Ademir Menezes, do Fluminense, ladeado por José Medicis e José Lourenço (Zé Meira), ambos do Sport Recife. Foto: Revista Campeão/Recife.
Os
clubes cariocas sempre que estiveram em Pernambuco, desde a fase amadora até a
fase do profissionalismo, como o América (1915), Botafogo (1919), Flamengo
(1925, 1941, 1942 e 1946), Vasco da Gama (em Caruaru, 1936) e Fluminense (1946),
sempre atraíram excelentes públicos e gozavam de bastante prestígio. Em 1947,
há apenas três anos do início da Copa do Mundo, no Brasil. O presidente do
Sport Recife, José Médicis entrou em contato com as diretorias do Flamengo e Fluminense
para a realização de um torneio no campo da Ilha do Retiro, onde participariam
ainda, o próprio Sport Recife e o Santa Cruz, e aconteceria o inédito Fla-Flu.
A cota cobrada pelas equipes cariocas de Cr$ 40.000,00 (quarenta mil cruzeiros)
por jogo, fora passagens e hospedagens.
José
Médicis considerou o valor muito alto e pensou em desistir. Por outro
lado, o diretor do Sport Recife, Álvaro Gonçalves, pediu ao presidente um pouco
de tempo, até ele falar com Zé Meira (José Lourenço Meira de Vasconcelos),
conselheiro do clube e muito entusiasmado com grandes eventos esportivos. Zé
Meira, assim que tomou conhecimento da intenção de José Médicis, logo o
procurou e pediu ao presidente que confirmasse com os cariocas a participação
deles no torneio, pois ele, assumiria toda responsabilidade em caso de fracasso.
Pediu apenas ao presidente, que a cota do Sport Recife fosse estipulado por
ele. Animado, José médicis logo ligou para a direção dos clubes cariocas e
acertou todos os detalhes da excursão ao Recife.
Orlando "Pingo de Ouro" (centro) ex-náutico e o presidente do Sport, José Medicis (direita). Foto: Revista Campeão/Reclfe
Para
fazer face às despesas iniciais, Zé Meira precisava, no mínimo, na mão, de 50
mil cruzeiros. Procurou um gerente de banco que era seu amigo, em busca do
dinheiro. Propôs ao gerente, um terreno como garantia, mas o gerente não
aceitou, alegando que acreditava no êxito do torneio. Com o dinheiro na mão, Zé
Meira procurou Haroldo Praça, ex-jogador do Sport, que na ocasião, era cronista
esportivo dos mais conceituados. O apoio da imprensa era imprescindível e
Haroldo Praça, grande amigo de Zé Meira, fez grande divulgação nas verdes
páginas da Folha da Manhã: “Fla-Flu no Recife”. Além da Folha da Manhã, todos
os jornais do Recife, promoveram a divulgação da tabela com todos os jogos.
No
dia 3 de julho de 1947, quinta-feira, às 16h45, o Douglas das Linhas Aéreas
Paulistas aterrissava no Aeroporto do Ibura, Recife. Chegava a delegação do
Flamengo, ante os olhares curiosos de centenas de torcedores e muitos
repórteres. A delegação carioca veio assim formada: o presidente, Francisco
Abreu; o médico, Ibsen Martins; o técnico, Ernesto Santos; o árbitro, Geraldo
Fernandes; o massagista, Jonhson; e os seguintes jogadores- Luiz Borracha,
Newton, Norival, Biguá, Bria, Jaime, Adilson, Zizinho, Pirilo, Jair, Vevé,
Perácio, Tião, Jerval, Tarzan, Serafim, Francisco, Miguel e Jacir.
Ostentando
o título de Supercampeão Carioca de 1946, e trazendo em sua delegação os
pernambucanos Ademir Menezes, ex-Sport Recife, e Orlando “Pingo de Ouro”,
ex-Náutico, o Fluminense chegou ao Recife na sexta-feira, 11 de julho, viajando
pelas Linhas Aéreas Brasileiras. Acompanhando vieram os jornalistas Ary
Barroso, José Scassa e Antônio Maria (este pernambucano), para cobrir os jogos
para Rádio Tupy.
Os
jornais deram grande destaque à presença dos tricolores carioca, enchendo suas
páginas esportivas de fotos do time descendo do avião e, sobretudo, dos craques
pernambucanos. No sábado, logo pela manhã, era grande o movimento na estação
ferroviária com a chegada de trens especiais do interior do Estado. Todos os
hotéis ficaram lotados. No domingo, 13 de julho, dia do sensacional encontro, o
povo começou a chegar à frente do estádio do Sport Recife por volta das 09h00
da manhã. Progressivamente o público foi aumentando e, quando deu meio-dia, a
Praça da Bandeira estava intransitável. As longas filas de carros começavam na
tradicional rua Benfica e terminava no bairro da Madalena. Eram vistos carros
com placas de Fortaleza, Natal, Maceió e até de Salvador. Às 13h00, todas as
dependências do estádio da Ilha do Retiro estavam lotadas e os portões foram
fechados duas horas antes do início do jogo por medida de segurança.
Enquanto
isso, Zé Meira, o homem que avalizou o evento, deixava sua residência no bairro
de Piedade, o tempo estava nublado e chuvoso. Zé Meira fazia preces para que a
chuva parasse e disse:
-
Estou perdido.
Com
o olhar tristonho diante daquela chuva intensa e o vento forte que dobravam as
folhas dos coqueiros. Acompanhado da mulher, Zé Meira pegou o carro e saiu em velocidade. Ao
atravessar a ponte do Pina, respirou aliviado. Aquela chuva forte tinha ficado
para trás. Não havia caído nenhuma gota d`água após a ponte. Quando Zé Meira
viu a Ilha do Retiro superlotada, sua alegria transbordou num sorriso largo.
Foi para Tribuna de Honra e, sorridente, cumprimentava todos. Passados alguns
minutos, vieram lhe comunicar que ainda tinha muita gente do lado de fora que
não tinha dinheiro para entrar.
-
Abra os portões, o futebol é do povo. Determinou.
O
JOGO- Os jogadores do Flamengo entraram em campo com bandeirinhas do Santa Cruz
e Sport Recife na tentativa de conquistar a torcida. Pois, o Fluminense contava
com dois jogadores pernambucanos, além do mais, o rubro-negro carioca tinha as
cores do Sport Recife, fazendo com isso, que a maioria da torcida do Santa Cruz
torcesse pelo Flu. Mas o Flamengo tinha a seu favor boa parte da torcida vinda
de outros Estados e também tinha muitos simpatizantes no Recife. Tudo era
festa, as duas equipes foram bastantes aplaudidas ao entrarem no gramado da
Ilha. Em seguida, o árbitro Sherlock chamou os capitães, Ademir Menezes, do Flu
e Jaime, pelo Fla, após as recomendações de praxe, o prefeito do Recife, Clóvis
Castro, deu o pontapé inicial.
Foi
uma partida mais de exibição do que de competição, cada jogador procurava
mostrar suas qualidades técnicas, com muito toque de bola no meio de campo. O
empate de 1 a
1 refletiu fielmente a igualdade que existiu dentro de campo. O primeiro gol do
jogo, foi do Fluminense, aconteceu aos 11 minutos do primeiro tempo. O zagueiro
Newton, do Flamengo, tenta rebater a bola da defesa, a bola sobra para Simões
que chuta de fora da área, sem chance de defesa para o goleiro Luiz Borracha. O
Flamengo empatou aos 38 minutos do segundo tempo, Perácio recebeu um lançamento
pelo alto e fez de cabeça o gol de
empate.
O Flamengo na Ilha do Retiro, (E/D): Norival, Luiz Borracha, Newton, Biguá, Bria e Jaime; (agachados): Adilson, Tião, Pirilo, Jair e Vevé. Foto: Museu do Esporte
Ficha
técnica
Flamengo
1 x 1 Fluminense
Data:
Domingo, 13/7/1947
Local:
Ilha do Retiro
Árbitro:
Argemiro Félix (Sherlock) PE
Público:
na época não se divulgava.
Renda:
Cr$ 4.252.600,00 (Recorde no Nordeste)
Flamengo
jogou com: Luiz Borracha; Newton e Norival; Biguá, Bria e Jaime; Adilson, Tião,
(Perácio), Pirilo, Jair e Vevé.
Fluminense
jogou com: Robertinho; Haroldo e Gualter; Pascoal (Berascochea), Telesca e
Bigode; Pedro Amorim, Ademir Menezes, Simões, Orlando e Rodrigues.
OS
OUTROS JOGOS:
Sport
Recife 1 x 5 Flamengo-RJ
Data:
6/7/1947- Domingo
Local:
Ilha do Retiro
Árbitro:
Geraldo Fernandes
Público:
não divulgado
Renda:
Cr$ 89.590,00
Gols:
Zizinho, Pirilo e Jair, para o Flamengo, no 1º tempo, e Pirilo (2) e Amorim fez
o gol de honra, para o Sport.
O
Sport Recife perdeu com: Manuelzinho; Chicão e Zago; Vavá, Alheiros e Arnaldo;
Carmelo, Zildo, Amorim, Dega (Correia) e Valfredo.
O
Flamengo venceu com: Luiz Borracha; Newton (Miguel) e Norival; Jacir, Bria
(Francisco) e Jaime; Adilson, Zizinho (Jerval), Pirilo, Jair (Perácio) e Vevé.
Santa
Cruz 1 x 1 Flamengo-RJ
Data:
10/7/1947- quinta-feira
Local:
Ilha do Retiro
Árbitro:
Geraldo Fernandes
Público:
não divulgado
Renda:
Cr$ 84.006,00
Gols:
Elói (Sta) e Zizinho (Fla)
O
Santa Cruz jogou com: Rubens; Salvador e Pedrinho; Laerte, Capuco e Rubinho;
Guaberinha, Galego, Elói, Pardi e Siduca.
O
Flamengo jogou com: Luiz Borracha; Newton e Norival; Biguá, Bria e Jaime;
Adilson, Zizinho, Pirilo, Jair e Tião.
Curiosidade:
O gol de Zizinho foi com a mão, isso provocou uma paralização de 10 minutos,
pois, a direção do Santa Cruz ameaçou tirar o time de campo, mas a pedido de Zé
Meira, o jogo seguiu até o final. Em virtude deste resultado, a cota do
tricolor pernambucano passou de 8 mil para 12 mil cruzeiros. O presidente do
Santa Cruz, Edgar Beltrão presenteou o jornalista e ex-jogador do Sport,
Haroldo Praça com um anel de ouro, pela divulgação do jogo no Diário da Manhã e
pela sua previsão de que a renda seria boa, mesmo com o comercio aberto.
Sport
Recife 1 x 2 Fluminense-RJ
Data:
16/7/1947- quinta-feira
Local:
Ilha do Retiro
Árbitro:
Batista da Conceição
Público:
não divulgado
Renda:
Cr$ 36.300,00
Gols:
Berascochea e Rodrigues para o Flu e Amorim, para o Sport.
O
Sport Recife perdeu com: Manuelzinho; Alheiros (Zai) e Zago; Vavá, Correia e
Arnaldo, Carmelo, Zildo, Amorim, Dega e Valfredo.
O
Fluminense venceu com: Darcy; Ismael e Hérvio; Berascochea, Pé de Valsa e
Bigode; Osvaldinho (Simões), Ademir Menezes, Juvenal, Orlando e Rodrigues.
Curiosidade:
Ademir Menezes foi homenageado pela direção do Sport Recife, recebendo o título
de sócio benemérito, pela vitoriosa excursão feita pela delegação leonina ao
sul do país em 1941, onde Ademir foi a grande revelação.
Santa
Cruz 3 x 6 Fluminense-RJ
Data:
20/7/1947- Domingo
Local:
Ilha do Retiro
Árbitro:
Argemiro Félix (Sherlock)
Público:
não divulgado
Renda:
Cr$ 80.610,00
Gols:
Ademir Menezes (4), Juvenal e Rodrigues, para o Flu; Laerte e Galego (2).
O
Santa Cruz perdeu com: Rubens; Zago e Salvador; Laerte, Capuco e Rubinho;
Guaberinha (Sancho), Galego, Elói, Pardi (Pitota) e Siduca.
O
Fluminense ganhou com: Robertinho (Darcy); Berascochea e Haroldo; Pascoal,
Telesca (Pé de Valsa) e Bigode (Ismael); Pedro Amorim, Ademir Menezes, Simões
(Juvenal), Orlando e Rodrigues.
* Em
1947, o campeão carioca foi o Vasco da Gama e o Botafogo ficou como vice.
Por:
Jânio Odon de Alencar
Fonte:
Diário de Pernambuco e Livro “História do futebol em Pernambuco”, de Givanildo
Alves, editora bagaço.
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