quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Super fã da Periferia

Gercino Castro Alves e sua coleção de Elvis. Foto: Eudes Santana/JC- 1993.

Na comunidade muitos o consideravam excêntrico demais, mais na verdade meu amigo Gercino era apenas diferente, não tinha vergonha de demonstrar o que realmente gostava. Enquanto a comunidade do Alto Santa Terezinha, periferia da zona norte do Recife curtiam merengues de Bienvenido Granda, os bregas de Bartô Galeno, Evaldo Braga, Adilson Ramos entre outros, Gercino curtia o rock de Elvis Presley, a música romântica de Júlio Iglesias, além de curtir artes marciais, sendo também grande fã de Bruce Lee, onde tinha grande acervo da obra do ídolo. Gercino chegou a viajar ao interior de São Paulo, para aprender o kung fu, adquirindo grande conhecimento. De retorno ao Alto Santa Terezinha, onde residia na rua Arabari, ele fazia demonstrações em via pública do kung fu, todos o consideravam um louco, mais Gercino não se importava, o que ele queria mesmo era mostrar o que havia aprendido a todos. Gercino tornou-se um personagem conhecido na comunidade, dono de um preparo físico invejável capaz de descer e subir o Alto correndo, acompanhado pela garotada que via nele uma referência.

Em 15 de maio de 1993, o Jornal do Commercio do Recife publicou a seguinte matéria dedicada a Gercino como grande fã do Rei do Rock:

Fã de Elvis Presley coleciona discos e lembranças do ídolo

“ Ele é do tempo em que a moda era amar os Beatles e os Rolling Stones. Mas não esqueceu de venerar o ídolo maior de toda uma geração: Elvis Presley. O desenhista Gercino de Castro Alves, 29 anos, morador do Alto Santa Terezinha, tem uma das maiores coleções do cantor norte-americano, morto em agosto de 1977. “ Sou um desses fãs que valoriza a figura do ídolo, por causa disso não curto a fase de Elvis perto dele morrer, depois dos 40 anos. Ele estava em decadência”, diz com propriedade, mesmo que na época ele só tivesse 13 anos. “ É colecionando tudo sobre o ídolo que a gente aprende tudo”, afirma.

A idolatria foi tanta que em casa todos foram vencidos pelo cansaço, do ouvido pelo menos. “ A gente ouvia Elvis do começo ao fim do dia. Não teve jeito de ignorar”, conta Manoel Alves, pai de Gercino, que trocou grande parte da coleção dos Beatles pela de Elvis, principalmente material importado.
A casa simples do Alto abriga uma invejável coleção para uma família humilde, que certamente teria mais com o que gastar dinheiro. “ Alguns sacrifícios não têm explicação”, diz Gercino. A coleção inclui entre filmes e discos, mas de 50 títulos, além de revistas especializadas e recortes de jornais de várias parte do país e do mundo.

Gercino garante que não gosta de ser chamado de Elvis. “Sou apenas um fâ e não posso ficar usando a imagem dele. Não estaria certo”, afirma. Mesmo assim, por algum tempo, foi coreógrafo de Denny Michel, o mais conhecido dublê de Elvis no Recife. “ Eu até poderia ganhar dinheiro ensinando os modos que Elvis dançava e algumas coisas mais, só que sou um pouco egoísta nesse sentido. Prefiro saber sozinho. No máximo gosto de conversar sobre a história dele”.

Essas conversas já foram mais freqüentes, em especial quandos os aficcionados se reuniam na banca de revista do Elvis, na Rua do Imperador, no centro do Recife. A coleção de Gercino é a maior da região e só perde para uma do Janga (bairro de Olinda). “A minha só não é maior porque vendi alguns discos e troquei , numa época em que estava meio desistimulado, logo depois da morte de Elvis. Passei um ano me dedicando às artes marciais, seguindo Bruce Lee”, lembra. “ Acho que adquiri alguns traços da personalidade de Elvis, que sempre fugia de alguns problemas, mas no final voltava a si”, diz. Interessante é que Gercino compara o estilo de Elvis, hoje, ao que Julio Iglesias, Roberto CarlosReginaldo Rossi fazem. “ É uma pena, mas é o que ficou do estilo universal dele”.
Atualmente (2011), Gercino reside em Fortaleza e é pai de quatro filhos.

Por: Jânio Odon de Alencar

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