segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Gigante do Samba" faz a Bomba tremer

A bela Dryelle Walesca, madrinha da bateria 2009 do Gigante do Samba, no pátio da agremiação na Bomba do Hemetério (foto: flickr.com)
 A mulata arrasando na passarela, acompanhada pela melhor bateria de Pernambuco que é a de Gigante do Samba. Foto: Jornal do Commercio/ Recife-PE



Escola de Samba Gigante do Samba, sem sombra de dúvida, depois da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, é a maior agremiação do bairro em importância. pela sua grandiosidade e valor cultural, a majestosa esmeralda da Bomba do Hemetério mexe com as pessoas ligadas ao samba e admiradores como eu. Durante o período de Momo, a atmosfera do bairro muda, a movimentação que vem dos morros do Alto Santa Terezinha, Alto do Pascoal, Alto do Deodato e Alto dos Coqueiros, redutos do samba alvi-verde, cores do Gigante do Samba é inquestionável. A rivalidade com a Escola de Samba Galeria do Ritmo, do Morro da Conceição, sua maior rival, é comparável ao clássico das multidões entre Sport e Santa Cruz, com as devidas proporções.

A Escola de Samba Gigante do Samba, foi fundada em 16 de Março de 1942, no Alto do Céu, bairro de Água Fria, pelos senhores Luiz Ferreira de França e Luiz Rodrigues da Silva Melo. Entretanto, a escola de samba surgiu inicialmente com outro nome: Garotos do Céu, permanecendo até 1974, quando passou a se chamar Grêmio Recreativo Escola de Samba Gigante do Samba, tem a águia como símbolo, neste ano, com o novo nome, já sagrou-se campeão com o enredo, “ O Mundo Encantado das Crianças” do carnavalesco Jaquaré. Gigantes do Samba teve outros carnavalescos famosos no mundo do samba como: Tony Oliveira, João Bosco, André Paiva, Hilário Silva entre outros.

Gigantes do Samba, atualmente tem sua , sede localizada na Rua das Crianças, na Bomba do Hemetério, antes funcionou no Clube São Luiz Show também da Bomba (atual Igreja Universal). Em 1975, a Escola Gigantes do Samba perdeu o tricampeonato para a Escola Estudantes de São José e viveu sua maior crise. Em setembro, o carnavalesco Jaguaré foi agredido dentro do São Luiz Show durante os ensaios da escola, após querer defender uma pessoa que estava sendo detida de forma abrupta. Em novembro, Ana do Alto do Pascoal, considerada a melhor sambista de Pernambuco é dispensada por indisciplina, e em abril de 1976, Gigantes do Samba é despejado do São Luiz e para complicar, Estudantes de São José torna-se bicampeã do carnaval e passa a ensaiar no local. Depois de algum tempo sem ter onde ensaiar, o América da Estrada do Arraial cede sua quadra. Seu Presidente é Rivaldo Figueiredo de Lacerda e o intérprete oficial é nada mais, nada menos que Belo Xis, considerado por muitos o melhor cantor de samba de Pernambuco. 

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Wikipédia




domingo, 29 de agosto de 2010

Tribo Canindé, 100 anos, na Bomba do Hemetério



Tribo Canindé em apresentação na praça da Bomba do Hemetério em 2011. Foto: Jânio Odon.

Muita gente pensa que os “caboclinhos Canindé”, como é chamado pelo povo bomberense, foi fundado na Bomba do Hemetério, inclusive os próprios moradores da comunidade, pois saibam, que o caboclinhos Canindé foi fundado pelos estivadores Libão e Eduardo, na Rua das Crianças, no bairro de Afogados, em 5 de Março de 1897, com o nome de Príncipe do Rio do Rei Canindé”, que era formado só por crianças.

Em 1910, sob liderança do mestre Manoel Rufino, mudou-se para a Bomba do Hemetério, 596, (atual endereço), onde juntamente com seus irmãos, Miguel Batista da Silva e Severino Batista da Silva, trocaram o nome da agremiação para Tribo Canindé do Recife, diga-se de passagem, não é o nome oficial. Pois pelo seu estatuto elaborado pelo dirigente José Silva Araújo em 1957, o caboclinhos chama-se oficialmente Clube Indígena Canindé. José Silva Araújo foi sucedido pelo mestre- carpinteiro, Severino Batista da Silva, o Bibiano.

Em 1994, com o falecimento de Severino, sua filha, Juracy Simões, assumiu a Presidência da agremiação, melhorando a estrutura do caboclinhos, a ponto de transformar a Tribo Canindé no exímio ganhador de títulos, foram nove títulos consecutivos entre os anos de 1996 a 2004. Além disso, Juracy Simões tem um primo na Europa que faz a divulgação da Tribo Canindé no exterior.
A Tribo Canindé sai às ruas com três tocadores de frente, com taró, caracaxá e uma gaita; seguidos por: porta bandeira, caciques, puxantes, batedores de flechas, tapuias, curumins, rei e rainha. Os seus ensaios ultimamente tem sido realizados na Rua do Rio, por questão de espaço.

Sem nenhum exagero, considero o caboclinhos Canindé, o mais belo em sua categoria, lembro que no final dos anos 70 e início dos anos 80, eu freqüentava bastante os ensaios do caboclinhos, que era realizado ao lado da sede em chão de areia, eu na época, solteiro, juntamente com alguns colegas íamos muito aos ensaios para paquerar as belas garotas que ali freqüentavam. Tempos de grande movimentação na nossa querida Bomba do Hemetério, onde a moçada dividia suas atenções entre os ensaios da Tribo Canindé e Gigantes do Samba, que tinha como sede o saudoso São Luiz, onde hoje fica a Igreja Universal.

 GALERIA DE FOTOS DA TRIBO CANINDÉ
 

 A presidente da agremiação Juracy Simões falecida em 2015. Fotos: Acervo do Caboclinhos Canindé.
 

 Membros da Tribo Canindé na década de 40 do século XX.


Juracy Simões em 1959 em uma exibição da Tribo Canindé no município de Pilar, na Paraíba.


Exibição da Tribo Canindé no município de Pilar na Paraíba em 1959.


Integrantes da Tribo Canindé em frente a sede da agremiação na Bomba do Hemetério em 1966. Foto: Katarina Real/Fundaj.


Exibição da Tribo Canindé na praça do Arsenal, no Recife em 2015.

























































Texto: Jânio Odon de Alencar
Pesquisa: Wilkipédia e site da tribo Canindé

sábado, 28 de agosto de 2010

O Reisado Imperial da Bomba do Hemetério

Seu Geraldo (a esquerda) e o estandarte do Reisado Imperial na rua Trinta e Cinco (atual Rua Arapixuna) em 1965. Foto: Katarina Real/Fundaj.

Seu Geraldo atualmente, no interior da sede na Rua Arapixuna (2010). Foto: Acervo Reisado Imperial.

Durante toda minha infância e juventude presenciei os ensaios e as animações que antecediam as saídas do Reisado Imperial em dias de carnaval na Rua Trinta e Cinco ( atual Rua Arapixuna), rua que faz divisa entre o Alto Santa Terezinha e a Bomba do Hemetério. O Reisado Imperial, saía sempre no segundo dia de carnaval, a comunidade enchia de expectativa, e se formava uma grande aglomeração de pessoas em torno da sede da agremiação, até que a orquestra começava a tocar o legitimo frevo pernambucano, todo mundo caía na folia junto com o Rei, a Rainha, as Damas, o Boi, o Jaraguá (personagem de pescoço longo e cabeça de girafa), que eu morria de medo quando criança, os demais figurantes com suas fantasias predominante em cores azuis e vermelhas e bastante espelhadas, típicas dos pastoris. O Reisado Imperial, é uma agremiação carnavalesca genuinamente bomberense, diferentemente, da Tribo Canindé, Maracatu Leão Coroado (hoje locado em Águas Compridas) e outras que migraram de outros bairros para Bomba do Hemetério.

A história do Reisado Imperial, começa com Geraldo de Almeida, esse paraibano nascido em 09 de Setembro de 1924, no município de Serra Raiz, agreste da Paraíba, com atuais 3.240 habitantes, distante 138 Km de João Pessoa. Aos dezoito anos, quando ainda era coroinha da igreja católica local, flagrou o padre em calorosa cena amorosa por trás da paróquia com uma suposta fiel. Segundo Geraldo, ao chegar em casa contou o libidinoso fato a sua mãe, para seu desapontamento, ela não acreditou e ainda aplicou-lhe uma surra na ocasião e outras alternadas sempre que lembrava, pois, para ela o padre era um santo caluniado e Geraldo um esdrúxulo mentiroso.

Decepcionado com sua mãe e agregando um sonho de infância de conhecer o Recife. Em 1942, Geraldo de Almeida resolveu fugir de casa rumo à Veneza Brasileira. No Recife, trabalhou como estivador no Porto do Recife, durante 35 anos, residiu no bairro do Pina e em 1951, mudou-se para Rua Trinta e Cinco (atual Rua Arapixuna), onde vive até hoje. Neste mesmo ano, juntamente com sua esposa, Iraci Alves de Almeida (falecida em 2010), José Cabral de Souza (falecido) que eu também conheci, Augusto Pimentel, João Reis, Pedro José do Nascimento e João Pimentel, fundaram a Troça Carnavalesca Mista Reisado Imperial, datado em 11 de Janeiro de 1951, o Reisado é multicultural, pois, além de tocar o legitimo frevo, toca também, coco de roda, fadangos e ciranda.

O Reisado Imperial já ganhou nestes seus quase 60 anos, mais de 300 troféus, mais seu patrono considera entre os mais importantes, dois concedidos pela Prefeitura da Cidade do Recife: Título Brincante Hemérito da Cidade do Recife em 2002 e a Placa de Bronze homenageando os 82 anos de vida dedicados à cultura pernambucana em 2005, além do Diploma da Fundação Joaquim Nabuco que o considera um colaborador da cultura e do folclore brasileiro. Geraldo de Almeida está atualmente com 86 anos, tem nove filhos, mais de vinte netos e dez bisnetos.

Por: Jânio Odon de Alencar.
Pesquisa: Diário de Pernambuco/ suplemento de 6/2/2005; Reisado Imperial Blogspot e Reisadobra Blogspot

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Trajetória de um líder comunitário

Ex-Presidente do Centro Comunitário do Alto Santa Terezinha (1989 a 2006) , Odon Gomes de Alencar
A vida muitas vezes oferece uma diversidade de obstáculos, traçando nosso destino em linhas inimagináveis e acontecimentos espontâneos e inesperados. Dentro deste contexto, esta é a história de um homem de origem humilde, batalhador, corajoso, honesto, bondoso e de um carisma impressionante, adjetivos quase inexpressivos, tamanha suas virtudes. Esta pessoa, trata-se de meu pai, Odon Gomes de Alencar, que nasceu em 10 de Fevereiro de 1935, na Fazenda Cajazeiras, propriedade Vargem, no Município de Pio IX, distante 459 km de Teresina, capital do Piauí. Filho de Maria Raimunda de Alencar (Senhara) e Odon Gomes de Alencar (pai).

Mudou-se ainda jovem para Simões (PI) em 1945, e dois anos depois, mudou-se para Jaicós (PI), de onde deu início toda sua odisseia em busca de melhores oportunidades na Cidade do Recife. Odon, que tinha ainda seis irmãos – Inácio, Francisco,Valdo, Ozias, Nair e Geni, e que havia perdido seu pai quando tinha apenas um ano e quatro meses. As dificuldades surgiam naquela pequena cidadezinha do interior piauiense, obrigando que um a um fossem deixando para trás seus parentes e amigos, até que chegou a vez de Odon, que tinha apenas 16 anos em 1951. Seu irmão mais velho, Francisco, já residia aqui no Recife, em Casa Amarela, bairro da zona norte, e tinha uma marcenaria . Resolveu então, chamar Odon para ser seu ajudante. Odon não excitou e resolveu vir para o Recife, com apoio de mãe Senhara, dando-lhe alguns trocados e que na despedida ficou com um conjunto de roupa dele e vos falou que guardaria e o mostraria um dia quando Odon fosse doutor na cidade grande. Odon embarcou na boléia de um caminhão acompanhado de um estudante piauiense de Oeiras que vinha estudar também na Veneza Brasileira. A viagem foi longa e desgastante, parecia não ter fim, aliada à ansiedade, medo e incertezas.

Até que horas a fio de viagem no desconforto daquele bendito caminhão, aquele garoto assustado, chega a sua primeira parada no bairro de Tejipió, desorientado e sem conhecer nada, pedi apoio a um rapaz negro, informando-o que desejara chegar ao bairro de Casa Amarela. O rapaz diante da situação, disse que o levaria até a parada de ônibus do citado bairro, na rua Marquês de Olinda, no Recife Antigo, entretanto, cobrou-lhe a quantia de Cr$ 20,00 (vinte cruzeiros), Odon não excitou e concordou logo. Chegando no Recife Antigo, Odon fica encantado com aqueles edifícios e casarões seculares, algo jamais visto por aquele garoto da pequena cidade do interior piauiense.

Após momentos de encantamento, Odon embarca no ônibus e chegando em Casa Amarela seguiu até a rua Sempre Viva e no endereço indicado procura pelo irmão Francisco que não se encontrava, um alfaiate que morava ao lado, o informou que ele havia saído e que voltaria mais tarde. Odon segui até o sanitário, e por engano entra no banheiro errado de uma pensão onde residia alguns praças da polícia. Ao sair do banheiro se depara com a dona da pensão que dá-lhe uma bronca e que não o deixa explicar, quando o alfaiate explica para dona da pensão que o garoto era irmão de Francisco, acalmando a esfuziante senhora. Depois de ter passado pela aquela situação vexatória, o garoto desceu até o Largo de Casa Amarela para fazer um lanche, e pede a garçonete um pão doce e um refresco, diante das vestimentas um pouco surrada e da pouca idade daquele garoto, a garçonete pensou que tratava-se de um pedinte, tamanha a surpresa quando o garoto retirou o dinheiro do bolso para pagar o lanche, ela indagou:
- Você vai pagar?
- Claro, eu estou com dinheiro
Respondeu o garoto.
Ela falou:
- Eu pensava que você estava pedindo (de graça).
Surpresa e com sentimento de pena a garçonete pergunta para o garoto de onde ele veio. Chateado, irônicamente ele responde:
- Eu vim passar fome aqui no Recife.
Retirando-se em seguida da lanchonete.


Odon em 1953

Retornou para a casa de seu irmão Francisco que já havia chegado e lhe deu um forte abraço num reencontro emocionado. Ao passar dos dias, Francisco matriculou Odon, na Escola de Dona Ione, próximo a Praça de Casa Forte. Seis meses depois, Francisco muda-se de Casa Amarela, porque os negócios não iam muito bem, e vai morar no bairro dos Coelhos, numa das casas de Dona Hermínia, próximo ao mangue. Seu irmão Francisco desta feita, matriculou Odon no Colégio Dom Bosco, próximo ao Colégio Salesiano. Nos Coelhos, moraram durante quase um ano, quando Francisco alugou um ponto melhor localizado, na Rua da Matriz, Nº40, no bairro da Boa Vista, neste local, Francisco, viveu um bom momento nos negócios e ganhou dinheiro, pois recebeu muitas encomendas de guarda-roupas, armários, quadros e principalmente de radiolas, Odon trabalhava de ajudante lixando e envernizando móveis e contratando os carroceiros para levarem as encomendas.

Depois de algum tempo, novamente mudaram-se, desta feita, para Rua do Hospício, próximo ao hospital do exército. Os negócios continuavam de vento em polpa, mais como tudo que é bom dura pouco, depois de alguns meses, a dupla já estava de mudança novamente, agora, para o bairro do Arruda, propriamente na rua da Intendência, onde desta vez ficava só a marcenaria, o curioso de tudo isso é quê, ao saber que os dois eram da Família Alencar, o proprietário, negou-se a receber a fiança alegando que esteve no estado do Acre e que lá conheceu algumas pessoas da referida família e que eram pessoas da melhor qualidade. Para residir, alugaram uma casa na Rua Jupi, no bairro da Campina do Barreto, próximo a igreja de Santo Antônio.

Tudo parecia perfeito, Francisco e Odon mantinham um bom relacionamento com a vizinhança e os negócios iam bem, até que, o barulho com as marteladas e maquinários, começaram a incomodar os moradores que ocultamente, queixavam-se da barulheira ao proprietário do imóvel, o senhor que nutria de um carisma pela dupla e mesmo de contra gosto, informou o fato e pediu que os mesmos desocupassem o ponto. Desta feita, Francisco seguindo seu tradicional ciclo migratório, mudou-se para Rua Alegre, no bairro de Água Fria, onde funcionou a marcenaria, o momento era muito bom, e os negócios seguia numa escala vertical ascendente, tanto que na ocasião, Francisco comprou duas maquinas, sendo uma para serrar madeira e uma outra para emparelhar (para fazer moldes no mesmo formato), um torno e uma caminhonete, tendo trocado por outra mais nova pouco tempo depois. Em 1955, Francisco, já casado, começou a construir sua casa na mesma rua da marcenaria e após concluída, transferiu a marcenaria para lá em definitivo. Odon, por sua vez, deixou de trabalhar com o irmão e foi trabalhar em seu primeiro emprego de carteira assinada, sendo admitido em 1º de Julho de 1955, na função de auxiliar de balcão, na Loja Cunha Rego, Rua da Praia, 153, Recife, entre 1958 a 1959, conheceu Severina Maria Mathias, uma jovem que como ele, veio do interior pernambucano - Feira Nova - aventurar melhores dias na cidade grande, essa mulher maravilhosa, batalhadora, que é minha mãe, teve seis filhos – Jânio, Henrique, Rejane, Helder, Rejiane e Orestes. Odon permaneceu em Cunha Rego até 30 de Novembro de 1960.

Em 2 de Janeiro de 1961, começou a trabalhar na Casas José Araújo, rua do Imperador, 452, também no Recife, exercendo a mesma função anterior, onde permaneceu por apenas seis meses, em virtude de seu outro irmão Ozias, tê-lo chamado para ser sócio em um crediário como prestamista, Odon aceitou a proposta de Ozias e tornou-se prestamista de 1961 à 1983, quando o país mergulhou numa crise econômica sem precedentes, com infração altíssima, desvalorização da moeda e o poder aquisitivo da população cada vez mais baixo, o que tornou-o inviável para Odon prosseguir com as vendas de suas mercadorias que aumentavam de preço a cada dia e as pessoas não conseguiam pagar. De 1983 a 1984, as coisas ficaram difíceis, mais há um ditado que diz: “Quem trabalha Deus ajuda”, e assim, Odon vendeu água sanitária, fez amizades, até que conheceu o professor Cláudio, que o chamou para trabalhar como vigia na Escola Rotary, no Alto do Pascoal, periferia do Recife, sendo nomeado posteriormente, agente administrativo, efetivando-se funcionário público do Estado de Pernambuco, pela Secretaria de Educação, em 15 de Outubro de 1984 à 10 de setembro de 1990, quando aposentou-se.

A LUTA COMUNITÁRIA

Em 1980, Odon vendo as dificuldades enfrentada pela comunidade do Alto Santa Terezinha e da Bomba do Hemetério, com quedas de barreiras no inverno, falta de escolas, postos médicos e falta de moradias, já que muitos moradores da comunidade morava de aluguel e outros problemas estruturais. Juntamente com outros moradores da comunidade, decididos a engajarem numa luta incessante em favor do bem comum dos moradores. Odon juntamente com outros valorosos líderes como: o casal, Francisco e D. Aurora (falecida) da Rua Antõnio Meira, Manoel Severino(falecido) da Rua Pastor Benoby, Francisco, Zé Luiz, D. Mãezinha, D. Dorinha, D. Lia de seu Inocêncio, seu Praça, Celestina, Manoel Camilo (falecido), Geraldo da Rua Elza, João Joca da Rua Manoel Silva, Manoel Gomes entre outros.
O movimento comunitário começou a reunir-se na sede do Lar Brasileiro, no Córrego Antônio Rodrigues, nas residências de D. Aurora e de Odon. A primeira diretoria do Conselho de Moradores do Alto do Pascoal e Bomba do Hemetério formada ainda em 1980, era composta por: Manoel Severino (Presidente);
Francisco Araújo (Vice-Presidente);
Dona Aurora (Secretária);
Sr. Praça (Tesoureiro);
Zé Luiz (2º Secretário);
Odon (Presidente do Conselho Fiscal).
As primeiras providências adotadas pelas lideranças do Conselho de Moradores foram a luta pela posse de terra da Bomba do Hemetério e Alto do Pascoal, o não pagamento da posse dos terrenos por aqueles que ali residiam; construção de barreiras, muros de arrimos e escadarias e pavimentação das ruas. Durante a administração do prefeito Gustavo Krause, muitas dessas reivindicações foram atendidas, como: construções de muros de arrimos e escadarias, além de pavimentação de várias ruas através do projeto “Um Por Todos”.

Odon que mora até hoje na Rua Arapixuna ( antiga rua 35), no Alto Santa Terezinha, andava um pouco desanimado pelo fato de a maioria das obras realizadas estarem direcionadas para o Alto do Pascoal e Alto dos Coqueiros e as divergências com Manoel Severino, que queria resolver tudo a sua maneira sem ouvir os demais membros do Conselho de Moradores. O líder do Centro Comunitário do Alto Santa Terezinha era Nilo, que muito lutou pelos tíquetes de leite para aquela comunidade.

Em 1982, quando assistia a missa dominical na Capela de São Bartolomeu “Capelinha”, localizada no inicio da Rua José Amarino dos Reis, Seu Cipriano colocou um bilhete no bolso de Odon. Era um convite para uma reunião, numa quinta-feira, na mesma Capela, para que ele apoiasse o grupo de Cipriano, para lutar pela construção de uma escola e um posto médico na Bomba do Hemetério, Odon aceitou o convite e ficou participando paralelamente dos dois Conselhos de Moradores.

Em 1989, José Lopes que fazia parte do Centro Comunitário do Alto Santa Terezinha, convida Odon para ser o presidente, já que Nilo entregara o cargo. A partir daí, Odon começou a luta de fato pelos interesses da comunidade do Alto Santa Terezinha e Bomba do Hemetério, entre suas conquistas estão: 350 metros de muros de arrimos para Rua Arapixuna e Rua Tamboara, melhorias de casas, escadarias, depois mais muros de arrimos em cem residências e conseguiu junto com a comunidade 120 lotes de terrenos em Passarinho. Antes de assumir o Centro Comunitário do Alto Santa Terezinha, lutou pela aquisição do terreno, que antes era uma vacaria e pertencia ao Sr. Otávio Dias, que vendeu o terreno pela quantia de CR$ 20.000,00 ( vinte mil cruzeiros) sendo construído a Escola Mardônio Coelho, considerada uma das maiores conquistas da comunidade, e o Posto de Saúde Dr. Luiz Wilson, outra grande conquista.

Odon, destacou-se como um grande líder pela sua garra, obstinação pela causa e por confrontasse destemidamente diante as autoridades governamentais, não aceitando imposições contrárias aos interesses da comunidade. Atualmente Odon aos 75 anos, aposentado, não chegou a ser doutor como queria Senhara, sua mãe, mais foi um doutor da vida que conquistou muitos benefícios para sua comunidade e hoje prefere a tranqüilidade de seu lar que à agitada vida de um líder comunitário.

Por: Jânio Odon de Alencar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Inaugurado Centro de Saúde da Bomba do Hemetério



Diário de Pernambuco de 15/3/1992- Domingo

“A partir de amanhã os moradores da Bomba do Hemetério e áreas vizinhas começam a usufruir do maior e bem equipado Centro Médico ( centro de saúde Dr. Luiz Wilson) implantado na gestão do prefeito Gilberto Marques Paulo (foto). Para atuar no centro médico a prefeitura remanejou: 2 pediatras, 2 clínicos, 4 dentistas, 2 ginecologistas, 2 cardiologistas, 1 neurologista, 1 farmacêutico, 1 biomédico e 2 enfermeiras, publicado no diário oficial de 14/3/1992.” Importante salientar que a conquista deste centro de saúde, muito tem a vê com a luta comunitária dos lideres comunitários da Bomba do Hemetério, e Alto Santa Terezinha pela qual, seu Odon, meu pai, fez parte e todas as pessoas que acreditaram nesta conquista.

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Diário de Pernambuco

Atuação do Prefeito Gustavo Krause na Bomba do Hemetério

foto: Edvaldo Rodriguês-DP/Gustavo Krause, Miguel Arraes, na retaguarda Luiz Vidal, Coronel José Rufino e Romário Dias.


Diário de Pernambuco de 8/2/1980 -sexta-feira

Os moradores da Bomba do Hemetério, serão beneficiados pela prefeitura, a partir deste mês, com a instalação de uma escola de 1º grau funcionando nos três turnos, oferecendo cursos de datilografia, corte e costura e culinária, e assistência médico-odontológica. Para anunciar as prestações de serviço e ouvir outros pleitos, estiveram reunidos quarta-feira com a comunidade da Bomba do Hemetério e dirigentes da Associação Esportiva Unidos da Alegria, local onde funcionará os serviços. Os secretários de Educação e Cultura, Edson Neves, Ação Social, Fernando Albuquerque, e Saúde Heraldo Ramos de Andrade Lima, na sede daquela entidade. O encontro foi solicitado ao Prefeito Gustavo Krause, semana passada, pela comunidade daquela localidade, através do presidente da Associação Unidos da Alegria, Manoel Pinheiro Bezerra...
... uma série de reivindicações da população da Bomba do Hemetério, inclusive instalação de telefones públicos(orelhões) e pavimentação de ruas, através do "projeto um por todos". Já foi atendida.

Diário de Pernambuco de 25/8/1980- segunda- feira

A incompreensão dos negativistas, que não querem enxergar a obra de cunho social que está sendo realizada na atual administração, foi lamentada, em discurso, pelo prefeito Gustavo Krause, no bairro da Bomba do Hemetério, onde foi alvo de manifestação de apoio por parte de cerca de dois mil moradores.

O prefeito do Recife, que inaugurou a pavimentação e drenagem das ruas São José da Coroa Grande, Antônio Meira e do pontilhão Júlio Lima, disse está sendo vítima de injúrias e difamações porque tenho trabalhado prioritariamente para quem mais precisa do governo e garantiu manter o atual ritmo em favor do progresso do Recife.
O Sr. Gustavo Krause afirmou, ainda, a manifestação de apoio e solidariedade que tem recebido por parte das camadas mais populares da Capital Pernambucana, alivia todas as incompreensões

Diário de Pernambuco de 13/6/1981- sábado

“O dia de hoje marca uma nova etapa para a comunidade da Bomba do Hemetério, os moradores, com prefeito Gustavo Krause, estarão inaugurando, às 20 horas, a rua Júlio Lima, uma creche, um posto de saúde e uma escola. É um conjunto de ações que resultará em grande benefício para aquela comunidade, especialmente a creche, que acolherá os filhos dos que trabalham fora de casa durante o dia e até então não tinham com quem deixá-los.

Rua Antônio Meira funcionará a primeira creche pré-escolar, nas instalações do Clube Assistencial e Esportivo Unidos da Alegria. A inauguração da entidade é da parte do Projeto de Integração Institucional, implantado de modo pioneiro no Brasil pela Prefeitura da Cidade do Recife. O programa prevê a substituição dos altos investimentos em edificações suntuosas pelo aproveitamento de espaços existentes nos equipamentos dos bairros – sedes de escolas de samba, ligas de dominó e conselhos de moradores, entre outros.

Cumprindo um cronograma de investimentos sociais, a prefeitura, através da Secretaria de Ação Social, programou deste ano, a inauguração de mais cinco creches em instituições. Elas vão funcionar no Centro Espírita e Assistencial Caboclo Itamaraty, no Alto do Deodato; na Associação Recreativa e Assistencial Dominó Santo Antônio, no Alto Santa Terezinha e no Clube Esportivo e Assistencial Madri, no Alto do Pascoal.”
Este blogueiro morou na rua Júlio Lima até 1967, quando meu pai deixou de morar de aluguel e comprou uma casa na rua 35, (atual rua Arapixuna) onde mora até hoje

Diário de Pernambuco de 11/7/1981

Mais de 184 mil ratos foram exterminados nos bairros da zona norte pela companhia de combate aos ratos, executada pela Prefeitura do Recife. A Operação Arrastão foi iniciada nesta cidade em fevereiro e objetiva o extermínio do maior número possível daqueles roedores, em prosseguimento ao plano de prevenção a saúde da população. A campanha incluída no cronograma elaborado pelo órgão, atingirá até o final do ano, toda cidade e região metropolitana.

Os agentes sanitários atuam agora no Alto Santa Terezinha. Tendo já desenvolvido os trabalhos em Casa Amarela, Arruda, Campina do Barreto... Os agentes sanitários da Operação Arrastão visitam duas vezes as residências nos bairros onde estão atuando. Na primeira, das 13 às 17 horas, são marcadas as tocas dos ratos e deixadas as iscas, quando são entregues folhetos contendo instruções com combater e evitar a proliferação dos roedores. Na segunda, das 7 às 11 horas, recolhendo os ratos mortos e as iscas intactas. Os locais próximos a canais, rios, marés e terrenos baldios têm prioridade na visita, pois nessas áreas é maior a concentração daqueles animais. O serviço de extermínio é realizado por 39 agentes sanitários, entre encarregados de equipes e um outro de controle de campo

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Diário de Pernambuco

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O terrível e tenebroso Males

Porto do Recife
O Porto do Recife seguia sua rotina tranqüila e movimentada no transcorrer de novembro de 1685, mais algo terrível, maligno e inesperado estava preste a acontecer com a chegada do navio francês Oriflamme procedente da Ilha de São Tomé, Costa da África, em cujo carregamento havia uns barris fechados de carne salgada porém deteriorada, pois tinham sido levados, fazia meses, de Pernambuco para Angola, pelo mesmo navio e na África, por descuido, não foram desembarcados nem examinados, retornando ao Recife depois de longo espaço de tempo.

O navio Oriflamme, após atracar no Porto do Recife, teve os barris de carne levados para um depósito na Rua da Praia, abriram-se alguns destes barris contendo carne de boi, achava-se em tamanho estado de putrefação que às suas exalações mefíticas imediatamente caíram por terra, o tanoeiro (quem produz barris) e mais quatro ou cinco pessoas de serviço, falecendo todos em poucas horas. Além disso, o mau cheiro pavoroso e pestilento logo se espalhou por toda vizinhança, invadindo o bairro inteiro, alastrando-se por Santo Antônio, pela Boa Vista e, por fim chegando à Cidade de Olinda, sempre com efeitos maléficos e devastadores. Do litoral, a peste propagava por toda a Capitania de Pernambuco, causando um sem número de vítimas, todas fulminadas ao simples acometimento da moléstia até ali desconhecida do povo em geral, que lhe dava o nome de “MALES”. O horror tomou conta de toda a Capitania e as pessoas não sabiam como se precaver desse mal tão devastador, pois na época, a medicina ainda não havia alcançado o patamar tecnológico dos dias atuais.

Por falta de um medicamento eficaz, as pessoas em desespero, começaram a apelar por formulas nada convencionais, como utilizar sobre a pele sangue de purgas e sanguessugas; abrirem pombos e colocarem em cima dos pés, por cinco, ou seis horas; improvisarem emplastros da variada natureza, inclusive de passa de figos, cebolas, estercos de pombos e manteiga. Também eram usados xaropes e cozimentos a base de ervas e o louvável óleo de copaíba (copaifera officinalis), vegetal nativo, muito usado pela população, por curar diversas outras mazelas. Entretanto, nada conseguia conter a epidemia da MALES, atingindo à Bahia, em Abril de 1686, perdurando até 1692.

Em Pernambuco, a epidemia não dava trégua, e a população apavorada e desamparada da ciência dos homens, o povo apelou para a proteção divina, apelou para Deus, superlotavam as igrejas, pronunciavam orações especiais, realizaram solenes procissões. Normas de asseio corporal e de temperança alimentar foram preconizadas. E, finalmente, combateu-se a corrupção dos costumes. Os médicos fizeram ver ao capitão-general de Pernambuco que, “em semelhantes contágios, assim para comover a misericórdia de Deus como para se não se comunicar a malignidade da doença pelos atos e abusos venérios”, havia que evitar as prostitutas e os amancebamentos públicos.

O Governador de Pernambuco, diante da explanação dos médicos, tomou uma atitude radical, determinando a expulsão das prostitutas para fora do Recife e a prisão de todas as mulheres livres ou escravas que depois do toque da Ave-Maria fossem encontradas nas ruas desacompanhadas de homens considerados responsáveis. Todas essas normas e providências, executadas numa verdadeira campanha profilática, foram recomendadas pelo Dr. João Ferreira da Rosa, principalmente, e pelo Dr. Domingos Pereira da Gama, médico pela Universidade de Coimbra. A epidemia MALES, permaneceu em Pernambuco, em surtos periódicos, quase anuais, até 1695, quando entrou em declínio e cessou, após dez anos de devastação.
PESQUISA: Livro Anais Pernambucano, de Pereira da Costa
Texto: Blog do Jânio.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uma mulher comanda o clássico das multidões

8/11/1992- Maria Edilene pressionada pelos jogadores do Santa Cruz, na expulsão de Malhado. Foto: Diário de Pernambuco.

Jogador do Santa Cruz, Malhado. Expulso por Maria Edilene. Foto: Jornal do Commércio/Recife.

No dia 8 de Novembro de 1992, marcou o futebol pernambucano, quando a caruaruense Maria Edilene Siqueira, entrou no gramado da Ilha do Retiro e apitou o clássico Sport Recife 0x1 Santa Cruz, quebrando um tabu de setenta e sete anos, pois jamais havia tido notícia que uma mulher apitara um jogo de futebol masculino, muito menos, um clássico do futebol profissional pernambucano, rodeado de tamanha rivalidade e pressão em desfavor da mediadora. Todavia, Maria Edilene demonstrou calma, competência e rigidez, marcando em cima do lance e não admitindo indisciplina e quem pensou que era blefe da arbitragem, acabou expulso, foi o caso do atleta do Santa Cruz, Malhado.

Outro episódio marcante na carreira de Maria Edilene, que na ocasião bandeirava, ocorreu no dia 10 de Novembro de 1993, no Pacaembu (SP), jogavam Corinthians- SP e Cruzeiro-MG pela Copa do Brasil, quando aos 44 minutos do 2º tempo, Rivaldo (aquele mesmo que jogou no Santa Cruz e foi o melhor do mundo em 99) recebeu um lançamento pela esquerda e fez o gol da vitória do timão e da desclassificação dos cruzeirenses, que ficaram atônitos e desesperados quando perceberam que Maria Edilene corria em direção a linha de meio de campo, evidentemente validando o gol. Os jogadores do Cruzeiro cercaram a bandeirinha e o jogador Nonato, covardemente o atinge com um chute na perna. Esse jogo foi o assunto da semana em todo país e Maria Edilene, o centro das atenções. Mais o tira- teima não deixou dúvida, e mostrou que ela estava certa.

Maria Edilene Siqueira, que é policial civil, jogou futebol feminino no time das “Coloridas”, representando o Santa Cruz, como não entendia nada das regras do futebol, certo dia seu treinador lhe presenteou com um livro sobre técnicas e regras do futebol do autor e especialista no assunto Leopoldo Santana. Despertando assim, seu desejo em ser arbitra de futebol e escrevendo-se no curso de arbitragem da FPF, iniciando sua carreira em 1983, e no início dos anos 90, ascendia ao quadro profissional, daí por diante sua carreira decolou.

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Diário de Pernambuco e Revista Placar.

sábado, 7 de agosto de 2010

Dos tigreiros ao saneamento básico



gravura dos tigreiros do alemão Henrique Fleuiss(1861).

 O Rio Capibaribe poluído nos dias atuais. Foto: Kimake.com/2015

Quem hoje observa o Rio Capibaribe no Centro do Recife ou em diversos pontos de seu percurso, fica imaginando porque ele é tão poluído. Desde os tempos das capitanias hereditárias os habitantes sempre procuraram às margens litorâneas para fixarem suas residências e nunca se preocuparam com o saneamento básico da cidade. Talvez pela impossibilidade, já que no período colonial não havia fábricas, nem indústrias em Pernambuco (nem no Brasil) de manilhas, tubos, conexões e canos para esse fim, ou pelo simples fato de haver muita terra para tão pouca gente, não suficiente para poluir tão facilmente o nosso Rio Capibaribe. Salientando que a citação do referido rio no texto, serve apenas como referencial, pois muito sabemos que boa parte dos rios brasileiros sofrem com o mesmo problema.

Muita gente se pergunta. Se não existia saneamento básico, o que as pessoas faziam para se livrarem destes excrementos indesejáveis? Nos locais onde as residências ficavam em descampados, era muito comum as pessoas recorrerem aos matagais e se limparem com folhas de matos (como muita gente ainda hoje, utiliza deste recurso), pessoas que moravam na parte superior dos sobrados do Recife, jogavam águas servidas e urina na rua e alpendres das casas térreas. Nos vilarejos, as pessoas faziam buracos nos quintais das casas onde despejavam restos de comidas, lixo e demais dejetos, e mantinham barris bem guardados em um dos cômodos da casa com excrementos fisiológicos, que quando cheios, muitos utilizavam os serviços dos “tigreiros”, escravos que faziam o transporte dos barris = tigres, e despejavam nos rios ou em terrenos baldios, esse tipo de transporte eram feitos quase sempre a noite, onde a visibilidade era muito pouca e a iluminação na época era feita a base do candeeiro e muitos escravos usavam da malícia para esbarrar nas pessoas desavisadas, onde respingavam o tão indesejados excrementos fisiológicos. Essa atitude dos tigreiros ocasionou revoltas e queixas dos transeuntes vitimados. Muitos tigreiros chegaram a serem castigados e acompanhados de perto por fiscais do governo para evitarem outros incidentes.

No século XIX, essa falta de saneamento básico no país, e especificamente no Recife, criou um quadro crítico de saúde pública , onde a cada ano, tornara comum duas epidemias, seja de varíola, peste, febre amarela, disenteria entre outras.

Em 15 de Setembro de 1858, o Governo Municipal do Recife, assinou um contrato com o engenheiro sanitarista francês Charles Louis Cambronne, para melhoria do serviço de esgoto e transporte de lixo e dejetos. Este contrato cogitava de um serviço de escoamento das águas servidas ( água de restos de comida) para o rio Capibaribe, por meio de canos de ferro ou de grés. Quanto as fezes e urinas eram depositadas em caixas de madeira, revestidas de metal, hermeticamente fechadas, que a empresa fornecia a cada domicílio, capaz de acumular excrementos de dez pessoas durante quinze dias, as chamadas “Latrinas Inodoras”.

As latrinas inodoras foram implantadas decorrente da grande epidemia de cólera- morbo que assolou o Nordeste em 1856, matando 125.793 pessoas. Sendo 3 mil no Recife e 37.586 em todo o estado de Pernambuco. As latrinas de Cambronne rendeu um verso da população ao crescente progresso:
“Temos bondes, maxambombas
Gasômetros e vias férreas
E, entre outros casos de arromba,
Cambronnes em casas térreas”.

Com o passar dos anos e o crescimento da cidade as latrinas de Cambronne, começou a não corresponder a grande demanda e a população começou a protestar. A Recife Draynage assumiu o sistema de saneamento e esgoto, entretanto em 1893, a empresa declarou-se incapaz de melhorar seu serviços, obrigando o Dr. Otávio de Freitas a fazer um relatório ao governador Barbosa Lima, criticando as precárias condições de higiene da cidade. Diante disso, foram abertas licitações para implantação de nova rede de esgoto, já no governo de Sigismundo Gonçalves, que anulou, sob alegação de que os preços eram muito altos. Contrapondo-se ao fato, Dr. Otávio de Freitas disse que o descaso dos governos para com o saneamento era responsável pelas 109 epidemias sofridas em 54 anos, no Recife.

Em 12 de dezembro de 1915, Foi assinado um contrato por Saturnino de Brito, engenheiro sanitarista, sob responsabilidade da modernizada Recife Draynage, na administração de Herculano Bandeira, o novo sistema de esgoto e saneamento do Recife com canos feitos de ferro de uso subterrâneos. Desta época aos dias atuais, muita coisa mudou, mais existem muitas localidades ainda sem saneamento básico e nossos rios continuam cada vez mais poluídos.

Por: Jânio Odon
Fonte: Revista Nossa História, nº8/2004; Anais pernambucano de Pereira da Costa
e site:www.flickr.com

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A visita da Rainha Elizabeth II ao Recife em 1968

Rainha Elizabeth II, desfila ao lado do Governador Nilo Coelho pelas ruas do Centro do Recife, em 1968. Foto: Revista Nossa História.

18 de novembro de 1968

A visita da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philips era aguardada com grande expectativa pela sociedade pernambucana, que a princípio não constava no roteiro. Eu era um garoto de apenas 5 anos e não tinha a mínima noção desse mega acontecimento, mas tarde, meu pai me contou que houve um grande alvoroço na capital pernambucana, inclusive na Bomba do Hemetério, onde nós morávamos, os coletivos saiam lotados, tão grande era a curiosidade de vê uma rainha de perto.

Foi armado um forte aparato de segurança em torno do trajeto, com um efetivo de aproximadamente 6 mil policiais, 300 investigadores, além de incontáveis guardas civis, 10 jipes e 7 unidades móveis desde o Aeroporto dos Guararapes, Palácio dos Campos das Princesas e o Marco Zero. Policiais britânicos guardavam as réplicas das jóias da rainha exposta na EMPETUR e o iate real atracado no Porto do Recife, onde seguiria após as duas horas de permanência na veneza brasileira, aos portos de Salvador, Rio de Janeiro e Santos. No roteiro da rainha constava também São Paulo e Brasília.

O Recife antigo, hoje é um ponto turístico e totalmente revitalizado, mais em 1968, as edificações de três andares, tinha um aspecto de certo abandono, que durante o dia as partes térreas funcionavam como pontos comerciais e a noite as partes superiores como prostíbulos. Temendo vexames e constrangimentos, foram tomadas medidas radicais e para muitos, discriminatórias. Para esconder da comitiva real parte dos graves problemas sociais da cidade, as medidas adotadas pela prefeitura e secretaria de segurança pública, constaram remoção dos cães e mendigos do Centro; as portas e janelas dos cabarés foram cerradas com pregos para impedir que as prostitutas descessem ou que ocupassem as janelas e as varandas, um verdadeiro cárcere privado coletivo.

O vexame temido pelas autoridades nas ruas não aconteceu, apenas gritos e esterias, o que é de praxe em eventos públicos envolvendo personalidades queridas do Brasil e do mundo, e com a Rainha Elizabeth II não foi diferente, ela distribuiu simpatia, com sorrisos e acenos o tempo todo. Entretanto, o maior vexame de fato, aconteceu no Palácio dos Campos das Princesas onde faltou energia elétrica demoradamente, a rainha demonstrou tranquilidade e elegância dizendo que na sua terra também acontecia tal fato. Mesmo a luz de vela, apreciou e gostou dos quadros de Lula Cardoso Aires, elogiou as obras de arte em cerâmica de Francisco Brennand. O Príncipe Philips encantou-se com o quadro “A Sombra Verde” de Lula Cardoso, sendo presenteado pelo Governador.

Segundo João Alberto, considerado o maior colunista social pernambucano da atualidade, que cobria para o Diário de Pernambuco, relatou que a Rainha não apreciou nenhuma fruta ali disponível, mas tomou suco de pitanga e chupou uvas. O salão nobre e o salão das bandeiras estavam abarrotados de gente, foram distribuídos 300 convites para ilustres convidados, entre eles: o sociólogo Gilberto Freyre e o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. O governador de Pernambuco, Nilo Coelho foi presenteado com um porta-retrato de mesa com a foto colorida autografada da Rainha e do Príncipe. A primeira-dama Maria Tereza Brennand Coelho ganhou um estojo de maquiagem belíssimo em ouro.

A Rainha Elizabeth deixou o Recife ovacionada por aproximadamente 200 mil pernambucanos, deixando saudades a todos que presenciaram aquele dia monárquico.

GALERIA DE FOTOS DA RAINHA ELIZABETH II NO RECIFE

 Comitiva da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philips, recebidos com honras militares no Aeroporto dos Guararapes. Foto: Revista Veja

 Governador de Pernambuco, Nilo Coelho, recebe a Rainha e sua comitiva. Foto: Revista Veja.


 Rainha Elizabeth recebida por autoridades pernambucanas no Aeroporto dos Guararapes. Foto: Diário de Pernambuco.

Comitiva real em cortejo pela Avenida Boa Viagem com destino ao Palácio do Campo das Princesas. Foto: Diário de Pernambuco.


 A Rainha Elizabeth acena para multidão ao chegar no Palácio do Campo das Princesas. Foto: Diário de Pernambuco.


 O Governador de Pernambuco, Nilo Coelho, apresenta os convidados a Rainha Elizabeth. Foto: Diário de Pernambuco.

Governador Nilo Coelho observa a Rainha Elizabeth conversando com convidados no Palácio do Governo. Foto: Diário de Pernambuco.


 Banda Imperial Inglesa, fez uma apresentação em frente ao Palácio do Campo das Princesas. Foto: Revista Veja.
 O arcebispo Dom Helder Câmara deixa o Palácio do Governo após visitar a Rainha Elizabeth. Foto: Diário de Pernambuco.


 Multidão acompanhou o desfile da rainha Elizabeth II pelo centro do Recife.

A comitiva da Rainha Elizabeth percorreu as ruas do Recife antigo. Foto: Diário de Pernambuco.

A Rainha Elizabeth passando em frente ao prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência. Foto: Diário de Pernambuco.

 Governador Nilo Coelho acompanha a Rainha Elizabeth na saída do Palácio. Foto: Diário de Pernambuco.

 A rainha Elizabeth desembarca do veículo juntamente com o governador Nilo Coelho.

A despedida da rainha ElizabethII e do príncipe Phillips do Recife. Foto: Jornal do Commercio/Recife.

 Rainha Elizabeth em 2010.

 Por: Jânio Odon/Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS)
 Fonte: Diário de Pernambuco, Revista Nossa História nº8/2004 e Revista Veja.