domingo, 15 de abril de 2012

O Sport Recife traz o primeiro técnico do futebol pernambucano para ser campeão de 1928

Sport Recife foi o campeão pernambucano de 1928, com Né; Joãozinho e Alarcon; Ademar, Ary e Aureliano; Bulhões, Jubal, Péricles, Zezé e Aloísio. (A escalação não está de acordo com a foto). Fotos: Revista da Cidade/Fundaj.


Grandes acontecimentos de 1928- Francisco da Costa Maia assumi a prefeitura do Recife; 7/3- Fundado o jornal “Estado de Minas”; 28/4- Fundada a Escola de Samba da Mangueira; 30/6- O PRM lança Getúlio Vargas para presidente e João Pessoa para vice; Pixinguinha lança a canção “Carinhoso” e Tarsila do Amaral conclui a famosa tela “Abaporu”.

Em 1928, o futebol pernambucano começou a viver uma nova era, com a realização do primeiro jogo à noite do estado. Aconteceu no bairro da Várzea, no campo do Ambolê, campo de propriedade do Varzeano que estava completando onze anos de existência. No dia 13 de maio, às 20 horas, o Varzeano enfrentou Far-West, time formado por jogadores do Sport Recife e perdeu por 4 a 1. O sistema de iluminação foi planejado e executado pela firma George Kirilos & Cia, muito famosa no ramo de eletricidade na Capital Pernambucana. Foram instalados quatro postes de madeira, dois em cada lado do campo, havendo em cada um, possantes refletores. Em torno do campo foram estendida uma rede (gambiarra) com várias lâmpadas.

No dia 16 de junho, foi a vez do Sport Recife, instalar seus refletores em seu campo da Avenida Malaquias. A LPDT, promoveu um torneio em comemoração pelos seus treze anos de existência. Quatro dias depois, A Seleção Pernambucana de Futebol enfrentou a equipe inglesa de marinheiros do navio Capetown que aportou no Recife. Os pernambucanos venceram por 5 a 1.

Em 21 de outubro, o ABC de Apipucos, inaugura a iluminação de seu campo, que depois ficou conhecido como o campo de Bebinho Salgado.

Foi também em 1928, que a Liga Pernambucana de Desportos Terrestres (LPDT), promoveu o primeiro Campeonato Municipal de Futebol. A final aconteceu no Recife, no Campo da Avenida Malaquias onde a Seleção de Garanhuns venceu por 4 a 1, o selecionado de Goiana.

A 14ª Edição do Campeonato Pernambucano de Futebol, contou com a participação de sete equipes, todas do Recife, e foi disputado em turno único, com jogos de ida e volta no sistema de pontos corridos. Durou seis meses, começou em 8 de abril e terminou em 16 de setembro. Depois de dois anos de jejum, o Sport Club do Recife, conquista de forma incontestável seu 7º titulo estadual, com: onze vitórias e apenas uma derrota.

O Campeonato Pernambucano começou logo com a realização da 10º edição do torneio-início, que reuniu as sete equipes na disputa, no campo da Avenida Malaquias. Jogando em seu reduto, o Sport Recife que já havia ganho o torneio em 1927, repetiu a dose, vencendo o Torre na final por 1 a 0.

Para conquistar seu sétimo titulo, O Sport Recife inovou, contratou no Uruguai, o treinador Carlos Viola, que foi o primeiro técnico contratado para trabalhar no futebol pernambucano. A novidade despertou a atenção da torcida leonina, dos adversários e principalmente da imprensa. Carlos Viola, veio com a dupla missão de dirigir o time e jogar. Quando ele assumiu a direção técnica do clube rubro-negro, ao contrário do que muita gente pensava, ele não mexeu em nada. Carlos Viola ficou surpreso com o material humano e disse aos jornais que faltava ao grupo, apenas treinamentos táticos e técnicos. Seus primeiros dias de trabalho foram acompanhados de perto por cronistas e torcedores que lotavam o campo para ver os treinamentos. Como chutar a bola e se desvencilhar  dos adversários foram seus primeiros ensinamentos.

A equipe do Sport Recife era formado, na sua maioria, por jogadores do Nordeste, exceção apenas do zagueiro Alarcon, um dos remanescentes da política de importação, mas que já se considerava pernambucano pelo círculo de amizade que fizera. Quando estava de folga, dava duro no armazém  de tecidos de Carlos Médicis, um rubro-negro de profundas raízes dentro do clube.
O Torre ficou com o vice-campeonato
Mas a grande sensação do Sport Recife no campeonato de 1928, foi sem dúvida os irmãos Caldas: Jubal, um garoto de apenas 17 anos, bom de bola, egresso do infantil; o consagrado Péricles, que retornou do Torre onde foi campeão em 1926 e vice em 1927, era chamado pela imprensa de “o inteligente”, pelo seu estilo clássico, pela sua visão de jogo e seu faro de fazer gols, e Aloísio que tinha o apelido de bicicleta, por causa de sua movimentação constante dentro de campo. Fora do futebol, os irmãos Caldas fizeram sucesso também na agremiação carnavalesca Pitombeiras de Olinda. O presidente do Sport Recife, Raphael Adobbatti contratou também, o ponta-direita Bulhões Marques, que fazia furor no Santa Cruz.


A equipe era afinada, jogava por música, diziam os apaixonados torcedores, e disso deu provas em várias partidas. Em jogo de campeonato, no dia 3 de junho, os comandados de Carlos Viola, aplicaram a maior goleada do campeonato, derrotaram o frágil Equador por 12 a 0. Mas não foi o extravagante escore que chamou à atenção, pois todo mundo batia no pobre Equador. O que surpreendeu foi o fato de um dos gols ter sido marcado sem que nenhum jogador adversário pegasse na bola.
O Santa Cruz terminou na 3ª posição
O Sport Recife foi merecidamente campeão de 1928, mas não invicto como queriam seus diretores, que para isso haviam até se preparado, contratando pela primeira vez na história do clube e do futebol pernambucano, um técnico de futebol, antes, eram treinados por diretores ou jogadores que não tinham nenhuma formação profissional como técnico. A frustração veio no clássico contra o América, no dia 27 de maio no Campo da Avenida Malaquias, reduto do leão. O América venceu por 4 a 3. O importante é que Carlos Viola acertou na equipe rubro-negra, pois não é fácil disputar doze jogos e vencer onze. O técnico uruguaio teve seu trabalho reconhecido por todos, tanto que dirigiu a Seleção Pernambucana neste ano, no Campeonato Brasileiro de Seleções, que Pernambuco já vinha participando desde 1923.
O América terminou em 4º, mas tirou a invencibilidade do Sport.
 AS SURPRESAS: Torre 4 x 2 Náutico; Náutico 3 x 4 Equador; Náutico 0 x 3 Flamengo; Santa Cruz 0 x 0 Torre; Equador 2 x 2 Santa Cruz; Flamengo 2 x 2 Santa Cruz; América 0 x 1 Torre; Flamengo 3 x 1 Náutico; Torre 4 x 2 Santa Cruz e Flamengo 3 x 2 América.

WO: Sport Recife WO Equador e América WO Equador.

OS CLÁSSICOS: 15/4- Santa Cruz 1 x 0 América; 15/4- Náutico 0 x 5 Sport Recife; 29/4- Náutico 1 x 2 América; 20/5- Náutico 0 x 0 Santa Cruz; 27/5- Sport Recife 3 x 4 América; 1/7- Sport Recife 4 x 1 Santa Cruz; 15/7- América 2 x 2 Santa Cruz; 15/7- Sport Recife 4 x 1 Náutico; 29/7- América 1 x 2 Náutico; 19/8- Santa Cruz 0 x 0 Náutico; 26/8- América 1 x 3 Sport Recife e 16/9- Sport Recife 1 x 0 Santa Cruz.

O ARTILHEIRO DO CAMPEONATO: Não há registro

A SELEÇÃO DO CAMPEONATO: 
Goleiro: Valença (Torre)
Zagueiro: Joãozinho (Sport)
Zagueiro: Alarcon (Sport)
Lateral-Direito: Barreto (Torre)
Lateral-Esquerdo: Gama (América)
Volante: Sebastião (Santa Cruz)
Meia: Bulhões (Sport)
Meia: Jubal (Sport)
Atacante: Costinha (Santa Cruz)
Atacante: Ralph (América)
Atacante: Aluízio (Sport).

CLASSIFICAÇÃO FINAL

Sport Recife- 22 pontos
Torre- 17 pontos
Santa Cruz- 12 pontos
América- 11 pontos (saldo de gols: 5)
Flamengo- 11 pontos (saldo de gols: - 12)
Náutico- 8 pontos
Equador- 3 pontos

O Jogo do Título: 
América 1 x 3 Sport Recife
Local: Jaqueira
Árbitro: Ivan Pinto
Público e Renda: Não divulgado.
Gols: Bulhões, Péricles e Jubal para o Sport, e Moacir para o América.
América perdeu com: Edgar; Jorge e Gandra; Cyrill, Gama (Deoclécio) e Casado; Meira, Eric, Mota, Ralph e Moacir. O Sport Recife venceu com: Né; Joãozinho e Alarcon; Aureliano, Ary e Ademar; Bulhões (Matias), Jubal, Péricles, Zezé e Aluízio.

Outros Campeões estaduais pelo Brasil em 1928: São Paulo, houve novamente dois campeões, o Corinthians pela APEA e o Internacional da capital pela LAF. No Rio de Janeiro, o campeão foi o América. Em Minas Gerais, o Palestra Itália (que depois virou Cruzeiro) sagrou-se campeão. No Rio Grande do Sul, o Americano de Porto Alegre levantou a taça de campeão. No Paraná, o campeão foi o Britânia de Curitiba. No Ceará, o Fortaleza levantou a taça do tricampeonato. Na Bahia, o Ypiranga de Salvador foi o campeão e no Pará, deu Paysandu bicampeão.

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Diário de Pernambuco e o livro da editora Bagaço, História do futebol em Pernambuco, do saudoso jornalista Givanildo Alves que faleceu em abril de 2000. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário