quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

1836- Charles Darwin repudia o Recife, Olinda e a escravidão


Aos 70 anos, Charles Darwin foi correspondente do Gabinete Português de Leitura em Pernambuco.

O naturalista inglês, autor do livro “A Origem das Espécies”, formulou a teoria da evolução das espécies, anteviu os mecanismos genéticos e fundou a biologia moderna. É considerado o pai da “Teoria da Evolução das Espécies”. A teoria de Charles Darwin, é conhecida em todo o mundo e causa furor nos meios religiosos que contrariam os conceitos da criação divina, no entanto, impulsionam os seguimentos acadêmicos e científicos a aprimorarem e intensificarem estudos mais profundos no misterioso universo da evolução e transformações dos seres vivos.

No dia 27 de dezembro de 1831, o jovem Charles Darwin embarcou em mais uma aventura rumo a América do Sul, em seu navio HMS Beagle, comandado pelo capitão Robert FritzRoy. A expedição tinha como objetivo fazer um levantamento topográfico  e cartográfico da região. A missão deveria durar aproximadamente um ano, todavia, a expedição ultrapassou os quatro anos. Neste período, Darwin, conheceu ilhas, arquipélagos, lagos, rios, florestas, montanhas em todo o continente sul-americano, extrapolando barreiras, pois, a expedição chegou até a América Central, África e a Oceania. Foram exatos, três anos e três meses em terra e um ano e seis meses no mar.


O Navio HMS Beagle da expedição de Darwin, atracou no Recife em 1836.

A expedição saiu da Inglaterra, passou por Portugal, Espanha, Chile, Taiti, Nova Zelândia, Austrália, Cidade do Cabo, depois seguiu para Salvador, na Bahia, onde Darwin passou cinco dias. Depois da estadia em Salvador, a intenção era seguir direto para Cabo Verde na África, mas os ventos fortes e contrários, obrigou Charles Darwin, que tinha apenas 27 anos, a desembarcar no Porto do Recife no dia 6 de agosto de 1836. De todos os lugares em que Darwin aportou, o que lhes deixou as mais desagradáveis impressões foram o Recife e Olinda. Em seu diário de bordo ele descreveu: “É uma cidade (Recife) de aspecto enfadonho, senão repugnante; as suas ruas são estreitas, mal calçadas e imundas; as casas altas e sombrias.

Não tendo ainda terminado a estação invernosa, acrescenta, e estando alagada toda região circunvizinha, malograram-se os meus projetos de excursões pelos arredores. Ainda assim, Darwin toma uma canoa e dirige-se a Olinda, que devido a sua posição lhe parece mais amena e asseada do que o Recife. Entretanto, ali ocorre um incidente que muito contribuiu para cimentar a animada versão do grande pensador por nossos patrícios; deixemo-lo narrar o caso e vejamos se houve realmente motivo para tão profundamente magoar-se.

Devo registrar aqui, um fato ocorrido pela primeira vez durante a nossa peregrinação de quase cinco anos, isto é, ter deparado com falta de urbanidade. Em duas casas os moradores me recusaram grosseiramente e, numa terceira me concederam com dificuldade permissão para atravessar os seus quintais em demanda duma colina inculta donde eu desejava observar a região adjacente.
Sinto-me satisfeito que isto sucedesse em terra de brasileiros, porquanto não lhes tenho boa vontade. É um país de escravidão e portanto de degradação moral”.


O jovem Charles Darwin, no auto-retrato de G. Richmond.

Doze dias depois, Charles Darwin deixa Pernambuco e publica em seu diário: “Finalmente deixamos a costa do Brasil. Espero em Deus não ter mais que visitar um país onde exista a escravidão. Ainda hoje, quando me fere o ouvido um soluçar distante, recordo com dolorosa acuidade as sensações que experimentei ao perceber, passando por uma casa nas imediações de Pernambuco, os mais lamentosos gemidos, e suspeitar que era um pobre escravo que estava sendo torturado, ao mesmo tempo que compreendia a minha impotência para evitar-lhe o martírio”.

A magoa de Charles Darwin pelo Recife e Olinda parece ter passado depois de longos anos, ele já com seus 70 anos, foi correspondente do Gabinete Português de Leitura em Pernambuco, revela o Jornal do Recife do dia 21 de outubro de 1879. Três anos depois, Charles Darwin veio a falecer.

Por: Jânio Odon/VOZES DA ZONA NORTE
Fonte: Diário de Pernambuco, Jornal do Recife e Biblioteca Nacional (memoria.bn.br)

Nenhum comentário:

Postar um comentário