domingo, 26 de fevereiro de 2012

Torre Campeão Pernambucano de 1926

Foto do Torre Sport Club, no dia da decisão contra o Náutico, no Campo dos Aflitos, formou com: Valença; Filuca e Pedro Barreto; Aquino, Hermes e Dantas; Osvaldo, Piaba, Péricles e Chiquito (a formação não está de acordo com a foto).


Grandes acontecimentos de 1926: Joaquim Pessoa Guerra assumi à prefeitura do Recife (1926-1928); Fundação do Banco do Estado de São Paulo (atual Banespa); 17 a 22/2- Revolta operária–tenentista de Cleto Campelo em Jaboatão e Gravatá, em Pernambuco;1/3- Washington Luís torna-se Presidente do Brasil 16/3- Cientista americano Robert Goddart  lança o primeiro foguete movido por combustível líquido; 14/4- Grande cheia do Rio São Francisco deixa milhares de desabrigados e trás doenças como: impaludismo e tifo; 4 a
12/5- Greve geral na Inglaterra; 10/6- O Brasil deixa a Liga das Nações, após tentar uma cadeira permanente em seu Conselho Geral; 5/7- Batalhão de 613 jagunços de Horácio de Matos parte de Lençóis-BA, em perseguição à Coluna Prestes;1/7- Nasce na Flórida, EUA, a atriz Marilyn Monroe; 7/9- Reforma (a única) da Constituição de 1891, aprovada sob estado de sítio; 18/10- Sérgio Loreto deixa o governo de Pernambuco e Estácio Coimbra assumi em 12/12; 1/12- Aprovado o Código de Menores; 18/12- Aprovada a Lei de reforma financeira; 28/12- Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará assinam convênio para capturar Lampião e seu bando.

A 12ª Edição do Campeonato Pernambucano de Futebol, contou com a participação de 8 equipes, todas do Recife. Sendo disputado em turno único, com jogos de ida e volta e pontos corridos. O campeonato teve início em 25 de Abril de 1926, e só foi encerrado em 2 de Janeiro de 1927. O Torre Sport Club sagrou-se campeão pernambucano pela primeira vez, sendo o 4º clube a entrar na galeria dos campeões do Estado. O Torre era chamado de Madeira Rubra, porque era uma equipe difícil de ser batida e pela cor vermelha de seu uniforme. O mascote do time era o pica-pau. O Torre Sport Club, foi fundado em 13 de Maio de 1909, por funcionários da antiga fábrica de tecelagem do bairro da Torre, e tinha como torcedor ilustre, o Governador de Pernambuco, Estácio Coimbra, que assumiu o governo em dezembro. Na abertura do campeonato, foi realizado o 8º Torneio-Início, vencido pelo Santa Cruz que derrotou o Flamengo do Recife por 2 a 1, no Campo dos Aflitos.

O Campeonato Pernambucano de 1926, é considerado até hoje, o campeonato mais bagunçado da história. A confusão toda começou com a eleição do novo presidente da Liga Pernambucana de Desportos Terrestres (LPDT), Cícero Brasileiro de Melo que era apoiado pelos dirigentes do Santa Cruz, Náutico, Flamengo e Torre. Com Cícero na presidência da Liga, o Sport Recife e o América perderam o poder de representatividade que tinham antes. As quatro equipes que apoiaram o novo presidente da Liga passaram a ter dois representantes cada, na nova diretoria da Liga. Enquanto o Sport Recife e América, um representante e o pobre da equipe do Peres que era apadrinhado pela equipe leonina, nem representante tinha.

Revoltados, os presidentes do Sport Recife, Roberto Rabello, do América, José Fernandes Filho e o do Peres, João Duarte Dias, resolveram abandonar a LPDT e não disputar o campeonato. Os revoltosos, publicaram nos principais jornais da época, um manifesto aos desportistas pernambucanos os motivos do abandono, denunciaram a existência de um plano onde os quatro clubes apoiados pela LPDT e ela própria, queriam colocá-los à margem da política interna da entidade e anunciaram a criação da Associação Pernambucana de Esportes Atléticos (APEA), um campeonato formado pelos três dissidentes e outras equipes suburbanas do Recife.

Pelo Jornal do Commercio, do dia 1º de Janeiro, a LPDT publicou nota oficial, dando sua versão sobre a cisão havida. Explicava a nota que tudo fora feito para evitar a crise e acrescentava ainda que o Sport Recife e o América, haviam lançado mão de todos os processos para obterem maioria no novo corpo dirigente e que o Peres era um clube falido. A nota original dizia o seguinte:

Conseqüência funesta, da paixão extremada do clubismo e do desejo infortunado da prepotência de certos elementos no seio de uma coletividade determinante. Processos ínvios e, às vezes, nefastos, declararam, solenemente, no dia da eleição, conforme constatava da ata, que seus clubes não aceitariam nenhum cargo eletivo de modo peremptório. Quanto ao Peres, é um clube em situação irregularíssima, sem sede, sem time, tecnicamente incapaz, que não sofreu admoestação da Liga, em sua agonia lenta de dois anos, cujo sopro de vida no Conselho apenas existia, mercê do oxigênio que lhe soprava o Sport, para dar-se ao luxo de ter representante em duplicata.

O Governador do Estado, na ocasião, Sérgio Loreto, que era um grande desportista e outras autoridades da sociedade recifense, tentaram sem êxito, contornar a crise.

Enquanto isso, a APEA, organizava seus jogos para serem disputados nos mesmos horários dos jogos da Liga. Sendo assim, o público ficou dividido e a LPDT sofreu grande prejuízo. O curioso de tudo isto, é que o Sport Recife parecia está bastante abalado com a crise, o tricampeão pernambucano estreou contra o fraco Israelita e perdeu por 4 a 1. 

Indiferente aos acontecimentos e das ausências  dos papões de títulos, o Torre tratou logo de  fortalecer-se, trouxe do Sport Recife, um dos melhores atacantes da região, o artilheiro Péricles. O Madeira Rubra já contava com um dos melhores goleiros de Pernambuco, Valença, titular absoluto em diversas convocações da Seleção Pernambucana. O Torre não queria cometer o mesmo erro do ano anterior, quando perdeu o título por apenas um ponto de diferença do Sport Recife.

O Torre começou o campeonato atropelando o Centro Sportivo Pernambucano e o Flamengo, depois, dois tropeços, empatou com o Náutico e perdeu para o Santa Cruz. No returno (jogos de volta), O Sport Recife e o América retornaram a Liga, após muita briga de bastidores e sob o protesto indignado do presidente do Peres, João Duarte Dias, que os tachou de traidores. Na verdade, o Peres só não acompanhou os rubro negros e os esmeraldinos porque estava muito magoado com o presidente da LPDT, que na nota supracitada, publicada no Jornal do Commercio, deixou seu clube mais raso do que o chão. O América estreou em 18 de Julho, contra o C.S. Pernambucano e venceu num jogo de muitos gols: 6 a 4. Já o Sport Recife estreou em grande estilo, em 8 de Agosto, contra  o Equador e aplicou a maior goleada do campeonato: 9 a 0.

Dando sequência, o Torre venceu novamente o C.S. Pernambucano, depois perdeu para o Flamengo, mais recuperou os pontos, devido o Flamengo haver escalado irregularmente o gringo Fritz Dieffenbacker. Depois, venceu o Sport Recife e o Equador, empatou com o Santa Cruz, seu mais forte adversário. Depois deste jogo, o Madeira rubra venceu bem o Náutico e veio a consolidar definitivamente seu inédito título de Campeão Pernambucano, no dia 2 de Janeiro de 1927, no Campo dos Aflitos, contra o poderoso América, quando o venceu pelo placar de 2 a 0, gols de Péricles e Piaba. O árbitro da partida foi o dirigente do Santa Cruz, Carlos Rios, arranjado de última hora para arbitrar o jogo, uma vez que o escalado, Renato Silveira, que também era dirigente ( Sport Recife) não compareceu. O Madeira Rubra foi campeão com: Valença; Filuca e Pedro Barreto; Aquino, Hermes e Dantas; Osvaldo, Piaba, Péricles e Chiquito. A campanha vitoriosa do Torre Sport Club, foi a seguinte: Oito vitórias, sendo uma no tapetão (na derrota para o Flamengo), dois empates e uma derrota

O Campeonato Pernambucano de 1926, teve quatro jogos decididos por WO (resultado conquistado, quando apenas uma equipe entra em campo para disputar uma partida), dois jogos ganhos no tribunal desportivo e como já vimos antes, três equipes abandonaram o campeonato. E teve também, a única participação do Centro Sportivo Pernambucano, em Campeonatos Pernambucanos. Um campeonato realmente marcado pela bagunça e politicagem.

Jogos ganhos por WO:  C.S.Pernambucano w x o Sport Recife; Santa Cruz w x o Sport Recife; C.S.Pernambucano w x o Flamengo e Sport Recife w x o Flamengo.

Jogos decididos no tapetão: Flamengo 1 x 0 Torre ( Torre ganhou os pontos); Flamengo 3 x 3 Santa Cruz (Santa Cruz ganhou os pontos).

As surpresas: Flamengo 3 x 2 Santa Cruz; Torre 3 x 1 Sport; Santa Cruz 0 x 0 C.S.Pernambucano e Torre 3 x 1 Náutico.

As grandes goleadas: Sport Recife 9 x 0 Equador; Náutico 6 x 0 C.S.Pernambucano; América 6 x 4 C.S.Pernambucano e C.S.Pernambucano 4 x 0 Equador.

Os clássicos: 9/5- Náutico 3 x 0 Santa Cruz; 25/7- América 1 x 0 Santa Cruz; 10/10- Santa Cruz 1 x 0 Náutico; 7/11- Sport Recife 5 x 0 Náutico; 21/11- América 1 x 2 Sport Recife; 12/12- Náutico 4 x 3 América e em 19/12- O Santa Cruz venceu o Sport Recife por WO.

A campanha do Torre: 2/5- Torre 2 x 0 C.S.Pernambucano; 13/5- Torre 1 x 0 Flamengo; 23/5- Náutico 1 x 1 Torre; 6/6- Santa Cruz 1 x 0 Torre; 11/7- Torre 2 x 1 C.S.Pernambucano; 1/8- Flamengo 1 x 0 Torre (o Torre ganhou os pontos no tribunal desportivo); 17/10- Torre 3 x 1 Sport Recife; 14/11- Torre 2 x 0 Equador; 5/12- Torre 1 x 1 Santa Cruz; 19/12- Torre 3 x 1 Náutico e em 2/1/27- Torre 2 x 0 América.

O Artilheiro do Campeonato: Não há registro.

O JOGO DO TÍTULO:

Torre 2 x 0 América
Local: Aflitos
Data: 2/1/1927
Arbitro: Carlos Rios
Público e renda: na época ainda não divulgavam.
Gols: Chiquito e Hermes.
O Torre venceu com: Valença; Filuca e Barreto; Aquino, Hermes e Dantas; Osvaldo, Piaba, Péricles, Antônio e Chiquito. O América perdeu com: Nozinho; Leça e Baby; Casado, Miguel e Deoclécio; Lapa, Halph, Vieira, Eric e Siza.

A Seleção do Campeonato:
Goleiro: Nozinho (América)
Zagueiro: Pedro Sá (Flamengo)
Zagueiro: Heleno (Náutico)
Lateral-Direito: Tancredo (Santa Cruz)
Lateral-Esquerdo: Hermes (Torre)
Volante: Euclides (Náutico)
Meia: Osvaldo (Torre)
Meia: Limão (Náutico)
Atacante: Sebastião (Santa Cruz)
Atacante: Roberto (Flamengo)
Atacante: Napoleão (Torre)
Escudo do Torre

Classificação final do Campeonato:
Torre- 18 pontos
Náutico- 15 pontos
Santa Cruz- 13 pontos
Sport Recife- 8 pontos (saldo de gols: 13)
América- 8 pontos (saldo de gols: 1)
C.S.Pernambucano- 7 pontos
Flamengo- 4 pontos
Equador- 3 pontos.

Outros campeões estaduais de 1926: Em São Paulo, houve dois campeões, o Palestra Itália pela APEA e o Paulistano pela LAF. No Rio de Janeiro, o São Cristovão da capital foi o campeão. Em Minas Gerais também houve dois campeões: o Atlético Mineiro pela LMDT e o Palestra Itália pela AMET. No Rio Grande do Sul, o Grêmio sagrou-se campeão. No Paraná, o Palestra Itália da capital foi o campeão. No Ceará, o Fortaleza conquistou o titulo. Na Bahia, o Botafogo da capital levantou o troféu, e no Pará, o Remo sagrou-se bicampeão paraense

CENAS DO CAMPEONATO PERNAMBUCANO DE 1926

A equipe do Náutico, na final contra o Torre. O time alvirrubro chega pela primeira vez numa final de Campeonato.

Santa Cruz ficou na 3ª colocação
Centro Sportivo Pernambucano foi o 6º colocado

O Flamengo que foi campeão em 1915, ficou em sétimo.
As antigas bilheterias do Clube Náutico Capibaribe em 1926, com seus torcedores de ternos, paletós, chapéus e muitos com bengalas.
O Campo dos Aflitos, em dia de jogo importante. Não tinha arquibancadas, nem alambrados, os torcedores ficavam a margem do campo, separados por uma cerca.
O charme das mulheres com seus vestidos longos, chapéus, luvas, colares e bolsas. Os homens com seus ternos, chapéus e bengalas. A elegância dos torcedores nos anos 20, do século XX. Esta foto foi tirada no Campo dos Aflitos/1926.
 O goleiro Valença do Torre, de pernas cruzadas, juntamente com o arqueiro do Náutico, no dia da final de 1926, no Campo dos Aflitos, em 2/1/1927.
Aspecto do jogo do Santa Cruz 3 x 3 Flamengo do Recife, no Campo dos Aflitos.

Por: Jânio Odon de Alencar
Fonte: Arquivo pessoal, Diário de Pernambuco, Revista da Cidade/Fundaj, Wikipédia e do livro "História do futebol em Pernambuco" do jornalista Givanildo Alves, editora Bagaço.





Um comentário:

  1. Caro Jânio, meu nome é Reinhard Allan Santos, sou o idealizador/pesquisador do LIVRO ILUSTRADO SOMOS TODOS TIMBUS, que é um álbum de figurinhas sobre os 120 anos do Clube Náutico Capibaribe. Gostaria de saber se as fotos referentes ao NÁUTICO utilizadas no post de domingo, 26 de fevereiro de 2012 são tuas? Se não, gostaria de saber onde as obtivesse, pois eu gostaria de utilizar algumas, principalmente os flagrantes de jogos no antigo campo do Náutico. Por favor entre em contato comigo pelo número (81) 99406.2945 que é WthasApp ou pelo allanrhass@hotmail.com. Grato pelo atenção, Reinhard Allan Santos.

    ResponderExcluir