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Ao contrário dos portugueses, que
encontraram uma cultura ameríndia e dela tiraram proveito na adaptação da vida
nos trópicos, os holandeses, em sua maioria oriundos das cidades, vieram a sofrer
de uma total falta de meios de subsistência, o que tornou impossível a
preservação de vida na colônia.
Primeiramente, entregaram aos
pernambucanos os engenhos de açúcar, centro de produção localizados na área
rural, perdendo assim o controle sobre o principal produto da pauta de
exportação. Nesse ponto a Companhia das Índias Ocidentais que financiou a
invasão holandesa a Pernambuco, falhou redondamente, ao reduzir ao seu papel a
simples intermediária do comércio do açúcar e detentora do monopólio do trafico
de escravos da costa africana, acrescido da cobrança de impostos e tributos
sobre a propriedade e a produção de bens.
Observa José Antônio Gonsalves de
Mello que “a exploração pura e simples das terras e da gente, a venalidade dos
seus prepostos e a inépcia dos seus dirigentes levaram-na à ruina”.
No Brasil os holandeses
continuaram a viver com os mesmos hábitos da Holanda. De lá vinha tudo, até o
necessário e o indispensável à subsistência: a carne de boi e de carneiro
salgada, toucinho, presunto, língua, salmão, bacalhau, peixe seco, biscoitos,
arenque, farinha de trigo, vinhos da Espanha, aguardente de uva, vinhos
franceses do Reno, cerveja (birra), queijos diversos, manteiga, azeite, passas
de Corinto, azeitonas, alcaparras, amêndoas e, sobretudo, farinha de trigo.
Até a alimentação do corpo de
tropas era dependente dos produtos importados. Para os soldados era solicitado
que viesse da Holanda produtos como aveia, feijão, ervilhas, carne salgada,
bacalhau, peixe seco, cerveja, vinho da Espanha, vinho forte francês, arroz,
favas turcas, milho, cevada, passas e farinha de trigo. Tal dieta, na qual
predominam o álcool, as conservas e o sal, veio contribuir para a derrota das
tropas da Companhia nas duas batalhas dos montes Guararapes.
Nada de frutas, verduras,
batatas, legumes, raízes, caules e produtos à base da mandioca, como a farinha-de-pau,
e outras culturas da terra, utilizadas à larga na alimentação dos portugueses,
ameríndios e negros escravos.
Holandeses negociam com prostitutas. Pintura de Jonhannes Vermeer (século XVII).
Até para a satisfação do apetite
sexual dos flamengos, não muito dados a erotismo, vieram da Holanda um
considerável número de prostitutas, como as que habitavam os sobrados da Rua do
Vinho, paralela à Rua dos Judeus, onde se localizavam “os mais vis bordéis do
mundo”.
Também da Holanda para cá foram
trazidos gatos (para combater a incontrolável população de ratos), gansos,
patos e porcos, além de cães ingleses empregados na captura de índios, negros
fugidos e insurretos pernambucanos.
Para indústria da construção de
casas foram importadas vigas de madeira, tábuas, azulejos de Delft, tijolos da
Frísia e até casas pré-moldadas.
Também do exterior provinham os
tecidos do vestuário dos holandeses – linhos, brocados, veludos, damascos,
sedas, etc., que chegavam nos navios juntamente com sapatos ingleses, selas de
montaria, marfim, e o ouro da Guiné, pau-de-rede de Angola, especiarias da
Índia, madeiras do Báltico, couros da Rússia, chapéus, plumas e tudo o que se
podia comprar com os florins resultantes da venda do açúcar dos engenhos
pernambucanos.
Por: Jânio Odon
Fonte: Texto de Leonardo Dantas Silva – “Diferenças
Sociais do Brasil Holandês”. Postado na Revista Continente Multicultural,
ano-2, Nº 21, setembro/2002.
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