quinta-feira, 28 de junho de 2012

Santa Cruz ganha seu primeiro título de Campeão Pernambucano em 1931

Os Campeões de 1931, (E/D): Zezé Fernandes, Lauro, Perruci, J.Martins, Aluísio, jogador não identificado, Sebastião da Virada (de boné) e Sidinho; (agachados): Sherlock, Dadá e Fernando.

Grandes acontecimentos de 1931: 17/1- Marcha da Fome convocada pelo PCB, no Rio de Janeiro, é proibida e reprimida pelo Exército. 11/3- O governo passa a comprar café para sustentar os preços internacionais. 16/5- Criado o Conselho Nacional do Café. 24/5- Marcha de 15 mil operários pró-Vargas, no Rio de Janeiro, em resposta à Marcha da Fome. Junho: o governo inicia queima de estoques de café; 2,8 milhões de sacas queimadas no ano. 19/8- Nacionalização da Marinha Mercante. Setembro: Suspenso o pagamento da dívida externa. 5/9- Nasceu Marcos Freire, professor, advogado e político. 12/10- Inauguração da estátua do Cristo Redentor, no Morro do Corcovado, no Rio de Janeiro. 29-30/10- Revolta do 21º BC, no Recife; o interventor de Pernambuco foge; confrontos na cidade deixam 50 mortos. 7/12- Criada a Comissão de Defesa da Produção de Açúcar. Derrubados os governos do Chile (24/7), Paraguai (26/10) e El Salvador (3/12). Estréia de Jorge Amado, com o “País do Carnaval”. Charles Chaplin filma “Luzes da Cidade”.

No início dos anos 30, os jornais começaram a dar maior destaque ao futebol pernambucano, prestigiando até os amistosos como estes:


6 de novembro, sexta-feira, o Santa Cruz venceu o time de marinheiros do Scout, do Rio Grande do Sul e venceu por 4 a 0, gols de Popó, Lauro, Aluísio e Carlos.

No dia 4 de fevereiro de 1931, a Liga Pernambucana de Desportos Terrestres e a Liga Pernambucana de Desportos Náuticos, mudam seus estatutos e definem um plano de fusão e fundam a Federação Pernambucana de Desportos, presidida por Renato Silveira. A primeira providência tomada pelo presidente, foi a criação do Campeonato de Juvenis que renderam valiosos elogios dos clubes e da imprensa. Os quadros juvenis eram constituídos de garotos entre 11 e 16 anos, e não poderia exceder a altura de 1,60M, exceto, os goleiros. 

No dia 20 de dezembro, domingo, debaixo de muita chuva em Limoeiro, o Centro Limoeirense empatou em 1 a 1 com o Morganete, o árbitro do jogo foi Leonilo Santos. O Morganete foi recepcionado no tradicional Colombo Esporte Clube.

A 17ª Edição do Campeonato Pernambucano de Futebol, foi disputado por onze equipes, todas do Recife, em turno único, no sistema de pontos corridos. O campeonato começou em 10 de maio e terminou em 20 de dezembro. Três equipes estrearam: Associação Atlética Arruda, Israelita e Fluminense. O campeonato iniciou-se com a disputa da 13ª Edição do Torneio-Início, no Campo da Avenida Malaquias onde o América sagrou-se bicampeão do torneio ao vencer o Torre por 3 a 1.

O Campeonato Estadual de 1931, revelou grandes surpresas, onde velhos coadjuvantes assumiram posições de destaques deixando antigos campeões para trás. O Santa Cruz fez uma excelente campanha com: oito vitórias, um empate e uma derrota, sendo campeão pernambucano pela primeira vez. O Náutico ficou com o vice-campeonato e o Flamengo, campeão de 1915, vez uma ótima campanha, ficando com a terceira posição.

As decepções do campeonato ficaram por conta do Torre, que havia ganho os dois últimos campeonatos e ficou com a quarta colocação. América e Sport Recife, velhos papões de taças dos anos 20, ficaram em quinta e sexta colocações respectivamente.

Dois jogos terminaram em WO: 6/9- Fluminense ganhou os pontos da A.A.Arruda e o Flamengo ganhou os pontos do Sport Recife, em 13/12.

O equilíbrio existente no ano anterior entre as equipes, apesar da Revolução, evitaram as grandes goleadas. O que não ocorreu neste campeonato com a inclusão das equipes da A.A.Arruda e do Israelita que juntas fizeram 23 gols e sofreram 113 gols, em apenas dez jogos cada um. Com esses retrospectos, as grandes goleadas foram inevitáveis.

Um fato curioso aconteceu no dia 28 de junho, o primeiro Fla x Flu  do Campeonato Pernambucano, ao final do jogo, Flamengo 5 a 2.
Eládio de Barros

A FRAUDE DE ELÁDIO- Se o Náutico empatasse ou perdesse do Torre, quem iria lucrar com o resultado seria o Sport Recife, que se credenciaria a uma partida contra o Torre, e o vencedor decidiria com o Santa Cruz o título de 1931. Se, porém, o Náutico ganhasse, os rubro-negros sairiam do páreo, e era exatamente isso que os alvirrubros queriam, pois sua equipe já estava de fora. Ante a possibilidade das duas primeiras hipóteses, já que o Torre era tecnicamente superior ao Náutico, os dirigentes alvirrubros tiveram a seguinte idéia: evitar de que o jogo contra o Torre, marcado para domingo, 29 de novembro, nos Aflitos, fosse realizado naquela data, mas sim após cumpridos todos os jogos da tabela, como a Federação costumava fazer com as partidas que não realizavam por motivos relevantes.

A idéia era boa, mas como executá-la? De que maneira o Náutico impediria a efetivação do encontro? Faltavam três dias para o jogo e os alvirrubros não sabiam como materializar a imaginação. Foi então que Eládio de Barros Carvalho, que era diretor  do Departamento de Desportos Terrestres do clube (hoje seria diretor de futebol), decidiu danificar as traves no sábado. Com a cumplicidade de outros dois diretores alvirrubros, Clericuzi e Vitorino Maia, além do empregado do clube, responsável pelo campo, Adolfo. Eládio chegou às 17 horas do sábado e seguiu rapidamente para o campo juntamente com seu Adolfo, e de posse de um serrote, Eládio determinou que fosse feito um buraco de um palmo em torno em uma das traves e que fosse serrado bem no pé, até a barra ficar torta. Terminado a tramóia, deixou o local e providenciou um ofício para ser publicado no Diário da Manhã, onde informava a precariedade da baliza.

No domingo, 29 de novembro, o Diário da Manhã publicou o ofício Nº 88/31, do Náutico com o seguinte texto: “No intuito de salvaguardar a sua responsabilidade, o Clube Náutico Capibaribe apressa-se a comunicar a V. Sª, o acidente que acaba de se verificar em seu campo de desportos. No momento em que o encarregado do campo procedia a reparos em uns dos postes laterais do gol, sucedeu um mesmo ruir, em virtude do mau estado de conservação da parte enterrada, inteiramente carcomicida pela umidade. Dada a hora adiantada em que isso se verificou, impossibilitando a substituição do madeiramento em mau estado, quer nos parecer não ser possível terminar o serviço necessário a tempo de se realizar o jogo marcado, para nosso campo, o que comunicamos para os necessários fins.”

A partida não se efetivou, como o Náutico desejava, e na segunda-feira, foi o assunto do dia. O Diário de Pernambuco comentou: “Causou estranheza nos círculos esportivos,o caso do adiamento do jogo Náutico x Torre, em face das circunstâncias em que se revestiu: adiamento processado à última hora, com espaço limitado de tempo para ser impossível uma providência urgente. Essa trave do gol do campo dos Aflitos, a que horas teria caído? Haverá nos círculos esportivos quem possa dar resposta a pergunta?

O crime só não foi perfeito, porque o presidente da Federação, o rubro-negro Renato Silveira, desconfiou do acidente e marcou o jogo logo para o domingo seguinte, e não depois da tabela, como imaginava o Náutico. Mas o Náutico conseguiu o que queria, pois para surpresa de todos derrotou o Torre por 1 a 0, gol de João Manuel, tirando o Sport Recife da jogada.
Júlio Fernandes, do Santa


O Santa Cruz fez uma campanha quase perfeita, venceu seus principais adversários: Sport Recife, América e Torre e os demais adversários. Exceto, o Íris, onde o tricolor empatou. E o Náutico, onde aconteceu o jogo mais tumultuado do ano. O Santa Cruz venceu  seu penúltimo jogo contra o Torre e não podia ser mais alcançado por nenhuma equipe, sendo assim, campeão antecipado. Mas precisava vence o Náutico para ser campeão de forma invicta. O jornal “A Notícia” chamou o tricolor, em manchete, de Campeão da República Nova, em alusão ao novo regime político imposto pela Revolução de 1930. A alegria da torcida tricolor só não foi completa, porque o time perdeu a invencibilidade exatamente no último compromisso, a 20 de dezembro, contra o Náutico, numa partida bastante tumultuada em que até o presidente da Federação apanhou.

O campo dos Aflitos estava cheio. A torcida do Santa Cruz aguardava o encontro com muita ansiedade e convicta de um triunfo, o qual significaria a conquista invicta do campeonato. Dentro do campo, as equipes esperavam, impacientes, a entrada do árbitro João Elísio. Como ele não aparecesse, os capitães resolveram, de comum acordo, confiar a direção do jogo ao presidente da Federação Pernambucana de Desportos (FPD), Renato Silveira, de início ele relutou muito, alegando sua condição de presidente, mas acabou aceitando a incumbência diante dos apelos.

Iniciada a partida, observou-se de pronto a intranqüilidade do Santa Cruz, provocada pelo temor de não decepcionar sua imensa torcida, desejosa de comemorar o primeiro título, de forma invicta. O Náutico, por sua vez, era uma equipe tranqüila, mas com muita determinação, jogando como se estivesse em busca do título, tamanha a expectativa e a motivação criada pelos tricolores, afetando assim, os alvirrubros em querer estragar a festa coral.

Quando faltavam uns 15 minutos para acabar o primeiro tempo, o Náutico abriu o escore por intermédio de Pinto de Abreu. E com este resultado, terminou a fase inicial. Aos 10 minutos da etapa final, Renato Silveira marcou um pênalti contra o Santa Cruz, que João Manuel converteu, aumentando o escore para 2 a 0. A partir daí, a partida passou a ficar violenta. Rui Duarte, do Náutico, trocou pontapés com Zezé Fernandes, do Santa Cruz e ambos foram expulsos. O jogador alvirrubro deixou logo o gramado, mas o do Santa Cruz permaneceu não aceitando a decisão do árbitro. Zezé Fernandes tentou dialogar com o árbitro, porém ele não deu importância, mandando que se retirasse do campo. A diretoria Coral invadiu o gramado, tentando demover Renato Silveira da sua decisão, mas ele não quis conversa. Nessa altura, o campo estava invadido também pela torcida tricolor. A diretoria do Santa Cruz aproveita-se do tumulto e retira a equipe de campo. Os vestiários dos Aflitos são destruídos. No gramado, Renato Silveira é agredido na cabeça à golpe de bengala, a polícia entra em campo e prende o agressor. Diante das circunstâncias, Renato Silveira encerra a partida. A partir deste jogo, os Clássicos das Emoções, ganhou um tom de rivalidade.

No dia seguinte, toda imprensa condenou a atitude da diretoria do Santa Cruz, lamentando que os próprios diretores apoiassem atos de indisciplina dos seus jogadores, como todos tinham vistos. Várias notas oficiais foram publicadas, solidarizando-se com o presidente Renato Silveira. O “Jornal Pequeno”, vibrante vespertino pernambucano, que sempre deu largos espaços ao futebol, na sua edição da segunda-feira, ao invés da matéria com os detalhes da partida, ficha técnica e tudo como costumava fazer, publicou a seguinte nota:

“Envergonhado com as deploráveis cenas de ontem, no campo dos Aflitos, não daremos a crônica deste encontro. Condenando esses fatos que envergonham o futebol pernambucano, levamos à diretoria do Santa Cruz nossas condolências...”

O presidente da FPD, Renato Silveira, multou o Santa Cruz em 200$00 (duzentos contos de réis), por ter abandonado o campo antes do término do jogo.

As Grandes Goleadas: 14/5- Náutico 12 x 0 Israelita; 24/10- Torre 12 x 0 Íris; Sport Recife 10 x 0 Arruda; América 10 x 0 Israelita; Santa Cruz 10 x 0 Israelita; Arruda 1 x 8 Encruzilhada; Íris 8 x 2 Israelita; Santa Cruz 7 x 0 Encruzilhada; Santa Cruz 6 x 1 Arruda; Flamengo 6 x 2 Encruzilhada; Náutico 6 x 2 Fluminense; Náutico 5 x 0 Arruda; Israelita 0 x 5 Encruzilhada; Torre 5 x 0 Israelita e Íris 5 x 1 Flamengo.

As Surpresas: Flamengo 4 x 3 Náutico; Fluminense 1 x 0 América; Santa Cruz 2 x 2 Íris; Encruzilhada 4 x 2 Torre; Sport Recife 2 x 3 Íris; Torre 5 x 2 América; Sport Recife 1 x 2 Fluminense; Flamengo 4 x 4 América e Torre 5 x 0 Sport Recife.

Os Clássicos: 17/5- Santa Cruz 4 x 1 América; 31/5- América 0 x 3 Náutico; 14/6- Santa Cruz 3 x 1 Sport Recife; 30/8- Náutico 0 x 2 Sport Recife; 20/9- Sport Recife 2 x 5 América e em 20/12- Náutico 2 x 0 Santa Cruz.

O Jogo do Título

Santa Cruz 2 x 0 Torre
Data: 13/12/1931
Local: América Parque, na Jaqueira.
Árbitro: José Fernandes
Gols: Valfrido e Estevam
Santa Cruz ganhou com: Dadá; Shelock(J. Martins) e Fernando; Doía, Júlio Fernandes e Zezé Fernandes; Valfrido, Aloísio (Popó), Lauro e Estevam.
Torre perdeu com: Xexéu; Pedro e Miro; Arlindo, Hermes e Leleco; J. Dantas, Danzi, Brás, Agnelo e Valencinha (Brandãozinho e depois Osvaldo).

CLASSIFICAÇÃO FINAL

Santa Cruz- 17 pontos
Náutico- 16 pontos
Flamengo- 13 pontos
Torre- 12 pontos
América- 11 pontos
Sport Recife- 10 pontos (5 vitórias)
Íris- 10 pontos (4 vitórias/ saldo: (- 5)
Fluminense- 10 pontos (4 vitórias/ saldo: (-8)
Encruzilhada- 9 pontos
10º Arruda- 2 pontos
11º Israelita- nenhum ponto.

Outros Campeões estaduais pelo Brasil: São Paulo: São Paulo foi o campeão. Rio de Janeiro: O América sagrou-se campeão. Minas Gerais: Atlético foi o campeão. Rio Grande do Sul: O Grêmio foi o campeão. Paraná: Coritiba sagrou-se campeão. Bahia: O Bahia foi o campeão. Ceará: O Ceará foi o campeão e no Pará, o campeão foi o Paysandu.

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Diário de Pernambuco e o livro “História do futebol em Pernambuco”, do jornalista Givanildo Alves, Editora: Bagaço.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário