domingo, 18 de junho de 2023

1969- Quem ia ao Cinema no Recife?

 

O Cinema São Luiz foi inaugurado em 6/9/1952. O preferido dos recifenses. Foto: Unicap/autor desconhecido/1952.

Os cinemas existentes no Centro e nos subúrbios recifenses já foram grandes atrações para os amantes da sétima arte. Já viveu seus melhores momentos até o final da década de 1980. Depois surgiram as locadoras de fitas VHS, os filmes em CDs e os médios e grandes shoppings e suas diminutas salas de cinema, e agora, as TVs por assinaturas e as empresas de filmes online. O avanço tecnológico enterrou de vez, o saudoso e romântico encontros nas salas dos antigos cinemas recifenses.

O Diário de Pernambuco, em 17 de agosto de 1969, em uma matéria do jornalista Enéas Alvarez, sobre a frequência do público recifense nas 28 principais salas de cinemas do Centro do Recife e dos subúrbios, já alertava sobre a necessidade de inovações que já vinham acontecendo no Sul do país no sentido de atrair mais público para as salas de projeções. A publicação do Diário dizia o seguinte:

Quem vai ao cinema no Recife (Dizia o título).

Um levantamento interessante foi feito, recentemente, pela Delegacia do Instituto Nacional do Cinema, em Pernambuco, sobre a frequência média diária dos expectadores nos 28 cinemas do município. O mapa nos dá uma ideia geral do interesse que desperta a Sétima Arte entre os recifenses, salientando-se a percentagem que frequenta salas exibidores cinematográficos, igual a 1,5% da população total. Assim é que ficamos sabendo a média-diária: 15.709 pessoas vão ao cinema diariamente no Recife.

As predileções do nosso público são pelo Cinema São Luiz: 1.147 ingressos inteiros e 1.027 entradas meias são vendidos por dia, naquele cinema. Em segundo lugar, vem o Cine Moderno, com uma média de 1.094 inteiras e 824 meias, diariamente. O terceiro lugar coube ao Art Palácio, que vende por dia 928 inteiras e 680 meias. Para a surpresa nossa, o Cine Glória, no pátio do Mercado de São José, ocupa o quarto lugar, em frequência, no Recife: 909 inteiras e 76 meias, por dia, notando-se que lá, na praça do mercado, há poucos estudantes. O Boa Vista, o Eldorado e o Trianon, empataram em quinto lugar de preferência, vendendo respectivamente, 504, 516 e 508 inteiras e 348, 241 e 383 meias. O número de estudantes ali sensivelmente, com relação ao Eldorado no Largo da Paz (Afogados).

Se preferirmos fazer uma comparação por bairros, comecemos por Casa Amarela, que tem quatro cinemas: O Rivoli bate o recorde, vendendo cada dia, 438 inteiras e 239 meias. Logo após os casamarelenses frequentam o Albatroz, em número de 337 inteiras e 148 meias. O Cinema de Arte Coliseu, infelizmente, recebe poucas pessoas e assim mesmo, pouco habitantes do bairro. Fica provado que o nosso público não gosta do cinema de arte, visto que o maior cinema de Pernambuco, com 1770 poltronas, vende em média cada dia, 293 inteiras e 169 meias. O pessoal do Alto José do Pinho prestigia o Cinema Guarani: 161 inteiras e 75 meias, diariamente. Em Água Fria, o Cine Olímpio empata com o Cinema Império, vendendo, respectivamente, 221 e 292 inteiras e 134 e 117 meias. Perde nas inteiras, mas ganham nos meios ingressos. Em Afogados, o Cine Central, com ar-condicionado, perde para o Eldorado, que se situa em frente, sendo ambos da mesma empresa. O Cine Central recebe 314 inteiras e 177 estudantes, enquanto seu vizinho (vide acima) o supera. No Cordeiro, o Cine Brasil é o preferido, enquanto o Cine Cordeiro demonstra um aumento sensível de público. O Cine Brasil vende por dia, 308 inteiras e 171 meias, enquanto o porteiro do Cine Cordeiro, rasga diariamente120 ingressos inteiros e 56 meio-ingressos.

Em Campo Grande, o Cine Vera Cruz, com lotação igual à do Arte Palácio, vende 153 inteiras e 100 meias, enquanto o Cine Eden tem a frequência de 74 inteiras e 58 meias. Os demais cinemas não têm concorrentes nos seus bairros: o Atlântico, no Pina; o São José, em Coqueiral; o Espinheirense, no Espinheiro; o Santo Amaro, em Santo Amaro e o Torre, na Torre. Onde há predominância de estudantes é na Zona Sul: o Cine Guararapes (sozinho) para Areias, Barro, Tejipió, São Miguel, Ipsep, etc, vende por dia 24 estudantes e 154 inteiras. O Cine Beberibe também é soberano no seu bairro e o Cine Recife na Encruzilhada, vende mais ingressos para estudantes, do que para adultos.

Em resumo, os porteiros dos 28 cinemas do Recife inutilizam diariamente, 9.825 ingressos inteiros e 5.917 meias entradas, num total de 15.769 bilhetes rasgados e colocado nas urnas. Por sua vez, as bilheteiras lutam para arranjar troco para quinze mil e tantas pessoas, que representam 1,5% da população total da cidade.

Multiplicando-se por 180 dias o número diário, obtemos a média de frequência num semestre. Por isso, no primeiro semestre de 1969, dois milhões, setecentos e quarenta e dois mil e setecentas e oitenta e quatro pessoas foram aos cinemas do Recife, onde riram, choraram, chuparam bombons, passaram o tempo, xingaram os filmes, namoraram, tiveram problemas com trocos e com filas, ganharam cultura ou roncaram tranquilamente deitados nas poltronas. O número citado (2.742.764) representa quase três vezes a população total do Recife, que, em seis meses, vai três vezes ao cinema.

Os preços variam de NCr$ 0,30 (Guarani) até NCr$ 2,40 (Dois cruzados novos e quarenta centavos) nos cinemas do Centro, sob os olhos da Sunab. No subúrbio, a média é NCr$ 1,00, que não dá problema de troco, mas, o Espinheirense ainda cobra NCr$ 0,60 e o Coliseu, NCr$ 1,80. O Boa Vista, depois de discussões permaneceu em NCr$ 2,00, satisfazendo mutuamente ao público e ao Órgão controlador de preços.

O ingresso padronizado está prestes a ser instalado no Recife. No Sul, os números triplicaram, com a adoção do ingresso governamental, graças aos sorteios periódicos feitos entre os habituês. Oxalá, o Recife, a exemplo de outras capitais se comporte do mesmo modo: vamos ao cinema! Para ganhar prêmios! O futuro virá e eu voltarei a comentar com vocês se houve, ou não, aumento de público. Peçam a Deus para sobreviverem até lá.

Por: Jânio Odon/VOZES DA ZONA NORTE

Fonte: Diário de Pernambuco/Texto de Enéas Alvarez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário