTICULAR
Em decorrência do aumento da criminalidade e dos efetivos limitados das entidades policiais brasileiras, o governo federal por força dos decretos-leis 1034/69 e 1103/70 criou as empresas para segurança pessoal e de valores. Recife dispõe de 11 firmas especializadas no gênero com um efetivo de 1.446 homens. Inicialmente, elas surgiram como especialistas em segurança bancária na época em que os bancos constantemente eram vítimas da violência de assaltantes. Depois, tiveram o campo de atuação ampliado, estando atualmente guardando até residências, como é o caso aqui no Recife, da família Monte, que usa o serviço de uma destas empresas.
MANDADOS JUDICIAIS
Apear de as quadrilhas mais violentas estarem atualmente desarticuladas, com a prisão dos líderes, como a “gang do fuscão branco”, os “assaltantes da Care” liderados por “Manguito”, 3.361 mandados judiciais ainda estão para serem cumpridos pela Delegacia de Capturas, desde prisões preventivas decretadas até pessoas sentenciadas. Esta especializada dispõe de nove agentes e três viaturas e tem jurisdição em todo o Estado.
Galeguinho do Coque, famoso bandido dos anos 70.
Na escalada das condenações em primeiro lugar estão casos de lesões corporais; em seguida, vêm os autores de roubos ou furtos. Para uns dos mais antigos delegados da SSP, o diretor do DOPS, Moacir Sales, o fenômeno do aumento da criminalidade está diretamente ligado ao aumento da população e ao afluxo de marginais de outros Estados: “ Em relação ao início de minha carreira na polícia, os criminosos estão mais violentos. Isto é consequência do grande alarde que os meios de comunicações fazem sobre o assunto. Nós, consciente ou inconscientemente, recebemos diariamente grande dose de violência, através de rádio, jornal e televisão. Os bandidos ao receberem a mensagem dos órgãos comunicadores, copiam o que há de mais moderno para utilizar no crime”, disse ele.
Por: Jânio Odon/BLOG VOZES DA ZONA NORTE
Fonte: Ernesto Neves/ Diário de Pernambuco



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