O inferno astral da Escola de Samba Gigante do Samba começou depois que
a agremiação perdeu na passarela em fevereiro de 1975, aquele que seria o
tricampeonato, para a Estudantes de São José. Para piorar, foi bastante
criticada pelo jornais, principalmente pelo Diário de Pernambuco, que teria o
samba enredo dedicado ao seu sesquicentenário e que teve o seu enredo
substituído por outro dedicado a Cidade de Olinda. A direção do Diário parece
não ter digerido a troca, isto causou uma certa mágoa e um grande desgaste
entre as partes. Tanto foi verdade, que após a divulgação da apuração dando a
vitória para a Escola de Samba Estudantes de São José, o ilustre colunista
social João Alberto em sua coluna no dito jornal não deixou de mencionar a
questão da troca do enredo, como também não poupou Gigantes pela falta de
humildade e que os diretores da escola estavam com um rei na barriga.
Para piorar ainda mais a situação,
em setembro, o compositor e carnavalesco José Jaquaré de Oliveira Araújo
(Jaquaré), de Gigante do Samba foi agredido durante os ensaios na quadra do
São Luiz Show, da Bomba do Hemetério, por policiais militares após ter tentado
defender uma pessoa ali detida. Jaquaré acusou o diretor do clube, Almir
Maranhão de ter dado apoio aos policias agressores.
Em novembro, Gigante do Samba anunciava Selma, sua nova rainha da
bateria e dispensava Ana do Alto do Pascoal, considerada a melhor rainha de
bateria de Pernambuco, segundo a diretoria da escola, ela foi dispensada por
indisciplina, mas outros, falaram que ela estava perdendo a forma fisíca e que
a agremiação quis inovar.
Mas, o fato que mais abalou a Escola Gigante do Samba, aconteceu em
abril de 1976, quando Gigantes foi despejada do São Luiz Show onde realizava os
seus ensaios todas sextas-feiras. A humilhação foi maior ainda porque sua maior
rival na época, Estudantes de São José assumiu o seu velho espaço. Gigante do
Samba penou e chegou a fazer seus ensaios no América, da Estrada do Arraial em
Casa Amarela.
O Diário de Pernambuco do dia 12 de abril de 1976, publicou o fato da
seguinte forma:
GIGANTES DO SAMBA EXPULSA DO LOCAL ONDE FAZIA SAMBA (o título)
"Em carta de três laudas, o diretor-presidente do São Luiz Show da
Bomba do Hemetério, Almir Albuquerque Maranhão, justifica porque impediu que a
Escola Gigante do Samba continuasse realizando ensaios na quadra de esportes
do clube.
Revelou que a cinco anos foi convidado para festa de lançamento da pedra
fundamental da sede de Gigante no Alto do Pascoal e, como chovia muito,
convidou o pessoal para ensaiar no São Luiz. A partir de então, os sambistas
reuniram-se e, dois anos depois, resolveram fazer uma batucada às
sextas-feiras, afinando a bateria. O negócio "pegou" e o público
prestigiou os ensaios de bateria.
O prestigiado cantor e compositor de samba Belo Xis vivenciou as glórias e os fracassos da Gigante do Samba.
DESIGUAL
Quando os ensaios tomaram forma, os diretores de Gigante do Samba
ficaram explorando a portaria, o bar e a barraca de bebidas. Dedé se encarregou
da barraca, Ivanildo Cabral do bar, Zuca e Ary ficaram com a portaria, sem no
entanto prestar contas com ninguém.
Em 1974, observando que o clube estava levando grande desvantagem com o
negócio, o diretor-presidente Almir Albuquerque Maranhão marcou reunião com
Zuca e Belo Xis, para achar uma solução viável que atendesse aos interesses das
duas agremiações quanto às despesas de luz, água, direitos-autorais, material
de expediente, enfim a manutenção da entidade. Na ocasião ficou acertado que
por cada ensaio seriam pagos Cr$ 1.000,00 (Hum mil cruzeiros) ao São Luiz Show.
O pagamento foi efetuado sem recibo ou qualquer outro documento.
BAR
Em 1975, durante a temporada carnavalesca, Almir Maranhão convocou nova
reunião com Zuca e Belo Xis e, desta vez, ficou decidido que o clube exploraria
o bar e a barraca de bebidas, obrigando-se a pagar o policiamento, o lanche dos
batuqueiros, deixando a portaria para a escola de samba. Também ficou acertado
que o clube pagaria um cachê a Zuca e Belo Xis, dependendo o movimento do bar.
No entanto, o cachê não foi pago e os dois começaram a hostilizar Almir
Maranhão, promovendo festas e mais festas, deixando a despesa para o clube,
além do que os batuqueiros causaram toda sorte de depredação, como quebra de
copos, brigando etc.
MACONHA
Antes do carnaval deste ano, Almir Maranhão foi informado que o tráfico
de maconha era grande nos ensaios de Gigantes. Reuniu a diretoria , expôs a
situação, apontando inclusive todos os envolvidos que, segundo ele, são a
maioria.
As atitudes da diretoria do São Luiz Show foram piorando, muito embora
nos últimos ensaios tenha sido arrecadada a quantia de Cr$ 150.000,00 (Cento e
cinquenta mil cruzeiros), que ninguém sabe como foi aplicada, vez que não
existe uma correta escrituração.
- Não tenho mágoas do pessoal de Gigante, reconheço que eles
contribuíram para o crescimento do São Luiz. No entanto, essa ajuda foi mútua.
Se os diretores não agiram corretamente é outro problema do qual já nos
livramos, disse Almir Maranhão. Agora quem vai ensaiar na quadra do clube de
Água Fria é a Escola Estudantes de São José, cujo presidente, Valdeck Melo, é
amigo de infância de Almir Maranhão.
DESPEJO SAIU APÓS 2 ANOS DE BATUCADA SEM PAGAMENTO
A agremiação carnavalesca Gigante do Samba foi expulsa da quadra do São
Luiz Show da Bomba do Hemetério, em Água Fria, e agora encontra-se sem lugar de
ensaio, o que poderá prejudicá-la no próximo carnaval. O São Luiz Show pertence
ao vereador Aristófanes de Andrade e a seu irmão Antônio Luis. A expulsão de
Gigante foi causada por um desentendimento entre o presidente Belo Xis e o
encarregado do São Luiz Show, Almir Maranhão.
ESTUDANTES DE SÃO JOSÉ
Gigantes perdeu na passarela para Estudantes e, agora, fica também sem
sede, que será cedida a escola de samba do bairro de São José. Sem participar da briga. Estudantes mais uma
vez se beneficia com as "cabeçadas" de Gigante.
No São Luiz Show da Bomba do Hemetério também funciona o Centro Social de Água Fria, mantido pelos
irmãos Aristófanes e Antônio Luiz Filho. O motivo da expulsão de Gigante não
foi revelado, mas sabe-se que a agremiação, após a derrota para Estudantes,
ficou em grave crise financeira.
Por: Jânio Odon/BLOG VOZES DA ZONA NORTE
Fonte: Diário de Pernambuco.
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