Praça da Convenção de Beberibe em 1962.
A Praça da
Convenção sempre foi a referência do bairro de Beberibe, zona norte do Recife.
No século XIX e início do século XX, Beberibe era um lugar aprazível, de clima
agradável e lugar de veraneio, onde as pessoas abastadas vinham passar os
finais de semana e férias em seus casarões, chácaras e sítios. A partir da
Revolução de 1930 e a criação do Serviço Social contra o Mocambo no Governo de
Agamenon Magalhães, que eliminou os mocambos do centro da cidade trazendo a
população pobre para a periferia, onde conquistaram os morros, córregos e
alagados. As constantes cheias e a poluição catastrófica do Rio Beberibe, além
do desmatamento degradante das matas da região e a falta da ação do Estado, fez
com que Beberibe se tornasse um bairro decadente.
Em 14 de setembro de 1933, no Instituto Arqueológico de Pernambuco, o
jornalista Mário Melo, homenageou a então Praça da Conceição, também conhecida
pejorativamente pela população por “Caveira de Burro” e “Bagaceira de Engenho”,
denominando-o de Praça da Convenção, homenageando os heróis da Convenção de
Beberibe de 1821.
O grande problema da praça além do abandono, é que, ela nunca foi uma
praça, e sim, um pátio que servia de criadouro de animais, troca-troca,
prostituição e jogatina. Foram anos de severas críticas até ela se torna uma
praça de verdade. Duas publicações feitas em 1950 pelo extinto Diário da Manhã,
merecem destaque:
Diário da Manhã, 4 de maio de 1950 – Estragos em Beberibe (dizia o
título) – Cada dia que passa mais se confirma a crença popular de que Beberibe
é o arrabalde maldito do Recife. Quem o conhece a longos anos atesta a sua
melancólica decadência que nem se quer o calçamento da estrada que lhe dá
acesso pôde sustar.
Ninguém compreende como um subúrbio de clima tão ameno e saudável, onde
há 30 anos, veraneava gente de nossa melhor sociedade, possa regredir tanto e
resistir ao progresso como se fosse um vilarejo esquecido e distante da
civilização. Por certos múltiplos fatores explicam o triste aspecto de Beberibe
oferece dentro do crescente progresso e desenvolvimento de nossa cidade nos
últimos anos, entretanto, pode-se dizer sem injustiça que grande parcela dessa
responsabilidade cabe às Prefeituras do Recife e de Olinda.
A primeira por exemplo, depois de penosamente levar o calçamento da
estrada até a borda da povoação, suspendeu os serviços, deixando a Praça da
Convenção num lastimável estado, sem ao menos realizar qualquer trabalho de
terraplanagem que viesse minorar o sacrifício dos que lá residem ou transitam,
sem esquecer que o referido largo é também o ponto terminal da linha de ônibus
que numerosas e pequenas empresas exploram com grande dispêndio.
Parece que a Diretoria de Obras ficou atordoada com o tamanho da praça e
considerando que por aquelas redondezas não moram políticos, nem grã-finos cujo
bem-estar merecesse quaisquer desvelos, achou mais cômodo paralisar as obras e
deixar o resto como estava.
Com as últimas chuvas caídas sobre a cidade, verdadeira catástrofe se
abateu sobre Beberibe. Lugar rodeado de morros e colinas argilosas como o rio
que lhe deu nome e lhe emoldura a paisagem a serpear por entre os
córregos a violência das enxurradas agravada pela enchente do rio, levou tudo
de arrastão, alagando as vias públicas, destruindo casebres, derrubando
barreiras e pontes. Se a vida dos que moram em Beberibe já era atribulada e
difícil, depois das pesadas chuvas desse começo de inverno tornou-o insuportável.
A ponte, a velhíssima pontezinha que liga a Praça da Convenção à Estrada
do Caenga não aguentou a impetuosidade das águas do rio e ruiu quase toda.
Através dessa ponte se fazia todo o tráfego para a Caixa D’Água, Águas
Compridas, Matumbo* e Mirueira, ficando toda a densa população dessas
localidades sem qualquer meio de transporte. Por sua vez, a ladeira de São
Benedito*, importante via de ligação entre o Porto da Madeira e a Sapucaia
transformou-se num grande lamaçal de barro quase impossibilitando o trânsito
dos minguados veículos que se atrevem a transpô-la.
Daqui lançamos um apelo aos senhores prefeitos do Recife e Olinda para
que se tenha piedade desta população que vive em Beberibe e mandando executar,
com a urgência que a situação calamitosa exige as obras e reparos indispensáveis
à restauração do tráfego público de suas estradas e praças daquele desolado
arrabalde do Recife. (Finalizou).
Diário da Manhã, 10 de agosto de 1950 – Onde está a Praça (Dizia o
título) – ... A todo momento nos deparamos com contrastes legados do passado,
ainda existentes unicamente por descaso das autoridades. O centro da cidade
possui pouco desses contrastes. Raramente encontramos.
Mas se andarmos pelos arrabaldes veremos muitos. Hoje nos ocupamos de um
caso que há anos existe sem preocupar os muitos prefeitos que passaram pela
Prefeitura. Trata-se do término da Avenida Beberibe. Se você não o conhece,
veja que graça: a avenida termina com um grande pátio, em forma de círculo,
etc.
Até aí, muto bem, mas em uma de suas casas está uma placa com o
seguinte: “Praça da Convenção”. Nome bonito que lembra algo histórico. O
interessante é que há placa, mas não há praça. O que vemos lá é um largo pátio,
sem nenhuma árvore, sem bancos, sem relva, parca iluminação e sem calçamento.
Devia de fato, existir uma praça, pois o local presta-se bem para isso.
Entendemos por praça um canto capaz de nos proporcionar repouso, arborizado,
com bancos, farta iluminação etc.
E não um lugar liso como uma careca. Aliás não sabemos porque ainda não
foi concluído o calçamento da Avenida Beberibe. Chegou quase no fim e parou. É
um verdadeiro suplício para os passageiros dos ônibus, quando estes saem ou
entram no trecho não alocado pelo calçamento. Quem inaugurou a pavimentação da
avenida foi o presidente Dutra. Contudo o chefe da nação não percorreu toda a
artéria. Ficou no Arruda. Gosto dele?... É preciso que termine aquele
calçamento. Uma obra só é bem-feita quando concluída. E a praça quando o
teremos? Só quando um prefeito aventureiro, com sangue de gente que nasceu em
arrabalde, se lembrar do povo de Beberibe.
Precisamos de um edil que olhe melhor para Beberibe. O seu rio já está
imortalizado graças ao poeta Cesário de Melo, que só não cantou a praça, porque
ela não existe de fato. Quem não tem dentes chamamos de banguelo. Quem não tem
cabelos chamamos de careca. E uma praça que não é praça? Banguela ou careca?
Nenhum dos dois. Apenas relaxamento da Prefeitura. (texto: jornalista Ernani
Regis).
No dia 30 de janeiro de 1952, o prefeito do Recife, Antônio Alves
Pereira, inaugura a Praça da Convenção. Em 1972, o prefeito Augusto Lucena faz
uma grande reforma na praça e inaugura um monumento em homenagem aos heróis
pernambucanos da Convenção de Beberibe de 1821, uma obra de Abelardo da Hora.
*Matumbo - trecho da antiga estrada (atual Avenida Presidente Kennedy) no bairro de São Benedito que liga ainda hoje, a Estrada do Caenga à Rua Dalva de Oliveira.
*Ladeira de São Benedito - refere-se a atual Rua Dalva de Oliveira.
Por: Jânio Odon/Vozes da Zona Norte.
O grande problema da praça além do abandono, é que, ela nunca foi uma
praça, e sim, um pátio que servia de criadouro de animais, troca-troca,
prostituição e jogatina. Foram anos de severas críticas até ela se torna uma
praça de verdade. Duas publicações feitas em 1950 pelo extinto Diário da Manhã,
merecem destaque:
Diário da Manhã, 4 de maio de 1950 – Estragos em Beberibe (dizia o
título) – Cada dia que passa mais se confirma a crença popular de que Beberibe
é o arrabalde maldito do Recife. Quem o conhece a longos anos atesta a sua
melancólica decadência que nem se quer o calçamento da estrada que lhe dá
acesso pôde sustar.
Ninguém compreende como um subúrbio de clima tão ameno e saudável, onde
há 30 anos, veraneava gente de nossa melhor sociedade, possa regredir tanto e
resistir ao progresso como se fosse um vilarejo esquecido e distante da
civilização. Por certos múltiplos fatores explicam o triste aspecto de Beberibe
oferece dentro do crescente progresso e desenvolvimento de nossa cidade nos
últimos anos, entretanto, pode-se dizer sem injustiça que grande parcela dessa
responsabilidade cabe às Prefeituras do Recife e de Olinda.
A primeira por exemplo, depois de penosamente levar o calçamento da
estrada até a borda da povoação, suspendeu os serviços, deixando a Praça da
Convenção num lastimável estado, sem ao menos realizar qualquer trabalho de
terraplanagem que viesse minorar o sacrifício dos que lá residem ou transitam,
sem esquecer que o referido largo é também o ponto terminal da linha de ônibus
que numerosas e pequenas empresas exploram com grande dispêndio.
Parece que a Diretoria de Obras ficou atordoada com o tamanho da praça e
considerando que por aquelas redondezas não moram políticos, nem grã-finos cujo
bem-estar merecesse quaisquer desvelos, achou mais cômodo paralisar as obras e
deixar o resto como estava.
Com as últimas chuvas caídas sobre a cidade, verdadeira catástrofe se
abateu sobre Beberibe. Lugar rodeado de morros e colinas argilosas como o rio
que lhe deu nome e lhe emoldura a paisagem a serpear por entre os
córregos a violência das enxurradas agravada pela enchente do rio, levou tudo
de arrastão, alagando as vias públicas, destruindo casebres, derrubando
barreiras e pontes. Se a vida dos que moram em Beberibe já era atribulada e
difícil, depois das pesadas chuvas desse começo de inverno tornou-o insuportável.
A ponte, a velhíssima pontezinha que liga a Praça da Convenção à Estrada
do Caenga não aguentou a impetuosidade das águas do rio e ruiu quase toda.
Através dessa ponte se fazia todo o tráfego para a Caixa D’Água, Águas
Compridas, Matumbo* e Mirueira, ficando toda a densa população dessas
localidades sem qualquer meio de transporte. Por sua vez, a ladeira de São
Benedito*, importante via de ligação entre o Porto da Madeira e a Sapucaia
transformou-se num grande lamaçal de barro quase impossibilitando o trânsito
dos minguados veículos que se atrevem a transpô-la.
Daqui lançamos um apelo aos senhores prefeitos do Recife e Olinda para
que se tenha piedade desta população que vive em Beberibe e mandando executar,
com a urgência que a situação calamitosa exige as obras e reparos indispensáveis
à restauração do tráfego público de suas estradas e praças daquele desolado
arrabalde do Recife. (Finalizou).
Diário da Manhã, 10 de agosto de 1950 – Onde está a Praça (Dizia o
título) – ... A todo momento nos deparamos com contrastes legados do passado,
ainda existentes unicamente por descaso das autoridades. O centro da cidade
possui pouco desses contrastes. Raramente encontramos.
Mas se andarmos pelos arrabaldes veremos muitos. Hoje nos ocupamos de um
caso que há anos existe sem preocupar os muitos prefeitos que passaram pela
Prefeitura. Trata-se do término da Avenida Beberibe. Se você não o conhece,
veja que graça: a avenida termina com um grande pátio, em forma de círculo,
etc.
Até aí, muto bem, mas em uma de suas casas está uma placa com o
seguinte: “Praça da Convenção”. Nome bonito que lembra algo histórico. O
interessante é que há placa, mas não há praça. O que vemos lá é um largo pátio,
sem nenhuma árvore, sem bancos, sem relva, parca iluminação e sem calçamento.
Devia de fato, existir uma praça, pois o local presta-se bem para isso.
Entendemos por praça um canto capaz de nos proporcionar repouso, arborizado,
com bancos, farta iluminação etc.
E não um lugar liso como uma careca. Aliás não sabemos porque ainda não
foi concluído o calçamento da Avenida Beberibe. Chegou quase no fim e parou. É
um verdadeiro suplício para os passageiros dos ônibus, quando estes saem ou
entram no trecho não alocado pelo calçamento. Quem inaugurou a pavimentação da
avenida foi o presidente Dutra. Contudo o chefe da nação não percorreu toda a
artéria. Ficou no Arruda. Gosto dele?... É preciso que termine aquele
calçamento. Uma obra só é bem-feita quando concluída. E a praça quando o
teremos? Só quando um prefeito aventureiro, com sangue de gente que nasceu em
arrabalde, se lembrar do povo de Beberibe.
Precisamos de um edil que olhe melhor para Beberibe. O seu rio já está
imortalizado graças ao poeta Cesário de Melo, que só não cantou a praça, porque
ela não existe de fato. Quem não tem dentes chamamos de banguelo. Quem não tem
cabelos chamamos de careca. E uma praça que não é praça? Banguela ou careca?
Nenhum dos dois. Apenas relaxamento da Prefeitura. (texto: jornalista Ernani
Regis).
No dia 30 de janeiro de 1952, o prefeito do Recife, Antônio Alves
Pereira, inaugura a Praça da Convenção. Em 1972, o prefeito Augusto Lucena faz
uma grande reforma na praça e inaugura um monumento em homenagem aos heróis
pernambucanos da Convenção de Beberibe de 1821, uma obra de Abelardo da Hora.
*Matumbo - trecho da antiga estrada (atual Avenida Presidente Kennedy) no bairro de São Benedito que liga ainda hoje, a Estrada do Caenga à Rua Dalva de Oliveira.
*Ladeira de São Benedito - refere-se a atual Rua Dalva de Oliveira.
Por: Jânio Odon/Vozes da Zona Norte.
Jânio Odon, você teria alguma história sobre a formação do Bairro Vasco da Gama em Recife? Se positivo, onde eu poderia ter acesso? Estou concluindo minha pesquisa de mestrado e meu tema tem interligação com o Bairro....Grata.
ResponderExcluirBom dia, Carolina. A história do bairro do Vasco da Gama está quase pronta. Breve eu publico.
Excluir