quarta-feira, 22 de julho de 2015

A subsistência holandesa durante a ocupação em Pernambuco

Aspecto de engenho de açucar durante a ocupação holandesa. Pintura de Frans Post (1648)

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Ao contrário dos portugueses, que encontraram uma cultura ameríndia e dela tiraram proveito na adaptação da vida nos trópicos, os holandeses, em sua maioria oriundos das cidades, vieram  a sofrer  de uma total falta de meios de subsistência, o que tornou impossível a preservação de vida na colônia.
Primeiramente, entregaram aos pernambucanos os engenhos de açúcar, centro de produção localizados na área rural, perdendo assim o controle sobre o principal produto da pauta de exportação. Nesse ponto a Companhia das Índias Ocidentais que financiou a invasão holandesa a Pernambuco, falhou redondamente, ao reduzir ao seu papel a simples intermediária do comércio do açúcar e detentora do monopólio do trafico de escravos da costa africana, acrescido da cobrança de impostos e tributos sobre a propriedade e a produção de bens.

Observa José Antônio Gonsalves de Mello que “a exploração pura e simples das terras e da gente, a venalidade dos seus prepostos e a inépcia dos seus dirigentes levaram-na à ruina”.

No Brasil os holandeses continuaram a viver com os mesmos hábitos da Holanda. De lá vinha tudo, até o necessário e o indispensável à subsistência: a carne de boi e de carneiro salgada, toucinho, presunto, língua, salmão, bacalhau, peixe seco, biscoitos, arenque, farinha de trigo, vinhos da Espanha, aguardente de uva, vinhos franceses do Reno, cerveja (birra), queijos diversos, manteiga, azeite, passas de Corinto, azeitonas, alcaparras, amêndoas e, sobretudo, farinha de trigo.

Até a alimentação do corpo de tropas era dependente dos produtos importados. Para os soldados era solicitado que viesse da Holanda produtos como aveia, feijão, ervilhas, carne salgada, bacalhau, peixe seco, cerveja, vinho da Espanha, vinho forte francês, arroz, favas turcas, milho, cevada, passas e farinha de trigo. Tal dieta, na qual predominam o álcool, as conservas e o sal, veio contribuir para a derrota das tropas da Companhia nas duas batalhas dos montes Guararapes.
Nada de frutas, verduras, batatas, legumes, raízes, caules e produtos à base da mandioca, como a farinha-de-pau, e outras culturas da terra, utilizadas à larga na alimentação dos portugueses, ameríndios e negros escravos.
 Holandeses negociam com prostitutas. Pintura de Jonhannes Vermeer (século XVII).

Até para a satisfação do apetite sexual dos flamengos, não muito dados a erotismo, vieram da Holanda um considerável número de prostitutas, como as que habitavam os sobrados da Rua do Vinho, paralela à Rua dos Judeus, onde se localizavam “os mais vis bordéis do mundo”.
Também da Holanda para cá foram trazidos gatos (para combater a incontrolável população de ratos), gansos, patos e porcos, além de cães ingleses empregados na captura de índios, negros fugidos e insurretos pernambucanos.

Para indústria da construção de casas foram importadas vigas de madeira, tábuas, azulejos de Delft, tijolos da Frísia e até casas pré-moldadas.
Também do exterior provinham os tecidos do vestuário dos holandeses – linhos, brocados, veludos, damascos, sedas, etc., que chegavam nos navios juntamente com sapatos ingleses, selas de montaria, marfim, e o ouro da Guiné, pau-de-rede de Angola, especiarias da Índia, madeiras do Báltico, couros da Rússia, chapéus, plumas e tudo o que se podia comprar com os florins resultantes da venda do açúcar dos engenhos pernambucanos.

Por: Jânio Odon
Fonte: Texto de Leonardo Dantas Silva – “Diferenças Sociais do Brasil Holandês”. Postado na Revista Continente Multicultural, ano-2, Nº 21, setembro/2002.


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