sábado, 3 de fevereiro de 2024

Luiz Zago, o primeiro jogador profissional registrado na F.P.F.

 

Luiz Zago, o primeiro jogador profissional registrado na Federação Pernambucana de Desportos (atual F.P.F.) em 1937. Foto: Diário da Manhã/CEPE.

Com a chegada da delegação do América Futebol Clube do Rio de Janeiro ao Recife, o primeiro clube do sudeste a jogar em Pernambuco, em 10 de novembro de 1915, onde realizou quatro amistosos contra combinados formados por jogadores ingleses residentes na capital pernambucana e contra o selecionado pernambucano. Foram todos goleados. O poderio do esquadrão rubro carioca despertou nos dirigentes do Sport Club do Recife e do nosso América Futebol Clube a ideia de importar jogadores de centros mais desenvolvidos para as disputas finais do Campeonato Pernambucano, que não era ilegal, mas que provocou protestos dos demais clubes e parte da imprensa, apenas o Jornal Pequeno, expressivo jornal da época, concordava com a ideia. Já o Diário de Pernambuco teceu diversas críticas contrário a esta inovação.

No Campeonato Pernambucano de 1916, o Sport Recife chegou à final contra o Santa Cruz e trouxe do América do Rio de Janeiro, o jogador Paulino, que era jogador profissional, mas que veio camuflado com sendo um jogador amador e que exercia uma profissão paralela, sendo ele, linotipista (operador de máquina) do jornal carioca Correio da Manhã. O Sport Recife sagrou-se campeão.

Em 1917, o Sport Recife repetiu a dose e novamente ganhou o campeonato, sendo bicampeão. Desta feita, o Sport Recife trouxe do Botafogo carioca, o atacante profissional Ciro Werneck, que o clube rubro-negro já o havia inscrito junto a Liga Pernambucana de Desportos (atual F.P.F) dois meses antes da final, conforme exigia o regulamento.

Em 1918, O Sport Recife tentou contratar jogadores no sul do país para disputar às finais contra o América-PE, como não conseguiu, enfrentou uma maratona incrível para que chegasse em tempo hábil, o jogador uruguaio Pedro Mazullo, que veio de Montevidéu. Por outro lado, o América foi mais esperto, e trouxe de São Paulo, três jogadores: Bermudes, Alex e Peres, e foi campeão pernambucano de futebol pela primeira vez.

Luiz Zago, deu início ao futebol profissional em Pernambuco, quando firmou o primeiro contrato de um jogador de futebol registrado na Federação Pernambucana de Desportos (Atual F.P.F), contratado pelo Central Sport Club, de Caruaru-PE.

Saiba um pouco da história deste grande jogador, que chegou para revolucionar o futebol pernambucano:

Luiz Zago (centro), quando jogava no Sírio-SP em 1934. Foto: Correio de São Paulo.

Luiz Zago, nasceu em 1914, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Jogava de lateral-direito e quarto-zagueiro e meio campista. Descendente de italianos, desejava jogar no futebol italiano, algo que nunca aconteceu. Tinha 1,79 de altura, calçava chuteiras 41. Quando veio jogar no Central, pesava 75 quilos. Começou sua carreira futebolística no juvenil da Portuguesa de Desportos-SP em 1933. Em 1934, Luiz Zago disputou o Campeonato Paulista pelo Esporte Clube Sírio, como quarto-zagueiro, ao lado de Turillo e Russinho. O Sírio foi o pior time do campeonato com doze derrotas, sendo oito goleadas sofridas e uma vitória diante do fraco E. C. Paulista. Neste mesmo campeonato, em 24 de junho, o Sírio vencia o São Paulo por 2 a 0, mas o clube do Morumbi reagiu e virou o jogo para 3 a 2. Luiz Zago e o são-paulino Zarzur entraram em luta corporal dentro de campo, sendo expulsos pelo árbitro. Luiz Zago, recebeu uma punição de dois jogos de suspenção e uma multa de 50 mil réis.

Em 1935, Luiz Zago passou por um período de teste no Comercial de Ribeirão Preto, ficando no clube até ser negociado ao Atlético Mineiro.

Em 31 de janeiro de 1936, o jornal Correio de São Paulo, anunciou que o Atlético Mineiro havia contratado o quarto-zagueiro, Luiz Zago, para um período de testes, onde veio a ser aprovado e formado a linha de zaga com Alcindo e Bala. O Atlético Mineiro foi campeão mineiro deste ano, com 5 vitórias e uma derrota, num campeonato bastante tumultuado, onde durante as disputas, três clubes: Palestra Itália, América e Vila Nova, por divergências com a então, Associação Mineira de Futebol, abandonaram o campeonato e perderam todos os pontos conquistados. Mesmo conquistando o título, Luiz Zago foi negociado com o Central Sport Club-PE.

Luiz Zago no Central de Caruaru em 1937. Ele é o último jogador, perto do dirigente de terno branco.

Em 11 de junho de 1937, desembarcava do navio Itaquicé, no porto do Recife, o lateral-direito e quarto-zagueiro, Luiz Zago, contratado pelo Central Sport Club, e registrado na Federação Pernambucana de Desportos, sendo o primeiro atleta a assinar um contrato salarial com um clube como jogador profissional, dando início ao futebol profissional em Pernambuco.

Após o término do Campeonato Mineiro de 1936, onde o Atlético Mineiro sagrou-se campeão, Luiz Zago, recebeu uma carta de seu amigo, o jogador paulista, Agostinho Serrano, que jogava pelo Great Western-PE, e ficou sabendo que o Central de Caruaru estava formando uma equipe para disputar pela primeira vez o certame pernambucano e estava precisando de um jogador que exercesse também, a função de técnico. Então, procurou a diretoria da patativa e informou-o que, Luiz Zago havia sido campeão mineiro pelo galo e que estava à disposição do clube. A diretoria do Central de Caruaru, resolveu contratá-lo. No dia 11 de junho de 1937, Luiz Zago, desembarcava no porto do Recife, do navio Itaquicé e foi recebido pelo presidente do Central José Victor de Albuquerque e pelo diretor de futebol, Walfrido Pereira.

Luiz Zago, recebeu dois contos de luvas e um salário mensal de 600 mil réis, durante seis meses. Ele foi inscrito na Federação Pernambucana de Desportos em 27 de junho de 1937. O Central de Caruaru nesta temporada não fez um bom campeonato, ficou na 5ª colocação, com 13 pontos em 15 jogos: 6 vitórias, 1 empate e 8 derrotas, marcou 44 gols e sofreu 37 gols.  Segundo Luiz Zago, o Central teve um bom desempenho, mas foi prejudicado pela arbitragem, principalmente nos jogos envolvendo Sport Recife, Santa Cruz e Náutico.

Em 20 de janeiro de 1938, o Sport Club do Recife contratou, Luiz Zago. No dia 3 de abril, ele estreou pelo Campeonato Pernambucano na vitória do Sport Recife sobre o Great Western, por 4 a 2. Luiz Zago foi seis vezes campeão pelo Sport Club do Recife: 1938,1941 (invicto), 1942, 1943,1948 e 1949. Entre setembro de 1942 e maio de 1943, Luiz Zago jogou pelo Vasco da Gama. Em janeiro de 1944, retornou ao Vasco, mas em abril, já estava jogando pelo Sport Recife novamente. Permaneceu no clube durante 12 anos. No dia 8 de maio de 1949, jogou seu último jogo, na vitória do Sport Recife contra o Flamengo-PE por 7 a 1.

Time do Sport Recife de 1942 que encantou o sudeste e o sul do país.

Luiz Zago, contou uma história que aconteceu após o jogo Vasco da Gama 4 x 5 Sport Recife, no campo do América (RJ), no dia 1º de março de 1942, durante a grandiosa excursão rubro-negra ao sudeste e sul do país. Ele contou: “Vencemos o Vasco por 5 a 4, no campo do América, porque São Januário estava em obras. Mas a nossa concentração era no próprio estádio do clube da Cruz de Malta. Ficamos esperando que chegassem os dirigentes com o dinheiro da renda para irmos jantar. As horas foram passando e nada deles aparecerem. A fome aumentando e com todo mundo liso, encontrei a solução. Procurei Florindo, zagueiro do Vasco, que tinha jogado comigo no Atlético Mineiro, e como sabia que ele tinha o mesmo tamanho do meu pé vendi-lhe um sapato por 25 mil réis. Com esse dinheiro saímos em busca de uma barraca, onde compramos palmas de banana e dezenas de laranjas. Quando o diretor do Sport apareceu, quase às 11 horas, estávamos com a barriga cheia e dormindo. No outro dia, a imprensa brasileira estava glorificando os heróis do clube da Ilha do Retiro, sem imaginar o drama vivido por nós no Rio de Janeiro”. (Entrevista concedida em 1972).

Em 9 de setembro de 1945, Luiz Zago, após um amistoso contra o Íbis, retornava para sua casa, no Pina, dirigindo um veículo de um amigo, quando perdeu o controle da direção e veio a colidir contra o balaústre da ponte do Pina, sofrendo um profundo corte na cabeça. Luiz Zago, só voltou a jogar, no segundo turno do Campeonato Pernambucano.

Em 20 de janeiro de 1948, na Ilha do Retiro. A torcida do Sport Recife fez uma grande homenagem a Luiz Zago pelos 10 anos vestindo a camisa rubro-negra.

Em 25 de maio de 1949, Luiz Zago, deixou a direção técnica do Sport Recife.

Na época de Luiz Zago, ainda não existia as competições nacionais de clubes. Desde 1923, vinha sendo disputado o Campeonato Nacional de Seleções Estaduais. O bom desempenho de Luiz Zago no Sport Recife, fez com que ele integrasse a Seleção Pernambucana de 1938 até 1950, a maior parte atuou como quarto-zagueiro, nos dois primeiros anos, como lateral-direito. A partir de 1947, atuou como assistente técnico.

Luiz Zago em 1942. Ele foi jogador, técnico e árbitro de futebol. jogou durante treze anos no futebol pernambucano e foi seis vezes campeão pernambucano pelo Sport Recife. Foto: Diário da Manhã.

Em dezembro de 1950, Luiz Zago, torna-se árbitro da Federação Pernambucana de Futebol.  Zago disse que não foi difícil assumir a condição de árbitro de futebol, pois antes de deixar de ser jogador, sempre conversava muito com os principais árbitros do Estado: Sherlock, Leon Markman, Batista da Conceição Galindo e José Mariano Carneiro Pessoa, conhecido como Palmeira. Luiz Zago adiantou que, ser árbitro foi a profissão mais ingrata que ele exerceu. Foram apenas seis anos, sendo os últimos dois anos pela Federação Baiana.

O motivo de ter deixado de apitar em Pernambuco, foi a incompreensão dos dirigentes de futebol, que culpa o juiz pelo fracasso em campo de seu time, foi o que aconteceu com o Náutico. O clube dos Aflitos vetou seu nome para integrar um trio que dirigiria um clássico contra o Santa Cruz, decidindo o segundo turno do certame de 1953. Com o veto do Náutico ao seu nome, Zago resolveu deixar o futebol pernambucano indo para a Bahia, onde encerrou também sua carreira de apitador.

Como todo árbitro, Luiz Zago, também teve seus momentos difíceis na direção de uma partida. E isso aconteceu em Salvador, quando dirigiu um clássico Bahia e Vitória, na Fonte Nova, isto devido à grande rivalidade entre os dois clubes baianos. 

- Foi a partida mais difícil que apitei em toda minha carreira, porque foi muito catimbada e seu final terminou com um grosso sururu entre os jogadores de ambos os times. Resolvi deixar o apito em 1956, para não fazer mais inimigos, porque como árbitro não tem quem não faça inimizades porque cada torcedor quer a vitória de seu clube e os próprios dirigentes, quando seu clube não tem condições, lançam toda culpa no juiz. É realmente uma profissão ingrata. Concluiu.

Desde que veio para o Central em 1937, Luiz Zago, sempre acumulava as funções de jogador e técnico. E até mesmo como assistente técnico no Sport e na Seleção Pernambucana. Depois dos seis anos na arbitragem, Luiz Zago seguiu sua carreira de técnico, mas nunca deixou de apitar jogos. Há vários registros entre 1958 e 1961, onde Luiz Zago foi convidado para apitar em Pernambuco, Paraíba, Ceará, Pará, além de ser convidado pelo Sport Club do Recife para apitar seus jogos na excursão feita em Paramaribo, no Suriname, em março de 1961.

Como técnico de futebol, Luiz Zago teve sua grande oportunidade no Paysandu, onde permaneceu por vários anos e foi campeão estadual em 1959 e 1965. Dirigiu também, o Fast Clube e o Rio Negro de Manaus e o CRB de Alagoas.

Em 1972, o técnico Luiz Zago foi dirigir o Portimonense. Foto: Diário de Pernambuco.

Em fevereiro de 1972, viajou para a cidade de Portimão, no Algave, província de Portugal, para dirigir o Portimonense que estava na 2ª divisão.

Em 24 de novembro de 1980, o Diário de Pernambuco publicou uma matéria que chocou o público esportivo pernambucano, onde informava que Luiz Zago estava ficando cego e estava passando por dificuldades financeira e precisando de apoio de todos: jogadores, dirigentes e torcida. Luiz Zago, declarou que, quando deixou o mundo da bola, trabalhou como gerente do famoso “Bar Mustang”, que existe até hoje na Conde da Boa Vista. Mas começou a ter problema na visão que o obrigou a deixar o trabalho. O atestado médico feito no Hospital da Polícia Militar de Pernambuco por solicitação dos médicos: Pedro Lira e Fernando Ventura indicava que Luiz Zago, apresentava baixa visão em ambos os olhos, devido a processo retiniano degenerativo central, irreversível.

Após a publicação da matéria, o ex-goleiro Manuelzinho, que jogou com Zago no Sport, foi o primeiro a se mobilizar para ajudar seu velho amigo. A Torcida Organizada Bafo do Leão, também se mobilizou em campanhas para conseguir recursos para ajudar seu grande ídolo do passado.

À época, Luiz Zago residia no Ibura de Baixo e recebia uma modesta aposentadoria do INPS. Estava viúvo pela segunda vez e morava com sua filha solteira. Tinha mais dois filhos casados. Um deles, Luiz Zago Filho, atacante, jogou no América-PE em 1964, depois jogou no Paysandu.

Por: Jânio Odon/VOZES DA ZONA NORTE

Fonte: Diário de Pernambuco, Diário da Manhã/CEPE, O Jornal (RJ), Jornal Pequeno, Correio de São Paulo, Gazeta Popular, Biblioteca Nacional (RJ).


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