Aspecto do povoado de Beberibe em 1904. Homem sobre uma ponte do rio Beberibe. Foto: Cartão Postal Brasil/28.6.1904.
O coronel Luciano Eugênio de
Mello era considerado na segunda metade do século XIX, um dos homens mais
poderosos e influentes de Beberibe. Possuía várias propriedades de terra, inúmeros imóveis e
dezenas cabeças de gado. Foi ele que cedeu o terreno na Estrada do Caenga para
a construção do novo cemitério público de Beberibe (atual Cemitério de Águas
Compridas), que foi inaugurado por ele em 1888, onde firmou um contrato com a
Câmara Municipal de Olinda, com o direito de cobrar por todos os sepultamentos.
Os opositores, não perdoavam. O acusavam de abuso de poder; de não enterrar os
indigentes; manter o cemitério como propriedade particular; de criar o gado
solto, prejudicando as plantações dos pequenos agricultores que tinham as suas
plantações destruídas pelos animais do coronel, e por praticar o desmatamento
para produzir carvão. O coronel Luciano Eugênio, sempre rebatia às críticas com
notas no Diário de Pernambuco, mas a oposição ferrenha, sempre contra-atacava
sem piedade.
Para muitos, o coronel Luciano
Eugênio de Mello, era um bom homem que ajudava muita gente e trazia muitos
benefícios para o povoado de Beberibe. Para outros, era uma pessoa arrogante,
intransigente, autoritário e explorador.
Luciano Eugênio de Mello, nasceu
em 1838, em Beberibe e faleceu no mesmo povoado, em 1º de janeiro de 1911 aos
73 anos. Foi oficial da Guarda Nacional do Império, chegando ao posto de
coronel. Foi prefeito de Olinda, presidente do Conselho Municipal de Olinda e
subdelegado de Beberibe. Era casado com a Sra. Maria Alves de Mello e teve
cinco filhos. Até hoje, a Família Eugênio de Mello é reconhecida,
principalmente no bairro de Caixa D’Água, onde seus descendentes eram grandes
proprietários de terras. Há uma escola no bairro que leva o sobrenome da
família através de outro ilustre membro: Valeriano Eugênio de Mello (coronel
Vavá).
A liderança e o prestígio
político do coronel Luciano Eugênio de Melo renderam algumas críticas
contundentes de seus opositores na Câmara Municipal de Olinda conferidas pelos senhores,
Manoel Lopes Machado Júnior e Veritas, publicadas pelo “Jornal do Recife” na
segunda metade do século XIX :
Jornal do Recife, em 10 de julho
de 1889, publicou as críticas conferidas pelo Sr. Manoel Lopes Machado Júnior,
da seguinte forma:
O Sr. Luciano Eugênio de Mello
labora num equívoco quando diz na sua publicação de ontem no Diário de
Pernambuco, que o Cemitério de Beberibe (atual Cemitério de Águas Compridas) é
propriedade particular, e que por isso os cadáveres dos indigentes devem ter
sepultura no cemitério público.
Em Beberibe não há outro
cemitério público senão o que com a Câmara Municipal de Olinda, contratou o Sr.
Luciano de Mello em virtude da lei nº 1862, declarando esta que o contrato
ficaria sujeito à aprovação do poder competente (Assembleia Provincial).
Não sei, pois, como vista daquela
lei o cemitério é particular e tenha o Sr. Mello o direito de recusar sepultura
aos pobres. É certo que Sua Senhoria escolheu do patrimônio da igreja
(católica) para a construção do dito cemitério, mas também é certo que procurou
para levantá-lo a efeito o concurso dos pobres.
Que ele cedesse em favor da igreja os proventos que devia auferir em razão do contrato, faz o seu dever indenizando a da renda do terreno, que, sem deliberação da irmandade serviu-se dele, mas que daí queira inferir que o cemitério é particular, é o que ser-lhe difícil explicar. (Finalizou).
Crianças caminhando nas águas do rio Beberibe em 1908. Foto: Manoel Tondella.O Jornal do Recife, em 26 de
janeiro de 1890, publicou as críticas conferidas pelo Sr. Veritas, da seguinte forma:
A freguesia de Beberibe como
parte componente do município de Olinda, não podia deixar, por sua vez, de sentir
os efeitos da desídia criminosa do ex-representante da Câmara em prejuízo dos
pacíficos e laboriosos habitantes, e sempre em proveito do mandão local.
Devastadas as matas pela
indústria do carvão, onde Luciano de Mello auferia grandes lucros, foram esses
campos transformados em campo de criação contra a expressa determinação da lei
que as considerou campos agrícolas.
Em Beberibe, para que possam
lucrar os poucos agricultores as suas lavouras, são forçados a construir cercas
com grande trabalho e despesas para as garantir contra o gado solto, o que
muitas vezes não é bastante, tendo de se conformar em ver mudos e quedos as
suas lavouras destruídas, resultado de tantos dias de labor, para não incorrer
no desagrado de Luciano de Mello, o grande explorador da indústria pastoril
naquele lugar.
O Dr. Ernesto de Aquino, membro
da intendência, morador ali, conhece de perto da verdade, e confiando no seu
critério e independência do caráter, muito poderá fazer em bem daqueles
infelizes e em respeito à lei. Nessa povoação mora o ex-vereador Reis, o
celebre capitão da barca de Noé, que conhecendo todos esses fatos nunca
procurou tomar providência para minorar os prejuízos daqueles laboriosos
habitantes! Porque sendo como era feitura de Luciano de Mello nada podia fazer.
A lavagem de roupa se fazia além
da represa da Companhia Santa Tereza, seguindo as águas sujas para o
abastecimento de Olinda. No rio Beberibe são lançadas sem o menor escrúpulo
materiais fecais, animais mortos e toda sorte de imundices, tornando-se quase
que imprestáveis as águas límpidas e puras daquele rio.
Os taberneiros têm duas medidas e
dois pesos, uns servem para comprar farinha, milho, feijão e aguardente aos
almocreves e outros para vender aos incautos que lá se fornecem, iludindo
criminosamente no seu comércio a uns e outros.
Tendo sido constantemente
reclamada ao poder competente a necessidade de um cemitério em Beberibe, foi
pela Assembleia Provincial autorizado tal melhoramento nas disposições gerais
da lei do orçamento municipal Nº 1862, artigo 18 e seus parágrafos; a
construção desse cemitério a Câmara contratou Luciano de Mello, exorbitando,
porém, das faculdades da lei para conferir-lhe vantagens que não se podia
conceder, tornando desta sorte nulo o contrato em sua essência.
Luciano Eugênio de Mello lançando
mão de terrenos da irmandade de Nossa Senhora da Conceição de Beberibe, aí
edificou o cemitério em péssimas condições higiênicas, com o auxílio dos
moradores do lugar, uns facilitando meios pecuniários, outros voluntariamente o
seu trabalho e finalmente outros, compelidos criminosamente pela polícia a
trabalhar.
Concluídas as obras, querendo
Mello arredar de si a convivência no no escândalo praticado pela Câmara, fez
doação à irmandade referida do cemitério, doando aquilo que não lhe pertencia
somente. Os cadáveres dos indigentes que eram remetidos pela polícia para ali
afim de serem inumados, foram muitos deles devolvidos, porque Mello não consentia enterrar quem não tivesse com que pagar.
Até com os mortos autorizava a
Câmara a especulação! Cidadãos intendentes, examinai este contrato que se deve
encontrar nos arquivos da Câmara e uma vez com ele na mão vos haver de
convencer da verdade das minhas asserções.
Procurai um outro agente
municipal que seja capaz de cumprir as nossas determinações, e substituí o
atual fiscal desse lugar que não vos poderá auxiliar, porque sendo sobrinho de
Luciano Eugênio de Mello e vivendo com ele na maior intimidade e dependência,
procura por todos os meios iludir a vossa boa fé. Finalizou Veritas.
Fonte: Jornal do Recife.
Nenhum comentário:
Postar um comentário