segunda-feira, 23 de abril de 2012

Paul MacCartney encanta os pernambucanos em sua despedida do Recife

Paul MacCartney, muito profissionalismo num show histórico no Recife./DP 



Na noite do domingo, Paul McCartney poderia muito bem repetir o mesmíssimo show do sábado no Arruda – e teria sido igualmente espetacular. Mas não: o jovial artista de 69 anos – completa sete décadas em junho – conseguiu se superar em carisma. Pelo visto, foi se informar mais sobre a cultura pernambucana e homenageou o maior músico do estado (do Brasil?): “Salve a terra de Luiz Gonzaga”, fez questão de dizer. Sabendo do orgulho que o pernambucano tem da sua terra, tratou de adular nosso ego com mais gírias daqui. Adicionou “cabra da peste”, “oxente” e “pronto”, ao seu já conhecido “povo arretado”. Mais uma vez envergou a bandeira pernambucana – e, como que para ser diplomático, desta vez exibiu também a bandeira do Brasil no palco.

O repertório seguiu o mesmo roteiro da noite anterior, com três exceções. Na abertura, Hello, goodbye substituiu Magical mistery tour; Got to get you into my life deu vez para Drive my car e, no último bis, Helter skelter, uma das canções mais “pesadas” dos Beatles, foi substituída pelo ié-ié-ié I saw her standing there, canção que abre Please, please me (1963), primeiro disco de estúdio dos Beatles. As três mudanças deixaram o show levemente mais nostálgico e dançante.

Paul McCartney também parecia menos incomodado com o calor, ainda que tenha deixado o palco com a camisa tão ensopada quanto no dia anterior. Mas, para quem já gravou um disco na Nigéria (Band on the run, o melhor disco da sua fase com a Wings), o calor nordestino não deve ter sido algo inédito.
Paul MacCartney demonstrou muita simpatia e agradeceu aos pernambucanos com a bandeira do Estado/DP 

Das repetições, há as frases de introdução aos momentos em que lembra seus amores e seus mortos. Como nas dedicatórias às suas mulheres: My valentine para nova e “belíssima” esposa Nancy, com quem se casou no ano passado, e Maybe I’m amazed, uma das muitas canções que compôs para Linda, falecida em 1998, sua companheira por quase 30 anos, mãe de três dos seus quatro filhos (a caçula, Beatrice, é fruto do desastroso casamento com a ex-modelo Heather Mills). Homenageou o “parceiro” John Lennon com Here today e George Harrison com Something. Tudo dito em um bom português, “filado” de papeis colados no chão do palco.

Mais do que um show, a presença de Paul McCartney no Recife foi uma ratificação da importância do estado – até poucas semanas, a vinda dele pra cá era logo descartada com a descrença de que não passava de mais um caso de megalomania pernambucana. Em termos de estrutura, há muito, muito, muito o que se melhorar – só com muita boa vontade pode se considerar o Arruda um local para mega-shows - mas, se Paul McCartney já veio para o Recife, nada impede que outros grandes artistas possam seguir o mesmo caminho. Agora, o céu é o limite.

A Banda – Os músicos que acompanham Paul não foram formalmente apresentados ao público – Paul apenas cita os primeiros nomes de cada um no final do show. Os mais novos já têm dez anos na banda. São eles: Abe Laboriel Jr, baterista que mostrou seus movimentos de dança; Paul ‘Wix’ Wickens, diretor musical e tecladista que acompanha Paul desde 1989 e também já tocou com Bob Dylan; o guitarrista californiano Rusty Anderson, que leva uma carreira solo paralela; e Brian Ray, guitarrista e baixista com visual à la Steven Tyler que tem um longo currículo de serviços prestados ao pop rock e ao R&B: de Shakira a Etta James.

Público – Durante o domingo, o Twitter e o Facebook se encheram de comentários sobre a cobertura do show de sábado. Parte da imprensa nacional entendeu que o público recifense não correspondeu à altura do entusiasmo de Paul. Exagero. Se o grosso da plateia não sabia cantar todas as músicas – o que, de fato, não foi lá o ponto forte de nenhuma das noites, salvo em hits como Hey Jude e Let it be –, ela estava tão disposta a se divertir quanto Paul. E conseguiu. Obviamente, com o ineditismo e importância histórica para o Nordeste, o show reuniu muita gente que não era lá tão fã dos Beatles/ Paul McCartney. Mas os fanáticos estavam lá, quase tão numerosos quanto.
Os mais xiitas podem acreditar que as mais de 90 mil pessoas que compareceram aos dois dias (55 mil no sábado; 35 mil no domingo) deveriam se comportar  todas com igual devoção e conhecimento em relação a Paul. Quem foi porque era fã, certamente conseguiu reverenciar seu ídolo. Para aqueles que foram pela grandiosidade do espetáculo, foi uma noite memorável – e certamente Sir Paul se despede tendo conquistado mais um bocado de novos seguidores. Ao final do show do domingo, deu a todos um traço de esperança: disse “Até a próxima”.

Fãs no palco – “Ele é tão branco!”, exclamou o estudante Rafael Borba, de 11 anos, ao falar de sua primeira impressão ao ficar cara a cara com Paul McCartney no palco. Filho do médico Hermilo Borba, Rafael já nasceu um beatlemaníaco. Pai e filho foram escolhidos por Paul para subir ao palco, já no bis. “Ele chama as pessoas que levam faixas e eu fiz uma dizendo que ele só convidava garotas e devia chamar um pai e filho agora”, comentou Hermilo, que pediu para Paul autografar um pôster e o programa da turnê. Cara a cara com Paul, Rafael perguntou quando ele ia voltar para Recife. O ídolo ficou calado.

Quem também subiu no palco foi  a brasiliense Cecília, que pediu um autógrafo no braço. “Vou tentar tatuar. O problema é que eu volto amanhã (hoje) cedo e não sei se a tinta do hidrocor vai aguentar até lá”, disse a fã. antes de escrever, Paul fez a mesma piada da noite anterior: “Sua mãe sabe disso?”.

Por: Carolina Santos/ Diário de Pernambuco

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