O Cinema São Luiz foi inaugurado em 6/9/1952. O preferido dos recifenses. Foto: Unicap/autor desconhecido/1952.
Os cinemas existentes no Centro e
nos subúrbios recifenses já foram grandes atrações para os amantes da sétima
arte. Já viveu seus melhores momentos até o final da década de 1980. Depois
surgiram as locadoras de fitas VHS, os filmes em CDs e os médios e grandes
shoppings e suas diminutas salas de cinema, e agora, as TVs por assinaturas e
as empresas de filmes online. O avanço tecnológico enterrou de vez, o saudoso e
romântico encontros nas salas dos antigos cinemas recifenses.
O Diário de Pernambuco, em 17 de
agosto de 1969, em uma matéria do jornalista Enéas Alvarez, sobre a frequência
do público recifense nas 28 principais salas de cinemas do Centro do Recife e
dos subúrbios, já alertava sobre a necessidade de inovações que já vinham
acontecendo no Sul do país no sentido de atrair mais público para as salas de
projeções. A publicação do Diário dizia o seguinte:
Quem vai ao cinema no Recife
(Dizia o título).
Um levantamento interessante foi
feito, recentemente, pela Delegacia do Instituto Nacional do Cinema, em
Pernambuco, sobre a frequência média diária dos expectadores nos 28 cinemas do
município. O mapa nos dá uma ideia geral do interesse que desperta a Sétima
Arte entre os recifenses, salientando-se a percentagem que frequenta salas
exibidores cinematográficos, igual a 1,5% da população total. Assim é que
ficamos sabendo a média-diária: 15.709 pessoas vão ao cinema diariamente no
Recife.
As predileções do nosso público
são pelo Cinema São Luiz: 1.147 ingressos inteiros e 1.027 entradas
meias são vendidos por dia, naquele cinema. Em segundo lugar, vem o Cine
Moderno, com uma média de 1.094 inteiras e 824 meias, diariamente. O terceiro
lugar coube ao Art Palácio, que vende por dia 928 inteiras e 680 meias. Para a
surpresa nossa, o Cine Glória, no pátio do Mercado de São José, ocupa o quarto
lugar, em frequência, no Recife: 909 inteiras e 76 meias, por dia, notando-se
que lá, na praça do mercado, há poucos estudantes. O Boa Vista, o Eldorado e o
Trianon, empataram em quinto lugar de preferência, vendendo respectivamente,
504, 516 e 508 inteiras e 348, 241 e 383 meias. O número de estudantes ali
sensivelmente, com relação ao Eldorado no Largo da Paz (Afogados).
Se preferirmos fazer uma
comparação por bairros, comecemos por Casa Amarela, que tem quatro cinemas: O
Rivoli bate o recorde, vendendo cada dia, 438 inteiras e 239 meias. Logo após
os casamarelenses frequentam o Albatroz, em número de 337 inteiras e 148 meias.
O Cinema de Arte Coliseu, infelizmente, recebe poucas pessoas e assim mesmo,
pouco habitantes do bairro. Fica provado que o nosso público não gosta do
cinema de arte, visto que o maior cinema de Pernambuco, com 1770 poltronas,
vende em média cada dia, 293 inteiras e 169 meias. O pessoal do Alto José do
Pinho prestigia o Cinema Guarani: 161 inteiras e 75 meias, diariamente. Em Água
Fria, o Cine Olímpio empata com o Cinema Império, vendendo, respectivamente,
221 e 292 inteiras e 134 e 117 meias. Perde nas inteiras, mas ganham nos meios
ingressos. Em Afogados, o Cine Central, com ar-condicionado, perde para o
Eldorado, que se situa em frente, sendo ambos da mesma empresa. O Cine Central
recebe 314 inteiras e 177 estudantes, enquanto seu vizinho (vide acima) o
supera. No Cordeiro, o Cine Brasil é o preferido, enquanto o Cine Cordeiro
demonstra um aumento sensível de público. O Cine Brasil vende por dia, 308
inteiras e 171 meias, enquanto o porteiro do Cine Cordeiro, rasga
diariamente120 ingressos inteiros e 56 meio-ingressos.
Em Campo Grande, o Cine Vera
Cruz, com lotação igual à do Arte Palácio, vende 153 inteiras e 100 meias,
enquanto o Cine Eden tem a frequência de 74 inteiras e 58 meias. Os demais
cinemas não têm concorrentes nos seus bairros: o Atlântico, no Pina; o São
José, em Coqueiral; o Espinheirense, no Espinheiro; o Santo Amaro, em Santo
Amaro e o Torre, na Torre. Onde há predominância de estudantes é na Zona Sul: o
Cine Guararapes (sozinho) para Areias, Barro, Tejipió, São Miguel, Ipsep, etc,
vende por dia 24 estudantes e 154 inteiras. O Cine Beberibe também é soberano
no seu bairro e o Cine Recife na Encruzilhada, vende mais ingressos para
estudantes, do que para adultos.
Em resumo, os porteiros dos 28
cinemas do Recife inutilizam diariamente, 9.825 ingressos inteiros e 5.917
meias entradas, num total de 15.769 bilhetes rasgados e colocado nas urnas. Por
sua vez, as bilheteiras lutam para arranjar troco para quinze mil e tantas
pessoas, que representam 1,5% da população total da cidade.
Multiplicando-se por 180 dias o número
diário, obtemos a média de frequência num semestre. Por isso, no primeiro
semestre de 1969, dois milhões, setecentos e quarenta e dois mil e setecentas e
oitenta e quatro pessoas foram aos cinemas do Recife, onde riram, choraram,
chuparam bombons, passaram o tempo, xingaram os filmes, namoraram, tiveram
problemas com trocos e com filas, ganharam cultura ou roncaram tranquilamente
deitados nas poltronas. O número citado (2.742.764) representa quase três vezes
a população total do Recife, que, em seis meses, vai três vezes ao cinema.
Os preços variam de NCr$ 0,30
(Guarani) até NCr$ 2,40 (Dois cruzados novos e quarenta centavos) nos cinemas
do Centro, sob os olhos da Sunab. No subúrbio, a média é NCr$ 1,00, que não dá
problema de troco, mas, o Espinheirense ainda cobra NCr$ 0,60 e o Coliseu, NCr$
1,80. O Boa Vista, depois de discussões permaneceu em NCr$ 2,00, satisfazendo
mutuamente ao público e ao Órgão controlador de preços.
O ingresso padronizado está
prestes a ser instalado no Recife. No Sul, os números triplicaram, com a adoção
do ingresso governamental, graças aos sorteios periódicos feitos entre os
habituês. Oxalá, o Recife, a exemplo de outras capitais se comporte do mesmo
modo: vamos ao cinema! Para ganhar prêmios! O futuro virá e eu voltarei a
comentar com vocês se houve, ou não, aumento de público. Peçam a Deus para sobreviverem
até lá.
Fonte: Diário de Pernambuco/Texto de Enéas Alvarez.
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